(Reflexões baseadas em: Isaías 9,1-6; Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14)
Estamos comemorando o Natal!
E quando comemoramos o Natal, a maioria de nós tem em mente as festas e as trocas de presentes. O clima de alegria e a confraternização. Isso sem falar do Papai Noel e das mesas ostentando ceias fartas… Ah! Também tem alguns que se solidarizam e ajudam a preparar cestas básicas, com alimentos para serem entregues às famílias carentes: “No Natal ninguém deveria ficar sem comer!” é a justificativa para o ato.
Nas igrejas se canta glória Deus, pois foi assim que os anjos anunciaram o Natal! Os ritmos e melodias vão se alternando, enquanto as pessoas se confraternizam; trocam palavras de cordialidade; votos de felicidade. O clima é de festa!
Mas será que é disso que precisamos para comemorar essa data, tão importante para o mundo cristão?E depois, no dia seguinte? Na semana seguinte? No ano seguinte… Como serão as relações entre as pessoas?
Cestas básicas? Evidente que são importantes. Mas qual é a transformação social que se realiza com o simples fato da distribuição das cestas básica, no Natal? O que o cristão, ou a entidade que distribui as cestas, está fazendo para que num futuro bem próximo a distribuição de cestas básicas não mais seja necessária? As cestas são importantes, mas seria muito mais cristão e estaria mais em sintonia com o espírito do Natal, se as pessoas fizessem tudo para que não houvesse necessidade de se dar cestas básicas; a cesta, por mais recheada que seja, termina, mas a necessidade de quem a recebeu… vai continuar… então o que fazer para acabar com essas necessidades?
Confraternização e festas? Claro que são importantes. Mas como se prolongarão as relações entre as pessoas, depois das festas de fim de ano? Trocamos votos de felicidades, mas ao longo do ano que segue quase nunca nos recordamos das pessoas que abraçamos no Natal. E, o que é pior: muitas vezes, muitos de nós, infernizamos a vida de pessoas próximas de nós: em casa, no trabalho, na escola, no lazer, na roda de amigos… “viu o que fulano aprontou, desta vez…?”; “Sabe o fulano…., pois é ele...”… Dessas atitudes não nos lembramos quando nos aproximamos do Natal. Dessas atitudes nos aproximamos quando nos afastamos do Natal!
Considerando tudo isso, vamos nos perguntar: Exatamente o que comemoramos na festa do Natal? Exatamente o que é o Natal para nós?
O profeta Isaías (9,1-6) nos diz: “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu”. E em seguida completa: “Porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; ele traz aos ombros a marca da realeza; seu nome é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz”. Por fim, diz o profeta “Grande será o seu reino e a paz não há de ter fim … e ele irá consolidar e confirmar em justiça e santidade, a partir de agora e para todo o sempre”. Tudo isso como a nos dizer: Natal não é só um dia. Natal tem consequências… ou não é Natal!
O apóstolo Paulo, escrevendo a Tito (2,11-14), também chama nossa atenção para os atos que devem brotar do Natal. Quem celebra o Natal deve “abandonar a impiedade e as paixões mundanas e viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade.” Isso porque Jesus quer “nos resgatar de toda maldade e purificar para si um povo que lhe pertença e que se dedique a praticar o bem.” Não só no dia do seu aniversário, mas cotidianamente!
Isso tem que ser lembrado, porque Jesus não apenas nasceu, mas nasceu dentro de circunstâncias sociais, politicas e econômicas adversas (Lucas 2,1-14)… como a denunciá-las.
Foi obrigado a nascer longe de casa devido censo decretado pelo Imperador: “Todos iam registrar-se cada um na sua cidade natal.” José e Maria não tiveram escolha. Não por maldade dos hospedeiros, mas por exigência do poder estabelecido: “Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria.” Essa situação de marginalidade atraiu aqueles que viviam a mesma condição de exclusão. Por isso o anjo dá a boa notícia aos pastores: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo… nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor.”
Celebrar o Natal é importante? Sim, mas não se pode perder o significado da celebração: Justiça e paz. Comemorar com mesa farta? Sim, mas ela tem que ser farta todos os dias… para todos. Abraçar e desejar felicidades? Sim, mas também colaborar para que o abraço e as palavras sejam verdadeiras e não explosão de um momento festivo.
E, por fim, Deus não nasceu entre nós apenas para comemorarmos seu nascimento. Ele veio nos cobrar um renascimento: na construção de uma sociedade justa e sem exclusões; de fartura e sem necessitados… se não construirmos, pelo menos isso, será apenas comércio e aparências… e não Natal de Jesus!
Neri de Paula Carneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.