quinta-feira, dezembro 22, 2022

Natal: Glória a Deus e paz na terra

(Reflexões baseadas em: Isaías 9,1-6; Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14)





Estamos comemorando o Natal!

E quando comemoramos o Natal, a maioria de nós tem em mente as festas e as trocas de presentes. O clima de alegria e a confraternização. Isso sem falar do Papai Noel e das mesas ostentando ceias fartas… Ah! Também tem alguns que se solidarizam e ajudam a preparar cestas básicas, com alimentos para serem entregues às famílias carentes: “No Natal ninguém deveria ficar sem comer!” é a justificativa para o ato.

Nas igrejas se canta glória Deus, pois foi assim que os anjos anunciaram o Natal! Os ritmos e melodias vão se alternando, enquanto as pessoas se confraternizam; trocam palavras de cordialidade; votos de felicidade. O clima é de festa!

Mas será que é disso que precisamos para comemorar essa data, tão importante para o mundo cristão?E depois, no dia seguinte? Na semana seguinte? No ano seguinte… Como serão as relações entre as pessoas?

Cestas básicas? Evidente que são importantes. Mas qual é a transformação social que se realiza com o simples fato da distribuição das cestas básica, no Natal? O que o cristão, ou a entidade que distribui as cestas, está fazendo para que num futuro bem próximo a distribuição de cestas básicas não mais seja necessária? As cestas são importantes, mas seria muito mais cristão e estaria mais em sintonia com o espírito do Natal, se as pessoas fizessem tudo para que não houvesse necessidade de se dar cestas básicas; a cesta, por mais recheada que seja, termina, mas a necessidade de quem a recebeu… vai continuar… então o que fazer para acabar com essas necessidades?

Confraternização e festas? Claro que são importantes. Mas como se prolongarão as relações entre as pessoas, depois das festas de fim de ano? Trocamos votos de felicidades, mas ao longo do ano que segue quase nunca nos recordamos das pessoas que abraçamos no Natal. E, o que é pior: muitas vezes, muitos de nós, infernizamos a vida de pessoas próximas de nós: em casa, no trabalho, na escola, no lazer, na roda de amigos… “viu o que fulano aprontou, desta vez…?”; “Sabe o fulano…., pois é ele...”… Dessas atitudes não nos lembramos quando nos aproximamos do Natal. Dessas atitudes nos aproximamos quando nos afastamos do Natal!

Considerando tudo isso, vamos nos perguntar: Exatamente o que comemoramos na festa do Natal? Exatamente o que é o Natal para nós?

O profeta Isaías (9,1-6) nos diz: “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu”. E em seguida completa: “Porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; ele traz aos ombros a marca da realeza; seu nome é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz”. Por fim, diz o profeta “Grande será o seu reino e a paz não há de ter fim … e ele irá consolidar e confirmar em justiça e santidade, a partir de agora e para todo o sempre”. Tudo isso como a nos dizer: Natal não é só um dia. Natal tem consequências… ou não é Natal!

O apóstolo Paulo, escrevendo a Tito (2,11-14), também chama nossa atenção para os atos que devem brotar do Natal. Quem celebra o Natal deve “abandonar a impiedade e as paixões mundanas e viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade.” Isso porque Jesus quer “nos resgatar de toda maldade e purificar para si um povo que lhe pertença e que se dedique a praticar o bem.” Não só no dia do seu aniversário, mas cotidianamente!

Isso tem que ser lembrado, porque Jesus não apenas nasceu, mas nasceu dentro de circunstâncias sociais, politicas e econômicas adversas (Lucas 2,1-14)… como a denunciá-las.

Foi obrigado a nascer longe de casa devido censo decretado pelo Imperador: “Todos iam registrar-se cada um na sua cidade natal.” José e Maria não tiveram escolha. Não por maldade dos hospedeiros, mas por exigência do poder estabelecido: “Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria.” Essa situação de marginalidade atraiu aqueles que viviam a mesma condição de exclusão. Por isso o anjo dá a boa notícia aos pastores: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo… nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor.”

Celebrar o Natal é importante? Sim, mas não se pode perder o significado da celebração: Justiça e paz. Comemorar com mesa farta? Sim, mas ela tem que ser farta todos os dias… para todos. Abraçar e desejar felicidades? Sim, mas também colaborar para que o abraço e as palavras sejam verdadeiras e não explosão de um momento festivo.

E, por fim, Deus não nasceu entre nós apenas para comemorarmos seu nascimento. Ele veio nos cobrar um renascimento: na construção de uma sociedade justa e sem exclusões; de fartura e sem necessitados… se não construirmos, pelo menos isso, será apenas comércio e aparências… e não Natal de Jesus!


Neri de Paula Carneiro.


Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador


Outros escritos do autor:




Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

sexta-feira, dezembro 16, 2022

Advento 4 – A virgem conceberá e dará à luz

(Reflexões baseadas em: Isaías 7,10-14; Romanos 1,1-7; Mateus 1,18-24)




Os dias de alegria, de festas, para comemorar a concretização da esperança, estão para chegar. Entretanto, como esse dia ainda estão por vir, cada um de nós ainda tem tempo para fazer uma revisão de vida a fim de saber se poderá participar da festa. Afinal, o convite foi feito, mas nem todos se prepararam para ela...

Além disso,enquanto se aguarda a grande festa e no processo de revisão de vida, vai ser possível entender que as provações do caminho são indicativos da necessidade de conversão: pessoal e social, pois a sociedade é reflexo do que somos.

Essa foi a proposta feita ao rei Acaz (Isaías 7,10-14). Porém sua soberba impediu que ele compreendesse os favores que recebia de Deus. Desacreditando disso continuou se corrompendo e desencaminhando seu povo. E, dessa forma, não só ele como também seu povo tiveram que conviver com as consequências de seus atos, longe da graça de Deus. Ou seja, as atitudes do rei andando no mal caminho trouxeram como consequência a ruína para o povo.

Essa situação provocou o brado do profeta: “Ouvi então, vós, casa de Davi; será que achais pouco incomodar os homens e passais a incomodar até o meu Deus?” (Is 7,13). Mas a fidelidade de Deus se mantém e, mesmo contra toda idolatria do rei e descaminho percorrido pelo povo, o Senhor sabe que sempre um resto se mantém fiel. A esses anuncia: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel”. O mesmo anúncio repetido por Mateus (Mt 1,18-24), a respeito do nascimento do libertador, o Deus conosco, cuja presença humana é confirmada por Paulo, quando escreve aos romanos (Rm 1,1-7).

ODeus conosco, caminhando os caminhos humanos é o indicativo de que Deus quer o ser humano caminhando os caminhos de Deus. Por isso o convite para a grande e eterna festa na casa do Pai.

Assim como o evangelista, o apóstolo nos informa que, se por um lado as maldades de um homem mau, o Rei Acaz, trouxeram como consequência a ruína de um povo, por outro lado, agora por meio de um homem justo, José, a salvação veio e permanece à disposição das pessoas que aderirem ao projeto do bem. Paulo explica que isso é um dom de Deus. A adesão ao projeto do Pai se dá mediante a adesão ao projeto do Filho que convida para a salvação: “É por Ele que recebemos a graça da vocação para o apostolado, a fim de podermos trazer à obediência da fé todos os povos pagãos, para a glória de seu nome” (Rm 1,5).

O apóstolo deixa claro que a salvação é uma proposta para todos e por isso pode ser dirigida a quem ouve e aceita a proposta de ser discípulo, “Entre esses povos estais também vós, chamados a ser discípulos de Jesus Cristo” (Rm 1,6). E, embora dirigindo-se à comunidade de Roma, as palavras do apóstolo se estendem a todos que fazem a revisão de vida no advento a fim de comemorar a festa do Natal; é dirigida aos que fazem propósitos de levar uma vida melhor e agir para que toda a sociedade seja espaço propício para a implantação do reino definitivo. Foi pensando nisso que o apóstolo deseja graça e paz a fim de que as comunidades cresçam no amor. “A vós todos que morais em Roma, amados de Deus e santos por vocação, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e de nosso Senhor, Jesus Cristo” (Rm 1,7).

