sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Todos os santos: Bem aventurados!

(Reflexões baseadas em: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1 jo 3,1-3; Mateus 5,1-12)




Quem são os santos? De onde vieram os santos? O que os torna santos?

Estas – e possivelmente outras – indagações podem surgir quando a Igreja nos propõe celebrar o “Dia de Todos os Santos”. Celebração essa que encontra uma de suas bases no livro do Apocalipse (Apocalipse 7,2-4.9-14).

Para entender, observamos o anjo de Deus em ação.

Na atuação do anjo que “trazia a marca do Deus vivo” podemos encontrar uma resposta. Ela aparece quando grita aos outros quatro anjos para conter os danos que deviam provocar sobre a terra o mar e as árvores. Seu grito era para conter a danação “até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus” (Ap 7,2-3).

Com isso somos informados que são Santos os assinalados como servos de Deus. Mas a visão joanina diz mais. Ela parte da afirmação de que a terra, o mar e as árvores passarão por uma grande devastação. Como consequência disso, as pessoas serão atingidas. Por isso é que, antes da grande catástrofe, os santos devem ser assinalados a fim de serem poupados.

Assistindo a tudo isso, João vê três grupos de pessoas. No primeiro estão os filhos de Israel, já separados. Ao seu lado estão os cristãos. Formam “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar” (Ap 7,4.9). E eles distinguiam-se dos demais por que “trajavam vestes brancas”. Estes afirmam com segurança: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro”. Essa multidão é formada por todos os que “vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,10.14).

O terceiro grupo, não está bem definido, mas são aqueles que não receberam o sinal de Deus. Mas, pior do que isso, ainda estão colaborando para a devastação da terra, das águas e das florestas (as árvores). Não serão assinalados, pois seus atos cotidianos, lhes impede de pertencer ao grupo dos seguidores do cordeiro.

Os três grupos formam uma multidão, mas só mereceram a atenção do anjo de Deus aqueles os assinalados e os que receberiam o sinal divino. O terceiro grupo optou por se distanciar do Plano de Deus pois colaborou com os males do mundo e do ambiente. E sofrerá as consequências da devastação do mundo e a ser provocada pelos quatro anjos.

Entretanto, diz João para os Santos, em sua primeira carta (3,1-3). Estão reservadas as maravilhas do Reino. Àqueles que superarem as tribulações, está reservado um “presente” de Deus: neste mundo serão “chamados filhos de Deus”. (1Jo 3,1)

Em seguida João explica: os que receberam o sinal de Deus, pelas águas do Batismo, e se portaram como cristãos ao longo da vida são os “filho de Deus”. E diz, ainda “nem sequer se manifestou o que seremos”. Os santos, os que seguirem os passos do Ressuscitado “quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é” (1Jo 3,2).

O modelo de santidade não são os outros santos, mas o próprio Jesus Ressuscitado. Esse é o modelo e caminho a trilhar: “purifica-se a si mesmo, como também ele é puro.” (1Jo 3,3).

Assim chegamos ao ponto de nos indagarmos: como entrar no caminho da santidade? Como entrar nesse processo de purificação, que nos assemelha a Jesus? Qual o caminho para atingir a santidade? É Jesus quem oferece a resposta, conforme ensina Mateus (5,1-12).

O manual de santidade está no chamado “Sermão do monte” ou da montanha. Numa série de nove afirmações que se popularizaram como as “bem aventuranças”. Nesse, que podemos chamar de poema, estão algumas situações desafiadoras. Cada bem aventurança faz uma denúncia. Denuncia uma situação a ser superada a fim de que se realize a promessa.

Denuncia o orgulho e a soberba com a proposta da mansidão; denuncia as situações que geram angústia para anunciar o consolo; denuncia a maldade dos agressores para anunciar a mansidão; denuncia as injustiças para que haja espaço para a transformação social; denuncia os que almejam maldade e vingança para plantar misericórdia; denuncia as situações de pecado pessoal e social como impedimento para ver a Deus; denuncia a violência e a guerra para construir a filiação divina. E, acima de tudo, quem lutar para a concretização destes anúncios vai sofrer perseguições, vai perder a vida, vai ser injuriado...mas estes verão a Deus. Terão uma grande “recompensa nos céus”.

O caminho da santidade, o mérito de ser assinalado com a marca de Deus, não são os santos, mas o seguimento do manual de Jesus Cristo. Quem trilhar esse caminho será bem aventurado.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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