quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Uma mulher vestida de sol

(Reflexões baseadas em: Apocalipse 11,19a; 12,1.3-6a.10ab; 1 Coríntios15,20-27a; Lucas 1,39-56)




Uma mulher vestida de sol (Mulher especial, brilhante, portadora da luz) está para dar a luz um filho que vem para realizar a salvação, da parte de Deus. Entretanto um dragão pretende lhe devorar o filho. Esta cena do apocalipse (11,19a; 12,1.3-6a.10ab) apresenta-se como uma tragédia. E, de fato, não dá para negar a tragédia em andamento.

A tragédia só são se concretiza porque “a mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar” (Ap 12,6). O Deus da vida tomou a defesa da mulher e de seu filho.

Quem é essa “mulher vestida de sol”? Quem é essa criança, protegida por Deus?

Trata-se, inicialmente, de uma recordação da experiência de Maria, a mãe de Jesus, quando precisou fugir para o deserto e se refugiar no Egito, a fim de proteger o menino Jesus, recém nascido. Maria, mãe de Deus, protege seu filho e é protegida pelo Senhor. E isso ocorre porque o Senhor, que se encarnou a fim de nos mostrar o caminho do Reino, precisou crescer entre nós, provando das nossas dores.

Mas também representa a Igreja, sofrendo perseguições, ao longo dos dois mil anos de história do cristianismo.

A Igreja (entendendo as diferentes denominações cristãs) nos dias atuais, sofre com as agressões e ameaças dos monstros/dragões que são sedentos de dinheiro e poder; que ostentam o poder das armas, da corrupção, da mentira; que estão disfarçados de bons meninos e cidadãos de bem, escondidos na política, nos púlpitos das igrejas, na venda de milagres, no discurso da violência; que veneram o deus poder e riqueza, sugando a vida e os direitos dos trabalhadores, atirados aos braços da miséria. Esse monstro, o dragão dos dias atuais, do meio da lama, quer devorar os filhos da Igreja, os santos de Deus, ameaçados pelo poder do mal que cresce e seduz. É o poder de morte querendo ser maior que o Deus da vida

Mas a mulher vestida de Sol, salva pelo poder de Deus, lança um brado de esperança. Diz à criança/Igreja ameaçada: Esse momento de provação é um tempo em que se purificam e se separam aqueles que são de Deus e os que pertencem ao dragão do mal: “Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus, e o poder do seu Cristo” (Ap 12,10), pois o tempo está próximo.

Sabemos disso porque o apóstolo nos ensina (1Cor 15,20-27). Interpretando os sinais de seu tempo, Paulo demonstra que, da mesma forma que Cristo superou as dores e a morte “como primícias dos que morreram” (1Cor 15,20) assim também os que são de Cristo. Haverá um tempo de provação e “a seguir, será o fim, quando ele entregar a realeza a Deus-Pai, depois de destruir todo principado e todo poder e força” (1Cor 15,24).

Os poderes da morte tentam se sobrepor ao dom da vida, ministrado pela Igreja (diferentes denominações cristãs). Os poderes de morte se infiltram entre as pessoas, seduzidas pelo adoradores da discórdia e violência; das armas e da mentira. Mas o poder da morte será destruído: “O último inimigo a ser destruído é a morte” (1Cor 15,26).

Nestas alturas vamos ouvir Maria, mãe de Jesus (Lc 1,39-56): primeiro ela dirige-se a Isabel, sua prima; mas também fala a nós que seguimos as palavras de seu filho.

Isabel recebe Maria, a mãe de Jesus, como aquela que mereceu a bênção de Deus e a chama de bendita por dois motivos: porque se fez mãe do portador da benção divina e porque acreditou que “será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,42.45). Maria assume a predileção divina e seu papel como colaboradora no plano da salvação.

Maria, a mulher vestida de sol, modelo de Igreja, assume e explicita o momento da separação entre os preferidos de Deus e aqueles que provocam as dores do povo: afirma que Deus é misericordioso, mas também mostra a força de seu braço para dispersar os promotores de maldade; destrói os poderes de morte e os ricos que os apoiam; tem um amor especial para com os sofredores e famintos. “O Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias” (Lc 1,49-53).

Nestas alturas podemos nos indagar: como está nossa relação com a mulher vestida de sol? Estamos aderindo às propostas de seu filho, que foi salvo do dragão ou estamos nos deixando seduzir pelo monstro promotor da morte?

Que a luz dessa mulher luminosa nos ajude a perceber e seguir o Cristo da luz e da vida, recusando os poderes de morte; que a mulher esplendorosa nos ensine a perceber que o caminho da vida se constrói com atitudes de paz!

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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