terça-feira, 31 de março de 2020

Mensagem dos últimos tempos

Não fazem muitos dias e ainda estávamos no final de 2019, fazendo planos para 2020… Festas, fogos… frivolidades… mas, também, sonhos!!!

E o que sonhávamos?

Mais conquistas financeiras. Melhores oportunidades de trabalho. Aumentar a renda familiar. Comprar isto ou aquilo; isto e aquilo… Novos amores ou reforço nas relações já existentes… e a lista se sucedia… cresciam com pedidos de mais coisas; quase não nos dávamos conta da importância das pessoas.

Aliás, das pessoas queríamos o número ou canal de acesso a uma rede social. Queríamos a conexão, mas não a relação… a não ser que a relação fosse virtual… (virtual, de virtus, do latim, que significa algo relacionado com força; mas queríamos a força do canal e não uma relação pessoal forte). Nisso residia o fato!

Qual fato?

O fato é que nessa altura das nossas relações, já estávamos isolados… cada um no seu mundo de teclas ou de tela sensível ao toque. Nem nos namoros o toque estava tendo espaço, perdendo para a tela fria. Não poucas vezes vi casais, lado a lado, em vez de trocarem beijos e abraços, cada um tocava a sua tela insensível… e eu, a observar, me dizendo: numa relação a dois existem coisas melhores de serem tocadas, apertadas, acariciadas… numa relação a dois tem algo muito melhor a se fazer…….

O fato é que o ano começou. Os sonhos foram se assentando na poeira do tempo e a realidade se impondo. E as notícias de um país distante com um problema sério(?) mal chamavam nossa atenção. Era do outro lado do mundo!!! Mas as informações nos chegavam pelas telas e jornais.

O fato cresceu. Multiplicou-se. Alastrou-se. Aproximou-se. Chegou ao nosso quintal. Instalou-se e está aí. E o fato, notícia da China, não era mais só negócio da China. Era o medo se instalando. Era o medo já instalado. E alastrado pelas telas e teclados. Mas ai já era somente coisa das elites.

O fato trouxe incertezas. Trouxe discussões e divergências. Muitos tinham muito a dizer, mas poucos atinavam, exatamente, sobre o que era essa ameaça. E o medo se alastrou, muito mais rapidamente que o vírus temido. E algumas máscaras começaram a cair. E as pessoas instaladas em seu mundo, individualista e individualizado, sentiram que algo diferente (terrível) pairava no ar ameaçadoramente! Algo, não só grandioso, mas principalmente fora de controle, havia se instalado. E os dedos, mais do que o cérebro, buscavam informações nas telas. Mas a rede não apresentava a certeza buscada! Ampliava as incertezas. E alguém resolveu andar na contramão dos fatos. Alguém que, iludindo uma minoria, se fez um presidente que mente.

O fato e o fake apareceram em informações desencontradas, contraditórias; notícias falsas ganharam mais atenção que as supostas verdades… ambas alarmantes! O mundo estava enfermo. Fica em casa. Vai pra rua! Fica em casa ou vai pra rua? A ciência diz fica. A arrogância, na forma de uma marionete do capital diz vai… A sapiência recomenda prudência, pois a incerteza é maior que os interesses empresariais.

O fato das notícias de mortes do outro lado do mundo, não nos afligia, eram só notícias. Trágicas, mas só notícias, como outras tantas de tantas tragédias, que lamentávamos, mas não nos diziam respeito. Mas as mortes começaram a dançar não só no outro lado do mundo, mas também nos quintais dos vizinhos. E entrou pela porta das elites e invadiu nosso quintal.

O fato é que ela chegou. Inicialmente coisa das elites. Mas assustou as periferias. Se não havia hospitais para as elites qual vai ser o impacto no chão do povo? E o medo produziu o isolamento. E as pessoas, abraçadas com seus aparelhos de comunicação que gerou distanciamento, descobriram a necessidade do outro; e o aparelhinho maldito ganhou nova finalidade: buscar notícias; enviar mensagem de otimismo.

O fato é que até as igrejas se esvaziaram. Mas as preces se irmanaram. De uma lado a prece da ciência: enquanto manipula as pipetas, o microscópio, os reagentes e outros aparelhos, pede ao Onipotente que lhe ilumine as buscas. A sapiência da ciência também é dom do Espírito. Do outro lado a prece que se desenvolveu do medo e da esperança popular. E as preces do povo dizem e pedem para que as autoridades deixem as picuinhas e seus interesses pessoais e se concentrem no interesse do povo; para que o presidente desça de seu ego maldito, deixe de ser lacaio dos empresários e banqueiros e olhe para os interesses e necessidades do povo; para que os veículos de comunicação e notícia deixem de atender aos seus interesses publicitários prendendo a atenção do povo com notícias sensacionalistas e se concentrem em dizer e divulgar verdades; para que os legisladores deixem o medo do presidente e façam algo pra colocar o Brasil nos trilhos, na direção das necessidades do povo.

