sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Cristo Rei: Lembra-te de mim, quando vieres em teu reino

(Reflexões baseadas em: 2 Samuel 5,1-3; Colossenses 1,12-20; Lucas 23,35-43)




Quer aprender com a sabedoria da Igreja? Uma das maneiras é acompanhar o ciclo das celebrações ao longo do “Ano Litúrgico”.

A Igreja tem uma proposta muito sábia, em relação à liturgia. Ela distribui os principais fatos da vida de Jesus de Nazaré ao longo de um ano. Essa é a ideia do Ano Litúrgico, ou seja, a contemplação da vida de Jesus ao longo dos doze meses. E, com isso, faz uma catequese, uma apresentação, uma explicação dos mistérios divinos, manifestados por Jesus de Nazaré.

Há, entretanto, uma diferença em relação ao nosso ano civil que começa em janeiro e termina em dezembro. O Ano Litúrgico começa com o Advento (período de preparação para o Natal) e termina com a celebração Jesus Cristo, Rei do Universo.

Por que comemoramos a realeza de Jesus? Primeiro porque em sua convivência humana mostrou que o sentido da vida é a VALORIZAÇÃO DA VIDA. Para mostrar esse valor curou pessoas enfermas; ensinou o significado do respeito à pessoa humilhada e marginalizada; alimentou as pessoas famintas; mostrou que a pessoa vale mais que as coisas; defendeu a paz; condenou a violência e, principalmente, manteve-se fiel ao Plano que o Pai lhe tinha reservado: dar sua vida em favor da vida de todos.

Em segundo lugar porque o Senhor da Vida, também é Senhor da morte. Ele entregou sua vida e a resgatou. Venceu a morte, mostrando o caminho da Ressurreição. E tudo isso numa caminhada de paz, harmonia, identificação com os sofredores e marginalizados.

Alguém poderia perguntar com base em quê afirmamos a realeza de Jesus? Em que nos baseamos para refletirmos a respeito da solenidade em que celebramos Jesus como Rei do Universo? Em que podemos nos basear para nos aproximarmos desse homem magnífico, o Filho de Deus que se apresentou como Senhor absoluto da Vida e da Morte?

Podemos entender a realeza de Jesus da mesma forma que Davi (2 Samuel 5,1-3) foi aclamado depois foi ungido pelo povo como rei e fez com eles uma aliança, a fim de os conduzir. Assim também o Senhor Jesus, foi ungido pelo Espírito e em seu sangue vertido na cruz, fez uma aliança definitiva, unindo o povo fiel ao Deus da Vida.

Além disso, com Paulo (Col 1,12-20) aprendemos que sua ressurreição o torna Senhor da Morte. Um senhorio que não se limita à sua passagem pela terra, mas que sua vida terrena o capacita a se apresentar como caminho, como inspiração para a caminhada e como meta definitiva para a vida vindoura.

Graças a isso a morte deixa de ser um ponto final para ser percebida como uma porta de entrada na participação “da luz que é a herança dos Santos” (Col 1,12). Sendo luz a guiar os povos Jesus é também “a Cabeça do corpo, isto é, da Igreja. Ele é o Princípio, o Primogênito dentre os mortos; de sorte que em tudo ele tem a primazia,” (Col 1,18). Além disso, Jesus é Rei do universo porque “Deus quis habitar nele com toda a sua plenitude e por ele reconciliar consigo todos os seres, os que estão na terra e no céu, realizando a paz pelo sangue da sua cruz” (Col 1,19-20).

Ou seja, nada do que existe, existe sem a intervenção divina. Graças a isso, toda a existência é redimida pelo amor que motivou a entrega na cruz e, ao mesmo tempo presenteou o mundo com o dom da ressurreição. Ao ressuscitar, vencendo a morte, Jesus redime tudo e todos, pois só ele tem o poder de dominar as forças da morte.

É fato, entretanto, que nem todos entendem ou aceitam a realeza de Jesus. Por isso a zombaria durante o supremo ato da cruz (Lucas 23,35-43).

Nesse momento redentor assistimos a uma cena em que as garras do mal se apresentam ameaçadoras sobre o Senhor da Vida. As forças da morte zombam da fragilidade da vida. Ridicularizam o único que lhes pode salvar. São vários a zombar e várias as zombarias, manifestando uma profunda incredulidade.Chefes do povo, soldados e malfeitores zombam: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!”, diziam os chefes do povo. E os soldados: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!”. Os malfeitores com ironia: “Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!” (Lc 23,35-39).

Por outro lado, aqueles que acreditam a se entregam nas mãos do Senhor da vida e Rei do Universo imploram, como o outro condenado: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres em teu Reino”. Como ele, todos que aderem à proposta de vida poderão ouvir a promessa, e experimentar a redenção: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 42-43).

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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