Os dias de festa, que serão eternos na casa do Pai, começam com a comemoração do Natal. Entretanto, para que aconteça o Natal, não só no espaço do templo, não só numa celebração litúrgica durante alguns momentos numa noite determinada, mas aconteça ao longo da vida e em toda a sociedade, é necessário observarmos a postura de José. Decidido a abandonar sua prometida, pensando mal da donzela, muda a postura ao se deixar tocar pela voz de Deus, transmitida pelo anjo. “Eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: ‘José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria’” (Mt 1,20). Então ele assume a paternidade do Filho de Deus; a recebe como dom, pois foi capaz de ouvir a Deus.

E para que sejamos capazes de adotar novas posturas e traçar novos planos precisamos estar atentos ao chamado de Deus; precisamos dar espaço e permitir que a voz de Deus se manifeste. Só teremos condições de participar da festa definitiva se nosso natal for como o de José. E isso ocorrerá quando a virgem der a luz… não só naquela longínqua noite de natal, mas quando criarmos as condições para que Maria nos dê a luz de Jesus.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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quinta-feira, dezembro 08, 2022

Advento 3 – Deus vem para salvar

(Reflexões baseadas em: Isaías 35,1-6a.10; Tiago 5,7-10; Mateus 11,2-11)




Serão dias de eterna alegria.

Isso é o que anuncia, Isaías (35,1-6a.10) depois de ter falado sobre o dia do juízo. Agora ele anuncia o que vem depois. Mas não anuncia os dias de felicidade como resultado da punição sobre os maus nem como quem procura o que sobrou depois da devastação. Anuncia um dom divino!

Haverá consequências doloridas e catastróficas, sim. Entretanto ela somente atingirá aqueles que optarem pelo afastamento de Deus. Para aqueles que preferiram a violência em vez da paz, a maldade no lugar do amor. Por outro lado, a recompensa virá pelo dom de amor e vontade do Senhor e estará disponível aos seus adoradores.

Note-se, no entanto,que Deus não levará em conta os louvores que nascem e morrem nos lábios. Os louvores daqueles que não expressam em ações o seu louvor. Dizer “meu Deus, eu te amo e adoro” é fácil difícil é mostrar essa adoração em obras solidárias.

O fato é que a recompensa divina virá na forma de alegria florescendo “como um lírio” (Is 35,1): flor frágil que germina e floresce na adversidade, anunciando a paz. E os que receberem esse dom divino passarão a cantar “louvores, com infinita alegria brilhando em seus rostos: cheios de gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o pranto” (Is 35,10)

A alegria dos dias felizes, será instalada, pela graça de Deus e em resposta à fidelidade dos que mantiverem a fé (Tiago 5,7-10). Haverá provações, é verdade, mas é necessário manter a fidelidade à mensagem dos profetas. Como o afirma Jesus (Mateus 11,2-11), ao atender à indagação de João, aquele que veio para “preparar os caminhos” para o Senhor.

Sendo assim, o que esperar, como promessa do Senhor, nestes tempos de Advento?

Devemos esperar que da parte do Senhor serão cumpridas todas as promessas, tanto aquelas feitas aos antigos pais, como aqueles feitas por Jesus e seus discípulos: tempos melhores estão por vir.

Entretanto não só do Senhor devemos esperar. Há, também a nossa parte. De nós também se espera algo, para concretizar o advento, para que ocorra um novo Natal.

A primeira coisa, não é algo que devemos esperar do Senhor, mas deve ser uma atitude nossa: a postura de quem faz uma revisão de vida, reconhece os comportamentos contrários ao Plano de Deus e se propõe a mudar de vida. Uma nova postura, comprometendo-se a ajudar na preparação para a instalação do Reino. Essa deve ser nossa preparação, nosso advento: arrumar a casa como quem se prepara para receber uma visita impostante.

Outra atitude a ser assumida, é ensinada por Tiago que nos orienta a “ficar firme”: esperando a vinda do Senhor, como o agricultor que “espera o precioso fruto da terra”, fortalecendo o coração na esperança e prática do amor, pois o Senhor não tardará (Tg 5,7-8).

Além disso, devemos dar nossa contribuição para que os atos indicativos de salvação e remissão se manifestem. Temos que nos perguntar como podemos contribuir para se concretizar, em nosso dia a dia, o que Jesus mostrou aos discípulos de João: “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,5). Ou seja, nossas ações cotidianas devem contribuir para concretizar e manifestar os sinais do Reino, que Jesus mostrou a João.

Mas não só. Também é atitude de quem está em clima de advento, não só com tempo litúrgico, mas com quem faz da vida uma estrada para a nova vinda do Senhor. Isso porque o advento litúrgico se repete todos os anos a fim de nos prepararmos para a celebração do Natal litúrgico. Daí o desafio e proposta de fazer da vida um advento, o que significa adotar em nosso cotidiano a postura vivida por João Batista: fazer da vida uma dinâmica preparação dos caminhos do Senhor. E essa preparação não se resume aos dias que antecedem o Natal, mas deve ser o cotidiano de quem prepara e espera o retorno do Senhor, para que se instale o Reino de amor.

Por fim, o advento nos propõe a indagação de Jesus aos discípulos: “O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?” (Mt 11,7). O deserto é o lugar do encontro pessoal com Deus. Não é lugar da ostentação criada pela riqueza, mas onde se manifesta a essência da natureza humana. É no deserto que se manifesta nosso verdadeiro tamanho: aquilo que realmente somos diante de Deus. É no deserto de nossa vida que se concretizará nosso advento, pois aí encontraremos aquele que vem para salvar.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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quinta-feira, dezembro 01, 2022

Advento 2 - O Reino dos Céus está próximo

(Reflexões baseadas em: Isaías 11,1-10; Romanos 5, 4-9; Mateus 3, 1-12)





Nem tudo está perdido.

Somos convidados ao processo da purificação.

A necessidade de purificação é anunciada por João Batista (Mateus 3, 1-12), com seu batismo em água; e também por Jesus, que entrega o Espírito de Vida.

O Espírito que purifica com fogo anuncia que ainda há tempo para a purificação. Nem tudo está perdido.

João anuncia que o machado está pronto para derrubar a árvore do mal e, com isso purificar o mundo. Mesmo assim e justamente por isso nem tudo está perdido! É verdade que no mundo e as pessoas distanciam-se da luz, do bem, do amor… essa situação exige a ação do machado cortando a raiz do mal… a extinção do mal é prova de que nem tudo está perdido.

Se nem tudo está perdido, ainda existe esperança.

Vários outros antes dele, mas o tom de esperança nos é apresentado, hoje, por Isaías (11,1-10). Mas não se trata de uma esperança gratuita. Ela nasce de um processo de conversão, expressa no Advento: o convite é para uma conversão universal, com uma face pessoal e outra social.

Deve-se notar, entretanto, que essa exigência de conversão pessoal, social e universal não vai ficar nem terá por base as aparências, ou os atos externos.O senhor quer a totalidade. “Ele não julgará pelas aparências que vê nem decidirá somente por ouvir dizer; mas trará justiça para os humildes e uma ordem justa para os homens pacíficos; fustigará a terra com a força da sua palavra e destruirá o mau com o sopro dos lábios.” (Is 11,3-4).

A consequência dessa ação purificadora do Senhor é que um novo mundo surgirá, com uma nova sociedade na qual vivem pessoas renovadas. Nela não haverá maldade, pois tudo e todos que aderiram ao Plano do Senhor converteram-se e aderiram ao projeto.

Se alguém está pensando que isso é proposta para o Antigo Testamente; e que a Antiga Aliança foi superada e abolida pela proposta de Jesus, essa pessoa está enganada. Paulo (Romanos 5, 4-9) é enfático: tanto o povo da Antiga Aliança como os cristãos são convidados ao mesmo processo de conversão para edificação do novo mundo, no qual Cristo será tudo em todos. Dessa forma o Senhor confirma “as promessas feitas aos pais” ao mesmo tempo que as pessoas da Nova Aliança “glorificam a Deus, em razão da sua misericórdia” (Rm 5,8-9).

O apóstolo não vacila ao afirmar a importância do que disseram os antigos e que hoje se cumpre em Jesus Cristo.Mensagem dos antigos, dirigidas a nós. Por isso afirma: “Tudo o que outrora foi escrito, foi escrito para nossa instrução, para que, pela nossa constância e pelo conforto espiritual das Escrituras, tenhamos firme esperança” (Rm 5,4).

