sexta-feira, 17 de junho de 2022

Tome sua cruz

(Reflexões baseadas em: Zacarias 12,10-11;13,1. Gálatas 3,26-29. Lucas 9,18-24)




Voltar-se para Deus; encontrar-se com Deus; reconhecer-se em Deus; saber quem é Deus…. Onde nos situamos? Ou, para nós, Deus é apenas mais uma palavra sem maiores preocupações ou compromisso? Qual o sentido de nossa cruz de cada dia?

É fato que, para a muitas pessoas, Deus não passa de uma palavra meio sem sentido. Ou um ser ao qual se recorre nos momentos de dificuldade. Quando pesa a cruz!

De acordo com o profeta Zacarias (12,10-11;13,1), por saber dessa característica do ser humano, o Senhor Deus derramará uma chuva de bençãos (graça e oração) sobre o povo. Isso fará com que todos reconheçam suas faltas. E, então, haverá arrependimento e as pessoas se voltarão para Deus. Desejarão encontrá-lo pois terão consciência de que Dele e Nele se originam todas as bençãos. E, diz o profeta, “naquele dia, haverá uma fonte acessível à casa de Davi e aos habitantes de Jerusalém, para ablução e purificação” (Zc 13,1).

E todos os purificados poderão, não só voltar-se para Deus, não só encontrar-se com Ele, não só reconhecer-se em Deus, mas principalmente saber-se acolhidos pelo Senhor.

E por que isso? Somos obras de suas mãos. “Herdeiros de sua promessa” (Gl 3,29).

Mas se, por acaso, alguém ainda não se encontrou com Deus, não se reconheceu em Deus ou ainda está em dúvida se vale ou não a pena entregar-se em suas mãos… tem que atentar para as palavras e Paulo (Gálatas 3,26-29).

O apóstolo das gentes afirma, com todas as letras, a nossa filiação divina. Afirma com toda segurança e certeza: mesmo que não o reconheçamos, mesmo que sejamos indiferentes, mesmo que não tenhamos nos dado conta ou reconhecido… Deus tem uma atenção especial para cada um de nós.

Não importa a origem, cor, raça... Não importa ser possuidor de muitos bens materiais ou alguém que vive na extrema pobreza… não importa. A ação gratuita de Deus destina-se a todos, indistintamente. “O que vale não é mais ser judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só, em Jesus Cristo” (Gl 3,28). O olhar amoroso do Senhor Deus não vê as distinções, os rótulos… Não olha para as pessoas com os critérios e valores humanos. Só o que vê é a resposta que cada um dá ao seu convite!

Por isso é que Jesus indaga aos discípulos sobre a opinião das pessoas a seu respeito (Lc 9,18-24). E, também, é compreensível a resposta das pessoas. Mesmo convivendo entre elas, as pessoas ficam em dúvida a respeito daquele que lhes apresenta uma proposta radical: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou” (Lc 9,19).

Percebendo que a indagação não tem um resposta clara, o Senhor indaga diretamente aos seus discípulos: quem sou eu, para vocês? “O cristo de Deus” responde Pedro (Lc 9,20). Mas hoje a pergunta é dirigida a nós. Jesus se dirige a cada um de nós, individualmente… quem sou eu, para você?

E,então, para que não reste dúvidas ou para que não se dê uma resposta apressada, Jesus explica seu programa de vida. Programa que é extensivo a cada um dos que pretendem reconhecê-lo como Senhor. Seu programa de vida, é muito semelhante à vida cotidiana de cada um de nós: carregar uma cruz. No caso dele, além da cruz cotidiana, carregou também aquela pesada, de madeira, sobre a qual estavam nossas vida. Por isso ele explica: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia” (Lc 9,22).

Mas não para nisso. Explica que aqueles que desejarem segui-lo devem assumir a cruz. “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me” (Lc 9,23). Jesus vai adiante e explica o sentido da cruz. Explica que todos aqueles que fizerem isso serão recompensados. Deve-se notar, entretanto, que a recompensa não virá por carregar a cruz do dia a dia, mas por aderir ao seu projeto de vida. “Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9,24).

E assim voltamos à indagação inicial: Voltar-se para Deus; encontrar-se com Deus; reconhecer-se em Deus; saber quem é Deus…. Onde nos situamos? Mais ainda, como encaramos nossa cruz de cada dia?

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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