quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Fogo sobre a terra

(Reflexões baseadas em: Jeremias 38,4-6.8-10; Hebreus 12,1-4; Lucas Lucas 12,49-53)




Quem seriam os homens que procuraram o rei a fim de solicitar a morte do profeta Jeremias (38,4-6.8-10)?

É claro que a bíblia não registrou seus nomes. Não mereceram essa honra! Mas eles, certamente se apresentavam ao rei como homens de bem. Cidadãos de bem. Assíduos frequentadores do templo… E mesmo assim pediram a morte do profeta, acusando-o de falar ao povo; acusando-o de abrir os olhos do povo contra a vilania de uns tantos exploradores da boa fé das pessoas.

Não só pediram a morte do profeta, como ludibriaram o rei e lançaram Jeremias ao fundo de um poço (Jr 38,6). Na lama do fundo do poço, pois não havia água. E assim o profeta estava afundando na lama do poço enquanto a sociedade afundava na lama social...

O texto nos sugere que a sociedade toda estava afundando na lama:da corrupção, da mesquinharia, da inveja, da maledicência, da maldade, dos golpes políticos, da enganação, da mentira… e muito mais….

Podemos dizer mais, sem medo de cair me equivoco: na sociedade do tempo de Jeremias os chamados homens bons, os cidadãos de bem, aqueles que eram assíduos ao templo… na realidade eram os mais perversos moradores da cidade! Eles eram os que usavam de seu poder e prestigio social para se impor sobre o povo; indicar quem devia viver ou morrer! Da mesma forma que nos dias de hoje, aqueles que se diziam cidadãos de bem, eram os principais bandidos da sociedade: fraudando, corrompendo, extorquindo, mentindo… Quando olharmos nossa sociedade podemos ver o retrato da sociedade do tempo de Jeremias.

Mas o profeta foi salvo porque alguém de bom senso abriu os olhos do rei: “Ó rei, meu senhor, muito mal procederam esses homens em tudo o que fizeram contra o profeta Jeremias, lançando-o na cisterna para aí morrer de fome; não há mais pão na cidade” (Jr 38,9).

De que combate a carta aos hebreus (12,1-4) está falando?

Tudo indica a necessidade de uma tomada de decisão. Como se fosse um convite: aderimos ou não à proposta salvadora de Jesus.Trata-se, portanto, de uma batalha para a qual a vitória está destinada àqueles que se deixam conduzir por alguém que já venceu a morte e está vivo, sentado “à direita do trono de Deus”. Esse alguém é o próprio Cordeiro que venceu a cruz.

Somos levados a entender que ao cristão importa o empenho “com perseverança no combate que nos é proposto” (Hb 12,1). Tendo por modelo o próprio Jesus, aqueles que “suportou a cruz não se importando com a infâmia” nem com qualquer adversidade. E assim, com o sabor da vitória sobre as dores, as tristezas e, principalmente sobre a morte, Jesus “assentou-se à direita do trono de Deus” (Hb 12,2) dando-nos o modelo da esperança que conduz a uma certeza: as dores não são o fim. Haverá um depois, uma vitória, da mesma forma que ocorreu com Jeremias...

A certeza dessa vitória, acenada pela carta aos Hebreus, leva-nos a uma profunda sintonia com Jesus a fim de não nos deixarmos levar pelo desânimo: “Pensai pois naquele que enfrentou uma tal oposição por parte dos pecadores, para que não vos deixeis abater pelo desânimo” (Hb 12.3).

A certeza da vitória vai para além da esperança, pois está fundamentada na fé. Quem tem esperança, está num bom caminho, está numa caminhada; mas quem tem fé já deu o passo seguinte que consiste em realizar as obras daquele no qual acredita: a promoção da sociedade do amor.

Isso nos coloca diante das palavras de Jesus e nos leva a indagar: por que Ele afirma ter vindo trazer o fogo e não a paz (Lc 12,49-53)?

Em resposta observemos a natureza do fogo: Trata-se de um elemento que produz uma radical transformação naquilo com o que faz contato. O fogo é um elemento purificador!

Portanto, se o Senhor vem trazer o fogo, vem para promover a purificação. Se vem trazer a divisão, vem tirar a aparente paz daqueles que estão instalados nos projetos do mal. E isso que ocorre na sociedade, começa nas famílias divididas: enquanto alguns andam nas trilhas do Senhor outros preferem os caminhos da maldade, corrupção… e, outra vez, isso nos arremete àquilo que ocorreu com Jeremias… atirado na lama da sociedade que está mergulhada na lama!

E, sendo assim, observando o que ocorre em nosso mundo, somos levados não só a entender o porquê de Jesus propor o fogo purificador, mas também somos levados a pedir: vem logo, Senhor, purifica nosso mundo. Traz teu fogo e purifica nosso mundo!




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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