Tudo o que afirmaram os antigos, cumpre-se em Jesus de Nazaré. Quem no-lo afirma é João, o Batista, exortando os ouvintes à conversão. Ao mesmo tempo que acolhia quem desejava o caminho da conversão, João denunciava a hipocrisia daqueles que o buscavam em razão dos próprios interesses. Aos primeiros batizava e exortava a mudar de vida: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3,2). Aos outros que o queriam testar, lançava o alerta: “Raça de cobras venenosas, quem vos ensinou a fugir da ira que vai chegar? Produzi frutos que provem a vossa conversão” (Mt 3,7-8).

Entretanto, como nem tudo está perdido, João anuncia aquele que vem para cumprir as escrituras. Mas, nos diz João, o Messias vem para concluir o que havia sido anunciado pelos profetas. Vem para acolher aqueles que aderirem ao projeto de amor. Vem para descartar os que promoveram todos os tipos de maldades e dores, todos promotores de violência e marginalização, todos os que enganam, ludibriam e usam do nome de Deus para implantar seus próprios projetos de morte. Ele vem para limpar os caminhos do Reino. “Ele está com a pá na mão; ele vai limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará num fogo que não se apaga” (Mt 3,12).

Depois de tudo, quando tudo se concluir, quando as forças e raízes do mal tiverem sido derrotadas, será instalado o reino definitivo. O reino da paz, como anunciado pelo profeta: Reino onde lobo e cordeiro não se agredirão; bezerro e leão comerão juntos. Um reino no qual “a criança de peito vai brincar em cima do buraco da cobra venenosa; e o menino desmamado não temerá pôr a mão na toca da serpente” (Is 11,6-8).

O mal será extinto e o bem será instalado com a participação dos filhos da luz. Para que isso se concretize, João nos convida: “preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas!” (Mt 3,3). Ainda dá tempo, pois o Reino dos Céus está próximo. Nem tudo está perdido!
Neri de Paula Carneiro.


Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador


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quinta-feira, novembro 24, 2022

Advento 1- Nos últimos tempos

(Reflexões baseadas em: Isaías 2,1-5; Romanos 13,11-14; Mateus 24,37-44)




O período do Advento chama nossa atenção para o sentido de algumas profecias anunciando os últimos tempos.

Uma delas nos é apresentada por Isaías (2,1-5) afirmando que nos últimos tempos as nações procurarão a casa de Deus a fim de seguir seus preceitos. Também Paulo, escrevendo aos Romanos (13,11-14), nos ajuda a entender o sentido dessa busca: ele nos diz que a salvação está cada dia mais próxima.

Há, entretanto, uma ressalva a ser feita: essa busca e a proximidade do dia da salvação devem ser compreendidas na relação com o anúncio de Jesus (Mateus 24,37-44): O Reino aproxima-se, mas é necessário estar preparado para ele, pois apesar de todos recebem o chamado, nem todos aderem a ele. Preferem seguir os próprios caminhos que os distanciam do Senhor da Vida.

Aqui,vamos dirigir nosso olhar para um Isaías esperançoso, em relação aos últimos tempos. É fato que por muitas vezes a Palavra do Senhor nos informa que haverá um fim. Um ponto final para todas as dores. Um ponto final para todas as maldades. Um dia de julgamento de tudo e de todos. E, como consequência desse ponto final, a libertação completa dos que trilharam as pegadas do Mestre, plantando a semente do amor, na busca do paraíso definitivo e, ao mesmo tempo a condenação definitiva para os que se mantiveram na estrada da maldade.

Mas aqui, vemos um Isaías esperançoso!

Nos últimos tempos, superando os males do mundo, o profeta convida a “subir ao Monte do Senhor”. E, tendo feito isso, no Monte Santo pedirão ao Senhor: “nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos” (Is 2, 3). Esses que subirem para a casa ou o Monte do Senhor, vão se deixar “guiar pela luz do Senhor”. Então acontecerá o julgamento, de modo que “estes transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegarão em armas uns contra os outros e não mais travarão combate” (Is 2,4-5).

Esse é o Isaías esperançoso; é a utopia do profeta: espera a conversão e adesão ao projeto divino. Nem que isso venha a ocorrer no fim dos tempos. E, como tudo está a caminho do dia do juízo, Paulo acrescenta as orientações necessárias para um bom encontro. Na noite das dores e sofrimentos, a maldade humana se sobrepõe criando mais dores e sofrimentos para os seguidores da Luz. Por isso o apóstolo alerta: “Já é hora de despertar”. Diz mais, “agora a salvação está mais perto de nós” (Rm 13,11).

Essa é a constatação:“a noite já vai adiantada”. Ou seja, aqueles que produzem as dores, estão prevalecendo sobre os Santos. Daí o convite do apóstolo: “Despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz. Procedamos honestamente” (Rm 13,12-13). enquanto as trevas estão no mundo, aqueles que são das trevas se esbaldam espalhando maldade: explorando, mentindo, enganando, supervalorizando as coisas e desvalorizando a vida, promovendo a marginalização e tirando proveito da inocência das pessoas da luz. Mas, por outro lado, as pessoas da luz, mesmo caminhando entre os propagadores das trevas, mantêm-se na luz e são luz. Daí o alerta do apóstolo: “é hora de despertar”; “o dia já vem chegando”; “vistamos as armas da luz”.

Confirmando essa situação em que as pessoas são convidadas a optar entre o mundo das trevas e o mundo da luz; entre praticar o mal e edificar o bem; entre produzir guerra e morte em oposição a paz e a vida… Jesus anuncia que seu retorno será feito de surpresa; quando ninguém estiver esperando.

Da mesma forma que no tempo de Noé, diz o Mestre, assim também em seu retorno. Sua vinda, portanto, é anunciada, mas virá de forma inesperada. “Nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem” (Mt 24,38-39).Ao cristão, portanto, cabe permanecer atento, vigilante e na luz!

Nesse momento definitivo nada do que é mau prevalecerá. Só o bem e os bondosos serão arrebatados. Por isso é que o Senhor explica: Naquele dia “Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra será deixada”.(Mt 23,40-41)

Como saber quando e quem será levado na arca da salvação, para habitar a casa do Senhor? Para isso não há resposta. “Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá” (Mt 23,44).

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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sexta-feira, novembro 18, 2022

Cristo Rei: Lembra-te de mim, quando vieres em teu reino

(Reflexões baseadas em: 2 Samuel 5,1-3; Colossenses 1,12-20; Lucas 23,35-43)




Quer aprender com a sabedoria da Igreja? Uma das maneiras é acompanhar o ciclo das celebrações ao longo do “Ano Litúrgico”.

A Igreja tem uma proposta muito sábia, em relação à liturgia. Ela distribui os principais fatos da vida de Jesus de Nazaré ao longo de um ano. Essa é a ideia do Ano Litúrgico, ou seja, a contemplação da vida de Jesus ao longo dos doze meses. E, com isso, faz uma catequese, uma apresentação, uma explicação dos mistérios divinos, manifestados por Jesus de Nazaré.

Há, entretanto, uma diferença em relação ao nosso ano civil que começa em janeiro e termina em dezembro. O Ano Litúrgico começa com o Advento (período de preparação para o Natal) e termina com a celebração Jesus Cristo, Rei do Universo.

Por que comemoramos a realeza de Jesus? Primeiro porque em sua convivência humana mostrou que o sentido da vida é a VALORIZAÇÃO DA VIDA. Para mostrar esse valor curou pessoas enfermas; ensinou o significado do respeito à pessoa humilhada e marginalizada; alimentou as pessoas famintas; mostrou que a pessoa vale mais que as coisas; defendeu a paz; condenou a violência e, principalmente, manteve-se fiel ao Plano que o Pai lhe tinha reservado: dar sua vida em favor da vida de todos.

Em segundo lugar porque o Senhor da Vida, também é Senhor da morte. Ele entregou sua vida e a resgatou. Venceu a morte, mostrando o caminho da Ressurreição. E tudo isso numa caminhada de paz, harmonia, identificação com os sofredores e marginalizados.

