(Reflexões baseadas em: Jó 19,21-27; 1Cor 15,20-28; Lucas 12,35-40)
Você sabe o que a morte faz com os vivos?
Sem traumas! Não precisa se assustar! Mas em nossa vida, ela é uma realidade! Não estou dizendo que a morte mata quem está vivo. Isso os vivos já sabem! E sabem que têm, com ela, um encontro marcado. Muitos não gostam de lembrar, mas a vida é um caminho para a morte.
Aliás isso é o que o apóstolo Paulo disse à comunidade de Corinto: “Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão” (1Cor 15,22). Mas tem algo a mais!
Você já se deu conta da totalidade de uma cena de morte? Já se deu conta de que a morte é a situação da vida que mais ajunta pessoas: amigos e curiosos, todos fazem questão de conferir: “é, de fato, morreu!”
Entretanto, além de ajuntar pessoas e colocar um ponto final na vida de quem está vivo, a morte tem um dom especial!
A morte, além de tirar a vida do vivente… o coloca em contato: com sua essência, com aquilo que fez ao longo da vida, com seu espelho… e o coloca frente a frente com o Senhor da Vida.
No outro extremo, temos a vida, que não é um parque de diversão, ao qual visitamos para nos afastarmos dos problemas e tribulações do cotidiano. A diferença, do parque de diversão é que esse é nosso definitivo destino.
A vida é uma trilha, complexa, que percorremos diariamente, do nascimento até nosso ponto de transição, a morte, pela qual transitamos para a vida plena. E isso nos leva a dizer que a morte, não é um ser sombrio e assustador, como aquele assustador personagem dos filmes de terror. Pelo contrário, é uma amiga, pois nos conduz para o destino para o qual nascemos. A ela São Francisco de Assis chamava de irmã. Por suas mãos somos colocados diante de nosso destino definitivo.
Ela nos conduz para além das dores, como nos ensina Jó, ao dizer que seu “redentor está vivo”. Esse redentor está vivo e pode redimi-lo de tudo, inclusive da morte: “E depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne, verei a Deus.”
Então, já percebeu o que a morte faz com os vivos?
A morte mata os vivos para lhes oferecer a vida além da morte!
A vida é um caminhar para a morte. Mas o que é a morte se não um percurso para a vida?
Alguém pode argumentar, dizendo que Paulo chama a morte de inimiga. “O último inimigo a ser destruído é a morte” (15,26). De fato, mas são duas situações.
Uma é a morte, afastamento definitivo, da presença de Deus. É disso que o apóstolo fala: “por um homem veio a morte”; “em Adão todos morrem”. Mas não é o Senhor que rejeita o ser humano, e sim as pessoas que não aceitam ou rejeitam a proposta divina. Vivem para si, sem olhar as necessidades dos outros e sem se voltar para Deus. Para os que fazem essa opção, o fim desta jornada é a morte. O ponto final, longe das propostas e promessas de Deus. Neste caso, a morte é a inimiga e representa “todo principado e todo poder e força” do mal. Representa todos os inimigos vencidos e colocados “debaixo de seus pés” (1Cor 15,24-25), quando o “último inimigo”, a morte, será destruída, restando apenas a vida, da qual está excluído quem optou por afastar-se de Deus.
Há, entretanto, uma outra situação para a qual a morte é um dom da graça. É o encontro definitivo, com Deus Pai. Neste caso a morte é a transição, a “ressurreição dos mortos” que se dá pela ressurreição de Cristo. Na Ressurreição “todos reviverão” (1Cor 15,21-22) saindo da morte-transição, para a vida-perfeição. E quando tudo isso tiver se concretizado “então o próprio Filho se submeterá àquele que lhe submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos” (1Cor 15,28). Nesse ponto as indagações vida-morte se converterão em vida plena, pois não haverá mais dúvidas: a vida prevalece.
Sobra apenas uma questão: quando será? Quando acontecerá esse encontro, com a irmã morte que leva para a vida? Novamente é Jesus quem responde: Não tem data nem horário….
Mas é necessário que estejamos preparados…. Esperando! E com “as lâmpadas acesas” (Lc 12,35), para participar da festa que o próprio Jesus preparou para aqueles que aceitaram sua proposta usando sua vida não em benefício próprio, mas para difundir a mensagem do Mestre.
Para estes, o próprio Jesus “vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá” (Lc 12,37). Para estes, a morte, é apenas uma passagem da vida para a festa definitiva. Para estes, que usaram sua vida em favor dos que mais precisavam, não se trata nem de esperança nem de promessa, mas de certeza: seu lugar estará preparado, nesse banquete.
E agora, já descobriu o que a morte faz com os vivos?
Faz um convite na forma de um alerta de Jesus: “Ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes" (Lc 12,40). O convite é para uma festa cujo ingresso é a morte. Um ingresso que dá acesso à vida.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
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