A filosofia caracteriza-se pela atitude de busca. Mas o que busca a atitude filosófica? O saber, o Conhecimento! Indaguemo-nos, portanto sobre a possibilidade do conhecimento: É possível, efetivamente, “conhecer” algo?
Caso pedíssemos a duas pessoas para descreverem a mesma cena, será que ambas fariam a mesma descrição?
A experiência diz que não! As percepções não são únicas. Cada pessoa vê e descreve o que viu de forma única e diferente das outras pessoas. E sujeitas a erros ou equívocos, como sugere Descartes, no livro “Discurso do Método”: “pode ocorrer que me engane, e talvez não seja mais do que um pouco de cobre e vidro o que eu tomo por ouro e diamantes. Sei como estamos sujeitos a nos enganar no que nos diz respeito, e como também nos devem ser suspeitos os juízos de nossos amigos, quando são a nosso favor.”
O que isso nos indica? Que o processo do conhecimento é complexo. Demanda mais do que apenas ver algo. Exige o processo da reflexão, o exercício do pensamento.
Podemos dizer que uma das preocupações centrais do ser humano é a compreensão da realidade. Ou seja, conhecer o mundo (ou as diferentes manifestações da realidade), é um mecanismo que permite não só interferir naquilo que o mundo pode oferecer, como também exercer domínio sobre ele: conhecer é dominar.
Neste ponto surge uma questão: por que se deseja conhecer? Porque o desconhecido é assustador. O ser humano, entre outras coisas, é medroso. Dessa forma o desejo de dominar o medo impulsiona o homem na busca do conhecimento pois aquilo que é conhecido passa a produzir segurança, certeza. Nossos medos são mecanismos para superação do desconhecido; o medo é um dos propulsores da humanidade. E esta constatação leva à seguinte conclusão: ao longo da historia da humanidade o medo produziu deuses, religiões, filosofia e ciência!
O imperador romano, Marco Aurélio, em suas Meditações, afirmou que somos nós a causa do medo; não tememos, exatamente o que nos assusta, mas nossa opinião a respeito daquilo que nos assusta. Portanto temos medo não da coisa que assusta, mas de algo que está em nós: nossa compreensão a respeito do coisa em questão. Mas também depende de nós a superação da situação desconfortável. Como o desconforto – o medo – advém do desconhecido, a solução é o conhecimento.
Feitas estas considerações, alguém poderia perguntar: Onde entra a filosofia nesse processo? Ela é a ferramenta no processo da busca! O homem é um ser que busca e criou a filosofia com essa finalidade: ampliar seu universo de instrumentos de busca. E o que move a busca? Além do desconhecimento, o espanto, como diziam os antigos, ou a curiosidade, como dizemos hoje.
Voltemos, então, à indagação inicial: O conhecimento é possível? Sim, é possível. Não como algo pronto e acabado, mas como processo. O processo da aprendizagem não tem fim.
A capacidade de conhecer e saber utilizar os conhecimentos acumulados é um dos elementos definidores do ser humano. O conhecimento torna-se ferramenta de trabalho. A ação do homem no mundo, ou seja, seu trabalho, depende daquilo que sabe realizar. A busca e geração de mais conhecimento, portanto, pressupõe, além da busca formal (em escolas e cursos) o mundo do trabalho. O conhecimento é possível, não como algo espontâneo mas na proporção exata dos interesses daquele que deseja conhecer.
Sendo esse não um processo espontâneo nem estanque, mas intencional e dinâmico, ele depende da conjugação de alguns elementos: o espanto que gera as indagações e o interesse em responder às dúvidas; associação de ideias e informações novas às ideias já incorporadas e, principalmente, a reflexão que se caracteriza como processo pelo qual se transforma a informação em conhecimento.
No mundo em que estamos inseridos e no qual nos coube viver, as informações (verdadeiras e falsas) estão à disposição de quem as procura, no universo virtual. Mas a informação ainda não é conhecimento. Ela depende da vontade, do intelecto e das intenções para ser transformada em conhecimento…
Neri de Paula Carneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO
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