quinta-feira, 21 de julho de 2022

Ensina-nos a rezar

(Reflexões baseadas em: Gênesis 18,20-32; Colossenses 2,12-14; Lucas 11,1-13)

 

Imagino que com você ocorre o mesmo que acontece comigo: ao ler ou ouvir referências a Sodoma e Gomorra, vem à mente a destruição de uma cidade pecaminosa. Creio que poucas vezes as pessoas se recordam da intervenção de Abraão, em defesa da cidade (Gênesis 18,20-32). Poucas vezes as pessoas se dão conta de que o Senhor atende às solicitações de Abraão que apela para a clemência do Senhor em favor dos moradores daquela cidade.

A clemência do Senhor é, também, o tema de Paulo, escrevendo aos cristãos da cidade de Colossos, conforme lemos na carta a essa comunidade (Col 2,12-14). E o apóstolo ensina que apesar dos pecados se avolumando na vida de muitas pessoas, a doação de Jesus e seu sangue vertido na cruz, lavou todos os pecados de todas as pessoas e, graças a isso, a humanidade que estava mergulhada nos sinais de morte pode se reencaminhar na direção de uma nova vida na companhia do Cristo Ressuscitado.

Isso nos coloca diante de Jesus, sendo interpelado por alguém, querendo aprender a orar (Lucas 11,1-13). E Jesus ensina a orar. Ensina, como sempre, apresentando uma novidade: desta vez a novidade consiste em mostrar uma nova face de Deus. Mostrar a proximidade de um Deus que, não só caminha com quem O procura, mas que estende a mão como um Pai ao socorrer as necessidades do filho carente. Um pai que ouve o clamor de seu filho que lhe pede a solução de um problema, o encaminhamento diante de um desafio, o socorro numa necessidade.

Essa nova face do Deus Conosco, nos permite entender que não mais necessitamos de alguém para interceder por nós, como o fizera Abraão, em favor da cidade do pecado. Olhando a lição de oração de Jesus, podemos nos dirigir diretamente ao Pai. A Ele podemos apresentar nossas necessidades, nossas angústias, nossos desejos, nossas dores, nossas alegrias, nossa súplica e nossa gratidão. Podemos rezar pelo pão e pelo perdão; pela instalação do Reino e para sermos capazes de superar as tentações. E podemos tudo isso porque agora sabemos que temos um Deus que é Pai. Que é um Pai Nosso.

Alguém poderia dizer que agora a relação com Deus depende unicamente do orante em sintonia com o Pai. Isso porque Jesus também disse que no momento de oração a pessoa deve se colocar no isolamento do seu quarto (Mt 6,6), para ser atendido pelo Senhor que conhece as necessidades daquele que suplica.

Isso, entretanto, não invalida a importância da Igreja, a comunidade orante, pois Jesus a instituiu e a edificou sobre o alicerce de Pedro (“sobre esta pedra edificarei minha Igreja”, Mt 16,18). E disse que permaneceria com a Igreja santificada pelo Espírito de Vida. E, principalmente, garantiu sua presença na união de dois ou mais que estejam unidos em seu nome e em oração (Mt 18,20). Portanto, se por um lado podemos nos dirigir, confiantes, ao Deus Pai Nosso, também devemos fazê-lo em comunidade, como Igreja, corpo de Cristo.

Então, o que aprendemos com isso?

Aprendemos que Deus não quer a ingratidão do pecado, mas está disposto a perdoar o pecador, como assegurou a Abraão: poupar a cidade do pecado se ali houver alguém merecedor do perdão, se houver arrependimento. Aprendemos que Deus aceita dialogar com o orante, como dialogou com Abraão, o intercessor, mas para isso precisamos iniciar o diálogo. Aprendemos que Deus não quer a destruição do ingrato, mas o seu arrependimento.

Além e acima de tudo isso, aprendemos que Deus é um Pai bondoso: que tem um nome santo; que oferece seu Reino de amor; que dá o pão de cada dia, mas também quer que o distribuamos àqueles que dele têm necessidade; que perdoa o pecador arrependido, mas também deseja que as pessoas aprendam a perdoar; que as pessoas aprendam a repartir o pão, pois o que sobra na mesa de um é o que falta para todos os outro; que deseja ouvir nosso pedido para não cair na tentação e no pecado. Enfim, Jesus nos ensina que Deus, nosso Senhor, é um Pai bondoso, que concede o Espírito de Vida: “Se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11,13).

Mas, ainda precisamos temos muito a aprender. Jesus e o Pai Nosso que nos dá o Espírito de Vida, quer que aprendamos a rezar, não só suplicando graças, mas também agradecendo a graça da vida cotidiana, mesmo com seus altos e baixos. Então, como o fez o discípulo, contemplando o exemplo do Mestre, sejamos capazes de pedir: “Senhor, ensina-nos a rezar!!!”

 

Neri de Paula Carneiro.

 

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

 

Outros escritos do autor:

 

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

 

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

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