Alguém poderia perguntar com base em quê afirmamos a realeza de Jesus? Em que nos baseamos para refletirmos a respeito da solenidade em que celebramos Jesus como Rei do Universo? Em que podemos nos basear para nos aproximarmos desse homem magnífico, o Filho de Deus que se apresentou como Senhor absoluto da Vida e da Morte?

Podemos entender a realeza de Jesus da mesma forma que Davi (2 Samuel 5,1-3) foi aclamado depois foi ungido pelo povo como rei e fez com eles uma aliança, a fim de os conduzir. Assim também o Senhor Jesus, foi ungido pelo Espírito e em seu sangue vertido na cruz, fez uma aliança definitiva, unindo o povo fiel ao Deus da Vida.

Além disso, com Paulo (Col 1,12-20) aprendemos que sua ressurreição o torna Senhor da Morte. Um senhorio que não se limita à sua passagem pela terra, mas que sua vida terrena o capacita a se apresentar como caminho, como inspiração para a caminhada e como meta definitiva para a vida vindoura.

Graças a isso a morte deixa de ser um ponto final para ser percebida como uma porta de entrada na participação “da luz que é a herança dos Santos” (Col 1,12). Sendo luz a guiar os povos Jesus é também “a Cabeça do corpo, isto é, da Igreja. Ele é o Princípio, o Primogênito dentre os mortos; de sorte que em tudo ele tem a primazia,” (Col 1,18). Além disso, Jesus é Rei do universo porque “Deus quis habitar nele com toda a sua plenitude e por ele reconciliar consigo todos os seres, os que estão na terra e no céu, realizando a paz pelo sangue da sua cruz” (Col 1,19-20).

Ou seja, nada do que existe, existe sem a intervenção divina. Graças a isso, toda a existência é redimida pelo amor que motivou a entrega na cruz e, ao mesmo tempo presenteou o mundo com o dom da ressurreição. Ao ressuscitar, vencendo a morte, Jesus redime tudo e todos, pois só ele tem o poder de dominar as forças da morte.

É fato, entretanto, que nem todos entendem ou aceitam a realeza de Jesus. Por isso a zombaria durante o supremo ato da cruz (Lucas 23,35-43).

Nesse momento redentor assistimos a uma cena em que as garras do mal se apresentam ameaçadoras sobre o Senhor da Vida. As forças da morte zombam da fragilidade da vida. Ridicularizam o único que lhes pode salvar. São vários a zombar e várias as zombarias, manifestando uma profunda incredulidade.Chefes do povo, soldados e malfeitores zombam: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!”, diziam os chefes do povo. E os soldados: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!”. Os malfeitores com ironia: “Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!” (Lc 23,35-39).

Por outro lado, aqueles que acreditam a se entregam nas mãos do Senhor da vida e Rei do Universo imploram, como o outro condenado: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres em teu Reino”. Como ele, todos que aderem à proposta de vida poderão ouvir a promessa, e experimentar a redenção: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 42-43).

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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quinta-feira, novembro 10, 2022

Não ficará pedra sobre pedra

(Reflexões baseadas em: Malaquias 3,19-20a; 2Tessalonicenses 3,7-12; Lucas 21,5-19)



Diversos trechos da bíblia nos informam que se aproxima um fim catastrófico, para as pessoas e o mudo.

Podemos mencionar, entre esses trechos podemos, as palavras de Malaquias (3,19-20), anunciando um fogo abrasador sobre os ímpios. Com isso o profeta indica que a ação de Deus colocará um ponto final sobre a maldade humana.

Por sua vez, Paulo, escreve aos tessalonicenses (2 Ts 3,7-12) que esperavam um fim iminente, representado pelo retorno escatológico de Jesus.

Nessa carta o apóstolo procura corrigir a compreensão equivocada de alguns membros da comunidade. Chama a atenção para a necessidade de se viver às custas do próprio trabalho, pois isso, além de ser mais honroso, promove a independência e liberdade das pessoas; sem contar que pelo trabalho as pessoas dão continuidade à obra da criação.

Diante dessas trechos falando do fim podem surgir indagações. Uma delas: Essas cenas, mencionando a consumação dos tempos, pretendem nos assustar com o anúncio do fim ou querem nos alertar e indicar um caminho a seguir?

Evidentemente que não se pretende negar que haverá um fim. Ele virá, pois foi afirmado pelo próprio Senhor. Mas, assim nos parece, antes de ser um anúncio do fim, essas narrativas são um convite para que as pessoas revejam seus comportamentos. Redirecionem seus passos. Aproximem-se da proposta divina. “Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas” (Ml 3,20). Ou seja, no ponto final, o amor prevalece.

O mal será vencido.Porém aqueles que não seguem os preceitos divinos de humildade, da bondade, do amor, esses sim receberão o destino dos “soberbos e ímpios”: queimarão como palha. Deles não sobrará “raiz nem ramo” (Ml 3,19).

Falando aos discípulos, Jesus(Lc 25,5-19) mostra o poder da maldade e confirma seu impulso destrutivo. O mal é destrutivo: quer destruir o bem, mas também destrói a si mesmo.

A maldade humana, na medida em que se afasta do plano amoroso de Deus, gera mais maldade. Entra numa espiral crescente de maldade fazendo com que pessoas e instituições maldosas se agridam mutuamente. Partindo disso podemos dizer que não será Deus a provocar o fim de todas as coisas, mas o próprio mal promove seu fim. “Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país” (Lc 21,10). Dessa forma o mal se alastra e produz as condições para se extinguir. Antes, evidentemente, crescerá de forma avassaladora, como uma tempestade, a assustar muita gente. Mas após a tempestade, o sol volta a brilhar.

A outra forma de vencer o mal, ao contrário disso, é atender ao convite divino para a prática do amor solidário. Diante do apelo divino as pessoas podem responder com a pronta adesão. E assim, como num círculo virtuoso, o mal pode ser extinto numa sucessão de atos amorosos.

Então voltemos à nossa indagação: Na bíblia, os tantos anúncios do fim dos tempos pretendem nos assustar ou nos convidar a trilhar os caminhos do Senhor?

É fato que Jesus anuncia o fim. Mas também orienta aos discípulos: diante das notícias de “guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim” (Lc 21,9). Aumentará o sofrimento das pessoas por causa das reações da natureza e da mesquinharia humana na forma de “terremotos, fomes e pestes”. Mas, antes disso, aqueles que são de Cristo serão “presos e perseguidos” (Lc 21,11-12). Há, ainda, o risco de ser ludibriado pelos falsos messias. Mas Jesus é taxativo: “Não sigais essa gente!” (Lc 21,8), pois representam as forças do mal, da mentira, da enganação…

Mas tudo isso é necessário ocorrer, pois antecede o fim. As forças do mal irão se impor, enganando as pessoas, criando divisão e ampliando o terror. A maldade se infiltrará até no coração das famílias, gerando discórdia e divisão. “Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos” (Lc 21,16). Enfim, o mal se espalhará e as pessoas pensarão que ele venceu.

Entretanto, a verdade é outra. As forças do mal somente estarão fazendo com que os corações se manifestem em suas verdadeiras intenções. Os bons ampliarão sua rede do bem, aproximando-se do Senhor; os maus, ao ampliar a maldade, estarão dando passos definitivos para seu próprio fim. “Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,18-19).





Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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sexta-feira, novembro 04, 2022

Todos os santos: Bem aventurados!

(Reflexões baseadas em: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1 jo 3,1-3; Mateus 5,1-12)




Quem são os santos? De onde vieram os santos? O que os torna santos?

Estas – e possivelmente outras – indagações podem surgir quando a Igreja nos propõe celebrar o “Dia de Todos os Santos”. Celebração essa que encontra uma de suas bases no livro do Apocalipse (Apocalipse 7,2-4.9-14).

Para entender, observamos o anjo de Deus em ação.

Na atuação do anjo que “trazia a marca do Deus vivo” podemos encontrar uma resposta. Ela aparece quando grita aos outros quatro anjos para conter os danos que deviam provocar sobre a terra o mar e as árvores. Seu grito era para conter a danação “até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus” (Ap 7,2-3).

Com isso somos informados que são Santos os assinalados como servos de Deus. Mas a visão joanina diz mais. Ela parte da afirmação de que a terra, o mar e as árvores passarão por uma grande devastação. Como consequência disso, as pessoas serão atingidas. Por isso é que, antes da grande catástrofe, os santos devem ser assinalados a fim de serem poupados.