E agora que o vírus começa a descer das elites e a fome começa a se instalar, o povo quer saber a quem recorrer?

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura - RO

sexta-feira, 27 de março de 2020

EM QUARENTENA: TALVEZ...

Em nosso tempo, o tempo que nos cabe viver, ocorreram e continuam acontecendo coisas assombrosas.

Quem é do meu tempo deve lembrar de como vivíamos e de coisas que usávamos, meio século atrás: toca disco, rádio “de pilha”. Cerveja em garrafa de 600 ml. Bailes, tocados por conjuntos ou bandas, ao vivo. Caso fossemos para o interior, onde não havia “luz elétrica” e, evidentemente, também não havia geladeira (aqueles que a possuíam a faziam funcionar com base num motorzinho a querosene) observaríamos uma simples e eficiente técnica de conservação de carne: salgá-la e deixá-la secando ao sol, para depois ser guardada. Em muitas casas a carne de porco passava por outro processo: toda ela era colocada num taxo, fritada e depois guardada em latas com banha... uma delícia…

Mas o tempo passou.

E chegamos ao nosso tempo. Ao mundo atual. Tudo rápido. Digital. Controlado remotamente. Por controle de voz. Por sensor de movimento.... E o passo seguinte já sendo dado: Quase tudo sendo assumido pelos sistemas de inteligência artificial.

Naquele tempo era tudo mecânico. Não dava para trocar um disco de vinil remotamente. Era necessário levantar do sofá. Pegar o disco. Virá-lo e, com muita delicadeza, recolocar a agulha do braço do toca-discos no início para tocar as quatro, cinco ou seis músicas do LP. E depois trocar novamente…

Atualmente, se quisermos, podemos fazer uma play list, com trezentas ou quinhentas músicas que se sucedem com um único toque de start.

E as comunicações, então… As notícias de quem morava longe, iam ou chegavam, por meio das cartas. E como demoravam. Claro, alguns tinham telefone em casa: pedia ligação para a telefonista, que discava e chamava o número desejado. E quando tudo corria bem a pessoa, do outro lado atendia. Depois veio o DDD...

Mas tudo isso é passado. Nostalgia, para alguns. Alívio para outros. Mas é passado!

O fato é que nesse último meio século tudo mudou. Virtualizou-se. Tornou-se Infotecnovitual. Tudo é fácil e acessível ao toque de um botão.

Resultado?

Nos distanciamos. Mesmo morando na mesma casa, quase não nos encontramos: de casa para o trabalho, do trabalho pra outra atividade… e sempre correndo… e sem tempo… e sempre atrasados… e sempre cansados…

E quando chegamos em casa, cansados, estressados, irritados com as dificuldades do dia mal vivido, mal temos tempo para um banho e queremos repouso. E os problemas domésticos se avolumam. E a família entra em crise. E a sociedade perde o rumo… ou os valores...

Num mundo de comunicação, não sabemos nada de quem está ao nosso lado. Num universo que exige intensa interatividade no trabalho, vivemos isolados. Num período de múltiplas facilidades nos atrapalhamos com coisas simples…

E, de repente, somos atropelados por uma crise que implode nossas crises anteriores: nos dizem que devemos permanecer em casa. Pior ainda: temos que ficar em casa e conviver com nossa família. E, o terror disso tudo: os pais se vêm obrigados a conviver com os seus filhos!!!

Poucos dias antes as escolas, os cursinhos, as babás, os cuidadores… eram obrigados a suportar nossas crianças, suas birras, suas malcriações, sua falta de limites…

Mas, de repente, caiu sobre todos essa loucura que é um “toque de recolher”. E as crianças não podem azucrinar os “terceirizados” pois não podem sair de casa. E, depois de quase meio século de descaminho, os pais estão sendo obrigados a cuidar de seus filhos… Tão verdadeira é essa situação que uma professora, fez esta perfeita observação: “é bom não ter aula por uns dias. Só assim, dentro de uma semana, uma mãe desesperada vai encontrar a cura para o coronavírus

Mas o drama da quarentena, pode nos permitir outras observações. Que fazer, se não temos nada pra fazer? Certamente muitas discussões e brigas acontecerão no espaço doméstico. Famílias inteiras terão que se suportar por alguns dias, no mesmo ambiente que já foi um lar. Pais e filhos e esposos terão que se olhar todos os dias, sem a desculpa de “sair para o trabalho”.

