(Reflexões baseadas em: At 3,13-15.17-19; 1Jo 2,1-5a; Lc 24,35-48)
O dia da Páscoa já passou. Mas o ambiente pascal permanece neste terceiro domingo do Tempo da Páscoa. Já se passaram vários dias. Já voltou a normalidade para a maioria das coisas. Já começam a cicatrizar as feridas da dor, da perda, da ausência. Já começa a aparecer a cicatriz...
Mesmo tendo ouvido algumas mulheres anunciando que o corpo não estava no túmulo, a incredulidade permanecia. Mesmo tendo ouvido o mestre por sucessivos dias e o acompanhado por diversos locais, a dificuldade em entender permanecia. Mesmo tendo visto as maravilhas que o Senhor havia realizado… a fé ainda não havia se manifestado!
E, junto com tudo isso… o medo ainda permanecia… Eles o mataram… aqueles que assassinaram o Senhor podem nos perseguir… será que nos matarão também?
Inquietos estavam os corações! Mas oravam! Tranquilidade e paz era o que, realmente, não sentiam! Mas estavam unidos! Queriam ter coragem com as mulheres tiveram! Mas o medo era maior!
E, afinal, quem não ficaria com medo? Quem não pensaria em se esconder e trancar as portas? (Lc 24,35-48) Quem não ficaria receoso de acreditar e não colocaria em dúvida, quando dois companheiros narrassem uma história meio estranha de ter visto o Senhor e ter com ele compartilhado o pão?…
Então dá pra imaginar o susto. Dá pra imaginar o medo. Dá pra imaginar, também, a alegria e a inquietação quando, o Senhor se faz presente saudando: “A paz esteja com vocês!” (Lc 24,36).
A paz era o que mais queriam, mas não seria um fantasma? (Lc 24,37)
Entretanto, aquela voz! Aquelas mãos! Aqueles pés! A voz transmitia a mesma paz! Nas mãos e os pés os mesmos sinais da violência na cruz (Lc 24,39). Mas Ele havia morrido. Eles o haviam visto morrer na cruz! Então como estava ali entre eles? Eles queriam acreditar. Queriam entender. Queriam se alegrar… mas a dúvida e o medo permaneciam…
Foi aí que Ele disse: “São estas as coisas que vos falei quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24,44). Não somente falou, mas também: “Abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras” (Lc 24,45).
Agora sim! Agora ficou tudo claro! Agora a coragem se instalou! Agora o medo cedeu e ganhou força a vontade e a necessidade de anunciar!
E foi o que eles fizeram. Abriram as portas e Pedro falou ao povo: “O Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, o Deus de nossos antepassados glorificou o seu servo Jesus” (At 3,13). E João confirma “Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos pecados do mundo inteiro” (1Jo 2,2)
Pedro acusa os acusadores de Jesus. Mostra o que fizeram: Entregaram-no, rejeitaram-no, pediram a morte de santo e a libertação do assassino (At 3,13-14). Mesmo demonstrando o tropeço do povo, Pedro acena para a bondade de Deus demonstrando que esse povo foi manipulado para rejeitar o caminho da paz: “eu sei que vós agistes por ignorância” (At 3,17). E se agiram por ignorância, incitados por outros, são convidados ao arrependimento. Entretanto, aqueles, inclusive em nossos dias, que atentam contra a vida da sociedade, têm o mesmo pecado daqueles que o crucificaram.
Aqueles que o crucificaram continuam agindo, hoje, como agiram lá. Os tempos são outros, mas os gritos mentirosos são os mesmos. Os que continuam assassinando o Senhor são aqueles que, investidos de poder, político ou religioso, poderiam se concentrar em salvar vidas, preservar a saúde… mas permanecem numa disputa mesquinha e em mútuas acusações de irresponsabilidade, quando a irresponsabilidade consiste em ter o poder de melhorar a vida das pessoas e não o fazer. Desde o mais alto posto, politico ou religioso, até as bases nas pequenas comunidades, todos aqueles que não ajudam a defender a vida fazem parte do grupo que continua crucificando Jesus.
Pedro apresenta a proposta salvadora: “Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam perdoados” (At 3,19).
E João explica as exigências da fé: “Quem diz: ‘Eu conheço a Deus’, mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele” (1 Jo 2,4). A condenação da difusão de notícias mentirosas valia naquele mundo em que nascia a Igreja e ainda vale nos dias atuais.
Os apóstolos, assumiram o mandato. Entenderam que Jesus Ressuscitado os orientou e os enviou, dizendo: “Assim está escrito: ‘O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia e, no seu nome, serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém’. Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc. 24,46-48). Efetivamente os apóstolos entenderam a mensagem e se puseram a anunciar. Pedro confirma: “e disso nós somos testemunhas”. (At 3,16).
Como a missão ainda está em aberto, cabe a nós a continuação. A nós também é feita a proposta: “Vós sereis testemunhas de tudo isso”. Testemunho com base na fé. O tamanho da fé é o tamanho do testemunho.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.
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