Assistindo a tudo isso, João vê três grupos de pessoas. No primeiro estão os filhos de Israel, já separados. Ao seu lado estão os cristãos. Formam “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar” (Ap 7,4.9). E eles distinguiam-se dos demais por que “trajavam vestes brancas”. Estes afirmam com segurança: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro”. Essa multidão é formada por todos os que “vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,10.14).

O terceiro grupo, não está bem definido, mas são aqueles que não receberam o sinal de Deus. Mas, pior do que isso, ainda estão colaborando para a devastação da terra, das águas e das florestas (as árvores). Não serão assinalados, pois seus atos cotidianos, lhes impede de pertencer ao grupo dos seguidores do cordeiro.

Os três grupos formam uma multidão, mas só mereceram a atenção do anjo de Deus aqueles os assinalados e os que receberiam o sinal divino. O terceiro grupo optou por se distanciar do Plano de Deus pois colaborou com os males do mundo e do ambiente. E sofrerá as consequências da devastação do mundo e a ser provocada pelos quatro anjos.

Entretanto, diz João para os Santos, em sua primeira carta (3,1-3). Estão reservadas as maravilhas do Reino. Àqueles que superarem as tribulações, está reservado um “presente” de Deus: neste mundo serão “chamados filhos de Deus”. (1Jo 3,1)

Em seguida João explica: os que receberam o sinal de Deus, pelas águas do Batismo, e se portaram como cristãos ao longo da vida são os “filho de Deus”. E diz, ainda “nem sequer se manifestou o que seremos”. Os santos, os que seguirem os passos do Ressuscitado “quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é” (1Jo 3,2).

O modelo de santidade não são os outros santos, mas o próprio Jesus Ressuscitado. Esse é o modelo e caminho a trilhar: “purifica-se a si mesmo, como também ele é puro.” (1Jo 3,3).

Assim chegamos ao ponto de nos indagarmos: como entrar no caminho da santidade? Como entrar nesse processo de purificação, que nos assemelha a Jesus? Qual o caminho para atingir a santidade? É Jesus quem oferece a resposta, conforme ensina Mateus (5,1-12).

O manual de santidade está no chamado “Sermão do monte” ou da montanha. Numa série de nove afirmações que se popularizaram como as “bem aventuranças”. Nesse, que podemos chamar de poema, estão algumas situações desafiadoras. Cada bem aventurança faz uma denúncia. Denuncia uma situação a ser superada a fim de que se realize a promessa.

Denuncia o orgulho e a soberba com a proposta da mansidão; denuncia as situações que geram angústia para anunciar o consolo; denuncia a maldade dos agressores para anunciar a mansidão; denuncia as injustiças para que haja espaço para a transformação social; denuncia os que almejam maldade e vingança para plantar misericórdia; denuncia as situações de pecado pessoal e social como impedimento para ver a Deus; denuncia a violência e a guerra para construir a filiação divina. E, acima de tudo, quem lutar para a concretização destes anúncios vai sofrer perseguições, vai perder a vida, vai ser injuriado...mas estes verão a Deus. Terão uma grande “recompensa nos céus”.

O caminho da santidade, o mérito de ser assinalado com a marca de Deus, não são os santos, mas o seguimento do manual de Jesus Cristo. Quem trilhar esse caminho será bem aventurado.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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quarta-feira, novembro 02, 2022

Finados: Deus, tudo em todos

(Reflexões baseadas em: Jó 19,1.23-27; 1 Coríntios 15,20-28; Lucas 12,35-40)




Raramente, numa conversa com as pessoas, encontramos alguém que não fique perturbado diante do único fato indiscutivelmente presente na vida de todas as pessoas: a Morte que, como cantou Raul Seixas, “talvez seja o segredo desta vida”.

Sendo assim, o chamado “Dia de Finados” se presta a fazermos algumas considerações.

Aquele que se popularizou como “Dia de Finados” é o dia em que a Igreja celebra “Todos os fiéis defuntos”.

Primeiro, por que “fiéis defunto”?

Porque a Igreja entende que após esta vida terena, aqueles que confessaram a fé cristã, recebem nossas orações, nossas lembranças, nossa sintonia com eles e com o Pai. Ou seja, no pós morte a vida continua...

Em segundo lugar, por que, dizemos que nossos mortos são “finados” e a Igreja fala em “defunto”?

Na realidade a duas palavras querem dizer a mesma coisa. Referem-se a uma pessoa que findou (Finados) ou cumpriu sua jornada neste mundo terreno e entrou numa outra esfera da realidade, juntamente com todas as demais pessoas que já terminaram sua jornada na terra. O defunto é aquela pessoa que está fora desta realidade, também porque concluiu sua tarefa no mundo terreno, em nosso cotidiano.

Mas, do ponto de vista cristão, nenhum dos termos, a rigor, contrapõe os vivos, referindo-se a todas as pessoas que permanecem nas realizações terrenas; e os mortos, referindo-se àqueles que deixaram de existir neste mundo. Isso porque os vivos, na terra, após sua morte, ou seja ao se finarem ou tornarem-se defuntos, permanecem vivos para o convívio definitivo com Deus ou numa outra vida, eternamente afastada dos dons divinos. A vida, portanto, continua sendo vida, após a morte!

Essa certeza nos é apresentada por Jó (19,1.23-27) e também por Paulo, escrevendo à comunidade da cidade de Corinto (1Cor 15,20-28).

O sábio e sofredor Jó fala sobre essa esperança da vida depois da vida: “meu redentor está vivo e que, no fim, se levantará sobre o pó” (Jó 19,25). Assinala aqui, não só a fé na vida depois da vida terrestre, mas também indica os fundamentos de um princípio da fé cristã: o redentor que se levanta do pó é uma referência à ressurreição de Cristo, nosso modelo.

Jó não se limita a anunciar que Deus retorna à vida. Ele acredita na sua própria restauração pois, o Deus que retorna do pó também o tirará das mãos da morte. “Depois do meu despertar, levantar-me-á junto dele, e em minha carne verei a Deus” (Jó 19,26).

Por sua vez, Paulo explica em que consiste essa vida após a morte: trata-se de uma vida em Cristo,contemplando o Pai. Trata-se de ressuscitar para uma nova vida, como Cristo ressuscitou. Trata-se de ser vivificado em Cristo, uma vez que “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos serão vivificados” (1Cor 15,20-22).

Além disso, o apóstolo indica que a morte não é o fim. Ela também será derrotada pela vida em Cristo. “Pois é preciso que ele reine, até que Deus ponha todos os seus inimigos debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte” (1Cor 15,25-26). Ao instalar o Reino definitivo, cessarão todas as dores, inclusive aquilo que sentimos como a dor da separação, causada pela morte. Também por isso a morte acaba sendo vista como uma inimiga a ser vencida pela vida definitiva no Reino.

Mas a lição definitiva é ensinada pelo próprio Jesus (Lucas 12,35-40), o enviado do Pai para ser o primeiro vencedor da Morte. Ele ensina que ao ser humano cabe viver em seu cotidiano. Esse viver, entretanto, tem que ser atento: a qualquer momento será interrompido pela morte. E, não custa nada repetir, contra ela não existem alternativas. Ela se instala na vida de todos, como ponte para outra vida: com ou sem Deus, depende de cada um!

Daí a necessidade de viver com intensidade,sim, mas em sintonia com o Senhor da vida. Com alegria e sem medo, sim, mas tendo o cuidado de não desprezar os preceitos divinos; com desprendimento de tudo e de todos, sim, mas em perfeita união com o Pai, pois dele vem a definição para a consumação da vida de cada um e dos tempos.

Por isso sua recomendação,dirigida aos discípulos e a cada um de nós: “Vós também, ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes” (Lc 12,40). E por ocasião desse retorno, a morte será derrotada e a vida será plena e, como diz Paulo, Deus será tudo, em todos!




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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quinta-feira, outubro 27, 2022

Hoje a salvação entrou nesta casa

(Reflexões baseadas em: Sabedoria 11,22-12,2; 1 Tessalonicenses 1,11-2,2; Lc 19,1-10)



Como nós reagiríamos se Jesus (Lc 19,1-10), dirigindo-nos a palavra, dissesse o que falou a Zaqueu: “Hoje devo ficar em tua casa”?

