sexta-feira, julho 01, 2022

Pedro e Paulo: O Senhor enviou seu anjo

(Reflexões baseadas em: Atos dos Apóstolos 12,1-112º Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19)


Pedro e Paulo dois personagens completamente diferentes, mas com um elo que os uniu ao redor de uma proposta: a adesão apaixonada por Jesus, o homem de Nazaré, o Cristo Senhor… Adesão essa que ambos levaram até as últimas consequências… E que os levou ao martírio: dar a vida em nome da fé no Ressuscitado.

Ambos, ao longo da vida, protagonizaram cenas memoráveis.

Pedro, convivendo com o Senhor, vivenciou cenas com atitudes extremas. Sempre pronto a confessar: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,13-19; ou como o afirma Lucas: “Tu és o Cristo de Deus! (Lc 9,20). É aquele sujeito impetuoso que deseja andar sobre as águas para encontrar o Senhor, mas tropeça nas ondas e pede que o senhor lhe estenda a mão (Mt, 14,28-29). Disposto a defender o Senhor, com a espada na mão, no que é repreendido por Jesus (Jo 18,10-11)… Corre ao sepulcro, para encontrá-lo vazio (Jo 20,6); mergulha nas águas revoltas para encontrar Jesus na praia (Jo 21,7)… O fato é que Pedro é o discípulo da radicalidade, tal é sua fé e disposição para seguir o Senhor!

Essa radialidade no seguimento lhe rende prisões, como narrado nos Atos dos Apóstolos (12,1-11). O risco de morte era iminente. Outros companheiros já haviam sido executados. Isso, entretanto, não foi motivo para se deixar abater. Ele sabia-se amparado por aquele que passou a ser o centro de sua vida. Tal é sua confiança, que segue seu libertador e, ao se ver livre confessa a confiança: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar” (At 12,11).

Essa postura de Pedro, sabendo que podia confiar, nos ajuda a entender os mártires do nossos dias: tanto aqueles que são assassinados em virtude da pregação da Palavra Libertadora, como aqueles que militam em causas sociais como os mártires ambientalistas que são, vitimados pelo poder atual.

Com Paulo as coisas não foram diferentes. Inicialmente radical perseguidor dos discípulos de Jesus.

Combatendo os discípulos de Jesus, assistiu, com um certo prazer jubiloso, a execução de Estevão (At 8,1). Mais do que isso, arrastava homens e mulheres para os prender (At 8,3). Não satisfeito, dirigiu-se a cidade de Damasco…. Foi nesse trajeto que se deu a grande mudança (At 9,1-22). Então começou uma nova fase na vida desse homem dos extremos.

Deixou de perseguir e usou todo seu ardor, seu saber e sua fé para pregar a nova mensagem. Comprova isso suas várias cartas exortando, encorajando, corrigindo, orientando, dando broncas e fazendo amplos elogios…. É todo coração amoroso e, ao mesmo tempo, racional e meticuloso. Usa a fé hebraica, mas fundamenta-a com profundas reflexões filosóficas, como o faziam os pensadores gregos.

Convida a mergulhar no seguimento ao Cristo Ressuscitado, em busca da vida eterna mas, ao mesmo tempo, cobra dos discípulos do Senhor, a mesma coerência do mestre: mostra que a fé se manifesta na prática da justiça social, na defesa dos sofredores e marginalizados; insiste na esperança de uma vida eterna, mas sem desgrudar o pé do cotidiano… enfim, só um passeio pelas suas cartas pode nos dar mais luz e admiração por esse personagem que, podemos dizer, colocou as bases para a catolicidade, a universalidade, da mensagem cristã.

Tanto fez que em favor da proposta e mensagem de Jesus que isso lhe rendeu inúmeras prisões. E no momento em que escreve ao companheiro Timóteo , aquele que honra a Deus (Timao: honra; Teo: Deus), informa-o de que sua vida terrena está chegando ao fim (2 Tm 4,6-8.17-18).

Lendo a conjuntura, sabe que seu fim se aproxima. Mas nem por isso se deixa abater: “já estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça” (2 Tm 4,6-8). E, da mesma forma que Pedro, Paulo sabe que apesar das dores e perseguições e dissabores… “O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste” (2 Tm 4,18).

Os traços da personalidade desses dois grandes homens levou Jesus a escolhê-los. E os colocou como fundamentos da Igreja: “Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,18-19). tudo isso nos levar a olhar para ambos como os anjos do Senhor, estabelecendo as bases da Igreja...

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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