O livro da Sabedoria (9,13-18) nos coloca diante desta indagação que é vital: “Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus?” Essa indagação nos leva a uma questão inversa: Quais os planos de Deus a nosso respeito? Em relação ao nosso futuro? O que Deus está planejando para nossa vida? E, em resposta a tudo isso, o que nós estamos planejando para responder aos desígnios do Senhor, a nosso respeito?
O fato é que não temos uma resposta! “Na verdade, os pensamentos dos mortais são tímidos e nossas reflexões incertas”,diz a Sabedoria (Sb 9,14).
Apesar disso e mesmo assim ao ser humano cabe manter-se numa atitude de busca pela vontade de Deus. Procurar em sua Palavra Santa pistas que apontem o caminho a respeito dos planos divinos. E isso é sabedoria, ou, pelo menos, nisso consiste o processo de busca. Aliás isso nos ensinaram todos os filósofos, ao longo da história.
Como pessoas situadas em seu tempo e em seu lugar social,os pensadores nos ensinaram que ao ser humano cabe a busca, não a posse da sabedoria. Além disso, é uma atitude sábia a de quem se mantém buscando, pois quem busca pode encontrar; enquanto aquele que se acomoda está condenado, não só à ignorância, mas também a caminhar às cegas, sem possibilidade de alcançar os desígnios divinos para melhor viver a vida.
E tudo isso por uma só razão: os desígnios do Senhor são dons da Sabedoria divina, concedidos àqueles que, pela gratuidade da Sabedoria, recebem o dom da salvação.
Assim voltamos à indagação: “Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus?” (Sb 9,13). A resposta vem da própria Sabedoria: somente aquele que recebe de Deus esse dom. “Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio, sem que lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses teu Santo Espírito?” (Sb 9,17).
O desejo de cumprir o plano de Deus levou o apóstolo Paulo a dedicar sua vida à pregação da mensagem de Jesus. Em razão disso teve muitas alegrias, mas também muito sofrimento e, devido à sua pregação, foi aprisionado. Mesmo assim não deixou de se fazer discípulo da vontade divina e se manteve na busca dos desígnios divinos.
É como prisioneiro que vamos encontrá-lo escrevendo ao amigo Filêmon (9b-10.12-17) enviando de volta Onésimo, seu companheiro de prisão. A sabedoria divina, concedida ao apóstolo lhe permitiu ver que ali estava não mais um escravo, mas um irmão. E na condição de irmão é que envia ao irmão Filêmon, um novo irmão, Onésimo.
O que permitiu a Paulo perceber um irmão, nesse companheiro de prisão? Não foi apenas sua conversão, mas o fato de perceber que sua conversão se deu por dom e vontade de Deus que usou essa situação para manifestar sua graça. Como a nos dizer que só a graça de Deus em nós nos permite ver nas pessoas que nos circundam a imagem de Deus, reconhecendo-os como irmãos na mesma caminhada.
Esse mesmo desígnio divino, a Sabedoria do Espírito, levou Paulo a explicar a Filêmon,a respeito de Onésimo: “Se ele te foi retirado por algum tempo, talvez seja para que o tenhas de volta para sempre, já não como escravo, mas, muito mais do que isso, como um irmão querido, muitíssimo querido para mim quanto mais ele o for para ti, tanto como pessoa humana quanto como irmão no Senhor (Fm 15-16)”.
Tendo isso presente e ouvindo as palavras do Mestre somos levados a dizer que mesmo seguindo Jesus as multidões não estavam entendendo o apelo dos desígnios de Deus (Lucas 14,25-33). Por que dizemos isso? Por causa das palavras de Jesus, afirmando a necessidade de desapego e de assumir a própria cruz.
Mas, que significa isso? Significa que as pessoas, de antigamente e de hoje, tendem a confiar mais nos seus parentes e amigos que em Deus. Que as pessoas, de antigamente e de hoje, pensam que seus problemas são insolúveis e os únicos que existem.Que as pessoas não confiam na providência divina e não se solidarizam com as dificuldades dos irmãos.
Ou seja, não é necessário ser indiferente aos familiares nem se fazer de vítima o tempo todo. É necessário entender que em todas as situações Deus sabe o que faz. A vontade de Deus não está na família, nos problemas, ou nos planos e sonhos mirabolantes que carregamos.
Os desígnios de Deus podem ser percebidos quando entregamos ao Espírito de Sabedoria a condução de nossa vida. “Qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33).
Como conhecer os desígnios de Deus? Deixando que por seu Espírito de Vida, Jesus conduza nosso destino.