A contemplação do Reino de Deus. Este é um dos temas que a Igreja nos propõe para a reflexão, nas leituras deste 16º domingo do tempo comum.
E quais os critérios para contemplarmos e entendermos esse Reino, proposto e apresentado por Jesus e destinado aos justos?
A resposta se encontra nos detalhes das leituras que a Igreja nos propõe para a reflexão, neste dia, a começar com o trecho do evangelho segundo Mateus 13, 24-43.
Antes disso, entretanto, é bom nos lembrarmos que todo o capítulo 13, do evangelho segundo Mateus, é uma sucessão de parábolas (pequenas histórias de comparações). E com essas parábolas é que Jesus nos apresenta o Reino e os caminhos para chegar a ele.
Na perícope de hoje (trecho do evangelho ou de outro livro) Jesus nos apresenta o Reino em três comparações. Primeiro: “O Reino dos Céus é como um homem que semeou boa semente” (Mt 13,24). Depois diz que “O Reino dos Céus é como uma semente de mostarda” (Mt 13,31) e na terceira comparação Jesus diz que o “O Reino dos Céus é como o fermento” (Mt 13,33).
Essas três comparações nos dão algumas pistas a respeito do Reino: a primeira pista é a afirmação do Reino: ele “é”. Esse verbo é usado para indicar a existência. Jesus diz que ele “É” porque ele existe. Admitamos ou não o Reino é uma realidade. A segunda pista está na primeira comparação: o reino é como a “boa semente”. A boa semente, quando plantada, germina. Isso significa que o Reino, embora existente em si mesmo, ente nós ele precisa germinar, para crescer. E a germinação depende do solo (e a respeito dos tipos de solo Jesus falou na liturgia do domingo anterior – 15º domingo do tempo comum; Mt 13,1-23). Uma terceira pista a respeito do Reino Jesus fornece na outra comparação: a semente do reino, que é uma semente boa, é a de mostarda. Uma semente pequenina mas, por ser boa, germina e cresce oferecendo abrigo. E o abrigo do reino está disponível a todos. A quarta pista a respeito do reino está na comparação com o fermento. O fermento-Reino, faz crescer a massa, mas para que isso ocorra, é necessário que a mulher faça a mistura. Aqui Jesus nos faz lembrar e valorizar o dom da fecundidade.
O homem, pode até ser bom semeador, e usar uma boa semente, mas sem a fecundidade feminina não há crescimento. A terra-mãe é fecunda e faz nascer a semente. A semente é boa, e germina. Mas o fermento (que é masculino), pode até ser excelente, mas sem a mistura feita pelo dom fermento, não é eficiente. Não faz crescer. O crescimento do Reino-entre-nós, depende da mistura do fermento na massa. A interação faz o crescimento. O crescimento do Reino não é para indivíduos isolados, mas para a comunidade. É o fermento, misturado pela fecundidade feminina, que faz o Reino crescer na comunidade, semente-do-Reino.
Outras pistas, ou características, do Reino, podem ser buscadas no livro da Sabedoria (12,13.16-19). Algo a ser destacado é o fato de que o Reino é o convívio com Deus, Todo Poderoso. Um Deus que fundamenta seu poder na justiça. Cabendo destacar que a justiça divina não é o cumprimento de algum principio legal, mas a equidade. Ou seja, cumprir uma lei qualquer, nem sempre é uma ação justa, mas é justo quem domina a “própria força”, quem “julga com clemência”, quem governa “com grande consideração” (Sb 12,18). como o faz o Senhor. Também faz parte das características do reino o dom da esperança e “o perdão aos pecadores” (Sb 12,19).
Também Paulo (Rm 8,26-27), oferece informações a respeito do Reino. O apóstolo parte da afirmação da ação do Espírito. Mesmo sem mencionar o Reino dos Céus, ao dizer que o "Espírito vem em socorro da nossa fraqueza” e que “é o próprio Espírito que intercede em nosso favor” (Rm 8,26), Paulo está demonstrando que as sementes do Reino se estendem em favor das pessoas. E a ação do Espírito é uma ação do Reino porque “é sempre segundo Deus que o Espírito intercede” (Rm 8,27).
Nessa descrição e caracterização do Reino manifesta-se mais uma: a dimensão trinitária. O Reino é dom do Pai, manifestada pelo Espírito e anunciada pelo Filho. A ação de Jesus de Nazaré, anunciando o Reino, é uma manifestação do Espírito que nos conduz ao Pai. E isso para nos indicar que o Reino de Deus entre nós acontece e se manifesta na vida comunitária. O fermento do reino, é uma mistura comunitária. O reino é uma oferta para todos, recebido individualmente, mas se manifesta na comunidade.
Por fim, não podemos nos esquecer que diante da proposta do Reino, o ser humano tem que tomar uma decisão: assume-se como trigo ou como joio.
A opção, a escolha, é de cada um. A proposta de ser trigo é oferecida a todos. Mas alguns preferem ser joio. Ser trigo é aceitar o reino e todas as maravilhas inerentes à presença e convívio com Deus. Ser joio é escolher o afastamento definitivo da convivência com Deus, no Reino que nos foi preparado. Ser trigo é se juntar à comunidade em favor da comunidade. Ser joio é o afastamento da vida comunitária, escolhendo ser queimado no fogo do isolamento (Mt 13,42).
Aqueles que escolhem e acolhem a semente e o fermento do Reino, esses são aqueles que “brilharão como o sol no Reino de seu Pai” (Mt 13, 43)
Neri de Paula Carneiro
sábado, julho 18, 2020
sábado, julho 11, 2020
Assim como
O que Deus está nos propondo neste décimo quinto domingo do tempo comum?
Estamos diante de leituras que se apresentam não só como belos textos metafóricos, mas como textos profundos em suas comparações, ensinando os caminhos para a vida.
Na primeira leitura Isaías (55,10-11) nos informa a respeito do poder a palavra de Deus. Ela vem de Deus, assim como a chuva vem do céu. E assim como a chuva cai sobre a terra com a finalidade de fazer a semente germinar, a palavra de Deus vem a nós com a finalidade de produzir efeitos.
Essa palavra é poderosa não por ser um texto, mas por representar a vontade de Deus. Por isso ela “realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi” (Is, 55,11).
A palavra de Deus é eficiente, é produtiva, é fecunda, é plena de vida, pois faz germinar a semente e essa semente produz alimento…. E o alimento produz vida, mantém a vida. O alimento é vida, pois o alimento é dom de Deus. E, na celebração litúrgica, o alimento é o próprio Deus.
Por sua vez, Paulo, na carta aos romanos (8,18-23) aponta para o sentido da vida. E não só o sentido da vida, mas também o sentido do sofrimento. Ele nos ensina que o sofrimento é o caminho para a glória definitiva. Ao ser libertado das dores o ser humano participará “da liberdade e da glória dos filhos de Deus”.
Diante das palavras de Paulo, mostrando o sentido da dor, afirmando que ela é o caminho para a plenitude de Deus, alguém poderia argumentar: “Se o caminho para a glória eterna é o sofrimento, isso significa que Deus gosta de ver as pessoas sofrendo para lhes conceder a vida plena. Então esse é um Deus maldoso”.
Não é esse o sentido da dor. Nem para Paulo, nem para a Bíblia e menos ainda para os ensinamentos de Jesus. A dor, os sofrimentos, os dissabores da vida, as dificuldades… não são a vontade de Deus. Tudo isso representa os reflexos das limitações da vida, das coisas, da materialidade.
E, em alguns casos, os sofrimentos são consequências de nossas escolhas!
Por isso é que Paulo afirma: “toda a criação, até o tempo presente, está gemendo como que em dores de parto. E não somente ela, mas nós também”. E Paulo explica o alcance dessas dores. Elas existem enquanto estamos “aguardando a adoção filial e a libertação para o nosso corpo” (Rm 8,22-23). Quer dizer: as dores existem, como contingência da criação, porque a criação é limitada, mas a criação se destina à glória divina, pois se origina do próprio Deus.
Assim sendo, podemos afirmar que Deus não quer nosso sofrimento. Mas como eles existem, porque são condições da materialidade e finitude das coisas e de nós mesmos. Então, qual o significado disso, desse mundo que chora como em dores de parto?
A Deus interessa a atitude diante do sofrimento. Deus não se alegra com o sofrimento, mas quer saber como nos comportamos no seu enfrentamento. Aqueles que amam a Deus sabem que Ele não nos permite um fardo maior do que aquilo que podemos suportar.
E podemos nos comportar de duas formas diante desse fardo: o primeiro é aproveitando a dor para crescer; para nos fortalecermos; para aprendermos as lições que a dor ensina. São lições doloridas, mas salutares. Então podemos enfrentar nossos sofrimentos de forma positiva. Sabendo que o problema antecede a solução, mas sabendo que a solução existe!
Outra forma é enfrentar os dissabores de forma negativa. Maldizendo e não sendo capaz de aprender, com a dor. Agir assim é não perceber que não existe planta nova sem que a semente germine. E o germinar da semente é um processo de aniquilamento. A semente deixa de existir para ceder lugar à planta, à nova vida.
Essa é uma das lições que podemos aprender da parábola, contada por Jesus, no evangelho de Mateus (13,1-23). Também Jesus, falando dos diferentes terrenos em que a semente é lançada, está falando do valor da vida, dos problemas a serem superados e da postura que podemos adotar ao nos depararmos com as dores do nosso dia a dia, ou os problemas de nossa existência.
São duas as posturas. A primeira é pessimista. Pra esses Jesus afirma: “Todo aquele que ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o que foi semeado em seu coração” (Mt 13,19). A segunda é otimista. E para estes Jesus diz: “A semente que caiu em boa terra é aquele que ouve a palavra e a compreende. Esse produz fruto”(Mt 13, 23).
A semente é a palavra, e vem de Deus, como a chuva. Nós somos os terrenos: alguns pedregosos, outros à beira do caminho, outros repletos de espinhos. Mas também existem os terrenos férteis. Estes são produtivos. Nesse terreno a semente vai morrer (sofrendo) e ressurgirá em frutos de e para vida nova.
Os terrenos espinhentos, pedregosos ou à beira do caminho, são as dores. Ao perceber o lado edificante da dor, a semente pode germinar e produzir muito fruto. Mas essa já é a nossa resposta. E a resposta depende apenas de nós.
Pode ser difícil e dolorido, mas é possível tirar lições da dor. Mas é necessário lembrar que Essa semente e nesses terrenos, quem semeia é Jesus. A nós cabe dar a resposta. A nós cabe a postura diante da dor: o desespero que aumenta a dor ou a abertura para aprender com a dor e edificar ainda mais nossa vida. Assim como a chuva, assim como a semente, assim como as dores do parto: tudo é proposta e esperança de vida melhor.
Neri de Paula Carneiro
Estamos diante de leituras que se apresentam não só como belos textos metafóricos, mas como textos profundos em suas comparações, ensinando os caminhos para a vida.
Na primeira leitura Isaías (55,10-11) nos informa a respeito do poder a palavra de Deus. Ela vem de Deus, assim como a chuva vem do céu. E assim como a chuva cai sobre a terra com a finalidade de fazer a semente germinar, a palavra de Deus vem a nós com a finalidade de produzir efeitos.
Essa palavra é poderosa não por ser um texto, mas por representar a vontade de Deus. Por isso ela “realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi” (Is, 55,11).
A palavra de Deus é eficiente, é produtiva, é fecunda, é plena de vida, pois faz germinar a semente e essa semente produz alimento…. E o alimento produz vida, mantém a vida. O alimento é vida, pois o alimento é dom de Deus. E, na celebração litúrgica, o alimento é o próprio Deus.
Por sua vez, Paulo, na carta aos romanos (8,18-23) aponta para o sentido da vida. E não só o sentido da vida, mas também o sentido do sofrimento. Ele nos ensina que o sofrimento é o caminho para a glória definitiva. Ao ser libertado das dores o ser humano participará “da liberdade e da glória dos filhos de Deus”.
Diante das palavras de Paulo, mostrando o sentido da dor, afirmando que ela é o caminho para a plenitude de Deus, alguém poderia argumentar: “Se o caminho para a glória eterna é o sofrimento, isso significa que Deus gosta de ver as pessoas sofrendo para lhes conceder a vida plena. Então esse é um Deus maldoso”.
Não é esse o sentido da dor. Nem para Paulo, nem para a Bíblia e menos ainda para os ensinamentos de Jesus. A dor, os sofrimentos, os dissabores da vida, as dificuldades… não são a vontade de Deus. Tudo isso representa os reflexos das limitações da vida, das coisas, da materialidade.
E, em alguns casos, os sofrimentos são consequências de nossas escolhas!
