Embora não seja uma escola de filosofia, neste período também se pode analisar o cristianismo. Uma tipica manifestação helenista, uma vez que origina-se num território oriental, a Palestina. Desenvolveu-se com base num discurso grego e utilizando-se das estruturas políticas do império romano.
Algumas Escolas Helenistas
CINISMO
É a escola que melhor caracteriza a decadência moral da sociedade grega e macedônica. O pensador que melhor a representa é Diógenes. Sobre ele conta-se que em pleno meio dia andava pelas ruas de Atenas, com uma lanterna acesa, dizendo: “procuro um homem!”.
Cinismo vem de Cão. Essa denominação também vem de Diógenes, uma vez que teria dito: “faço festa aos que me dão alguma coisa, lato contra os que não me dão nada e ataco os agressores”. Num banquete, ao lhe atirarem um osso ele teria urinado em cima, como fazem os cães.
Ainda sobre Diógenes é celebre a passagem em que ele, descansando dentro de um tonel recebe a visita de Alexandre que lhe pergunta: “Posso fazer algo por você?” Ao que ele teria respondido: “Sim! Pode sair da minha frente que está tomando meu sol”
Partindo disso já podemos ter uma ideia do que essa escola representava: completo desprezo em relação àquilo que a sociedade dominante considera valor e valorização da simplicidade do viver. Foi uma escola que atravessou os séculos e podemos dizer que a postura socrática, temós antes, estava próxima do ideário cínico.
Conta-se que Sócrates teria parado em frente às bancas do mercado e depois de algum tempo contemplando o que ali acontecia, teria exclamado: “Quanta coisa os atenienses precisam para viver. O que disso realmente é necessário?
Sabe-se que a filosofia dos cínicos foi iniciada por um discípulo de Sócrates, Antístenes, por volta do ano 400 aC.
ESTOICISMO
Esta escola caracteriza-se pelo espírito de completa austeridade física e moral. Ou seja, o Homem deve suportar os sofrimentos, fugir dos prazeres fáceis e afastar-se das permissividades e licenciosidades. A sabedoria consiste em manter uma vida austera. O sábio é aquele que consegue a completa anulação das paixões (Apatia). Essa corrente filosófica influenciou profundamente a cultura romana e, por extensão, o cristianismo, marcando-o até nossos dias. Um exemplo disso é a prática da penitência.
O estoicismo teve grande influência do Cinismo. Seu fundador, Zenão, havia se juntado aos cínicos de Atenas. Reunia seus ouvintes num portal (stoa, em grego) da cidade. Daí a denominação do grupo: o grupo do portal.
No livro “O mundo de Sofia” J Gaarder afirma que: “Como verdadeiros filhos do seu tempo, os estoicos eram cosmopolitas. Estavam, portanto, mais abertos à cultura contemporânea do que os "filósofos do tonel" (os cínicos). Segundo eles, a comunidade dos homens devia interessar-se por política, e muitos estoicos foram estadistas ativos, como, por exemplo, o imperador romano “Marco Aurélio” (121-180 d.C.). Contribuíram para que a cultura e a filosofia gregas fossem difundidas em Roma principalmente graças ao orador, filósofo e político “Cícero” (106-43 a.C.), que criou o conceito de “humanismo”, ou seja, uma concepção do mundo que tem o indivíduo como centro. O estoico “Sêneca” (4 a.C.-65 d.C.) disse alguns anos mais tarde que o homem era sagrado para o homem, afirmação que se tornaria o mote de todo o humanismo. Além disso, os estoicos sublinharam que todos os processos naturais - por exemplo, a vida e a morte - seguiam as leis constantes da natureza. Por isso, o homem tem de se reconciliar com o seu destino. Segundo eles, nada acontece por acaso”
EPICURISMO/HEDONISMO
Esta escola que pode ser colocada no extremo oposto ao estoicismo. A ela estão ligados dois personagens,entre outros: Aristipo, contemporâneo de Aristóteles, o qual a teria iniciado e Epicuro. Este, por volta do ano 300 aC, fundou uma escola, num jardim de Atenas. Em seu pórtico estava escrito: "Estranho, aqui serás feliz. Aqui, o prazer é o bem supremo". Nesse ambiente desenvolveu sua ética do prazer.
Séculos depois, alguns artistas do Renascimento representam o Jardim de Epicuro como um ambiente no qual várias musas e ninfas seminuas divertem-se ao lado de sátiros e outros personagens, comendo, bebendo e dançando. Com isso querendo dizer que o sentido da vida é desfrutar das alegrias que a vida oferece.
Na realidade, a afirmação de Epicuro é que ela deve ser celebrada todos os dias, pois é constante e perfaz cada existência de cada pessoa; por outro lado a morte é uma só e é certa.
Esta escola, portanto, defende que o ser humano deve buscar o prazer. Daí a denominação de escola hedonista. A ideia de prazer está ligada à deusa Hedone, filha de Eros e Psique. As três divindades podem ser associadas à ideia de que a vida deve ser vivida com intensidade, mas não com banalidade. Por isso é necessário destacar que esse prazer deve ser entendido como ausência da dor e não como mergulho nas paixões. Desfrutar do prazer é virtude, portanto, é um bem; enquanto a dor é um mal e, por isso, deve ser evitado. O supremo prazer é o saber que pode ser obtido quando se superam as paixões que são a causa da degradação social.
