Já virou clichê a afirmação de que “depois desta pandemia nada será como antes”.
O clichê tem alguns pontos abertos que nos permitem longas divagações…. Mas nem precisamos de tanto. Vejamos só alguns pontos:
O primeiro ponto é a questionável afirmação: “depois desta pandemia”.
Não haverá um “depois”, como se o corona tivesse vindo para passar uma temporada, depois da qual iria embora. Ele veio, assim como o vírus da gripe e outros tantos, para ficar. Então não haverá um depois dele, como se ele nos fosse deixar um dia desses. Portanto teremos que aprender a conviver com ele e, ao mesmo tempo, morrer com sua companhia rondando a todos. Mesmo vacinados!
A pandemia pode até amenizar, mas o vírus continuará assombrando….
O segundo questionamento é a frase, meio tola, que serve de complemento ao “depois desta pandemia”. A parte que diz: “nada será como antes”.
Com ou sem pandemia, o momento seguinte sempre é diferente do instante passado. A história não se repete. Os fatos, os personagens, as circunstâncias sempre são diferentes, em cada instante da existência. E se nada se repete, evidentemente, nada será como antes… Heráclito, lá na Grécia antiga já dizia: “Não se pode tomar banho duas vezes no mesmo rio”; em pleno século XX o poeta cantou: “Nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia; tudo muda o tempo todo”. Por isso, mesmo que quiséssemos que tudo continuasse como era antes, tudo será diferente.
Talvez, quem afirma que “depois desta pandemia nada será como antes”, esteja querendo dizer apenas que muitos amigos e parentes morreram; que muitos empregos se extinguiram ou foram perdidos; que os ricos enriqueceram mais e os pobres e trabalhadores que, continuam sendo explorados, estejam sofrendo uma exploração ainda maior; que a sociedade ficou mais podre… e o mau cheiro propaga-se cada vez mais! Entretanto, não é verdade que as pessoas estejam saindo mais humanizadas. Que as relações entre as pessoas tenham melhorado; que os laços familiares e de amizade tenham se fortalecido; que tenha aumentado a solidariedade; que as pessoas tenham aprendido o valor de um abraço…. Não! Definitivamente não!
O lado mesquino do ser humano permanece e se fortalece!
Empresas e empresários continuam focados no lucro e não no trabalhador. Políticos e seus assessores continuam aproveitando-se dos eleitores, da dor das pessoas, da simplicidade e credulidade do povo… para continuar ludibriando e se dando bem às custas do povo. As estratégias se aprimoram e as falcatruas se avolumam…. Há uma permanência nesse fato. Ao mesmo tempo, a mudança, em tudo isso, é a percepção de que que todas essas mazelas se intensificaram. No fim das contas, a sociedade, ou mundo humano, não terá aprendido a lição!!!! De Buda a Jesus, de Gandhi a Mandela… e todos os profetas da bíblia… não faltaram lições de como agir e melhorar o mundo e as relações entre as pessoas. Mas a maldade prevalece!
Então, o que realmente mudou? Além do fato de que tudo é transitório, que tudo está em constante transformação, mudou o ser humano, mas não para melhor…
Campanhas de alimento foram feitas, mas depois de alguns meses o nível de desemprego aumentou. Um auxílio emergencial foi criado, mas, além de não suprir as necessidades das pessoas assistidas, serviu como trampolim eleitoreiro no discurso político… além de milhões terem sido desviados para muitos que não precisavam e incontáveis famílias necessitadas ficaram na penúria.
De fato nada será como antes…. Não! Não será como antes, será pior! Está sendo pior!
Alguns indivíduos podem ter aprendido algo; podem ter aprendido a valorizar o que antes nem percebiam que existia. Mas o conjunto da sociedade humana, essa apenas colocou em evidência uma face do mal que existe e convive com os seres humanos. E, talvez, a grande lição que a sociedade humana tenha aprendido tenha sido esta: ainda dá para tirar proveito das tragédias e das dores humanas…
Como se vê, essas são algumas das coisas que o vírus nos ensinou.... E então, o que fazer depois da pandemia? Pois nada será como antes!
Neri de Paula Carneiro
segunda-feira, setembro 20, 2021
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