Por isso é que Paulo afirma: “toda a criação, até o tempo presente, está gemendo como que em dores de parto. E não somente ela, mas nós também”. E Paulo explica o alcance dessas dores. Elas existem enquanto estamos “aguardando a adoção filial e a libertação para o nosso corpo” (Rm 8,22-23). Quer dizer: as dores existem, como contingência da criação, porque a criação é limitada, mas a criação se destina à glória divina, pois se origina do próprio Deus.
Assim sendo, podemos afirmar que Deus não quer nosso sofrimento. Mas como eles existem, porque são condições da materialidade e finitude das coisas e de nós mesmos. Então, qual o significado disso, desse mundo que chora como em dores de parto?
A Deus interessa a atitude diante do sofrimento. Deus não se alegra com o sofrimento, mas quer saber como nos comportamos no seu enfrentamento. Aqueles que amam a Deus sabem que Ele não nos permite um fardo maior do que aquilo que podemos suportar.
E podemos nos comportar de duas formas diante desse fardo: o primeiro é aproveitando a dor para crescer; para nos fortalecermos; para aprendermos as lições que a dor ensina. São lições doloridas, mas salutares. Então podemos enfrentar nossos sofrimentos de forma positiva. Sabendo que o problema antecede a solução, mas sabendo que a solução existe!
Outra forma é enfrentar os dissabores de forma negativa. Maldizendo e não sendo capaz de aprender, com a dor. Agir assim é não perceber que não existe planta nova sem que a semente germine. E o germinar da semente é um processo de aniquilamento. A semente deixa de existir para ceder lugar à planta, à nova vida.
Essa é uma das lições que podemos aprender da parábola, contada por Jesus, no evangelho de Mateus (13,1-23). Também Jesus, falando dos diferentes terrenos em que a semente é lançada, está falando do valor da vida, dos problemas a serem superados e da postura que podemos adotar ao nos depararmos com as dores do nosso dia a dia, ou os problemas de nossa existência.
São duas as posturas. A primeira é pessimista. Pra esses Jesus afirma: “Todo aquele que ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o que foi semeado em seu coração” (Mt 13,19). A segunda é otimista. E para estes Jesus diz: “A semente que caiu em boa terra é aquele que ouve a palavra e a compreende. Esse produz fruto”(Mt 13, 23).
A semente é a palavra, e vem de Deus, como a chuva. Nós somos os terrenos: alguns pedregosos, outros à beira do caminho, outros repletos de espinhos. Mas também existem os terrenos férteis. Estes são produtivos. Nesse terreno a semente vai morrer (sofrendo) e ressurgirá em frutos de e para vida nova.
Os terrenos espinhentos, pedregosos ou à beira do caminho, são as dores. Ao perceber o lado edificante da dor, a semente pode germinar e produzir muito fruto. Mas essa já é a nossa resposta. E a resposta depende apenas de nós.
Pode ser difícil e dolorido, mas é possível tirar lições da dor. Mas é necessário lembrar que Essa semente e nesses terrenos, quem semeia é Jesus. A nós cabe dar a resposta. A nós cabe a postura diante da dor: o desespero que aumenta a dor ou a abertura para aprender com a dor e edificar ainda mais nossa vida. Assim como a chuva, assim como a semente, assim como as dores do parto: tudo é proposta e esperança de vida melhor.
Neri de Paula Carneiro
domingo, julho 05, 2020
Seu domínio se estenderá
Qual é a proposta que Deus nos faz neste decimo quarto domingo do tempo comum?
Tanto a leitura de Zacarias (9,9-10) quanto na carta de Paulo aos Romanos (8,9.11-13) fazem propostas para mudanças. Mudança de comportamento; mudança de atitude. Mas, para que essas mudanças ocorram é necessária uma outra mudança, esta indicada por Jesus: fazer-se pequenino.
Uma mudança de comportamento é sugerida por Zacarias. A ideia que temos de uma monarca é de uma pessoa que sempre faz questão de mostrar sua majestade por meio das aparências. O poderoso evidencia seu poder mediante o esplendor de sua apresentação. Ele apresenta-se com carros e cavalos e exércitos (Zc 9,10). E, normalmente, se preocupa apenas em fazer cumprir sua vontade, independentemente de isso ser ou não o melhor para seu povo. Aliás, para o monarca, nesses termos, o seu povo é o que menos importa.
Não é essa a figura do o rei, apresentado por Zacarias. E aqui temos uma mudança de perspectiva, pois este rei, apresentado pelo profeta vem ao encontro; ele é justo e salvador; ele é simples, pois “vem montado num jumento” (Zc 9,9) ao contrário do comportamento dos monarcas que se apresentam montados em belos cavalos e esperam a ovação do povo.
Esse rei humilde, apresentado pelo profeta, vem, não para a guerra e conquista, mas para a paz entre as nações. Por isso quebra o arco (ou seja, vai eliminar as armas). Os carros e cavalos perderão o valor pois seu objetivo é anunciar a paz. E, havendo paz, as fronteiras deixarão de ter sentido. Por isso o reino desse rei justo, humilde salvador, será tão abrangente: de mar a mar e atingirá os “confins da terra”(Zc 9,10). Seu domínio é extenso não poque é poderoso, mas porque é justo e vem em nome da paz.
Por sua vez, Paulo (Rm 8,9.11-13), faz referência a uma mudança de atitude: viver, não de acordo com nossas vontades carnais, “mas segundo o espírito” (Rm 8,9). Podemos dizer que Paulo é ainda mais exigente que Zacarias pois sua proposta cobra radicalidade completa, sem meios termos. Trata-se de fazer uma opção definitiva cujo alcance, ou resultado, pode conduzir à vida ou à morte (Rm 8,13).
Então, qual a consequência dessa nova postura, dessa mudança de atitude?
Um redirecionamento na vida. São as atitudes, ou a forma de conduzir o dia a dia, que demonstram a presença do Espírito; que evidenciam as opções que assumimos.
Não se trata de dizer, mas de fazer. A vida cristã exige matar o “procedimento carnal” (Rm 8,13), para viver “segundo o espírito”. E isso implica assumir a postura dos “pequeninos” (Mt 11,25) e não da ostentação.
Cabe lembrar que somos devedores de uma dívida “não para com a carne, para vivermos segundo a carne” (Rm 8,12), mas com o Espírito de vida que nos “vivificará” (8,12). O espírito de vida, está presente naqueles que realizam, em suas vidas, os atos do Espírito: amor, solidariedade, altruísmo… que são posturas de quem não está em busca da ostentação.
Esse mesmo Espírito de vida, que dá força para superar o espírito carnal, é aquele que confere forças para superar os desafios, as dificuldades, os problemas, as dores… tudo que se insere na forma de um jugo, ou fardo, pesado.
A leveza do fardo, ou do jugo, manifesta-se numa vida de simplicidade, de amizade, de superação dos conflitos…
Para que isso isso aconteça é necessário se quebrarem, ou se eliminarem, as armas. Que se acabem com os símbolos de poder, os mecanismos de dominação…
E, para isso acontecer, se faz necessário assumir não a dominação, mas a mansidão, a humildade, que não foram reveladas “aos sábios e entendidos”, mas aos que se fazem pequenos. E estes, justamente por não almejarem a grandeza, é que são capazes de ampliar os domínios da paz e do amor.
É para quem assim procede que Jesus dirige suas palavras: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,29-30). E quando as pessoas puderem assim proceder, se instalará o reino do amor, cujo “domínio se estenderá de um mar a outro mar, e desde o rio até aos confins da terra” (Zc 9,10).
Neri de Paula Carneiro
Tanto a leitura de Zacarias (9,9-10) quanto na carta de Paulo aos Romanos (8,9.11-13) fazem propostas para mudanças. Mudança de comportamento; mudança de atitude. Mas, para que essas mudanças ocorram é necessária uma outra mudança, esta indicada por Jesus: fazer-se pequenino.
Uma mudança de comportamento é sugerida por Zacarias. A ideia que temos de uma monarca é de uma pessoa que sempre faz questão de mostrar sua majestade por meio das aparências. O poderoso evidencia seu poder mediante o esplendor de sua apresentação. Ele apresenta-se com carros e cavalos e exércitos (Zc 9,10). E, normalmente, se preocupa apenas em fazer cumprir sua vontade, independentemente de isso ser ou não o melhor para seu povo. Aliás, para o monarca, nesses termos, o seu povo é o que menos importa.
Não é essa a figura do o rei, apresentado por Zacarias. E aqui temos uma mudança de perspectiva, pois este rei, apresentado pelo profeta vem ao encontro; ele é justo e salvador; ele é simples, pois “vem montado num jumento” (Zc 9,9) ao contrário do comportamento dos monarcas que se apresentam montados em belos cavalos e esperam a ovação do povo.
Esse rei humilde, apresentado pelo profeta, vem, não para a guerra e conquista, mas para a paz entre as nações. Por isso quebra o arco (ou seja, vai eliminar as armas). Os carros e cavalos perderão o valor pois seu objetivo é anunciar a paz. E, havendo paz, as fronteiras deixarão de ter sentido. Por isso o reino desse rei justo, humilde salvador, será tão abrangente: de mar a mar e atingirá os “confins da terra”(Zc 9,10). Seu domínio é extenso não poque é poderoso, mas porque é justo e vem em nome da paz.
Por sua vez, Paulo (Rm 8,9.11-13), faz referência a uma mudança de atitude: viver, não de acordo com nossas vontades carnais, “mas segundo o espírito” (Rm 8,9). Podemos dizer que Paulo é ainda mais exigente que Zacarias pois sua proposta cobra radicalidade completa, sem meios termos. Trata-se de fazer uma opção definitiva cujo alcance, ou resultado, pode conduzir à vida ou à morte (Rm 8,13).
Então, qual a consequência dessa nova postura, dessa mudança de atitude?
Um redirecionamento na vida. São as atitudes, ou a forma de conduzir o dia a dia, que demonstram a presença do Espírito; que evidenciam as opções que assumimos.
Não se trata de dizer, mas de fazer. A vida cristã exige matar o “procedimento carnal” (Rm 8,13), para viver “segundo o espírito”. E isso implica assumir a postura dos “pequeninos” (Mt 11,25) e não da ostentação.
Cabe lembrar que somos devedores de uma dívida “não para com a carne, para vivermos segundo a carne” (Rm 8,12), mas com o Espírito de vida que nos “vivificará” (8,12). O espírito de vida, está presente naqueles que realizam, em suas vidas, os atos do Espírito: amor, solidariedade, altruísmo… que são posturas de quem não está em busca da ostentação.
Esse mesmo Espírito de vida, que dá força para superar o espírito carnal, é aquele que confere forças para superar os desafios, as dificuldades, os problemas, as dores… tudo que se insere na forma de um jugo, ou fardo, pesado.
A leveza do fardo, ou do jugo, manifesta-se numa vida de simplicidade, de amizade, de superação dos conflitos…
Para que isso isso aconteça é necessário se quebrarem, ou se eliminarem, as armas. Que se acabem com os símbolos de poder, os mecanismos de dominação…
E, para isso acontecer, se faz necessário assumir não a dominação, mas a mansidão, a humildade, que não foram reveladas “aos sábios e entendidos”, mas aos que se fazem pequenos. E estes, justamente por não almejarem a grandeza, é que são capazes de ampliar os domínios da paz e do amor.
É para quem assim procede que Jesus dirige suas palavras: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,29-30). E quando as pessoas puderem assim proceder, se instalará o reino do amor, cujo “domínio se estenderá de um mar a outro mar, e desde o rio até aos confins da terra” (Zc 9,10).
Neri de Paula Carneiro
domingo, junho 28, 2020
Não somente a mim
Estamos celebrando a solenidade de São Pedro e São Paulo. Para tanto, a Igreja nos propõe refletir Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2 Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19.
Mas o que tem de especial nesta festa, que vai muito além dos festejos juninos?
Tem dois personagens que, podemos dizer, foram “escolhidos a dedo” por Jesus.
O primeiro, Pedro, a pedra que se tornou fundamental para a Igreja. Pedro o homem da iniciativa. Aquele que sem pensar muito sabia, pois era guiado pela fé, que Jesus era muito mais que só o mestre. Ele era “o Messias, o Filho do Deus vivo" (Mt 16,16).
Pedro é esse personagem que, aprisionado por Herodes, não entra em desespero. Mesmo sabendo que outros irmãos já haviam sido mortos a mando do rei (12,2). Preso, com risco de ser executado no dia seguinte, “Pedro dormia entre dois soldados, preso com duas correntes” (At 12,6).
