quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Não ficará pedra sobre pedra

(Reflexões baseadas em: Malaquias 3,19-20a; 2Tessalonicenses 3,7-12; Lucas 21,5-19)



Diversos trechos da bíblia nos informam que se aproxima um fim catastrófico, para as pessoas e o mudo.

Podemos mencionar, entre esses trechos podemos, as palavras de Malaquias (3,19-20), anunciando um fogo abrasador sobre os ímpios. Com isso o profeta indica que a ação de Deus colocará um ponto final sobre a maldade humana.

Por sua vez, Paulo, escreve aos tessalonicenses (2 Ts 3,7-12) que esperavam um fim iminente, representado pelo retorno escatológico de Jesus.

Nessa carta o apóstolo procura corrigir a compreensão equivocada de alguns membros da comunidade. Chama a atenção para a necessidade de se viver às custas do próprio trabalho, pois isso, além de ser mais honroso, promove a independência e liberdade das pessoas; sem contar que pelo trabalho as pessoas dão continuidade à obra da criação.

Diante dessas trechos falando do fim podem surgir indagações. Uma delas: Essas cenas, mencionando a consumação dos tempos, pretendem nos assustar com o anúncio do fim ou querem nos alertar e indicar um caminho a seguir?

Evidentemente que não se pretende negar que haverá um fim. Ele virá, pois foi afirmado pelo próprio Senhor. Mas, assim nos parece, antes de ser um anúncio do fim, essas narrativas são um convite para que as pessoas revejam seus comportamentos. Redirecionem seus passos. Aproximem-se da proposta divina. “Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas” (Ml 3,20). Ou seja, no ponto final, o amor prevalece.

O mal será vencido.Porém aqueles que não seguem os preceitos divinos de humildade, da bondade, do amor, esses sim receberão o destino dos “soberbos e ímpios”: queimarão como palha. Deles não sobrará “raiz nem ramo” (Ml 3,19).

Falando aos discípulos, Jesus(Lc 25,5-19) mostra o poder da maldade e confirma seu impulso destrutivo. O mal é destrutivo: quer destruir o bem, mas também destrói a si mesmo.

A maldade humana, na medida em que se afasta do plano amoroso de Deus, gera mais maldade. Entra numa espiral crescente de maldade fazendo com que pessoas e instituições maldosas se agridam mutuamente. Partindo disso podemos dizer que não será Deus a provocar o fim de todas as coisas, mas o próprio mal promove seu fim. “Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país” (Lc 21,10). Dessa forma o mal se alastra e produz as condições para se extinguir. Antes, evidentemente, crescerá de forma avassaladora, como uma tempestade, a assustar muita gente. Mas após a tempestade, o sol volta a brilhar.

A outra forma de vencer o mal, ao contrário disso, é atender ao convite divino para a prática do amor solidário. Diante do apelo divino as pessoas podem responder com a pronta adesão. E assim, como num círculo virtuoso, o mal pode ser extinto numa sucessão de atos amorosos.

Então voltemos à nossa indagação: Na bíblia, os tantos anúncios do fim dos tempos pretendem nos assustar ou nos convidar a trilhar os caminhos do Senhor?

É fato que Jesus anuncia o fim. Mas também orienta aos discípulos: diante das notícias de “guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim” (Lc 21,9). Aumentará o sofrimento das pessoas por causa das reações da natureza e da mesquinharia humana na forma de “terremotos, fomes e pestes”. Mas, antes disso, aqueles que são de Cristo serão “presos e perseguidos” (Lc 21,11-12). Há, ainda, o risco de ser ludibriado pelos falsos messias. Mas Jesus é taxativo: “Não sigais essa gente!” (Lc 21,8), pois representam as forças do mal, da mentira, da enganação…

Mas tudo isso é necessário ocorrer, pois antecede o fim. As forças do mal irão se impor, enganando as pessoas, criando divisão e ampliando o terror. A maldade se infiltrará até no coração das famílias, gerando discórdia e divisão. “Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos” (Lc 21,16). Enfim, o mal se espalhará e as pessoas pensarão que ele venceu.

Entretanto, a verdade é outra. As forças do mal somente estarão fazendo com que os corações se manifestem em suas verdadeiras intenções. Os bons ampliarão sua rede do bem, aproximando-se do Senhor; os maus, ao ampliar a maldade, estarão dando passos definitivos para seu próprio fim. “Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,18-19).





Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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