quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Hoje a salvação entrou nesta casa

(Reflexões baseadas em: Sabedoria 11,22-12,2; 1 Tessalonicenses 1,11-2,2; Lc 19,1-10)



Como nós reagiríamos se Jesus (Lc 19,1-10), dirigindo-nos a palavra, dissesse o que falou a Zaqueu: “Hoje devo ficar em tua casa”?

Mais do que isso, como reagiríamos se, no momento em que estivesse entrando em nossa casa, Jesus nos dissesse o que falou ao entrar na casa de Zaqueu: “Hoje a salvação entrou nesta casa!” (Lc 19,9)?

Caso estivesse acontecendo conosco a mesma situação vivida por Zaqueu, de Jesus ter decidido nos fazer uma visita, qual teria sido o motivo que o teria movido a nos visitar?

Certamente, cada um de nós que hoje sabemos quem é Jesus, vibraríamos de alegria. Afinal, o Filho de Deus escolheu e se decidiu nos fazer companhia;decidiu entrar em nossa casa; mostrou que tem consideração para conosco! Certamente nos sentiríamos movidos por um sentimento que misturaria alegria, euforia, um certo orgulho...

Entretanto, será que temos consciência do motivo que levou Jesus a se decidir pela casa de Zaqueu? Será que pagaríamos o preço que esse senhor pagou? Não em dinheiro, mas porque se viu movido a admitir, publicamente, sua condição. Será que temos consciência de nossa condição, que teria feito Jesus tomar a decisão de nos honrar com sua visita?

Por que Jesus escolheu e entrou na casa desse homem?

Muitos de nós diríamos que Jesus entrou na casa de Zaqueu porque o recompensou pelo esforço em querer vê-lo. Afinal, era baixinho e havia passado pelo vexame de ter que subir numa árvore para poder ver o Senhor passando (Lc 19,3-4). Também não foi uma recompensa pelo vexame em ouvir Jesus dizendo: “Zaqueu, desce depressa!” (Lc 19,5).

Na realidade toda a cena tem um objetivo que é mostrar a todos a realidade de Zaqueu. E não se trata de uma situação exterior, que todos já sabiam: Zaqueu “era chefe dos cobradores de impostos e muito rico” Lc 19,2). As palavras de Jesus, expressam uma outra realidade: Zaqueu é um pecador!

Mas Jesus não mobilizou toda a situação para expor Zaqueu ao vexame. Sua condição de pecador manifestou-se apenas no julgamento das pessoas. Quando viram a postura de Jesus, as pessoas “começaram a murmurar, dizendo: ‘Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!’” (Lc 19,7). O julgamento de Jesus caminhou em outra direção. Caminhou na direção da conversão; da mudança de postura; na tomada de uma decisão radical, completamente diferente do comportamento dos que acompanhavam Jesus. Ao ser interpelado por Jesus “Zaqueu ficou de pé, e disse ao Senhor: ‘Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais’” (Lc 19,8).

Jesus se decidiu pela casa de Zaqueu por causa dessa atitude. Essa atitude mereceu o perdão dos pecados. O pecador não pediu perdão, mas, consciente de sua situação agiu para merecer o perdão: restituiu o que havia roubado e distribuiu os bens entre os que precisavam.

Com certeza gostaríamos que Jesus nos visitasse. Mas será que pagaríamos o preço de sua visita?Qual é esse preço? Primeiramente admitir, publicamente, que somos pecadores; em seguida, fazer uma confissão pública de nossos infrações e por fim fazer a correção dos erros cometidos. Como? Sanar os pecados consiste em restituir o que ao outro pertence… e não se trata, apenas, de pedir perdão, pois Zaqueu não pediu. Ele corrigiu e se corrigiu!

Como isso exige uma mudança de postura, alguém pode se perguntar e nos indagar: por que devo fazer isso?

Porque Jesus quer fazer essa visita. Aliás, como o afirma Paulo, à comunidade da cidade de Tessalônica(1 Tessalonicenses 1,11-2,2): Ele está para fazer essa visita. Ele está para voltar. Entretanto, afirma o apóstolo, o cristão não deve se deixar enganar pelos que disseminam falsas notícias a respeito desse retorno. Ele virá, sim, mas “no que se refere à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa união com ele, nós vos pedimos, irmãos: não deixeis tão facilmente transtornar a vossa cabeça, nem vos alarmeis por causa de alguma revelação, ou carta atribuída a nós, afirmando que o Dia do Senhor está próximo” (1 Ts 2,1-2). Noutras palavras, diz o apóstolo, cuidado com as Fake News!

Também o Livro da Sabedoria (Sabedoria 11,22-12,2) nos orienta. O Senhor quer nos fazer uma visita. Não por nossos méritos, mas por seu infinito amor. E por nos amar nos quer puros de toda maldade. Por isso, diz a Sabedoria: O Senhor abomina a violência, a falsidade, a maldade e tudo que conduz a morte, pois o “Senhor é amigo da vida”. Por esse motivo, quando erramos age como agiu com Zaqueu. E faz o mesmo conosco: “É por isso que corriges com carinho os que caem e os repreendes, lembrando-lhes seus pecados, para que se afastem do mal e creiam em ti, Senhor” (Sab 12,2).

Por causa desse amor, disse a Zaqueu, quer dizer a nós:Hoje a salvação entrou nesta casa. Resta saber se o queremos receber.


Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:


Nenhum comentário:

Postar um comentário

TEMPO COMUM e o Tempo de Deus

Também disponível em: * https://pensoerepasso.blogspot.com/2024/01/tempo-comum-os-tempos-de-jesus-de-nazare.html * https://www.recantodasl...