A serenidade de Pedro contrasta com o comportamento da maioria de nós. Em uma situação extrema, como no caso do apóstolo, a maioria de nós entraria em desespero. Ele se mantém sereno, pois sabe que em razão de seus méritos e da oração da Igreja (At 12,5), o Senhor não o abandonaria. E o anjo libertador vem para colocá-lo em pé: “Levanta-te depressa!” (At. 12, 7); para o revestir: "Coloca o cinto e calça tuas sandálias!" e para clocá-lo a caminho: "Põe tua capa e vem comigo!"( At 12, 8).
Pedro sabe que o Senhor não o abandona, mas também sabe que a liberdade não é um milagre espontâneo. Sabe que é um processo que depende de uma resposta sua. Deus o liberta, mas é ele que precisa se por a caminho. A superação da dificuldade depende, sim da oração e do apoio do Senhor, mas é resultado da ação humana. Deus não realiza milagre contra a ou independentemente da vontade humana, pelo contrário, Ele vem para responder ao ser humano.
O outro personagem, desta celebração é Paulo. Aquele que, sem medo de não ser modesto, é capaz de afirmar: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé.” (2 Tm 4,7).
Paulo deve ter sido um personagem admirável. Entre outras coisas pela sua dedicação apaixonada a Jesus. A considerar pelo vigor dos seus escritos, deve ter sido um pregador incansável e que cativava pelos seus discursos.
Podemos, inclusive, dizer que, junto com Pedro, Paulo é cofundador da Igreja, em sua ampliação para o mundo. O ardor missionário de Paulo foi o que plantou a semente da Igreja ramificada pelo mundo
Mas Paulo também passou por dificuldades e, nem por isso perdeu a esperança. Pelo contrário, sabia-se amparado pelo Senhor. Tinha certeza de que em suas dores o Senhor: “esteve a meu lado e me deu forças” (2 Tm 4,17).
Paulo, também prisioneiro, sabe que está em risco de vida: “estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida” (2 Tm 4,6). Mesmo assim, não perde o ardor missionário: continua a obra missionária por meio das cartas e afirmando que a vitória sobre as dores está reservada “não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor” (2 Tm 4,8).
A mensagem paulina, portanto, além de ser otimista, é uma demonstração de que, apesar das dificuldades, existe a possibilidade da superação. Ele nos ensina que a superação das dores não é um dom gratuito. Pelo contrário, depende do engajamento, da ação; depende daquilo que nós realizamos. A superação dos sofrimentos é consequência daquilo que fazemos para o superar. E, mais uma vez, a graça de Deus vem como resposta ao nosso esforço. Àquele que se esforça, dedica-se à causa do reino, pode dizer, como Paulo que “Agora está reservada para mim a coroa da justiça” (2 Tm 4,8).
Por que é necessário esse engajamento, por parte do cristão?
Para participar do processo de instalação do reino de paz e justiça. É a ação do cristão que realiza, que atualiza e faz acontecer as transformações necessárias ao mundo corrompido. A ação do cristão não se resume à oração para que o mundo seja melhor. A ação do cristão supõe, ao lado e como consequência da oração, a ação.
Sem a ação do cristão o mundo continuará sem conhecer Jesus (e consequentemente, sem saber realizar as obras cristãs) e se não o conhecem, dirão, a respeito de Jesus aquilo que disseram os que com Ele conviveram: "Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas" (Mt 16,14). Dirão isso e muito mais, sem realmente conhecê-lo.
Ao cristão é que cabe esse anúncio. Esse esclarecimento. Se o cristão não o disser e não o demonstrar, o mundo continuará sem saber quem é e como realizar as obras de Jesus. As obras de salvação, as obras de transformação. Isso implica dizer que se o cristão não apresentar Jesus ao mundo, o mundo não o conhecerá.
Essa é a função da chave, “dada” a Pedro (Mt 16,19). A “chave do céu” é entregue a Pedro, porque ele passa a simbolizar a Igreja, que são os cristãos que reconhecem em Jesus o Messias. Mas não se trata de conhecer, por saber quem é Ele, mas em agir como Ele ensinou. Se o cristão não age como Ele ensinou, é porque ainda não O conhece, mesmo que frequente a casa de oração ou a comunidade.
O poder a chave é da Igreja, do povo de Deus. É o povo de Deus, ao realizar as obras do Senhor, que pode ligar a terra e o céu. Por isso a afirmação paulina: “não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor” (2 Tm 4,8). Por isso, a pergunta de Jesus, continua sendo dirigida a nós: "E vós, quem dizeis que eu sou?"
Neri de Paula Carneiro
Mas o que tem de especial nesta festa, que vai muito além dos festejos juninos?
Tem dois personagens que, podemos dizer, foram “escolhidos a dedo” por Jesus.
O primeiro, Pedro, a pedra que se tornou fundamental para a Igreja. Pedro o homem da iniciativa. Aquele que sem pensar muito sabia, pois era guiado pela fé, que Jesus era muito mais que só o mestre. Ele era “o Messias, o Filho do Deus vivo" (Mt 16,16).
Pedro é esse personagem que, aprisionado por Herodes, não entra em desespero. Mesmo sabendo que outros irmãos já haviam sido mortos a mando do rei (12,2). Preso, com risco de ser executado no dia seguinte, “Pedro dormia entre dois soldados, preso com duas correntes” (At 12,6).
A serenidade de Pedro contrasta com o comportamento da maioria de nós. Em uma situação extrema, como no caso do apóstolo, a maioria de nós entraria em desespero. Ele se mantém sereno, pois sabe que em razão de seus méritos e da oração da Igreja (At 12,5), o Senhor não o abandonaria. E o anjo libertador vem para colocá-lo em pé: “Levanta-te depressa!” (At. 12, 7); para o revestir: "Coloca o cinto e calça tuas sandálias!" e para clocá-lo a caminho: "Põe tua capa e vem comigo!"( At 12, 8).
Pedro sabe que o Senhor não o abandona, mas também sabe que a liberdade não é um milagre espontâneo. Sabe que é um processo que depende de uma resposta sua. Deus o liberta, mas é ele que precisa se por a caminho. A superação da dificuldade depende, sim da oração e do apoio do Senhor, mas é resultado da ação humana. Deus não realiza milagre contra a ou independentemente da vontade humana, pelo contrário, Ele vem para responder ao ser humano.
O outro personagem, desta celebração é Paulo. Aquele que, sem medo de não ser modesto, é capaz de afirmar: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé.” (2 Tm 4,7).
Paulo deve ter sido um personagem admirável. Entre outras coisas pela sua dedicação apaixonada a Jesus. A considerar pelo vigor dos seus escritos, deve ter sido um pregador incansável e que cativava pelos seus discursos.
Podemos, inclusive, dizer que, junto com Pedro, Paulo é cofundador da Igreja, em sua ampliação para o mundo. O ardor missionário de Paulo foi o que plantou a semente da Igreja ramificada pelo mundo
Mas Paulo também passou por dificuldades e, nem por isso perdeu a esperança. Pelo contrário, sabia-se amparado pelo Senhor. Tinha certeza de que em suas dores o Senhor: “esteve a meu lado e me deu forças” (2 Tm 4,17).
Paulo, também prisioneiro, sabe que está em risco de vida: “estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida” (2 Tm 4,6). Mesmo assim, não perde o ardor missionário: continua a obra missionária por meio das cartas e afirmando que a vitória sobre as dores está reservada “não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor” (2 Tm 4,8).
A mensagem paulina, portanto, além de ser otimista, é uma demonstração de que, apesar das dificuldades, existe a possibilidade da superação. Ele nos ensina que a superação das dores não é um dom gratuito. Pelo contrário, depende do engajamento, da ação; depende daquilo que nós realizamos. A superação dos sofrimentos é consequência daquilo que fazemos para o superar. E, mais uma vez, a graça de Deus vem como resposta ao nosso esforço. Àquele que se esforça, dedica-se à causa do reino, pode dizer, como Paulo que “Agora está reservada para mim a coroa da justiça” (2 Tm 4,8).
Por que é necessário esse engajamento, por parte do cristão?
Para participar do processo de instalação do reino de paz e justiça. É a ação do cristão que realiza, que atualiza e faz acontecer as transformações necessárias ao mundo corrompido. A ação do cristão não se resume à oração para que o mundo seja melhor. A ação do cristão supõe, ao lado e como consequência da oração, a ação.
Sem a ação do cristão o mundo continuará sem conhecer Jesus (e consequentemente, sem saber realizar as obras cristãs) e se não o conhecem, dirão, a respeito de Jesus aquilo que disseram os que com Ele conviveram: "Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas" (Mt 16,14). Dirão isso e muito mais, sem realmente conhecê-lo.
Ao cristão é que cabe esse anúncio. Esse esclarecimento. Se o cristão não o disser e não o demonstrar, o mundo continuará sem saber quem é e como realizar as obras de Jesus. As obras de salvação, as obras de transformação. Isso implica dizer que se o cristão não apresentar Jesus ao mundo, o mundo não o conhecerá.
Essa é a função da chave, “dada” a Pedro (Mt 16,19). A “chave do céu” é entregue a Pedro, porque ele passa a simbolizar a Igreja, que são os cristãos que reconhecem em Jesus o Messias. Mas não se trata de conhecer, por saber quem é Ele, mas em agir como Ele ensinou. Se o cristão não age como Ele ensinou, é porque ainda não O conhece, mesmo que frequente a casa de oração ou a comunidade.
O poder a chave é da Igreja, do povo de Deus. É o povo de Deus, ao realizar as obras do Senhor, que pode ligar a terra e o céu. Por isso a afirmação paulina: “não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor” (2 Tm 4,8). Por isso, a pergunta de Jesus, continua sendo dirigida a nós: "E vós, quem dizeis que eu sou?"
Neri de Paula Carneiro
domingo, junho 21, 2020
Injúrias de tantos homens
Neste décimo segundo domingo do tempo comum podemos começar nossa reflexão a partir das palavras de Jeremias (20,10-13).
E podemos começar justamente pelo que, às vezes, se diz dele: que é um profeta que gosta de reclamar. Tanto que a ele é atribuída a autoria do livro das Lamentações.
Mas, de que reclama Jeremias?
Entre outras coisas, das “injúrias” e do “medo” espalhado por “tantos homens” (v 10). Mas, alguém pode dizer, só isso não é motivo suficiente para passar a vida se lamuriando.
Isso é verdade. Mas também é verdade que não é só disso que o profeta está falando. Está se referindo àqueles que o cercam. Na realidade está se referindo a todos aqueles que se fazem de amigos, mas permanecem torcendo para que cometa uma falha; torcendo para que “cometa um engano”. Torcendo para ver seu fracasso.
E por que Jeremias se lamenta?
Por conta da infidelidade dos dirigentes do povo. Pois, ao invés de os levar na direção de dias melhores os conduzem por caminhos que não levam ao Senhor. Para confirmar isso, basta lermos alguns os versículos iniciais desse capítulo e também o capítulo seguinte: os dirigentes são a causa do sofrimento pelos quais passa o povo. E pelos quais sofre o profeta.
Certo de que sua causa, que é a denúncia contra os dirigentes, é a causa de Deus, o profeta se sente à vontade para dizer que o Senhor está com ele. E, por ser fiel a Deus, o profeta sabe que seus inimigos, que são os inimigos de Deus, embora até invoquem seu nome, serão humilhados. E o profeta afirma categoricamente: esses opressores do povo fracassarão completamente, nada conseguirão “a não ser uma vergonha eterna, que jamais será esquecida” (v 11). vergonha que, historicamente se concretizou naquilo que costuma ser chamado de “cativeiro na Babilônia”.
Essa aflição do profeta encontra eco nas palavras de Paulo aos Romanos (5,12-15). As maledicências, de que fala o profeta, são o reflexo do pecado, que “que entrou no mundo por um só homem” (v 12) trazendo, com ele, a morte… para todos os homens. E a perdição para os que se afastam dos caminhos do Senhor.
E, da mesma forma que, para o profeta, o Senhor “salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus (Jr 20,13), para Paulo a “graça de Deus”, como um “dom gratuito”, é dada a todos “através de um só homem, Jesus Cristo”. Essa graça, esse dom, essa salvação é derramada “em abundância sobre todos” (Rm 5,15). E por ser graça, por ser um dom, a salvação é a alternativa à morte, mas isso somente para os que escolhem se afastar do caminho da perdição que é o caminho de quem prejudica os outros.
A mesma relação pode-se fazer relação ao evangelho (Mt, 10,26-33). Vendo-se perseguido, agredido e injuriado, Jeremias se dá conta de que “o Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro” (Jr 20,12). Da mesma forma, em Mateus, Jesus afirma aos apóstolos que não devem ter medo. Toda maldade será desmascarada, uma vez que “nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido” (Mt 10,26). Mesmo que esse, ou esses, que escondem o mal vivam invocando o nome de Deus!