Essa pandemia está fazendo com que as pessoas se olhem no espelho. E, além de nos colocarmos diante do espelho, seria importante nos perguntarmos: quem é esse que vejo em minha frente?

Talvez, depois de alguns dias de confinamento, mirando-nos no espelho de nossa família, possamos repensar nossas vidas. Nossas relações. Nossas opções.

Talvez, com esse drama, quase de ficção científica, consigamos reaprender, coisas simples como: o sentido da solidariedade; a importância dos aparelhos de comunicação, atrás dos quais passamos parte de nossa vida nos ocultando; o real sentido de um aperto de mão, de um abraço, de um beijo…

Talvez, quem sabe, a sociedade em que estamos mergulhados, redescubra o significado de solidariedade. Quem sabe seja possível redescobrir que os aparelhos de comunicação não existem somente como esconderijo...

Talvez essa catástrofe nos permita perceber a insignificância e a grandeza do ser humano. Tão insignificante somos que um minúsculo ser nos encurrala a todos dentro dos nossos medos. Tão grandioso ao ponto de inúmeros profissionais da saúde, entre outros, se sacrificarem em socorro de tantos.

Talvez, diante desse mal, mais assustador que efetivo produtor de males, a humanidade se reconduza na direção do encontro: do outro, da família; podem ocorrer auto-encontros. Mas também é possível que os mandatários das nações descubram o verdadeiro poder da tirania e a exerçam sobre os povos, com mais requinte e maldade que atualmente.

Em nosso tempo, o tempo que nos cabe viver, parece que estamos recebendo uma nova oportunidade, como se nos fosse apresentada uma nova arca, em um novo dilúvio… Mas também pode ocorrer que afundemos junto com a arca da salvação...

Talvez…




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO

sexta-feira, 20 de março de 2020

"O dia em que a terra parou"


“No dia em que todas as pessoas do planeta inteiro resolveram que ninguém ia sair de casa. Como que se fosse combinado, em todo o planeta. Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém”

Esse discurso, entoado numa melodia, profético, de Raul Seixas, acabou não sendo um dia, mas uma sucessão de dias e semanas… Mas a terra parou…

Quer dizer, não parou, assim paradinho sem se mexer. Mas parou.

Não porque deu a louca no mundo. Na verdade o mundo já estava enlouquecido havia muito tempo. Mas o mundo parou.

Não por um evento gigantesco, fantástico; nem por algo maravilhoso, nem catastrófico; também não foi por causa de invasão alienígena, como apregoaram todos os filmes de ficção sobre alienígenas invasores. Também não ocorreu um fenômeno apocalíptico, como crê, quem crê no apocalipse da bíblia… mas o mundo parou.

Bem, na verdade não foi exatamente como gritou, cantando, o velho Raul. Mas quase tudo parou.

Ao paciente o doutor mandou ficar em casa, por isso, também ele não estava lá… Nas igrejas, os fiéis não estavam lá, pois Deus não faz milagre onde cabe ao ser humano realizar; no trabalho, não estavam lá os trabalhadores; nas escolas, os estudantes não estavam e o professor não estava não porque não havia nada pra ensinar…o que não havia era como, pois ensinar havia o quê. Só que o mundo parou.

Não parou tudo porque o médico sabia que não sabia como curar, por isso não parou. Então alguns estavam lá. O doutor porque sabia que tinha muito para curar. A dona de casa, pois sabia que tinha que buscar o “de comer”. O guarda estava lá pra assegurar as condições de segurança, tanto de quem estava como de quem não estava lá….

Ela também não parou. E se alastrou. Circulou o mundo que não queria ou não sabia parar; ou havia perdido o freio e corria ladeira abaixo.

E foi assim quando ela se apresentou. Veio de avião. Não veio pelo chão, por onde pisa o povo, pisando a estrada por onde vai para o trabalho. Ela veio pelos ares que todos respiram. Sem ser vista, entrou pelos olhos, pela boca, garganta… foi sufocante.

Matou muitos. Não de alegria, pois não houve festa, mas de dor; da dor de não poder respirar; da dor de não ter remédio pra curar. E os que viveram, ficaram lá… parados, sem saber o que fazer; o quê dizer?

Ela chegou, doença maldita, e se instalou; e fez tudo parar. Pretendeu matar a tradição, pois elegeu os anciões.

Chegou com um nome pomposo: Corona.

