sábado, outubro 16, 2021

Jesus: à direita ou à esquerda

(Reflexões a partir de: Is 53,10-11; Hb 4,14-16; Mc 10,35-45.)



Já pensou se a atitude de Jesus fosse seguida pelos nossos representantes políticos?

Dois interesseiros pedem privilégios. Dois discípulos, que já andavam com Jesus há algum tempo, quiseram tirar proveito da situação; da amizade com o mestre; da condição de discípulo. Queriam proveito próprio. Queriam as mamatas das malandragens políticas…. Queriam, mas não para servir melhor, e sim para serem vistos e admirados e poderem dizer: “veja onde cheguei!” “Sabe com quem está falando?” “Deixa comigo que dou um jeito, sou chegado do chefe!” ou o que é pior, queriam ficar próximos do mestre porque isso lhes possibilitava fazer aqueles joguinhos de troca de favores. Aqueles jogos de “toma-lá-dá-cá” tão na moda entre os políticos.

Foram, realmente, petulantes os dois irmãos: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!” (Mc 10,37). Seu raciocínio: “já que estamos ajudando na campanha, temos direito a uma vaguinha no primeiro escalão!” É a eterna busca do privilégio!

Mas Jesus não dá moleza. Faz aquilo que, infelizmente, não fazem nossos representantes políticos.E dispara: “Vós não sabeis o que pedis!” (Mc 10,38). Certamente disse mais: “você não entenderam nada do que lhes ensinei…!!!”

Na verdade eles sabiam. Mas não sabiam que Jesus não estava ali para atender o ego ou a sede de privilégios e interesses pessoais.

Por esse motivo foi que os companheiros reagiram. “Quando os outros dez discípulos ouviram isso, indignaram-se” (Mc 10,41). E não é pra menos. Quem fica satisfeito com colegas de grupo que não agem em favor do grupo, mas dos interesses pessoais?

E então, para mostrar que, definitivamente, não é e não age como nossos líderes políticos, Jesus deixa claro: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo” Mc 10,42-43). A grandeza, é o que nos ensina Jesus, não está no cargo ou função que se ocupa, mas na disposição para o serviço. Ter disposição para servir a quem precisa: essa é a grandeza!

Alguém poderia dizer que estabelecer normas e regras e leis… é uma coisa. Cumpri-las, é algo muito diferente. Nós estamos acostumados a ver isso: aqueles que fazem as leis. Aqueles que são nossas lideranças políticas, criam as normas que, a bem da verdade, só penalizam e reprimem ao povo. Pois os “chefes” e os “grandes” colocam-se acima de tudo e de todos.

Mas não é assim, no Reino anunciado pelo Senhor: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos” (Mc 10,45). Aquele que não tiver essa disposição, até pode se dizer cristão, mas na primeira oportunidade abandonará o rebanho. Esse vive de aparências, pois não está disposto a se sacrificar pelo outro; não está disposto a “dar a sua vida”, como sugere Jesus.

E, é bom notar, Jesus anuncia seu plano e seu objetivo não como um gesto tresloucado, como se fosse um jovem aventureiro, mas como passos do que foi traçado e prefigurado pelos profetas.

A proposta de Jesus não é um caminho de flores e perfumes, mas de renúncia, sofrimento e dedicação àqueles que necessitam. Isaías já o anunciara: “Oferecendo sua vida em expiação, ele terá descendência duradoura, e fará cumprir com êxito a vontade do Senhor.” (Is 53,10). E o profeta vai além. Como que prefigura a ação da Igreja naqueles que assumem a proposta do Mestre.

O profeta prefigura as dores do Servo, mas afirma que seu gesto será modelo seguido por quem entender, assumir e se doar, como Ele fez. Os que assumirem essa proposta formarão a “descendência duradoura”, anunciada pelo profeta.

Contra as mazelas dos políticos e todos os mal-intencionados, enganadores do povo “esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma ciência perfeita” (Is 53,11). Ciência perfeita que consiste em abrir espaço e preparar a implantação do Reino definitivo mediante a busca de uma sociedade justa, entre as pessoas na história.

Como saber se isso, de fato se cumprirá? Trata-se de uma aposta na esperança. Trata-se de uma aposta na promessa do próprio senhor. Trata-se daquilo que o autor da carta aos Hebreus anuncia: contra os que se deixam guar pela maldade, “Temos um Sumo Sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus. Por isso, permaneçamos firmes na fé que professamos. Com efeito, temos um Sumo Sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas” (Hb 4,14-15).

Sendo assim, se por um lado sabemos que existem e convivemos com os malandros de planão, também temos a promessa de que, se não nos corrompermos seremos acolhidos por esse Sumo Sacerdote perfeito, Jesus de Nazaré, o Cristo ressuscitado! O enviado do Pai que sabe quem ficará à direita ou à esquerda!




Neri de Paula Carneiro

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

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