Jesus insiste na necessidade da coragem para enfrentar os representantes da maldade, que se revestem com aparências de pessoas de bem: não tenhais medo, diz Jesus. “Não tenhais medo dos homens” (v 26). Eles são falsos, mas sua mentira e falsidade será descoberta. E Jesus vai além: “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma!” (v 28).
Três vezes Jesus insiste: “Não tenhais medo” (vv 26; 28; 31).
Mas, por que Jesus insiste, dizendo que não precisa ter medo?
Porque ele sabe que o sofrimento, provocado pelos homens maus, não tem alcance definitivo. Porque sabe, e o demonstra com a própria vida, que acreditar e realizar as obras do bem é o único caminho para superar, para se preservar e para vencer as obras do mal. Porque sabe do nosso valor: nós valemos a sua vida.
Jesus sabe do nosso valor. Por isso oferece a oportunidade da escolha. Uma oportunidade de autodeclaração. E declarar-se contra ou a favor de Jesus, não é o que se pode expressar com palavras, mas aquilo que se pode fazer com os gestos, com as atitudes, com a vida.
Assim sendo, declarar-se a favor de Jesus, é realizar obras de salvação, contra as “injúrias de tantos homens”. E quem faz isso, concorda e se posiciona como Jeremias, dizendo: “Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus.”
Neri de Paula Carneiro
E podemos começar justamente pelo que, às vezes, se diz dele: que é um profeta que gosta de reclamar. Tanto que a ele é atribuída a autoria do livro das Lamentações.
Mas, de que reclama Jeremias?
Entre outras coisas, das “injúrias” e do “medo” espalhado por “tantos homens” (v 10). Mas, alguém pode dizer, só isso não é motivo suficiente para passar a vida se lamuriando.
Isso é verdade. Mas também é verdade que não é só disso que o profeta está falando. Está se referindo àqueles que o cercam. Na realidade está se referindo a todos aqueles que se fazem de amigos, mas permanecem torcendo para que cometa uma falha; torcendo para que “cometa um engano”. Torcendo para ver seu fracasso.
E por que Jeremias se lamenta?
Por conta da infidelidade dos dirigentes do povo. Pois, ao invés de os levar na direção de dias melhores os conduzem por caminhos que não levam ao Senhor. Para confirmar isso, basta lermos alguns os versículos iniciais desse capítulo e também o capítulo seguinte: os dirigentes são a causa do sofrimento pelos quais passa o povo. E pelos quais sofre o profeta.
Certo de que sua causa, que é a denúncia contra os dirigentes, é a causa de Deus, o profeta se sente à vontade para dizer que o Senhor está com ele. E, por ser fiel a Deus, o profeta sabe que seus inimigos, que são os inimigos de Deus, embora até invoquem seu nome, serão humilhados. E o profeta afirma categoricamente: esses opressores do povo fracassarão completamente, nada conseguirão “a não ser uma vergonha eterna, que jamais será esquecida” (v 11). vergonha que, historicamente se concretizou naquilo que costuma ser chamado de “cativeiro na Babilônia”.
Essa aflição do profeta encontra eco nas palavras de Paulo aos Romanos (5,12-15). As maledicências, de que fala o profeta, são o reflexo do pecado, que “que entrou no mundo por um só homem” (v 12) trazendo, com ele, a morte… para todos os homens. E a perdição para os que se afastam dos caminhos do Senhor.
E, da mesma forma que, para o profeta, o Senhor “salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus (Jr 20,13), para Paulo a “graça de Deus”, como um “dom gratuito”, é dada a todos “através de um só homem, Jesus Cristo”. Essa graça, esse dom, essa salvação é derramada “em abundância sobre todos” (Rm 5,15). E por ser graça, por ser um dom, a salvação é a alternativa à morte, mas isso somente para os que escolhem se afastar do caminho da perdição que é o caminho de quem prejudica os outros.
A mesma relação pode-se fazer relação ao evangelho (Mt, 10,26-33). Vendo-se perseguido, agredido e injuriado, Jeremias se dá conta de que “o Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro” (Jr 20,12). Da mesma forma, em Mateus, Jesus afirma aos apóstolos que não devem ter medo. Toda maldade será desmascarada, uma vez que “nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido” (Mt 10,26). Mesmo que esse, ou esses, que escondem o mal vivam invocando o nome de Deus!
Jesus insiste na necessidade da coragem para enfrentar os representantes da maldade, que se revestem com aparências de pessoas de bem: não tenhais medo, diz Jesus. “Não tenhais medo dos homens” (v 26). Eles são falsos, mas sua mentira e falsidade será descoberta. E Jesus vai além: “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma!” (v 28).
Três vezes Jesus insiste: “Não tenhais medo” (vv 26; 28; 31).
Mas, por que Jesus insiste, dizendo que não precisa ter medo?
Porque ele sabe que o sofrimento, provocado pelos homens maus, não tem alcance definitivo. Porque sabe, e o demonstra com a própria vida, que acreditar e realizar as obras do bem é o único caminho para superar, para se preservar e para vencer as obras do mal. Porque sabe do nosso valor: nós valemos a sua vida.
Jesus sabe do nosso valor. Por isso oferece a oportunidade da escolha. Uma oportunidade de autodeclaração. E declarar-se contra ou a favor de Jesus, não é o que se pode expressar com palavras, mas aquilo que se pode fazer com os gestos, com as atitudes, com a vida.
Assim sendo, declarar-se a favor de Jesus, é realizar obras de salvação, contra as “injúrias de tantos homens”. E quem faz isso, concorda e se posiciona como Jeremias, dizendo: “Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus.”
Neri de Paula Carneiro
sábado, junho 13, 2020
Às ovelhas perdidas
Na sequência do ano litúrgico, estamos retornando ao tempo comum. Estamos no décimo primeiro domingo.
Nossa reflexão, para este domingo, pode começar justamente com uma indagação: o que tem levado o ser humano a se afastar de Deus?
A partir de nossa fé, sabemos que Deus é o criador e como tal deseja que o ser humano não o abandone. Sabemos, também, que Deus não depende nem precisa de nós, mas, mesmo assim, deseja que nos mantenhamos fiéis aos seus ensinamentos e princípios. Sabemos, além disso, que seus ensinamentos e princípios chegaram a nós a partir de um povo escolhido. Só que esse povo, também cometeu inúmeros deslizes, afastando-se do Senhor.
E nisso já se nos apresenta um princípio importantíssimo: Deus nos quer, mas respeita nossa decisão e nossas escolhas. Respeita, inclusive nossa decisão de não o seguirmos.
Em razão de um dos tropeços do povo infiel é que se insere a primeira leitura (Êxodo 19,2-6 a). Enquanto o povo está acampado ao pé da montanha, Moisés sobe para o encontro com Deus, de quem ouve uma promessa condicionada. Deus rememora o episódio do Êxodo, para referendar sua proposta, que deve ser transmitida ao povo por Moisés mediador: “Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre todos os povos” (v. 5)
Notemos que a promessa divina é eterna, concedendo alto privilégio: ser a nação escolhida. Mas isso somente SE. Se o povo for fiel, será escolhido; caso não o seja…
Observando a história sagrada, e também a história da humanidade, logo descobrimos: o povo não foi fiel. Essa infidelidade foi o que propiciou a vinda de Cristo que, de acordo com o apóstolo Paulo (Romanos 5,6-11), em resposta à nossa fraqueza, “morreu pelos ímpios” (v. 6).
Por que foi que Cristo morreu? Porque seu povo foi infiel e desviou-se do Deus da Aliança. Mesmo seu povo escolhido tendo sido infiel, Deus não o abandonou. E Paulo apresenta o argumento pelo qual demonstra o amor de Deus: “a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores”. Os pecados do mundo foram redimidos pela morte de Cristo. A morte de Cristo foi um ato de rebeldia do povo escolhido.
Por esse motivo é que Paulo afirma que em sua morte Cristo redime ao mundo e com sua ressurreição nos assegura a vida.
O povo escolhido havia sido escolhido não por seus méritos, mas por predileção divina. E não foi sem motivo. Por meio desse povo, o Senhor Deus quis alcançar todos os povos.
Entretanto, segundo Mateus (9,36-10,8), Jesus constata o abandono em que se encontra seu povo. As multidões dão mostras do abandono. O povo que deveria ser luz dos povos, não estava cumprindo com esse propósito.
Essa situação de abandono foi a constatação de Jesus. E isso motivou sua compaixão. Olhou a multidão e percebeu seu abandono: “estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (9,36)
Então o Senhor, compassivo, envia seus discípulos para tentar reacender o espírito da Aliança. “Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel!” (10,6)
Naquele contexto de renovação da Aliança, as ovelhas perdidas eram os membros do povo eleito, que estavam abandonando ao Senhor: eram a ovelha abandonando o pastor.
Em nossos dias a palavra do evangelho é dirigida não em primeiro lugar ao povo hebreu mas aos seguidores de Jesus. “O Reino dos Céus está próximo!”
E, para que ninguém mais se perca, o próprio Senhor Jesus faz o apelo aos seus discípulos: Peçam ao “dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita” (9,38)
Deus desejou que um povo fosse luz dos povos. Mas essa luz não foi luminosa o suficiente para atrair a todos. Então veio o próprio Senhor e é Ele que nos envia não só à casa de Israel, mas a todas as ovelhas perdidas. As quais se afastaram do senhor por conta de sua liberdade de escolha. Somo enviados, portanto, para reconvocar todas as ovelhas perdidas.
Neri de Paula Carneiro
Nossa reflexão, para este domingo, pode começar justamente com uma indagação: o que tem levado o ser humano a se afastar de Deus?
A partir de nossa fé, sabemos que Deus é o criador e como tal deseja que o ser humano não o abandone. Sabemos, também, que Deus não depende nem precisa de nós, mas, mesmo assim, deseja que nos mantenhamos fiéis aos seus ensinamentos e princípios. Sabemos, além disso, que seus ensinamentos e princípios chegaram a nós a partir de um povo escolhido. Só que esse povo, também cometeu inúmeros deslizes, afastando-se do Senhor.
E nisso já se nos apresenta um princípio importantíssimo: Deus nos quer, mas respeita nossa decisão e nossas escolhas. Respeita, inclusive nossa decisão de não o seguirmos.
Em razão de um dos tropeços do povo infiel é que se insere a primeira leitura (Êxodo 19,2-6 a). Enquanto o povo está acampado ao pé da montanha, Moisés sobe para o encontro com Deus, de quem ouve uma promessa condicionada. Deus rememora o episódio do Êxodo, para referendar sua proposta, que deve ser transmitida ao povo por Moisés mediador: “Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre todos os povos” (v. 5)
Notemos que a promessa divina é eterna, concedendo alto privilégio: ser a nação escolhida. Mas isso somente SE. Se o povo for fiel, será escolhido; caso não o seja…
Observando a história sagrada, e também a história da humanidade, logo descobrimos: o povo não foi fiel. Essa infidelidade foi o que propiciou a vinda de Cristo que, de acordo com o apóstolo Paulo (Romanos 5,6-11), em resposta à nossa fraqueza, “morreu pelos ímpios” (v. 6).
Por que foi que Cristo morreu? Porque seu povo foi infiel e desviou-se do Deus da Aliança. Mesmo seu povo escolhido tendo sido infiel, Deus não o abandonou. E Paulo apresenta o argumento pelo qual demonstra o amor de Deus: “a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores”. Os pecados do mundo foram redimidos pela morte de Cristo. A morte de Cristo foi um ato de rebeldia do povo escolhido.
Por esse motivo é que Paulo afirma que em sua morte Cristo redime ao mundo e com sua ressurreição nos assegura a vida.
O povo escolhido havia sido escolhido não por seus méritos, mas por predileção divina. E não foi sem motivo. Por meio desse povo, o Senhor Deus quis alcançar todos os povos.
Entretanto, segundo Mateus (9,36-10,8), Jesus constata o abandono em que se encontra seu povo. As multidões dão mostras do abandono. O povo que deveria ser luz dos povos, não estava cumprindo com esse propósito.
Essa situação de abandono foi a constatação de Jesus. E isso motivou sua compaixão. Olhou a multidão e percebeu seu abandono: “estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (9,36)
Então o Senhor, compassivo, envia seus discípulos para tentar reacender o espírito da Aliança. “Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel!” (10,6)
Naquele contexto de renovação da Aliança, as ovelhas perdidas eram os membros do povo eleito, que estavam abandonando ao Senhor: eram a ovelha abandonando o pastor.
Em nossos dias a palavra do evangelho é dirigida não em primeiro lugar ao povo hebreu mas aos seguidores de Jesus. “O Reino dos Céus está próximo!”