O prazer decorrente das paixões desenfreadas levam à dependência ou à distorção de seu sentido humanizante que se caracteriza como encontro edificante entre pessoas, como ampliação da sabedoria, como processo interativo...
A atuação de Epicuro desenvolveu-se, justamente, num contexto de degradação moral, social e política. Um período em que os valores estavam em declínio e tudo parecia perder o sentido. Nesse ambiente se fez necessária uma redefinição dos valores.
Diz Epicuro: “Quando dizemos que o prazer é o bem supremo não queremos nos referir aos prazeres do homem corrompido, que pensa só em comer, em beber e nas mulheres”. Ou seja, deve-se buscar o prazer de conduzir a vida em harmonia com os próprios sentimentos e com os demais concidadãos e os seus sentimentos.
CETICISMO
O contexto em que se desenvolveu esta escola é o mesmo das anteriores: um vazio politico, intelectual e moral. Um ambiente propício para se colocar em dúvida todas as verdades estabelecidas.
O ceticismo caracteriza-se pela postura de constante busca do conhecimento e, simultaneamente, pela constatação da impossibilidade de acesso a ele. Para os céticos a sabedoria não é a posse da verdade, mas a atitude de buscá-la.
Pirro, teria sido o fundador dessa corrente de pensamento, no final do século IV aC. Embora não tenha deixado nenhum escrito. Ele acompanhou Alexandre em suas aventuras militares e constatou que os diferentes povos tinham distintas versões e posicionamentos a respeito de situações e fatos. Isso o levou a se indagar sobre os fundamentos da certeza e a afirmação da sua inacessibilidade.
Uma vez que a verdade é inacessível, somos condicionados a permanecermos com nossas impressões e opiniões. Mas isso não resolve o problema, uma vez que essas, também, são imprecisas, pois carecem de fundamento. Sendo impossível o acesso à verdade e infundadas as opiniões resta ao intelecto a suspensão de todo pensamento ou a ataraxia.
Entretanto o cético não se opõe ao conhecimento e sim à certeza dogmática. Desse ponto de vista somos levados a dizer que a postura cética é o centro da filosofia, uma vez que esta se caracteriza justamente pela atitude de busca do conhecimento. E, diante das certezas, a filosofia exerce seu direito de as colocar em dúvida. O que os céticos acrescentam é a afirmação da inacessibilidade da verdade e, por isso, ó sábio não se inquieta na busca, mas procura entrar em si mesmo para, no silêncio de sua ignorância, esvaziar-se das certezas.
A postura cética permanece em nossos dias. Um exemplo dessa postura nos é apresentada por A. Saint-Exupery, no livro “O Pequeno Príncipe”. Nessa obra podemos ler um diálogo entre o Pequeno Príncipe e a Raposa. Num dado momento ela confidencia seu segredo ao principezinho, dizendo ser importante “ver com o coração”. Afinal de contas, “a linguagem é uma fonte de mal-entendidos”.
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
ECLETISMO
Pode-se dizer que esta foi uma escola que se desenvolveu em oposição e como resposta aos céticos. Afirmavam que a verdade não se limita a um sistema filosófico e, portanto, deve ser complementada por elementos das diversas escolas. O ecletismo teve larga aceitação e desenvolvimento entre os romanos, sendo Cícero um dos maiores representantes do ecletismo Romano.
Em seu livro Curso de Filosofia (v. 1 e 2) Batista Mondin afirma que os céticos constatam inúmeras divergências entre os diferentes pensadores, mas isso se deve à limitação da mente humana que não consegue abarcar todas as realidade num só olhar. Ou seja, “estudando aspectos diferentes da realidade é natural que cheguem a conclusões diferentes. Por isso, para se chegar a uma compreensão adequada das coisas, não se deve confiar em um só filósofo, mas é necessário reunir as conclusões das pesquisas dos melhores entre eles”. E, dessa forma é possível uma visão mais precisa.
A postura eclética pode ser apresentada como um dos elementos centrais da cultura romana. Seu exército se fez poderoso porque foi capaz de, entre outras coisas, assimilar valores dos povos e exércitos vencidos. Assimilavam os valores e conhecimentos dos vencidos e com isso ampliavam seu próprio volume de informações a respeito da realidade
Os ecléticos, como todos os outros pensadores do período helenista não foram criadores de sistemas, mas assimiladores, releitores e divulgadores do pensamento grego, com variantes e acréscimos adaptados à sua realidade e seu tempo.
Vários séculos depois, no Brasil do século XIX e inicio do século XX, o ecletismo foi uma corrente de pensamento que melhor caracterizou a filosofia em nosso país. Alguns autores chegam a afirmar que o ecletismo foi a primeira experiência filosófica original, do Brasil. Isso, na medida em que uma corrente eclética pode ser considerada original….