Mais do que isso, como reagiríamos se, no momento em que estivesse entrando em nossa casa, Jesus nos dissesse o que falou ao entrar na casa de Zaqueu: “Hoje a salvação entrou nesta casa!” (Lc 19,9)?

Caso estivesse acontecendo conosco a mesma situação vivida por Zaqueu, de Jesus ter decidido nos fazer uma visita, qual teria sido o motivo que o teria movido a nos visitar?

Certamente, cada um de nós que hoje sabemos quem é Jesus, vibraríamos de alegria. Afinal, o Filho de Deus escolheu e se decidiu nos fazer companhia;decidiu entrar em nossa casa; mostrou que tem consideração para conosco! Certamente nos sentiríamos movidos por um sentimento que misturaria alegria, euforia, um certo orgulho...

Entretanto, será que temos consciência do motivo que levou Jesus a se decidir pela casa de Zaqueu? Será que pagaríamos o preço que esse senhor pagou? Não em dinheiro, mas porque se viu movido a admitir, publicamente, sua condição. Será que temos consciência de nossa condição, que teria feito Jesus tomar a decisão de nos honrar com sua visita?

Por que Jesus escolheu e entrou na casa desse homem?

Muitos de nós diríamos que Jesus entrou na casa de Zaqueu porque o recompensou pelo esforço em querer vê-lo. Afinal, era baixinho e havia passado pelo vexame de ter que subir numa árvore para poder ver o Senhor passando (Lc 19,3-4). Também não foi uma recompensa pelo vexame em ouvir Jesus dizendo: “Zaqueu, desce depressa!” (Lc 19,5).

Na realidade toda a cena tem um objetivo que é mostrar a todos a realidade de Zaqueu. E não se trata de uma situação exterior, que todos já sabiam: Zaqueu “era chefe dos cobradores de impostos e muito rico” Lc 19,2). As palavras de Jesus, expressam uma outra realidade: Zaqueu é um pecador!

Mas Jesus não mobilizou toda a situação para expor Zaqueu ao vexame. Sua condição de pecador manifestou-se apenas no julgamento das pessoas. Quando viram a postura de Jesus, as pessoas “começaram a murmurar, dizendo: ‘Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!’” (Lc 19,7). O julgamento de Jesus caminhou em outra direção. Caminhou na direção da conversão; da mudança de postura; na tomada de uma decisão radical, completamente diferente do comportamento dos que acompanhavam Jesus. Ao ser interpelado por Jesus “Zaqueu ficou de pé, e disse ao Senhor: ‘Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais’” (Lc 19,8).

Jesus se decidiu pela casa de Zaqueu por causa dessa atitude. Essa atitude mereceu o perdão dos pecados. O pecador não pediu perdão, mas, consciente de sua situação agiu para merecer o perdão: restituiu o que havia roubado e distribuiu os bens entre os que precisavam.

Com certeza gostaríamos que Jesus nos visitasse. Mas será que pagaríamos o preço de sua visita?Qual é esse preço? Primeiramente admitir, publicamente, que somos pecadores; em seguida, fazer uma confissão pública de nossos infrações e por fim fazer a correção dos erros cometidos. Como? Sanar os pecados consiste em restituir o que ao outro pertence… e não se trata, apenas, de pedir perdão, pois Zaqueu não pediu. Ele corrigiu e se corrigiu!

Como isso exige uma mudança de postura, alguém pode se perguntar e nos indagar: por que devo fazer isso?

Porque Jesus quer fazer essa visita. Aliás, como o afirma Paulo, à comunidade da cidade de Tessalônica(1 Tessalonicenses 1,11-2,2): Ele está para fazer essa visita. Ele está para voltar. Entretanto, afirma o apóstolo, o cristão não deve se deixar enganar pelos que disseminam falsas notícias a respeito desse retorno. Ele virá, sim, mas “no que se refere à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa união com ele, nós vos pedimos, irmãos: não deixeis tão facilmente transtornar a vossa cabeça, nem vos alarmeis por causa de alguma revelação, ou carta atribuída a nós, afirmando que o Dia do Senhor está próximo” (1 Ts 2,1-2). Noutras palavras, diz o apóstolo, cuidado com as Fake News!

Também o Livro da Sabedoria (Sabedoria 11,22-12,2) nos orienta. O Senhor quer nos fazer uma visita. Não por nossos méritos, mas por seu infinito amor. E por nos amar nos quer puros de toda maldade. Por isso, diz a Sabedoria: O Senhor abomina a violência, a falsidade, a maldade e tudo que conduz a morte, pois o “Senhor é amigo da vida”. Por esse motivo, quando erramos age como agiu com Zaqueu. E faz o mesmo conosco: “É por isso que corriges com carinho os que caem e os repreendes, lembrando-lhes seus pecados, para que se afastem do mal e creiam em ti, Senhor” (Sab 12,2).

Por causa desse amor, disse a Zaqueu, quer dizer a nós:Hoje a salvação entrou nesta casa. Resta saber se o queremos receber.


Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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sexta-feira, outubro 21, 2022

Deus é imparcial… mas tem preferências!

(Reflexões baseadas em: Eclesiástico 35,15b-17.20-22a; 2 Timóteo 4,6-8.16-18; Lucas 18,9-14)




Será que você já se deu conta de como é difícil dizer quem é Deus, para nós?

O autor do livro do Eclesiástico (Eclo 35,15b-17.20-22a) propõe uma resposta. Diz que Deus merece confiança, pois atende às preces dos humildes. Também Paulo, escrevendo a Timóteo (2Tm 4,6-8.16-18), mostra uma face do Senhor. Afirma que por seu Reino vale a pena entregar a vida. Prestes a ser martirizado, sabe de que está falando: “Está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia” (2Tm 4,8).

Jesus de Nazaré, de acordo com a narrativa de Lucas (18,9-14), mostra que Deus tem uma profunda preocupação com as pessoas, ouve suas preces. Mas o Filho de Deus explica que o Pai tem critérios para ouvir a prece dos orantes, para lhes conceder aquilo de que precisam. E o critério é a humildade e não a postura arrogante.

Mas e nós, você e eu, qual é a nossa percepção de Deus?Quem é Deus, para nós? Como nos relacionamos com Ele? Nós o concebemos como um ponto de apoio ao qual nos escoramos nos momentos de dificuldades ou entendemos que o Senhor é a razão de nossa existência e, por isso, vivemos para agradecer os dons recebidos, reconhecendo nossa insignificância diante de sua infinita bondade?

O autor do livro do Eclesiástico nos faz ver que Deus é um juiz; é justo; atende o pobre e oprimido; atende aos marginalizados (órfãos e viúvas); enfim, o Senhor é um juiz imparcial… mas tem preferências!

Como assim?

Deus é o mesmo para todos, mas nem todos o recebem da mesma forma. Por isso ele tem preferências: prefere o excluído, marginalizado, pobre, oprimido…pois se eles existem é porque alguém os empobreceu, excluiu, marginalizou, oprimiu. Ninguém opta por ocupar uma condição marginal. Todos querem o melhor para si e esse é o plano de Deus, para todos.

Entretanto aqueles que concentram mais do que precisam em bens, riquezas, privilégios e poder sócio-político… não agradam a Deus. Todos que possuem além de suas necessidades estão gerando a inferiorização dos que são privados disso. O fato do Senhor querer tudo de melhor para todos, implica dizer que os que provocam as dores dos outros não estão cumprindo os desígnios do projeto do Reino. Então, se não cumprem os desígnios de Deus, não estão merecendo o mesmo dom divino. Por outro lado “Quem serve a Deus como ele o quer, será bem acolhido e suas súplicas subirão até as nuvens” (Eclo 35,20). Essa prece “atravessa as nuvens”, chega ao Senhor e Ele intervem e faz acontecer a justiça (Eclo 35,22).

Exemplo disso foi a atuação de Paulo. Entre dores e perseguições afirmou: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7). Sentia-se confortado nas dores do anúncio do Reino: “O Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente” (2Tm 4,17). E diz isso como quem cumpre uma missão e não por vangloria e ostentação.

Por fim, Lucas nos mostra a face de Jesus. Mostra que o Filho de Deus explica o porquê de Deus ter seus preferidos.