E, para que ninguém mais se perca, o próprio Senhor Jesus faz o apelo aos seus discípulos: Peçam ao “dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita” (9,38)
Deus desejou que um povo fosse luz dos povos. Mas essa luz não foi luminosa o suficiente para atrair a todos. Então veio o próprio Senhor e é Ele que nos envia não só à casa de Israel, mas a todas as ovelhas perdidas. As quais se afastaram do senhor por conta de sua liberdade de escolha. Somo enviados, portanto, para reconvocar todas as ovelhas perdidas.
Neri de Paula Carneiro
quarta-feira, junho 10, 2020
Não é como aquele
A solene festa do Santíssimo Corpo e Sangue do Senhor é uma das poucas que a Igreja celebra e que não remonta à Igreja primitiva, do período apostólico. Trata-se de uma solenidade que nasceu da fé que a Igreja aprendeu a cultivar. Foi instituída pelo papa Urbano IV, mas o pontífice apenas oficializou aquilo que o povo já havia consagrado.
Eis o que podemos ler nono site da CNBB :
“A festa de Corpus Christi foi instituída oficialmente pelo papa Urbano IV, com a publicação da bula Transiturus de hoc mundo, em 8 de setembro de 1264. A origem da celebração remete à devoção eucarística iniciada na França e na Bélgica, antes do século XII.
Ligada à piedade do povo cristão, a solenidade também é lembrada pela influência das visões da monja agostiniana belga Juliana de Cornillon, as quais mostravam o anseio de Cristo para que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque.
Tais visões foram consideradas decisivas para a decisão do papa, em 1264. Mas foi somente 50 anos depois da morte de Urbano IV que a Solenidade ganhou caráter universal definitivo com a confirmação bula Transiturus de hoc mundo,pelo papa Clemente V em 1314.” (https://www.cnbb.org.br/corpus-christi-a-celebracao-da-presenca-real-de-jesus-cristo-no-pao-e-no-vinho-consagrados-com-a-santa-missa/)
E se acompanharmos as leituras da solenidade podemos perceber a centralidade da Eucaristia, desde sua prefiguração, no livro do Deuteronômio (8,2-3.14b-16a), sua confirmação na palavra de Paulo (1 Cor 10,16-17) e nas palavras de Cristo, expressas no evangelho de João (Jo 6,51-58)
Na leitura do Deuteronômio, Moisés instrui ao povo, insistindo na necessidade da fidelidade ao Senhor. Lembra ao povo como o Senhor usou a trajetória pelo deserto para reforçar o episódio da libertação. Tudo para dizer que o senhor é quem fornece não só os rumos da sociedade (sair da “casa da servidão”, no Egito v 14), como o alimento para a caminhada (“fez jorrar água”, v 15; e “alimentou no deserto com maná”, v 16).
Com esses dons água e maná, o Senhor pretendia demonstrar que Ele está no controle, por isso Moisés faz a afirmação retomada por Jesus, mostrando que: “nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor”(v 3).
Não podemos nos esquecer, portanto que tudo foi dado pelo Senhor, mas foi necessário que as pessoas colhessem, sem acumular excedente. A oferta é divina, mas a realização é humana.
A água e o maná podem ser vistos como prefiguração do corpo e sangue, na comunhão do Senhor. O corpo e o sangue, abençoados, partidos e comungados, de acordo com as palavras de Paulo (1Cor 10,16-17), é corpo e sangue de Cristo, formando a unidade que é a Igreja: há um só pão porque “somos um só corpo”.
E se alguém ainda não está acreditando, como os judeus, é o próprio Jesus que afirma, segundo o evangelho de João (6,51-58). Mas o que afirma Jesus?
Ele faz uma lista de afirmações: “Sou o pão vivo”; “quem comer desse pão terá vida eterna”; o pão “é minha carne”; se alguém não comer dessa carne nem beber esse sangue não terá vida; quem como e bebe “tem vida eterna”; quem come e bebe será ressuscitado “no último dia”; quem como e bebe, “permanece em mim e eu nele”; quem “me come viverá por causa de mim”.
Mas não se pode perder de vista a afirmação final: o pão (o maná) era um alimento divino, mas “vossos pais comeram e morreram”. Por isso a importância do pão e do vinho, que passam a ser alimento de vida: “minha carne é verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira bebida”. É o pão e o vinho comungado que dão a vida, pois “Aquele que come este pão viverá para sempre.”
Esse pão e esse vinho, agora corpo e sangue, são diferentes daquele oferecido no deserto: “não é como aquele que os vossos pais comeram”. Este é o pão da vida.
Neri de Paula Carneiro
Eis o que podemos ler nono site da CNBB :
“A festa de Corpus Christi foi instituída oficialmente pelo papa Urbano IV, com a publicação da bula Transiturus de hoc mundo, em 8 de setembro de 1264. A origem da celebração remete à devoção eucarística iniciada na França e na Bélgica, antes do século XII.
Ligada à piedade do povo cristão, a solenidade também é lembrada pela influência das visões da monja agostiniana belga Juliana de Cornillon, as quais mostravam o anseio de Cristo para que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque.
Tais visões foram consideradas decisivas para a decisão do papa, em 1264. Mas foi somente 50 anos depois da morte de Urbano IV que a Solenidade ganhou caráter universal definitivo com a confirmação bula Transiturus de hoc mundo,pelo papa Clemente V em 1314.” (https://www.cnbb.org.br/corpus-christi-a-celebracao-da-presenca-real-de-jesus-cristo-no-pao-e-no-vinho-consagrados-com-a-santa-missa/)
E se acompanharmos as leituras da solenidade podemos perceber a centralidade da Eucaristia, desde sua prefiguração, no livro do Deuteronômio (8,2-3.14b-16a), sua confirmação na palavra de Paulo (1 Cor 10,16-17) e nas palavras de Cristo, expressas no evangelho de João (Jo 6,51-58)
Na leitura do Deuteronômio, Moisés instrui ao povo, insistindo na necessidade da fidelidade ao Senhor. Lembra ao povo como o Senhor usou a trajetória pelo deserto para reforçar o episódio da libertação. Tudo para dizer que o senhor é quem fornece não só os rumos da sociedade (sair da “casa da servidão”, no Egito v 14), como o alimento para a caminhada (“fez jorrar água”, v 15; e “alimentou no deserto com maná”, v 16).
Com esses dons água e maná, o Senhor pretendia demonstrar que Ele está no controle, por isso Moisés faz a afirmação retomada por Jesus, mostrando que: “nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor”(v 3).
Não podemos nos esquecer, portanto que tudo foi dado pelo Senhor, mas foi necessário que as pessoas colhessem, sem acumular excedente. A oferta é divina, mas a realização é humana.
A água e o maná podem ser vistos como prefiguração do corpo e sangue, na comunhão do Senhor. O corpo e o sangue, abençoados, partidos e comungados, de acordo com as palavras de Paulo (1Cor 10,16-17), é corpo e sangue de Cristo, formando a unidade que é a Igreja: há um só pão porque “somos um só corpo”.
E se alguém ainda não está acreditando, como os judeus, é o próprio Jesus que afirma, segundo o evangelho de João (6,51-58). Mas o que afirma Jesus?
Ele faz uma lista de afirmações: “Sou o pão vivo”; “quem comer desse pão terá vida eterna”; o pão “é minha carne”; se alguém não comer dessa carne nem beber esse sangue não terá vida; quem como e bebe “tem vida eterna”; quem come e bebe será ressuscitado “no último dia”; quem como e bebe, “permanece em mim e eu nele”; quem “me come viverá por causa de mim”.
Mas não se pode perder de vista a afirmação final: o pão (o maná) era um alimento divino, mas “vossos pais comeram e morreram”. Por isso a importância do pão e do vinho, que passam a ser alimento de vida: “minha carne é verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira bebida”. É o pão e o vinho comungado que dão a vida, pois “Aquele que come este pão viverá para sempre.”
Esse pão e esse vinho, agora corpo e sangue, são diferentes daquele oferecido no deserto: “não é como aquele que os vossos pais comeram”. Este é o pão da vida.
Neri de Paula Carneiro
sábado, junho 06, 2020
Povo de cabeça dura
Nesta celebração da solenidade da Santíssima Trindade, retomando a caminhada do tempo comum, somos interpelados pelo gesto do amor do Deus Comunidade Trina. Essa interpelação tanto está expressa na leitura do livro do Êxodo (34,4b-6.8-9) como na carta de Paulo aos coríntios (2 Cor 13,11-13) e no evangelho de João (3,16-18).
Para entendermos o texto do Êxodo, precisamos situá-lo em seu contexto. Ou seja, precisamos nos lembrar de que num capítulo anterior o Povo de Deus havia quebrado a fidelidade, cultuando outras divindades. Em razão disso, Moisés quebra as tábuas da Lei. Mas Deus decide dar nova chance ao povo que, segundo Moisés é “um povo de cabeça dura” (34,9).
Mesmo diante da infidelidade o Senhor, por ser “ misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel” (34,6) já havia se decidido a dar nova oportunidade ao povo infiel. Por isso havia ordenado a Moisés entalhar novas tábuas e subir ao monte, para um novo encontro. E assim, diante do Senhor, Moisés intercede em favor do povo. O representante do povo infiel intercede ao Deus fiel. E como intercessor, Moisés faz dois pedidos importantes: primeiro pede ao Senhor: “caminha conosco”, pois as outras divindades, por serem falsos deuses, eram estáticos, fixos… Só o Deus da vida poderia acompanhar ao povo pecador. Por isso o segundo pedido de Moisés: “perdoa nossas culpas” (34,9).
Mas a súplica de Moisés só é compreensível se for colocada não na perspectiva humana, mas numa perspectiva divina. A perspectiva humana diz respeito ao fato atual, ao momento presente. Por isso é limitada e se insere apenas na história. Mas a perspectiva divina, que concede nova oportunidade, insere-se na perspectiva do amor eterno. Por isso foi que o Senhor “desceu na nuvem e permaneceu com Moisés”.
Descer e permanecer com seu povo é uma ação constante do Pai. Afinal, diferente das pseudo divindades, desde o início do livro do Êxodo mostra seu plano de fidelidade. O Senhor é um Deus que “ouve”, “vê”, desce e liberta seu povo (Ex. 3,7-10).
O programa do capítulo 3 se concretiza no capítulo 34. Moisés foi enviado pelo Senhor e como tal se torna intercessor em favor do povo. E, dessa forma entendemos o novo compromisso, novo estágio da Aliança de Deus com o povo (34,10). E isso também nos remete à carta de Paulo (2Cor 13,11-13).
Por amor a Jesus Cristo, o Filho, Paulo também se faz intercessor. Ao mesmo tempo que ora pela comunidade, orienta-a no sentido do “aperfeiçoamento”. Podemos dizer, portanto, que da mesma forma que o povo de Moisés estava se afastando do convívio com o Pai, a comunidade de Corinto estava se afastando dos ensinamentos de Jesus, transmitidos pelo apóstolo.
Em razão da divisão na comunidade, Paulo exorta-os a viver na concórdia; em razão dos atritos, estimula a paz. A orientação do apóstolo é clara: havendo concórdia, haverá paz; havendo paz, significa que ali está presente “ Deus do amor e da paz” (v11). E isso nos leva à saudação final do apóstolo. Na medida em que a comunidade se esforça para superar seus problemas e divisões pode, cada vez mais, contar com ajuda do Deus trindade. Havendo esforço humano, significa que não há rejeição. E se a comunidade não rejeita ao Senhor, então passa a ser merecedora da intercessão paulina: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (v 13).
Mas por quê estamos falando que essa presença divina depende da comunidade? Porque Deus se oferece constantemente, mas respeita o ser humano em suas vontades e decisões. O ser humano é livre para aderir ou não ao plano salvífico do Senhor.
E isso nos leva ao evangelho de João (3,16-18). Por amor, Deus nos envia seu filho, para nos conceder a vida eterna, como a nova tábua da lei, de Moisés. Entretanto, agora não se trata mais de letra morta, mas do próprio Senhor. Com a necessidade de observância de apenas um detalhe: Essa herança se destina a quem crê (v16).
E se alguém não seguir os princípios cristãos? E se alguém não acreditar? Não será Deus a recusá-lo, pois esta é uma questão de escolha. “Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado” (v 18).
O povo de coração duro, pode escolher livremente. E quem acredita, já fez a escolha.
Neri de Paula Carneiro
Para entendermos o texto do Êxodo, precisamos situá-lo em seu contexto. Ou seja, precisamos nos lembrar de que num capítulo anterior o Povo de Deus havia quebrado a fidelidade, cultuando outras divindades. Em razão disso, Moisés quebra as tábuas da Lei. Mas Deus decide dar nova chance ao povo que, segundo Moisés é “um povo de cabeça dura” (34,9).