Coroa, não de rei, mas de um vírus. Veio coroar um tempo… quando ninguém mais tinha tempo pra nada, nem para os amigos, nem para a família, nem pra morrer, menos ainda para viver… nem para Deus sobrava tempo! Até tempo para o trabalho quase não se tinha mais, pois a tarefa de hoje, “era pra ontem”, tal sua urgência. Tudo uma só correria. Um mundo de velocidade, no qual até os segundos tiveram que ser esquartejados em milésimos e milionésimos…

Rapidez, velocidade, dinamismo… as palavras que definem o mundo em que ela chegou… e fez tudo parar.

O Raul, em 1977, terminou seu brado, cantando: “Essa noite, eu tive um sonho de sonhador, maluco que sou, acordei”.

E nós? Não acordamos. Continuamos confusos e confundidos. Perdidos: para onde ir, Se tudo está parado? Pra que ir, se tudo está contaminado?

Estamos parados, sem saber o que fazer. Abestalhados, sem saber a quem recorrer. Abandonados, sem um sistema pra nos proteger.

Quando passarem os dias, que não se sabe quantos serão, alguém vai escrever a história. E nessa história não haverá espaço para os heróis, não que eles não tenham existido. Na hora de fechar o balanço, eles aparecerão. Mas terão sido anônimos. Como são todas as multidões que não se furtam em fazer algo para superar as dores.

Se não houver nomes dos heróis, sobrarão narrativas sobre os desencontros de informações. Sobre os vilões da história, que serão vilões não por serem vis, mas por que não estavam à altura das respostas exigidas e pelas tolices afirmadas.

Talvez, então, ao final do drama, tenhamos aprendido algumas lições: o lugar e a vez de valorizar quem realmente importa; descobrir quem realmente importa, não porque é um figurão, mas porque está ao nosso lado; descobrir o valor do tempo, não o do relógio, mas o de ficar do lado de quem é importante pra nós.

Talvez, então, quando este inferno passar, tenhamos aprendido a lição com o velho Raul. Então veremos que o “patrão” não é mais importante que o “empregado”, pois ambos existem em função do trabalho para todos. O guarda não terá mais razão de existir, uma vez que o ladrão também não haverá, pois os que hoje roubam nos gabinetes da politica ou nas esquinas terão aprendido a lição da solidariedade.

Talvez, então, já acordados, como o velho Raul, não tenhamos necessidade de ouvir os sinos das igrejas, pois elas deixarão de ser importantes, pois importante é o ser humano, esse sim, amado por Deus.

Talvez, então, tenhamos aprendido a lição e saberemos quão importante é o professor, não para ensinar, pois as informações já estão na rede, mas para ajudar a trilhar o caminho da sapiência. E não teremos mais espaço para os ridículos comandantes, nem para tolo soldado, pois já não seremos inimigos. E, nesse dia, estaremos curados. E, desse dia, não precisarmos acordar, pois nosso sonho já não será sonho.




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO

sexta-feira, 13 de março de 2020

Depois do Dia dos Pais

Ontem foi dia dos pais.

Propositadamente não expressei congratulações a nenhum dos pais que conheço. Não que não mereçam. Pelo contrário.

Sei que merecem!

Sei, também, que não são poucos os filhos que se preocupam, cuidam e mesmo à distância convivem cotidianamente com seus pais, com suas mães, com seus filho... e com todos aqueles que precisam de sua mão amiga ou de sua palavra de apoio... Filhos com toda a extensão e profundidade que essa palavra pode expressar e significar. Aqueles filhos que, orgulhosamente, enchem de orgulho o coração dos pais e os fizeram pais, visto que somente a existência do filho gera o pai.

Sei que esses filhos usam, também, o dia dos pais para expressarem sua dedicação e gratidão filial.

Sei de tudo isso.

Mas sei, também, que os outros filhos não são assim.

Sei que só lembram de seus pais porque a loja de presentes, a perfumaria, a loja de confecções... a mídia, enfim, os força a provar sua ausência dando um presente compensatório. Um presente que só satisfaz a loja que vende, pois não preenche a ausência de uma vida de indiferença.

Por isso, hoje, não estou aqui fazendo minha homenagem tardiamente.

A real homenagem não se expressa com palavras, presentes, propostas de almoço ou jantar... A verdadeira homenagem, que enche o pai de orgulho – e não seus olhos de lágrimas por conta do descaso – somente acontece na cumplicidade que ocorre no cotidiano ao longo dos demais dias do ano. Ocorre como se dá a sucessão dos dias, invariavelmente um dia seguindo ao outro, com a brandura de um entardecer e a esperança do raiar do dia...

