quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Deus é imparcial… mas tem preferências!

(Reflexões baseadas em: Eclesiástico 35,15b-17.20-22a; 2 Timóteo 4,6-8.16-18; Lucas 18,9-14)




Será que você já se deu conta de como é difícil dizer quem é Deus, para nós?

O autor do livro do Eclesiástico (Eclo 35,15b-17.20-22a) propõe uma resposta. Diz que Deus merece confiança, pois atende às preces dos humildes. Também Paulo, escrevendo a Timóteo (2Tm 4,6-8.16-18), mostra uma face do Senhor. Afirma que por seu Reino vale a pena entregar a vida. Prestes a ser martirizado, sabe de que está falando: “Está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia” (2Tm 4,8).

Jesus de Nazaré, de acordo com a narrativa de Lucas (18,9-14), mostra que Deus tem uma profunda preocupação com as pessoas, ouve suas preces. Mas o Filho de Deus explica que o Pai tem critérios para ouvir a prece dos orantes, para lhes conceder aquilo de que precisam. E o critério é a humildade e não a postura arrogante.

Mas e nós, você e eu, qual é a nossa percepção de Deus?Quem é Deus, para nós? Como nos relacionamos com Ele? Nós o concebemos como um ponto de apoio ao qual nos escoramos nos momentos de dificuldades ou entendemos que o Senhor é a razão de nossa existência e, por isso, vivemos para agradecer os dons recebidos, reconhecendo nossa insignificância diante de sua infinita bondade?

O autor do livro do Eclesiástico nos faz ver que Deus é um juiz; é justo; atende o pobre e oprimido; atende aos marginalizados (órfãos e viúvas); enfim, o Senhor é um juiz imparcial… mas tem preferências!

Como assim?

Deus é o mesmo para todos, mas nem todos o recebem da mesma forma. Por isso ele tem preferências: prefere o excluído, marginalizado, pobre, oprimido…pois se eles existem é porque alguém os empobreceu, excluiu, marginalizou, oprimiu. Ninguém opta por ocupar uma condição marginal. Todos querem o melhor para si e esse é o plano de Deus, para todos.

Entretanto aqueles que concentram mais do que precisam em bens, riquezas, privilégios e poder sócio-político… não agradam a Deus. Todos que possuem além de suas necessidades estão gerando a inferiorização dos que são privados disso. O fato do Senhor querer tudo de melhor para todos, implica dizer que os que provocam as dores dos outros não estão cumprindo os desígnios do projeto do Reino. Então, se não cumprem os desígnios de Deus, não estão merecendo o mesmo dom divino. Por outro lado “Quem serve a Deus como ele o quer, será bem acolhido e suas súplicas subirão até as nuvens” (Eclo 35,20). Essa prece “atravessa as nuvens”, chega ao Senhor e Ele intervem e faz acontecer a justiça (Eclo 35,22).

Exemplo disso foi a atuação de Paulo. Entre dores e perseguições afirmou: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7). Sentia-se confortado nas dores do anúncio do Reino: “O Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente” (2Tm 4,17). E diz isso como quem cumpre uma missão e não por vangloria e ostentação.

Por fim, Lucas nos mostra a face de Jesus. Mostra que o Filho de Deus explica o porquê de Deus ter seus preferidos.

O evangelista deixa clara as razões. Não porque exclua alguém. Não porque tenha projetos e propostas diferentes para uns e para outros. Não porque deseje a exclusão de alguém. Não! Deus tem preferências porque estabelece critérios para que as pessoas se aproximem de sua proposta e projeto de salvação. Quer todos salvos, mas estabelece as condições para isso. Cabe ao cristão fazer a opção. E o modelo ou os critérios estão na postura dos dois homens rezando no templo.

O primeiro, um fariseu, fazia uma oração de agradecimento. Entretanto, agradecia por se considerar melhor que as demais pessoas. Fazia seus próprios elogios. Vangloriava-se diante de Deus. Colocava-se acima dos demais. “Eu te agradeço, Deus, por não ser como os outros homens” (Lc 18,11).O segundo, sabendo-se fraco e pecador, “nem se atrevia a levantar os olhos para o céu”. E, contrito, pedia piedade: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!” (Lc 18 13).

Deus é imparcial: oferece a todos os caminhos para a salvação. Entretanto, tem preferências: prefere que as pessoas alimentem o espírito da humildade. É isso que Jesus nos ensina: “Este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado” (Lc 18,14).

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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