Mesmo diante da infidelidade o Senhor, por ser “ misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel” (34,6) já havia se decidido a dar nova oportunidade ao povo infiel. Por isso havia ordenado a Moisés entalhar novas tábuas e subir ao monte, para um novo encontro. E assim, diante do Senhor, Moisés intercede em favor do povo. O representante do povo infiel intercede ao Deus fiel. E como intercessor, Moisés faz dois pedidos importantes: primeiro pede ao Senhor: “caminha conosco”, pois as outras divindades, por serem falsos deuses, eram estáticos, fixos… Só o Deus da vida poderia acompanhar ao povo pecador. Por isso o segundo pedido de Moisés: “perdoa nossas culpas” (34,9).
Mas a súplica de Moisés só é compreensível se for colocada não na perspectiva humana, mas numa perspectiva divina. A perspectiva humana diz respeito ao fato atual, ao momento presente. Por isso é limitada e se insere apenas na história. Mas a perspectiva divina, que concede nova oportunidade, insere-se na perspectiva do amor eterno. Por isso foi que o Senhor “desceu na nuvem e permaneceu com Moisés”.
Descer e permanecer com seu povo é uma ação constante do Pai. Afinal, diferente das pseudo divindades, desde o início do livro do Êxodo mostra seu plano de fidelidade. O Senhor é um Deus que “ouve”, “vê”, desce e liberta seu povo (Ex. 3,7-10).
O programa do capítulo 3 se concretiza no capítulo 34. Moisés foi enviado pelo Senhor e como tal se torna intercessor em favor do povo. E, dessa forma entendemos o novo compromisso, novo estágio da Aliança de Deus com o povo (34,10). E isso também nos remete à carta de Paulo (2Cor 13,11-13).
Por amor a Jesus Cristo, o Filho, Paulo também se faz intercessor. Ao mesmo tempo que ora pela comunidade, orienta-a no sentido do “aperfeiçoamento”. Podemos dizer, portanto, que da mesma forma que o povo de Moisés estava se afastando do convívio com o Pai, a comunidade de Corinto estava se afastando dos ensinamentos de Jesus, transmitidos pelo apóstolo.
Em razão da divisão na comunidade, Paulo exorta-os a viver na concórdia; em razão dos atritos, estimula a paz. A orientação do apóstolo é clara: havendo concórdia, haverá paz; havendo paz, significa que ali está presente “ Deus do amor e da paz” (v11). E isso nos leva à saudação final do apóstolo. Na medida em que a comunidade se esforça para superar seus problemas e divisões pode, cada vez mais, contar com ajuda do Deus trindade. Havendo esforço humano, significa que não há rejeição. E se a comunidade não rejeita ao Senhor, então passa a ser merecedora da intercessão paulina: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (v 13).
Mas por quê estamos falando que essa presença divina depende da comunidade? Porque Deus se oferece constantemente, mas respeita o ser humano em suas vontades e decisões. O ser humano é livre para aderir ou não ao plano salvífico do Senhor.
E isso nos leva ao evangelho de João (3,16-18). Por amor, Deus nos envia seu filho, para nos conceder a vida eterna, como a nova tábua da lei, de Moisés. Entretanto, agora não se trata mais de letra morta, mas do próprio Senhor. Com a necessidade de observância de apenas um detalhe: Essa herança se destina a quem crê (v16).
E se alguém não seguir os princípios cristãos? E se alguém não acreditar? Não será Deus a recusá-lo, pois esta é uma questão de escolha. “Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado” (v 18).
O povo de coração duro, pode escolher livremente. E quem acredita, já fez a escolha.
Neri de Paula Carneiro
sexta-feira, maio 29, 2020
Ninguém pode dizer
Quando colocamos em paralelo as três leituras deste domingo de Pentecostes podemos notar alguns elementos importantes.
O primeiro desses elementos está na leitura dos Atos dos Apóstolos (2,1-11). “Os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar.”
E essa afirmação tem um ponto central: todos reunidos. Trata-se de uma comunidade reunida!
Quem estava reunido? Onde e por que estavam reunidos? A afirmação da reunião oferece a primeira resposta: os discípulos estavam reunidos. Para saber onde se reuniam precisamos voltar ao capítulo 1 do livro dos Atos do Apóstolos. Nos versículos 12 e 13 somos informados de que após acompanharem a ascensão do Senhor os discípulos voltaram a Jerusalém e foram para uma sala “onde costumavam ficar” (1,13), quando Jesus ainda andava com eles pelas cidades.
Quanto ao motivo de se reunirem, podemos enumerar vários: o primeiro deles possivelmente era o medo, como afirma João (20,19-23) no texto do evangelho. Podemos acreditar que esse motivo seja real, pois João estava entre os que se reuniam. Outro motivo é a orientação de Jesus (At 1,4), que lhes disse para não se afastarem de Jerusalém até que se cumprisse a promessa do Pai. Um terceiro motivo é a fidelidade à orientação de Jesus: esperar o batismo no Espírito, (1,5). Se prestarmos atenção ao texto do evangelho, notaremos um quarto motivo: acolher a paz do Senhor (Jo 20,19). Como consequência da paz, vem um quinto motivo para os discípulos estarem reunidos: a missão. Serem enviados, como o Pai enviou a Jesus. (Jo 20,21). Podemos enumerar, ainda, um sexto motivo, expresso no texto que narra o nosso Pentecostes: o forte vento do Espírito e as línguas de fogo (2,2-3).
Com base nisso, quase sempre nos detemos nesse aspecto do cumprimento da promessa: O Espírito foi dado como força e como fogo purificador.
Mas será que não podemos perceber mais um motivo para os discípulos terem permanecido reunidos?
Vejamos o que nos ensina Paulo, na carta aos coríntios (12,3b-7.12-13): reconhecer Jesus como Senhor, é dom do Espírito; a diversidade de dons, é dom do Espírito; a diversidade de ministérios, é dom do Espírito… (v 3-5). Até aqui, tudo indica que a permanência em união tem a ver com o Espírito, seus dons e sua força. Mas quando nos concentramos nas palavra de Paulo e de Jesus, podemos perceber algo a mais, nessa importante reunião.
Notemos que Paulo não faz, apenas, uma lista de dons do Espírito. Ele explica o motivo do Espírito conceder os dons. Eles são dados: “em vista do bem comum.” O bem de todos os membros que formam o corpo que tem a Cristo como cabeça (v 12). o bem comum, portanto, é o bem da comunidade.
Cristo é a cabeça de um corpo, mas que corpo é esse? O corpo nada mais é do que a própria Igreja. A Igreja é o corpo de Cristo e Cristo é a cabeça da Igreja. E a Igreja é a comunidade dos que se reúnem pelo Espírito, em nome de Cristo.
Mas isso não é tudo. Foi à Igreja que Jesus dirigiu suas palavras finais, neste texto de João. E aqui está, talvez, o mais importante motivo dos discípulos terem permanecido reunidos: receber o dom de ser mediador do perdão (Jo, 20,23). Embora o perdão dos pecados seja um dom divino, Jesus, pela mediação do Espírito, concede esse dom à Igreja.
Por mandato divino a Igreja é mediadora do perdão. Perdão como dom trinitário, pois ao anunciar o perdão, a Igreja o concede “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
O envio feito por Jesus, é uma missão para o perdão: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados” (Jo 20,23).
De fato, “ninguém pode dizer Jesus Cristo é o Senhor, a não ser pelo Espírito” (1 Cor 12,3). Mas essa profissão de fé só tem sentido, para uma vida eclesial. É na comunidade que podemos proclamar e reconhecer que Jesus é o Senhor.
O primeiro desses elementos está na leitura dos Atos dos Apóstolos (2,1-11). “Os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar.”
E essa afirmação tem um ponto central: todos reunidos. Trata-se de uma comunidade reunida!
Quem estava reunido? Onde e por que estavam reunidos? A afirmação da reunião oferece a primeira resposta: os discípulos estavam reunidos. Para saber onde se reuniam precisamos voltar ao capítulo 1 do livro dos Atos do Apóstolos. Nos versículos 12 e 13 somos informados de que após acompanharem a ascensão do Senhor os discípulos voltaram a Jerusalém e foram para uma sala “onde costumavam ficar” (1,13), quando Jesus ainda andava com eles pelas cidades.
Quanto ao motivo de se reunirem, podemos enumerar vários: o primeiro deles possivelmente era o medo, como afirma João (20,19-23) no texto do evangelho. Podemos acreditar que esse motivo seja real, pois João estava entre os que se reuniam. Outro motivo é a orientação de Jesus (At 1,4), que lhes disse para não se afastarem de Jerusalém até que se cumprisse a promessa do Pai. Um terceiro motivo é a fidelidade à orientação de Jesus: esperar o batismo no Espírito, (1,5). Se prestarmos atenção ao texto do evangelho, notaremos um quarto motivo: acolher a paz do Senhor (Jo 20,19). Como consequência da paz, vem um quinto motivo para os discípulos estarem reunidos: a missão. Serem enviados, como o Pai enviou a Jesus. (Jo 20,21). Podemos enumerar, ainda, um sexto motivo, expresso no texto que narra o nosso Pentecostes: o forte vento do Espírito e as línguas de fogo (2,2-3).
Com base nisso, quase sempre nos detemos nesse aspecto do cumprimento da promessa: O Espírito foi dado como força e como fogo purificador.
Mas será que não podemos perceber mais um motivo para os discípulos terem permanecido reunidos?
Vejamos o que nos ensina Paulo, na carta aos coríntios (12,3b-7.12-13): reconhecer Jesus como Senhor, é dom do Espírito; a diversidade de dons, é dom do Espírito; a diversidade de ministérios, é dom do Espírito… (v 3-5). Até aqui, tudo indica que a permanência em união tem a ver com o Espírito, seus dons e sua força. Mas quando nos concentramos nas palavra de Paulo e de Jesus, podemos perceber algo a mais, nessa importante reunião.
Notemos que Paulo não faz, apenas, uma lista de dons do Espírito. Ele explica o motivo do Espírito conceder os dons. Eles são dados: “em vista do bem comum.” O bem de todos os membros que formam o corpo que tem a Cristo como cabeça (v 12). o bem comum, portanto, é o bem da comunidade.
Cristo é a cabeça de um corpo, mas que corpo é esse? O corpo nada mais é do que a própria Igreja. A Igreja é o corpo de Cristo e Cristo é a cabeça da Igreja. E a Igreja é a comunidade dos que se reúnem pelo Espírito, em nome de Cristo.
Mas isso não é tudo. Foi à Igreja que Jesus dirigiu suas palavras finais, neste texto de João. E aqui está, talvez, o mais importante motivo dos discípulos terem permanecido reunidos: receber o dom de ser mediador do perdão (Jo, 20,23). Embora o perdão dos pecados seja um dom divino, Jesus, pela mediação do Espírito, concede esse dom à Igreja.
Por mandato divino a Igreja é mediadora do perdão. Perdão como dom trinitário, pois ao anunciar o perdão, a Igreja o concede “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
O envio feito por Jesus, é uma missão para o perdão: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados” (Jo 20,23).
De fato, “ninguém pode dizer Jesus Cristo é o Senhor, a não ser pelo Espírito” (1 Cor 12,3). Mas essa profissão de fé só tem sentido, para uma vida eclesial. É na comunidade que podemos proclamar e reconhecer que Jesus é o Senhor.
Neri de Paula Carneiro
sábado, maio 23, 2020
Olhando para o céu
(Reflexões baseadas em: Atos dos Apóstolos 1,1-11; Efésios 1,17-23; Mateus 28,16-20)
Neste dia da Ascensão do Senhor, nos é apresentado um programa do vida. Podemos segui-lo ou não. Mas não há como ignorar o apelo.
Podemos dizer não, mas isso não significa que o convite não nos foi feito.
Mas qual é o convite?
Saber para onde olhar. E dirigir nossos passos, nossa vida, nessa direção.
Como saber qual é essa direção?
O autor dos Atos dos Apóstolos (At 1,1-11) nos ajuda a entender.
Dirige seu escrito a Teófilo. E quem é esse personagem? Talvez nunca tenhamos certeza, mas podemos fazer uma suposição. Teófilo significa Amigo de Deus. E quem é “amigo de Deus”? Muito mais do que uma pessoa, trata-se da própria comunidade daqueles que seguem os ensinamentos de Jesus. Dizemos isso a partir da prática de Jesus, visto que ele sempre esteve rodeados de seguidores, seus amigos. E hoje, nós somos essa comunidade dos seguidores de Jesus. Portanto o texto é dirigido a nós.