O evangelista deixa clara as razões. Não porque exclua alguém. Não porque tenha projetos e propostas diferentes para uns e para outros. Não porque deseje a exclusão de alguém. Não! Deus tem preferências porque estabelece critérios para que as pessoas se aproximem de sua proposta e projeto de salvação. Quer todos salvos, mas estabelece as condições para isso. Cabe ao cristão fazer a opção. E o modelo ou os critérios estão na postura dos dois homens rezando no templo.

O primeiro, um fariseu, fazia uma oração de agradecimento. Entretanto, agradecia por se considerar melhor que as demais pessoas. Fazia seus próprios elogios. Vangloriava-se diante de Deus. Colocava-se acima dos demais. “Eu te agradeço, Deus, por não ser como os outros homens” (Lc 18,11).O segundo, sabendo-se fraco e pecador, “nem se atrevia a levantar os olhos para o céu”. E, contrito, pedia piedade: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!” (Lc 18 13).

Deus é imparcial: oferece a todos os caminhos para a salvação. Entretanto, tem preferências: prefere que as pessoas alimentem o espírito da humildade. É isso que Jesus nos ensina: “Este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado” (Lc 18,14).

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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quinta-feira, outubro 13, 2022

Toda a Escritura é inspirada por Deus

(Reflexões baseadas em: Êxodo 17,8-13; 2Timóteo 3,14-4,2; Lucas 18,1-8)




Qual é o valor e a força da Palavra de Deus? E a oração, tem poder ou somos nós que lhe atribuímos força, de acordo com nossas necessidades? Será que Deus atende nossa prece?

A Palavra Santa nos apresenta a narrativa da batalha contra os amalecitas (Êxodo 17,8-13). Nessa cena vemos Josué vencendo a batalha enquanto Moisés está em oração; e o seu exército sofrendo derrotas nos intervalos da oração de Moisés.

As mãos estendidas de Moisés, gesto de oração, imprimia força ao exército de Josué. Os outros patriarcas se puseram ao seu lado para segurar suas mãos erguidas a fim de que sua prece não fosse interrompida pelo cansaço. “Aarão e Ur, um de cada lado sustentavam as mãos de Moisés. Assim, suas mãos não se fatigaram até ao pôr do sol” (Ex 17,12). Dessa forma Josué venceu a batalha; seu exército foi mobilizado pela oração de Moisés

Considerando essa cena, somos levados a concluir que a Palavra de Deus nos ensina uma lição: a oração tem uma força especial. Coloca-nos em sintonia com Deus; é capaz de nos levar à presença de Deus e, de acordo com nosso mérito e os méritos das nossas intenções, o Senhor nos concede, talvez não o que pedimos, mas o que estamos precisando.

Em sua carta a Timóteo (2Tm 3,14-4,2), Paulo nos orienta, e ao seu discípulo, a respeito da importância da Palavra Santa. Orientando seu discípulo o apóstolo mostra que as Escrituras indicam o caminho da oração que conduz as pessoas na trilha da perfeição.

A oração e a Palavra fazem com que o ser humano seja “perfeito e qualificado para toda boa obra” (2Tm 3,17). E nisso está a importância da Palavra de Deus: ela pode “comunicar a sabedoria”. Uma sabedoria tal que, por ser “inspirada por Deus” torna-se um caminho que “conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm 3,15).

E, para aquele que ainda estiver em dúvida, o apóstolo complementa a importância das escrituras: é uma Palavra Santa pois quem a inspirou é Santo e nos concede as escrituras como ferramenta “útil para ensinar, para argumentar, para corrigir e para educar na justiça” (2Tm 3,16). Ou seja, toda Palavra de Deus tem como objetivo alimentar o espirito orante que é a base a partir de onde se constrói a justiça; a Palavra corrige os desvios e educa na justiça. E esse é o caminho para o encontro com Deus.

Mas então, por qual motivo ainda vivemos numa sociedade que se diz cristã, mas na qual a maldade continua crescendo entre as pessoas?

São vários motivos.Primeiro porque a justiça plena se instalará quando se manifestar a glória do Reino de Deus. Depois porque a orientação de Paulo não está sendo executada por inteiro, no cotidiano dos cristãos: “Proclama a Palavra, insiste oportuna ou inoportunamente, convence, repreende, exorta, com toda a paciência e com a preocupação de ensinar” (2 Tm 4,2). Em terceiro lugar, quando a proclamação e o ensino são apresentados, muitas pessoas recusam-se a aprender ou negam a validade do enino e a capacidade do pregador (e não estamos falando só dos falsos profetas que preferem o dinheiro e as vantagens pessoais!!!).

E isso nos coloca diante do ensino do próprio Mestre (Lucas 18,1-8).

Jesus, a própria Palavra de Deus encarnada, mostra o valor da oração. Compara o supremo bem que é Deus com o comportamento de um juiz maldoso. Daqueles que fazem fortuna vendendo sentenças, manipulando o direito em benefício próprio e em prejuízo da lei.

Jesus mostra que a insistência dessa vítima mobilizou o juiz malvado a lhe resolver a questão. Não porque o juiz acreditasse na justiça, mas para se ver livre da insistência da vítima. Com esse exemplo, de um juiz maldoso que acaba cumprindo a lei, Jesus chama a atenção para o supremo amor do Pai. “Escutai o que diz este juiz injusto. E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?” (Lc 18, 6-8).

Então, mais uma vez, porque ainda vivemos numa sociedade em que prevalece o mal? Talvez porque ainda nos falte a insistência na oração. Talvez porque não estejamos sendo capazes de reconhecer a resposta que Deus nos oferece, uma vez que ele “fará justiça bem depressa”. E, talvez, o mal esteja crescendo também porque o volume da fé esteja decrescendo… ao ponto de Jesus perguntar: “quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?”

A Sagrada Palavra, ensina a nos mantermos em clima de oração. E isso não é uma afirmação do ser humano limitado, mas ensinamento dessa Palavra que é inspirada.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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segunda-feira, outubro 10, 2022

Padroeira do Brasil: seus discípulos creram nele.

(Reflexões baseadas em: Ester 5,1b-2; 7,2b-3; Apocalipse 12,1.5.13a.15-16a; João 2,1-11)




Na celebração da Padroeira do Brasil, somos convidados a uma reflexão sobre o lugar da mulher, na história.

A história da humanidade apresenta-se a nós pelo menos com duas características: quase a totalidade dos grandes personagens, dos governantes, dos monarcas… foram homens, comandando soldados. Confirma essa verdade o fato de não termos dificuldades para fazer uma lista de homens famosos. A segunda característica é que, ao longo dos milênios, a história nos apresenta uma sucessão de guerras, de mortes, de dominação do mais forte sobre o mais fraco, muitas dores… provocadas pelos grandes homens e seus exércitos!

Como justificamos a predominância masculina dizendo que é um elemento cultural, quase não estranhamos que mesmo na bíblia não aparecem muitas mulheres, em posições de destaque. Mesmo no cristianismo prevalecem os personagens masculinos.

Entretanto, todos sabemos disso, a história do cristianismo tem uma outra característica: a presença feminina não é apenas de figuração. Em diferentes períodos grandes mulheres ajudaram a concretizar grandes obras… Procure saber como foram as atuações de Clara de Assis, Tereza de Ávila, Terezinha do Menino Jesus; Irmã Dulce; Madre Tereza de Calcutá… e Maria, a mãe de Jesus!

Mas, antes de Maria e para não cairmos no equívoco de dizer que a bíblia não deu muito destaque às mulheres, entre várias outras, observemos a atuação de Ester (5,1b-2; 7,2b-3), atuando pela libertação do seu povo.

Desviando das artimanhas, armadilhas e conflitos próprios do ego masculino, causador de medo, sofrimento e morte, Ester usou apenas o dom divino da inteligência para sanar as dores de seu povo, evitar a morte do oprimido e libertar injustiçado. Sem buscar glória pessoal e sem derramar sangue, intercedeu pelos sofredores. Diante do Rei, com poderes de vida e de morte, seu pedido foi simples: a vida. “Se encontrei graça a teus olhos, ó rei, e se te agrada, concede-me a vida, pela qual suplico, e a vida do meu povo, pelo qual te peço” (Es 7,3).

