(Reflexões baseadas em: Números 6,22-27; Gálatas 4,4-7; Lucas 2,16-21)
Nossa celebração de hoje está voltada para Santa Maria, Mãe de Deus.
Essa solenidade se deve ao fato de que, no catolicismo, existe uma postura diferente das Igrejas Irmãs, em relação a José e Maria, os pais de Jesus.
Para os cristãos católicos, a família de Jesus é muito importante, pois foram eles que deram o suporte humano para que o Filho de Deus pudesse desenvolver-se dentro da sua humanidade e assim pudesse bem assumir sua divindade.
A teologia católica afirma que Deus quis contar com a ajuda humana para que a divindade de Jesus se encarnasse e se humanizasse.Só assim Deus, encarnado como Filho, realizou sua entrega humana de forma que sua vida se tornou modelo de vida e, com sua total entrega, realizou a completa redenção. Foi com sua família, seu pai e sua mãe, que Jesus de Nazaré aprendeu a valorizar os dramas humanos a fim de libertar ser humano das dores desses dramas.
Com essa perspectiva é que, uma semana após o Natal do Senhor voltamos nossos olhos para a Mãe desse Senhor, o Deus que vem a nós com um recém nascido. Um nascimento que trouxe a nós uma bênção (Números 6,22-27). Da mesma forma que na Antiga Aliança o povo recebeu a bênção pela invocação do nome do Senhor, Maria, a recebeu na forma da maternidade divina (Lucas 2,16-21).
Sobre o povo, Moisés deveria invocar a bênção de Deus cuja face brilha e tem compaixão. Um Senhor que dá a paz! E o livro dos Números diz algo mais: o nome do Senhor da paz sendo invocado para a paz será, também, motivo de bênção. “Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei” (Nm 6,27).
Hoje, nos “tempos da Igreja”, pedimos a paz ao Senhor Jesus, o príncipe da paz. Mas também pedimos a intercessão da Mãe de Deus, pois só ela “guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2,19); e diante das necessidades ela insiste: “Fazei tudo que ele vos disser” (Jo 2,5).
Hoje sabemos que toda mãe só se sente bem quando vê os atos, desejos e sonhos do filho sendo realizados. Nós, os seguidores do filho de Maria, sabemos que Jesus promoveu a paz; que ele deu a paz aos seus seguidores. Por isso, nos tempos da Igreja, a mãe de Jesus também é conhecida como Rainha da Paz. E essa é mais uma bênção que a Mãe de Deus pede ao Filho a fim de partilhar com o mundo que crê naquele que ela embalou no ventre de mãe.
Além disso tudo, temos algo a mais a aprender com Maria, mãe de Jesus. Ela pode ser vista como exemplo de quem sabe seu lugar. Em mais de um momento, nas narrativas dos evangelhos, podemos acompanhar a postura de Maria. Não como quem pretende se impor sobre o filho, mas como quem educa para seguir o caminho humano que leva a Deus. Mostrou que não se deve cair em desespero se o filho foge do alcance dos olhos. Sentindo sua ausência, na caravana, manteve a serenidade e o encontra entre os doutores da lei. E ali, serenamente orienta o filho a não deixar os pais preocupados (Lc 2,48).
Naquela festa de casamento mostra ao Filho que, além de se divertir,o convidado pode ficar atento e ajudar os noivos. Por isso o alerta sobre a falta de vinho (Jo 2,3) prefigurando a oferta do sangue entregue no vinho… Quer dizer, a mãe não se sobrepõe ao Filho, mas o orienta. Exerce o papel de mãe, mesmo sabendo ser ele o Filho de Deus. Ela sabe que até Deus precisou viver humanamente para que os seres humanos pudessem entender seu valor e perceber a grandeza do plano de Deus.
O fato é que ninguém foi tão decisivo para que Deus chegasse a nós, vivesse entre nós, e aprendesse o sentido da vida humana,como a Mãe de Deus (Gálatas 4,4-7). O fato é que Deus olhou para a grandeza daquela simples menina, Maria de Nazaré. E Deus a escolheu para cumprir seu plano de amor; Deus a escolheu para ajudar na consumação do plano de salvação; Deus a escolheu como simbolo de doação. Por tê-la escolhido foi que “quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei” (Gal 4,4).
Enfim, pela maternidade de Maria, a Mãe de Deus, recebemos a adoção divina. Pela maternidade de Maria, em Jesus, podemos chamar a Deus de Pai, como ele ensinou. “E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá - ó Pai! Assim já não és mais escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro: tudo isso, por graça de Deus” (Gal 4,6-7). E, como tudo é graça e dom de Deus, Ele também nos deu uma Mãe, que é a própria Mãe do seu Filho.
E assim, olhando para seu modelo de vida, ousamos pedir sua intercessão para que o Senhor te abençoe e te guarde. Que o Senhor se compadeça de ti e te dê a paz!
Neri de Paula Carneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;