Ainda estava muito longe o dia das mães, quando ela me localizou no facebook e enviou-me uma mensagem dizendo: “Sempre gostei desta música” e anexou um vídeo em que um grisalho B. J. Thomas cantava: “Rock and roll Lullaby”: “She was just sixteen and all alone / When I came to be...” (Se quiser ouvir: https://www.letras.mus.br/bj-thomas/40154/traducao.html)
Abri o link e ouvi a música, outra vez nos tempos de escola. Na minha lembrança o tom ainda era como que uma mistura de saudade e romantismo. Na realidade eu me vi e revivi em nossa juventude e nossa convivência juvenil. Tudo fora tão intenso que, ao lembrar, ouvindo a música, quase podia sentir o mesmo perfume.
Respondi que também gostava daquela música. Que ela tem um ritmo gostoso e meio que suave. Bom de ouvir. Viajei no tempo e lembrei que já naquela época sempre defendia os artistas nacionais e a música popular brasileira. Em minha discoteca não faltava Raul Seixas, Rita Lee, Belchior, Sílvio Brito, Ze Ramalho… e outros que embalavam a reflexão nas letras que conseguiam burlar a censura… eram tempos de ditadura!
Mas naquela época, e ela sabia disso, também ouvíamos Beatles, Lobo, Élvis Presley… e B. J. Thomas, entre outros que já estão quase apagados na memória… entretanto se a gente procurar, os encontra vivos na internet, contando com a mesma jovialidade na terra de ninguém...
E antes que eu me desse conta do sentido para além do artístico, que fica escondido e se revelando na letra da canção, ela completa a mensagem: “Nunca me preocupei em saber a tradução, mas sempre gostei da melodia”. E foi aí que me dei conta de que também não me havia atentado pela tradução da música que fizera tanto sucesso no início dos anos 1970 e que minha amiga enviara num gesto de antiga amizade realimentada na segunda década do século XXI.
Além de revê-la na memória, rememorei os outros colegas do nosso grupo, da mesma época. E, enquanto ouvia a música, fiz uma rápida busca. Localizei uma tradução para “Rock and roll Lullaby”. Em português soa meio estranho: Rock and roll para ninar… Só aí percebi que não é um rock romântico, algo como “Love-me tender”, do Élvis. Era uma canção de ninar!
Não uma canção de ninar de uma mãe acalentando ao filho, mas uma canção de um filho que reconhece, além do carinho, a doação de vida e o sofrimento e as dores e as esperanças e os sonhos de uma mãe: “She was just sixteen and all alone, when I came to be. So we grew up together, my mama child and me”. “Ela tinha apenas 16 anos e completamente só, quando eu apareci. Então nós crescemos juntos, minha mamãe criança e eu”. Não é lindo?
Uma criança gerando e cuidando e amando outra criança que dela nascera… uma criança gerando uma vida criança, uma mãe sozinha: “Now things were bad and she was scared, but whenever I would cry she'd calm my fears and dry my tears”. “Agora as coisas estavam ruins e ela estava assustada, mas sempre que eu chorava ela acalmava meus medos e enxugava minhas lágrimas”. Nem precisava de tantas palavras, poderia afirmar toda essa doação numa palavra: Mãe!
Como essa mãe-criança acalentava seu filho? Ela cantava! Essa criança consolava sua criança “with the rock and roll lullaby”. Ela acalmava o bebê “com um rock and roll de ninar”. Como se vê, ela acalentava não só em seu colo. Não só com seu carinho. Não só com seu amor, não com uma canção qualquer, mas “com um rock and roll de ninar”.
E aí me pus a lembrar e a analisar e comparar… o valor da vida dessa mãe-criança, da canção. Não deu pra não olhar como algumas mães tratam seus filhos em nossos dias, em nossa sociedade. Não são poucas as notícias de bebês encontrados no lixo, abandonados… ou mães que matam seus filhos e apoiam seus maridos assassinos… exploram a prostituição das filhas… percebi como tudo isso está distante daquele rock para ninar.
Na canção o filho agradece e reconhece o que recebeu da mãe. Ele sabe e reconhece o que ela fez por ele: “You made it through the lonely days”. “Você conseguiu atravessar aqueles dias solitários”. Com certeza essa mãe sofreu não tanto pelas suas privações, mas porque naquele momento não podia oferecer ao filho o que precisava, aquilo que sonhava. Ele sabe que o amor da mãe não tem limites. É um reflexo do amor de Deus. E ele agora canta esse reconhecimento: “‘Cause I just knew lots of love came thru in that rock and roll lullaby”. “Pois eu só sabia que muito amor vinha através daquele rock and roll de ninar”
Além de pensar a respeito da música, a música fez-me pensar em nós. Já que não é dia das mães: que tal vivermos cada dia uma sucessão de dia das mães? Talvez assim o comércio não mercantilize o amor. Talvez assim a doação não seja só ocasião de lucro. Talvez assim possamos reacender, redescobrir, reencontrar o valor da vida, tão negligenciada…
Ao ouvir a música enviada por ela, pensei mais. Recordei mais. Revivi momentos… na juventude. Também pensei nas mães, pensei num rock para o dia das mães, que são todos os dias.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Sagrada Família: para se cumprir!
Reflexões baseadas em: Eclo 3,3-7.14-17a; Cl 3,12-21; Mt 2,13-15.19-23 Todos os que, de alguma forma, tiveram contato com os ensinamentos d...
-
A filosofia caracteriza-se pela atitude de busca. Mas o que busca a atitude filosófica? O saber, o Conhecimento! Indaguemo-nos, portanto sob...
-
Ao darmos os primeiros passos no entendimento da filosofia pudemos perceber que existem algumas visões equivocadas a respeito dela. Agora ap...
-
Todos os homens, em todos os tempos, desenvolveram algum tipo de reflexão, explicando seu mundo. Essa reflexão pode ser entendida como um fi...
Nenhum comentário:
Postar um comentário