Em tempos de cristianismo no confronto apocalíptico (12,1.5.13a.15-16a) a serpente do mal é vencida pela mulher vestida de sol: Seu filho nasce. A serpente da morte é derrotada.

Claro que a simbologia do apocalipse, nos quer mostrar a vitória do Cristo. A vitória da vida sobre a morte. A vitória da Igreja perseguida. A vitória do bem sobre o mal, mesmo quando o mal parece ter vencido. “A serpente, então, vomitou como um rio de água atrás da mulher, a fim de a submergir. A terra, porém, veio em socorro da mulher”(Ap 12,15-16). Por isso que a mulher (que simboliza a Igreja e também a mãe de Jesus) aparece vestida com a luz do sol: a vida brilha sobre todas as dores e mortes!

Essa é a vitória do bem sobre o mal. Uma vitória que ocorre não pela força do músculo masculino, mas pela força, graça, delicadeza, coragem que emergem da fragilidade feminina.

Isso nos leva a contemplar a firme delicadeza da mãe de Jesus entre os convidados (João 2,1-11). Ela, com certeza, circulava graciosamente e, dessa forma, aproxima-se do filho após ouvir o burburinho entre os garçons. Acabara o vinho! E festa sem vinho não tem graça!

Dá pra imaginara segurança de sua voz meiga dirigindo-se com firmeza e carinho ao filho: “Eles não têm mais vinho!” (Jo 12,3). Dá pra imaginar seu olhar compreensivo, para com a resposta do filho, mas também dá para entender a segurança com a qual orientou os serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser!” (Jo 12,5).

Eles fizeram. Não porque acreditavam em um milagre, mas porque uma mulher se ofereceu para ajudar. E nisso se fundamenta a fé cristã, quando pede a intercessão de Maria. O cristão sabe que ela não é uma deusa, mas também sabe que ela é a mãe do Filho de Deus. E se nós sabemos o poder positivo das nossas mães sobre nós, dá pra imaginar a capacidade intercessora da mãe de Jesus em relação ao Filho de Deus.

“Minha hora ainda não chegou” (Jo 2,4), diz Jesus. Mas o olhar carinhoso da mãe, atenta às dores do outro, mobiliza o dom divino e Jesus se antecipa. Entrega o melhor vinho, da mesma forma que depois dará o próprio sangue. O novo vinho manteve a alegria da festa; o sangue oferecido na cruz alimenta o cristão, introduzindo-o na festa definitiva do céu.

Tudo é ação de Deus, mas a Mãe de Deus pode interceder pelo bem dos filhos de Deus,a caminho. Observando isso, notamos que podem não se ter registrado muitas mulheres na história da humanidade. Mas da mesma forma que a Mãe de Deus o estimulou a salvar uma festa, anunciando a festa definitiva, outros grandes homens também tiveram grandes mulheres estimulando-os.

E, melhor ainda, poderíamos até repensar as relações de poder,olhando para a ação das mulheres que a história registra e que marcaram as narrativas da bíblia e o cristianismo. Elas não agiram movidas por exércitos. Pelo contrário, agiram em defesa da paz. Então, nesta comemoração da padroeira do Brasil, peçamos que ela nos ajude a ajudar aqueles que de nós precisam. Que a mãe de Jesus nos ensine a caminhar e construir a paz. Que a mãe de Deus nos ensine o caminho para Jesus, afinal, graças a ela, seus discípulos creram nele!




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:


quinta-feira, outubro 06, 2022

Tua fé te salvou!

(Reflexões baseadas em: II Reis 5,14-17; 2Timóteo 2,8-13; Lucas 17,11-19)




Qual é a nossa atitude, quando Deus nos concede uma graça?

O segundo livro dos Reis (II Rs 5,14-17) nos informa como agiu o estrangeiro Naamã.

Enfermo, pediu ajuda ao profeta Eliseu. Foi atendido em sua necessidade: a cura de uma enfermidade. Agradecido, voltou ao homem de Deus dizendo que, estando curado,pretendia presenteá-lo em agradecimento a Deus pelo dom da cura.

Evidentemente o profeta recusou os presentes, afirmando que a ação libertadora é de Deus e não de seu profeta. E essa ação salvadora depende da fé e da vontade de se entregar ao plano de Deus. Mesmo que inicialmente estivesse em dúvida, o estrangeiro faz um ato de fé: “Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel! Por favor, aceita um presente de mim, teu servo”. Valorizando o ato de fé do estrangeiro, o profeta reusa os presentes. “Pela vida do Senhor, a quem sirvo, nada aceitarei” (2 Rs 5,15-16).

O Deus de Israel, atende à necessidade de um estrangeiro. E este rende graças ao Senhor. Recebeu a graça e ficou agradecido! “Pois teu servo já não oferecerá holocausto ou sacrifício a outros deuses, mas somente ao Senhor” (2 Rs 5,17). O ato de fé manifesta-se em gestos de fidelidade. Impede que se preste culto a outros deuses, pois um só é o Senhor.

Além disso o dom de Deus é gratuito. É diferente do que fazem muitos dos que alardeiam sua boas obras. O bem realizado em favor de outro, se não for gratuito e desinteressado, não vem de Deus. Quando alguém cobra retribuição em bens ou aplausos, não age em nome de Deus!

Mas por ouro lado, como reagimos quando Deus nos concede uma graça?

A narrativa de Lucas (Lc 17,11-19) mostra algo semelhante ao episódio de Naamã e Eliseu. Dez leprosos pediram ajuda e foram curados, mas apenas um estrangeiro voltou até Jesus agradecendo o dom do corpo purificado da enfermidade.

Todos haviam gritado: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” (Lc 17,13). E todos receberam a mesma resposta de Jesus: apresentem-se aos sacerdotes! E eles foram. Foram e ficaram curados… e desapareceram da cena… apenas um, estrangeiro, voltou para agradecer.

A ação de Jesus foi gratuita. Mas percebeu, em relação aos enfermos, foi que a gratuidade do dom nem sempre produz uma igual atitude de agradecimento. Por isso faz o questionamento: “Não foram dez os curados? E os outro nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” (Lc 17,17-18).

Evidentemente nem Jesus nem o Pai precisam da gratidão humana para dispensar as graças que as pessoas recebem. Mas o Senhor espera que o ser humano agraciado, também seja um distribuidor de graças. Para isso tem que desenvolver a capacidade de agradecer. Não tem como as pessoas serem portadoras da graça divina se são se fazem pessoas agradecidas. E somente o estrangeiro foi capaz dese gesto…

Nunca é demais recordar que para a fé judaica o estrangeiro não faz parte do povo de Deus nem participa de sua promessa. E aqui temos dois estrangeiros, Naamã e esse samaritano: ambos retornam àquele que lhes concedeu a graça da cura para agradecer. Onde estão os outros? Onde estaríamos nós?

Por isso, podemos indagar: como reagimos quando Deus no concede uma graça?

Tudo isso nos leva a Paulo e Timóteo (2Timóteo 2,8-13). O apóstolo não difundiu o cristianismo entre seus concidadãos judeus, mas dirigiu-se às nações estrangeiras. Para isso, toma como discípulo o filho de uma judia e de um estrangeiro grego: Timóteo.

Oque moveu Paulo a afastar-se dos Judeus fazendo-se auxiliar pelo filho de um estrangeiro? Entre outros motivos o fato que Jesus, embora tenha se dirigido aos judeus, trouxe uma mensagem universal. Além disso, os judeus rejeitaram a Jesus. O apóstolo percebeu que entre os estrangeiros, havia mais retribuição de fé. Havia mais adesão à proposta de Jesus. Havia menos agressão e perseguição à mensagem salvadora. Mesmo assim, os judeus o perseguiram, fizeram com que fosse preso. É da prisão que exorta o discípulo com seu exemplo de firmeza na fé. “Estou sofrendo até às algemas, como se eu fosse um malfeitor; mas a palavra de Deus não está algemada” (2Tm 2,9).

Tudo isso nos leva a perceber que nos dias atuais é a nós que Jesus lança a indagação: Onde estão os outros para quem realizei prodígios? Daí a indagação que devemos nos fazer:estamos entre aqueles que desapareceram da cena ou a nós Jesus vai dizer: “Levanta-te! tua fé te salvou!”

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:


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