Notemos que Jesus, antes de partir, dá “instruções pelo Espírito Santo, aos apóstolos que tinha escolhido” (At 1,2). Entretanto, os discípulos ainda não haviam entendido sua mensagem, pois indagam: “é agora que vais restaurar o Reino em Israel?”(At 1,6). Talvez por isso eles permaneceram parados, “olhando para o céu” (At 1,10-11).
O fato é que a proposta de Jesus é muito mais radical. Ele não nos quer parados, “olhando para o céu” . Não nos quer parados, abobalhados, em adoração descomprometida. Ele nos quer como testemunhas. Para isso concede os dons do Espírito de Amor: “para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os confins da terra.” (At 1,7)
Aos discípulos e apóstolos coube a missão de testemunhar sua proposta “até os confins da terra”. Impelidos pelo Espírito os discípulos cumpriram essa missão e a proposta de Jesus chegou a nós que somos, hoje, os Teófilo/amigos de Deus. E, batizados que somos, temos a mesma missão: Ser testemunha!
Essa condição de testemunha pode nos parecer estranha ou pode nos gerar a indagação: em que consiste o ser testemunha?
Paulo, na carta aos Efésios (1,17-23), ajuda nessa compreensão. Primeiro afirma que o Pai, merecedor de glória, conferirá o Espírito de sabedoria. É Ele que confere o conhecimento e a esperança que consiste em acompanhar a Jesus sentado junto ao Pai, como cabeça da Igreja.
Ou seja, ser testemunha implica em que o cristão, corpo da Igreja, da qual Jesus é a cabeça, mantenha-se fiel à missão de Cristo. A plenitude do corpo é estar associado à cabeça.
Ser testemunha, além disso, não é permanecer prostrados diante do Senhor, como os discípulos, na narrativa de Mateus (Mt 28,16-20). Permanecer prostrado, ou seja, com a cabeça no chão, tem a mesmo alcance negativo do “olhando para o céu”. Essa é a atitude do descompromisso. Quem está descomprometido com a missão pode se dar ao luxo de permanecer “olhando para o céu” ou prostrado, imóvel, nessa posição não vê a realidade sofrida do povo a qual deve ser transformada a partir do testemunho.
Estar prostrado ou olhando para o céu é a postura oposta ao ser testemunha. Isso não significa que não se possa reconhecer a divindade de Jesus (prostrar-se), nem almejar nosso destino (olhar para o céu). Significa, sim estar aberto para receber a missão.
Ser testemunha, portanto, é estar pronto colocando-se em posição de quem deseja colaborar com a missão ao receber a incumbência de ir e fazer discípulos, como Jesus orienta: “ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!” (Mt 28,19-20).
Faz-se necessário que nós cristãos façamos uma revisão em relação aos nossos propósitos de vida. Com certeza é necessário alimentar a esperança, e por isso se deve olhar para o céu. Com certeza se deve reconhecer no Senhor seu poder, e por isso prostrar-se em adoração. Mas, também com certeza, a adoração e a esperança precisam de uma dimensão ativa: agir no mundo, não só batizando, mas principalmente ajudando todos a na observância do que nos foi ensinado. Faz-se necessária a postura ativa para transformar as estruturas que produzem dor e morte.
Jesus não permanece conosco porque o adoramos e mantemos a esperança do céu, mas porque colaboramos em sua obra. É a necessidade da colaboração com o Senhor que ocasionou a interpelação do anjo: Por que estais ai olhando para o céu? É a colaboração com a missão que assegura a promessa: “Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28,20).
Cada um de nós pode se perguntar: qual é meu programa de vida? Como estou respondendo ao apelo do Senhor? Descomprometidos, olhando para o céu ou comprometidos com o testemunho?
Neri de Paula Carneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura:https://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=220242
sábado, maio 16, 2020
O mundo não é capaz
6º domingo da páscoa
A primeira leitura deste sexto domingo do tempo pascal (At 8,5-8.14-17) nos leva a algumas indagações: Como e qual é a nossa atitude quando sabemos que um amigo ou conhecido está realizando algo com sucesso?
Caso a pergunta nos fosse feita, certamente responderíamos que nos alegramos com nosso amigo. Diríamos que torcemos pelo seu sucesso. Mas, lá no íntimo de nossa vida, será que não sentimos uma pitada de inveja? Muitas vezes perguntamos: Porque ele e não eu?
Não foi essa a postura dos apóstolos de Jerusalém, quando souberam do sucesso de Felipe. Pelo contrário. Alegraram-se ao ponto de lhe enviar reforços: “Os apóstolos, que estavam em Jerusalém, souberam que a Samaria acolhera a Palavra de Deus, e enviaram lá Pedro e João” (v 14).
Esse envio não foi por inveja, nem por desconfiança, mas porque Pedro e João seriam palavras solidárias e auxílio no avanço missionário. Os dois confirmaram o apostolado de Felipe e, graças a isso, os samaritanos “receberam o Espírito Santo” (v 17), assumindo a plenitude da fé cristã.
Essa plenitude tem como consequência o engajamento na ação evangelizadora. Não somente como pregação, mas como atitude cotidiana de guardar ou seguir os mandamentos de Jesus, como ele sugere: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15).
Quase como uma continuação do que os apóstolos realizaram na comunidade samaritana, inserem-se as palavras da primeira carta de Pedro (3,15-18).
Consciente de que os seguidores de Jesus poderiam ser questionados pelas autoridades por optarem e adotarem uma nova fé, Pedro orienta aos cristãos. Faz uma séria advertência dizendo que os cristãos devem estar “sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir” (v15).
E qual a razão da esperança do cristão?
É uma só: a Paixão de Cristo. O cristão, acima de qualquer contratempo ou dificuldade, deve sempre se lembrar que “Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo, pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus” (v 18)
Mas para isso existem alguns critérios. E um deles é a mansidão e o respeito, mesmo diante das difamações, a postura do cristão não é a da beligerância nem a vingança, nem a hostilidade, mas, tão somente, a mansidão e o respeito. A mansidão que implica em não cair no desespero e o respeito que consiste em não revidar agressivamente ao agressor.
Como o cristão pode assim proceder? Confiando no “Defensor” mencionado por João, no evangelho (14,15-21)
O Defensor prometido é um só: “o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber”. Defensor, Espírito de Verdade, Espírito de Amor… o Espírito Santo que, de junto do Pai, Jesus envia para e sobre aqueles que são capazes de guardar os mandamentos.
Em que consiste a guarda do mandamento?
Algumas pistas nos são dadas nas leituras deste domingo: ao ver o sucesso do outro, não devemos nos alimentar de inveja, mas nos enchermos de alegria e, sempre que possível, manter a disposição em ajudar para que esse sucesso seja ainda maior. Mas ajudar de forma desinteressada, pois quando o outro se eleva, somos elevados com ele.
Além disso, é necessário manter a mansidão e o respeito, pois o desespero não é um sentimento condizente com a fé cristã. O desespero é uma negação da esperança, que é o alimento da fé cristã.
E, por fim, manter-se aberto à ação do Espírito de Verdade que é a presença do próprio Deus em nós, uma vez que o próprio Jesus afirmou: “Não vos deixarei órfãos” (v 18). É isso o que diz o Senhor: “eu estou no meu Pai e vós em mim e eu em vós” (v 20), ou seja, somos um só corpo com Deus em nós.
Esse é o clima de sintonia que o mundo não pode dar, pois não conhece essa alegria, e por isso o mundo não é capaz de oferecer. Isso é dom de Deus.
Neri de Paula Carneiro
sábado, maio 09, 2020
Escolham entre vós
5º domingo da Pascoa
O tempo pascal é rico em exemplos de como deve ser nossa postura para vivermos como Igreja de Jesus. Na liturgia deste quinto domingo alguns desses exemplos podem ser notados.
O primeiro deles vem justamento da primeira leitura (At 6,1-7).
O número dos discípulos havia aumentado.
Mas por qual motivo?
O aumento se deu por conta da pregação dos apóstolos. Por isso não podem interromper a pregação e precisam de ajuda para suprir as demais necessidades da Igreja.
Os últimos acontecimentos, como comentavam os “discípulos de Emaús”, estavam fazendo com que as pessoas que viram ou ouviram sobre o que havia ocorrido com Jesus “profeta poderoso em obras e palavras” (Lc 24,19), estava provocando duas posturas, diante da pregação: muitos passavam a crer, devido à pregação dos apóstolos; e outros, principalmente entre os líderes dos judeus, ameaçavam os discípulos.
Mas entre os que abraçavam a fé também havia divisões: os de origem judaica sentiam-se ou queriam privilégios, com isso, os convertidos do paganismo e os pobres estavam sendo excluídos. E aqui está a primeira lição: não é o fato de estarmos numa posição privilegiada que nos autoriza a menosprezar ou excluir os demais. Nossa posição privilegiada, só tem sentido cristão, se nos colocarmos a serviço de todos. Esse é o sentido do diaconato, não só ter “boa fama” e ser “repleto do Espírito e de sabedoria” (At 6,3). Ser cristão, portanto, é ser servidor.
Como consequência desse primeiro ensinamento, vem o segundo, exposto na primeira carta de Pedro (2,4-9).
De quê se trata este novo ensinamento?
Aqui é feita uma proposta para que tomemos uma atitude: Qual postura assumir, diante da “pedra angular”, da pedra de apoio? (Cabe destacar que a referência à pedra é para lembrar a ideia de firmeza; a pedra proporciona sustentação e firmeza na construção). Jesus é a pedra porque somente d’Ele vem a segurança.
Aquele que não se apoia nessa “pedra”, nela tropeçará, cairá, será confundido e se perderá… Mas aqueles que se apoia na “pedra viva, rejeitada pelos homens (v4)”, esse não será confundido, mas poderá fazer parte da “nação santa”; sairá “das trevas para a sua luz maravilhosa.”(v9).
Um terceiro ensinamento nos é apresentado pelo próprio Jesus.
No evangelho de João (14,1-12), Jesus se apresenta como Caminho para o Pai. E aqui também temos duas posturas que nos convidam a tomada de posição a fim de nos definirmos diante do Senhor e do próprio Pai.
Uma é a postura de Felipe que, depois de tanto tempo de convivência, pede ao Senhor: “Mostra-nos o pai”.
Muitos de nós frequentamos a comunidade/Igreja, mas vivemos em nosso dia a dia como se Deus fosse somente uma ideia ou um ser distante; um ser com o qual se pode manter algum contato um dia por semana, na missa ou nalguma celebração dominical. E isso mostra que, de fato não o conhecemos pois Ele é uma presença constante e pede constância de nossa parte “a fim de que onde eu estiver estejais também vós” (v3).
Outra é a postura de Jesus, que convida a segui-lo, pois Ele é “o caminho, a verdade e a vida”. A fé nesse caminho, leva a verdade e quem segue a verdade de Jesus poderá conviver com Ele na morada por ele preparada: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós” (v 2).
E a nós cabe procurar realizar as obras por ele ensinadas. E o critério para realizar essas obras é o ato de fé “quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores” (v12).
Mas, qual é a obra do Senhor?
A promoção da vida: “eu vim para que tenhais vida e vida em abundância” (Jo 10,1-10).
A nós, portanto, cabe escolher: Manter as aparências fazendo de conta que somos piedosos, pois frequentamos a casa de Deus; ou ajudar a promover a vida.
No começo da Igreja, os apóstolos sugeriram o caminho: “Escolham entre vós”… mas hoje, cabe a nós aprender os ensinamentos apresentados na pregação e no serviços desses homens sábios e piedosos.
Neri de Paula Carneiro
terça-feira, maio 05, 2020
À sombra da bandeira
Pode parecer antiquado, mas no tempo em que a gente estudava Educação Moral e Cívica, aprendíamos sobre os símbolos nacionais. Eles, muito mais do que o Brasil, representam o povo brasileiro. Dois deles são muito expressivos para nosso povo: o Hino Nacional e a Bandeira Nacional.
Basta ver os dias em que ocorrem (ou ocorriam) jogos da seleção brasileira. Há uma efervescência de sentimento de brasilidade que dá gosto de ver: os torcedores vestindo o verde-amarelo e fazendo coro ao som do hino nacional, no início do jogo. E mais ainda, quando a banda para de tocar, ao terminar a primeira parte do hino, a multidão do estádio continua cantando e balançando a bandeira… e em muitas residências pelo Brasil afora a bandeira e o hino repercutem o som do estádio.
É pleno o sentimento de brasilidade.
Também está presente, a bandeira e o hino, em inúmeras manifestações nas quais o povo, nas ruas, demonstra seu sentimento e capacidade de exercer a cidadania: cobrando direitos, propondo rumos, expondo mazelas do mundo político para as quais exige o cumprimento da lei e a punição dos bandidos disfarçados de representantes do povo.
É digno. É nobre. Nada é mais bonito que um povo espelhando-se em sua bandeira e a empunha para defender o pais, cantando o hino que representa a todos os brasileiros.