Entretanto, vai aqui minha homenagem... não aos pais, que já foram ontem superficialmente homenageados pelos filhos relapsos. E se foram lembrados ontem, não precisam de minha homenagem hoje, atrasada.

Também não estou homenageando aos pais que são constantemente presentes na vida de seus filhos. Estes já são honrados cotidianamente; e a minha homenagem, a estes, somente no dia dos pais, poderia soar falsa. E seria ainda pior no dia seguinte!!!

Faço, portanto, homenagem aos filhos!

Minha homenagem é dedicada aos filhos! Mas somente àqueles que durante todo o ano honram seus pais, como ensina o mandamento divino.







Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura - RO

domingo, 1 de março de 2020

Abacaxi ou abóbora?

Você já se deu conta de que a escola é um espaço onde são cultivados, entre outras coisas abacaxis e abóboras?
Se você é professor ou estudante ou pai ou simplesmente uma pessoa que gosta de entender as coisas, acompanhe meu raciocínio para perceber que, efetivamente, na escola cultivamos muitas coisas. Entre elas abacaxis e abóboras... Explico-me!
O que é uma abóbora? O que é um abacaxi?
Comecemos com os abacaxis. Aparentemente são futas charmosas. Dá até para fazer uma batidinha de abacaxi. Mas como nosso tema, aqui, é escola, então deixemos as batidas pra lá, pois alguém poderia dizer – algum leitor mal intencionado – que estou advogando o uso da palmada para promover um processo mais producente de educação.
Mas fiquemos com o abacaxi!
Comecemos, então, dizendo que o abacaxi é um fruto que parece rei, mas não tem majestade. Pensa que sua coroa é importante e lhe confere nobreza, mas, na realidade, só serve para cumular água, cocô de passarinho, sujeira e insetos. Abacaxi tem coroa, mas em vez de desenvolver a nobreza, desenvolve espinhos. Se você gosta de abraçar, não vai conseguir abraçar um abacaxi: ele é espinhento. É um tipo que só sabe espetar. E suas mudas, seus filhotes, são tão agressivos quanto os pais: já nascem com espinhos.
O abacaxi, com seus espinhos, é cheio de não-me-toque-não-me-rele. Seu crescimento é lento – e tem alguns deles que nem crescem – e cada pé só dá um fruto. Na feira, por vezes você precisa comprar três ou quatro pra valer um. Seu fruto é ácido e provoca afta em algumas pessoas.
Claro, tem gente que gosta, mas apareceu um problema já nos lembramos: é um abacaxi! É verdade que se pode fazer doce de abacaxi, suco de abacaxi, caipirinha de abacaxi, torta de abacaxi. Dá pra fazer muita coisa de abacaxi, mas não dá para abraçar um abacaxi... e ele cresce muito lentamente... o abacaxi é lento! Vai mais de um ano entre a produção da muda, seu plantio e a produção do fruto. É muito lento...!
E a abóbora?
É bem diferente! Ela não goza de muito status, mas convence pela simplicidade!
Observemos a abóbora em todo seu ciclo, começando com a semente.
A semente germina já crescendo e produz muito: O pé de abóbora produz pela vida inteira. Só para de produzir quando morre. Cresce para todos os lados e quanto mais cresce mais floresce. É verdade que nem todas as flores produzem abobrinha, mas elas atraem borboletas e outros insetos para polinização. O importante é que existem as flores que produzem abóboras. E cada rama produz muitas flores e frutos e mais ramas e mais flores e frutos e muita gente e animal pode se alimentar com eles. E cada abóbora produz centenas de sementes que podem gerar muitos outros pés de abóbora.
O interessante é que cada abóbora tem seu dinamismo próprio: com ela se pode fazer doce, salada, cozer com carne ou de outras formas: é alimento para qualquer situação ou gosto e tem funções benéfica para os intestinos...
Além disso, de qualquer pé de abóbora se pode dizer que é carinhoso, pois sai por aí abraçando tudo que encontra pela frente; e sempre enlaça num abraço produtivo. Mas o importante disso é que a abóbora cresce sempre; é sempre produtiva e altruísta...
A escola, portanto, é um campo em que se cultivam abacaxis e abóboras. Entretanto não sabemos quem é o quê. Mas sabemos que nossas aulas se dirigem a abacaxis e abóboras. Em nossas aulas estamos laçando o adubo... cultivando abóboras e abacaxis...

Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO.

CICLO DA PÁSCOA: A vitória da vida.

Disponível em: https://pensoerepasso.blogspot.com/2024/03/ciclo-da-pascoa-celebrar-vida.html; https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de...