Hino e Bandeira que representa TODOS os brasileiros.
Hino e Bandeira que representa todos os BRASILEIROS.
Nosso hino e nossa bandeira, só a nós representam. Representam a nós que somos brasileiros.
Evidentemente outras nações são representadas por outros hinos e outras bandeiras, mas aquela verde, amarela azul e branca a nós representa; aquele tom marcial do “Ouviram, do Ipiranga”… é a nós que representa. Somos nós ali presentes!
E deixemos outros povos que sejam representados por outros hinos e bandeiras.
Mas existem pessoas, em nosso país, que nasceram aqui, vivem aqui… mas que reverenciam OUTRAS BANDEIRAS.
E não são poucas pessoas assim: Traidores da pátria!
Estou me referindo à manifestação do dia 03 de maio de 2020, em frente ao Palácio da Alvorada. Não é um simbolo nacional, mas é o centro político do país.
E nesse dia (3/5/2020) em frente ao Palácio, um grupo se apresentou como TRAIDORES DA PÁTRIA. Claro alguns deles empunhavam a bandeira verde-amarela. Mas não eram essas as cores que defendiam.
Quem viu a cena, na internet ou na TV, deve saber de que estou falando. Alguns dos manifestantes, dizendo apoiar o inominável presidente, empunhavam outras bandeiras. Alguns traidores disfarçavam-se de brasileiros, mas flamejavam bandeiras de outras nações.
Quem viu a cena, na internet ou na TV, deve ter percebido que entre as bandeiras do Brasil, alguns empunhavam a bandeira de Israel e dos Estados Unidos.
Mas o pior é que do lado de dentro do alambrado o presidente inominável se fazia acompanhar por três bandeiras. Um traidor, ao lado dos demais, carregava um estandarte com a bandeira de Israel e, no mesmo mastro, a dos Estados Unidos, ambas fazendo sobra para o presidente. E, carregada por uma criança, quase rastejando, a bandeira do Brasil.
Num ato de traição à pátria, aquele que se faz chamar presidente desfilou serenamente e ostentando um certo orgulho, à sobra da bandeira americana e da estrela de Davi, na bandeira dos judeus.
Que defensores da pátria são esses? Se é que defendem uma pátria não é a nossa verde amarela.
Que presidente é esse? Se fosse presidente do Brasil e, de fato, representasse a nação brasileira, não aceitaria uma bandeira estrangeira lhe fazendo sobra. Nem apresentaria continência à bandeira de outro país, como o fez tempos atrás.
É verdade o que os veículos de comunicação comentaram largamente: Essa foi uma manifestação antidemocrática, pois defendia o fim de dois pilares da democracia (o parlamento e o judiciário); e também atentando contra a constituição, pois instigava rebeldia e desobediência ao preceito da harmonia dos poderes. Mas a principal demonstração ali ocorrida foi uma ostensiva traição à pátria.
O presidente e seus animaizinhos amestrados não agem em defesa e pelos interesses do Brasil. Eles são ratinhos dos interesses dos americanos… e dos banqueiros judeus.
Em nome da democracia respeito e entendo aqueles eleitores que ajudaram a eleger esse presidente. A democracia só existe quando existem ideias e ideais distintos que dialogam e se respeitam. Mas não dá para entender como é que muitos continuam aceitando ser manipulados em defesa de interesses estranhos ao do povo brasileiro. Que continuem a ajudar no processo de instalação da crise.
É inadmissível que pessoas inteligentes e que buscavam alternativas para a moralidade do país, continuem aceitando ser usados ou apoiando iniciativas que estão dividindo o país.
Falam tanto, de forma meio anacrônica, contra o comunismo (saberiam me explicar o que é isso que tanto temem?), mas estão abrindo as pernas para outro demônio que se faz representar por uma bandeira com cores branca, vermelha e azul. Tanto temem o alegado “vermelho comunista”, mas aquele que os domesticou também ostenta o vermelho em sua bandeira.
Já que o presidente e seus “miquinhos amestrados” aceitam caminhar à sobra de uma bandeira estrangeira, vamos recuperar nossa nação e, cantando nosso hino, levantar nossa bandeira verde amarela, símbolo e sinal do povo brasileiro que somos nós. Mesmo com ideias distintas vamos nos unir em defesa do Brasil e do povo que o constrói cotidianamente.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO
Basta ver os dias em que ocorrem (ou ocorriam) jogos da seleção brasileira. Há uma efervescência de sentimento de brasilidade que dá gosto de ver: os torcedores vestindo o verde-amarelo e fazendo coro ao som do hino nacional, no início do jogo. E mais ainda, quando a banda para de tocar, ao terminar a primeira parte do hino, a multidão do estádio continua cantando e balançando a bandeira… e em muitas residências pelo Brasil afora a bandeira e o hino repercutem o som do estádio.
É pleno o sentimento de brasilidade.
Também está presente, a bandeira e o hino, em inúmeras manifestações nas quais o povo, nas ruas, demonstra seu sentimento e capacidade de exercer a cidadania: cobrando direitos, propondo rumos, expondo mazelas do mundo político para as quais exige o cumprimento da lei e a punição dos bandidos disfarçados de representantes do povo.
É digno. É nobre. Nada é mais bonito que um povo espelhando-se em sua bandeira e a empunha para defender o pais, cantando o hino que representa a todos os brasileiros.
Hino e Bandeira que representa TODOS os brasileiros.
Hino e Bandeira que representa todos os BRASILEIROS.
Nosso hino e nossa bandeira, só a nós representam. Representam a nós que somos brasileiros.
Evidentemente outras nações são representadas por outros hinos e outras bandeiras, mas aquela verde, amarela azul e branca a nós representa; aquele tom marcial do “Ouviram, do Ipiranga”… é a nós que representa. Somos nós ali presentes!
E deixemos outros povos que sejam representados por outros hinos e bandeiras.
Mas existem pessoas, em nosso país, que nasceram aqui, vivem aqui… mas que reverenciam OUTRAS BANDEIRAS.
E não são poucas pessoas assim: Traidores da pátria!
Estou me referindo à manifestação do dia 03 de maio de 2020, em frente ao Palácio da Alvorada. Não é um simbolo nacional, mas é o centro político do país.
E nesse dia (3/5/2020) em frente ao Palácio, um grupo se apresentou como TRAIDORES DA PÁTRIA. Claro alguns deles empunhavam a bandeira verde-amarela. Mas não eram essas as cores que defendiam.
Quem viu a cena, na internet ou na TV, deve saber de que estou falando. Alguns dos manifestantes, dizendo apoiar o inominável presidente, empunhavam outras bandeiras. Alguns traidores disfarçavam-se de brasileiros, mas flamejavam bandeiras de outras nações.
Quem viu a cena, na internet ou na TV, deve ter percebido que entre as bandeiras do Brasil, alguns empunhavam a bandeira de Israel e dos Estados Unidos.
Mas o pior é que do lado de dentro do alambrado o presidente inominável se fazia acompanhar por três bandeiras. Um traidor, ao lado dos demais, carregava um estandarte com a bandeira de Israel e, no mesmo mastro, a dos Estados Unidos, ambas fazendo sobra para o presidente. E, carregada por uma criança, quase rastejando, a bandeira do Brasil.
Num ato de traição à pátria, aquele que se faz chamar presidente desfilou serenamente e ostentando um certo orgulho, à sobra da bandeira americana e da estrela de Davi, na bandeira dos judeus.
Que defensores da pátria são esses? Se é que defendem uma pátria não é a nossa verde amarela.
Que presidente é esse? Se fosse presidente do Brasil e, de fato, representasse a nação brasileira, não aceitaria uma bandeira estrangeira lhe fazendo sobra. Nem apresentaria continência à bandeira de outro país, como o fez tempos atrás.
É verdade o que os veículos de comunicação comentaram largamente: Essa foi uma manifestação antidemocrática, pois defendia o fim de dois pilares da democracia (o parlamento e o judiciário); e também atentando contra a constituição, pois instigava rebeldia e desobediência ao preceito da harmonia dos poderes. Mas a principal demonstração ali ocorrida foi uma ostensiva traição à pátria.
O presidente e seus animaizinhos amestrados não agem em defesa e pelos interesses do Brasil. Eles são ratinhos dos interesses dos americanos… e dos banqueiros judeus.
Em nome da democracia respeito e entendo aqueles eleitores que ajudaram a eleger esse presidente. A democracia só existe quando existem ideias e ideais distintos que dialogam e se respeitam. Mas não dá para entender como é que muitos continuam aceitando ser manipulados em defesa de interesses estranhos ao do povo brasileiro. Que continuem a ajudar no processo de instalação da crise.
É inadmissível que pessoas inteligentes e que buscavam alternativas para a moralidade do país, continuem aceitando ser usados ou apoiando iniciativas que estão dividindo o país.
Falam tanto, de forma meio anacrônica, contra o comunismo (saberiam me explicar o que é isso que tanto temem?), mas estão abrindo as pernas para outro demônio que se faz representar por uma bandeira com cores branca, vermelha e azul. Tanto temem o alegado “vermelho comunista”, mas aquele que os domesticou também ostenta o vermelho em sua bandeira.
Já que o presidente e seus “miquinhos amestrados” aceitam caminhar à sobra de uma bandeira estrangeira, vamos recuperar nossa nação e, cantando nosso hino, levantar nossa bandeira verde amarela, símbolo e sinal do povo brasileiro que somos nós. Mesmo com ideias distintas vamos nos unir em defesa do Brasil e do povo que o constrói cotidianamente.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO
sábado, maio 02, 2020
Esse a quem crucificastes
4 domingo do tempo pascal
A liturgia de hoje pode ser vista como uma continuação do discurso de Pentecostes. Ela tem como pontos de reflexão, inicialmente a leitura de At 2,14.36-41, a continuação do discurso de Pedro.
Como é Pedro quem está com a palavra, ele começa com a acusação: “Esse Jesus, que vós crucificastes”.
Não foram os soldados, nem o império Romano dominador e explorador, que matou Jesus. Os causadores e promotores do seu assassinato foi a “casa de Israel”.
Isso ocorreu, entretanto não a partir e com base no poder dos homens, mas do próprio Deus, por isso Ele “o constituiu Senhor e Cristo”. Com isso o apóstolo está afirmando: vós o crucificastes, mas o dom de Deus supera suas mesquinharias, suas invejas, suas injustiças.
Pedro disse, com seu discurso, que aos algozes cabem duas opções: continuar a perseguir aos seguidores do crucificado, como o que fizeram vários judeus; ou entrar num processo de arrependimento e adesão, pelo batismo.
Aqueles que se arrependerem e aderirem ao projeto do Cristo terão como recompensa os dons do Espírito de Amor.
Mas, quais os critérios para o seguimento? Como devem se comportar aqueles que se arrependerem? Os critérios estão na segunda leitura (1 Ped 2,20-25).
Em sua carta Pedro oferece algumas diretrizes: “para isto fostes chamados”.
E o chamado é para suportar pacientemente as adversidades.
A paciência é o caminho para a vitória. Entretanto, uma coisa deve ficar clara: ser paciente, não é ser passivo. Ser paciente é preparar-se para ser instrumento da implantação das propostas do Reino, que consiste na justiça para todos. Ser paciente não é agir ou reagir pela violência. Ser paciente é colaborar com aquele que “julga com justiça”.
E a justiça para aqueles que se encaminham para o Reino não é a mesma dos homens maus. A justiça do Reino é a vida. E esse é o ensinamento de Jesus (Jo 10,1-10): ele veio para os seus com uma finalidade: “que tenham Vida em abundância”
A quem os Judeus crucificaram? Não foi a um malfeitor, pois se assim fosse, esse malfeitor não teria entrado pela porta, de modo que todos pudessem ver. O malfeitor vem sorrateiramente. Quando nos damos pela coisa, o malfeitor já está aí.
Jesus fez tudo às claras por isso ele é a porta… e também, o pastor a quem as ovelhas, que somos nós, seguem para as verdes pastagens.
Cabe ressaltar, ainda, que muitos se apresentam como se fossem o pastor, apontando uma porta falsa. Uma porta que não conduz à vida. Todos aqueles que se apresentam com boas e belas palavras, mas não oferecem “vida em abundancia”, não são nem a porta nem o bom pastor.
Quem não oferece vida em abundância é o ladrão: dos sonhos, das esperanças, da união… esse ladrão, na realidade, é a personificação do diabo, pois com suas palavras e gestos e falsas promessas não conduz à união da comunidade, mas leva à divisão e à morte.
Jesus é categórico ao dizer que “O ladrão não vem senão para furtar, matar e destruir. Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância".
Neri de Paula Carneiro
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