sexta-feira, 29 de maio de 2020

Ninguém pode dizer

Quando colocamos em paralelo as três leituras deste domingo de Pentecostes podemos notar alguns elementos importantes.

O primeiro desses elementos está na leitura dos Atos dos Apóstolos (2,1-11). “Os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar.”

E essa afirmação tem um ponto central: todos reunidos. Trata-se de uma comunidade reunida!

Quem estava reunido? Onde e por que estavam reunidos? A afirmação da reunião oferece a primeira resposta: os discípulos estavam reunidos. Para saber onde se reuniam precisamos voltar ao capítulo 1 do livro dos Atos do Apóstolos. Nos versículos 12 e 13 somos informados de que após acompanharem a ascensão do Senhor os discípulos voltaram a Jerusalém e foram para uma sala “onde costumavam ficar” (1,13), quando Jesus ainda andava com eles pelas cidades.

Quanto ao motivo de se reunirem, podemos enumerar vários: o primeiro deles possivelmente era o medo, como afirma João (20,19-23) no texto do evangelho. Podemos acreditar que esse motivo seja real, pois João estava entre os que se reuniam. Outro motivo é a orientação de Jesus (At 1,4), que lhes disse para não se afastarem de Jerusalém até que se cumprisse a promessa do Pai. Um terceiro motivo é a fidelidade à orientação de Jesus: esperar o batismo no Espírito, (1,5). Se prestarmos atenção ao texto do evangelho, notaremos um quarto motivo: acolher a paz do Senhor (Jo 20,19). Como consequência da paz, vem um quinto motivo para os discípulos estarem reunidos: a missão. Serem enviados, como o Pai enviou a Jesus. (Jo 20,21). Podemos enumerar, ainda, um sexto motivo, expresso no texto que narra o nosso Pentecostes: o forte vento do Espírito e as línguas de fogo (2,2-3).

Com base nisso, quase sempre nos detemos nesse aspecto do cumprimento da promessa: O Espírito foi dado como força e como fogo purificador.

Mas será que não podemos perceber mais um motivo para os discípulos terem permanecido reunidos?

Vejamos o que nos ensina Paulo, na carta aos coríntios (12,3b-7.12-13): reconhecer Jesus como Senhor, é dom do Espírito; a diversidade de dons, é dom do Espírito; a diversidade de ministérios, é dom do Espírito… (v 3-5). Até aqui, tudo indica que a permanência em união tem a ver com o Espírito, seus dons e sua força. Mas quando nos concentramos nas palavra de Paulo e de Jesus, podemos perceber algo a mais, nessa importante reunião.

Notemos que Paulo não faz, apenas, uma lista de dons do Espírito. Ele explica o motivo do Espírito conceder os dons. Eles são dados: “em vista do bem comum.” O bem de todos os membros que formam o corpo que tem a Cristo como cabeça (v 12). o bem comum, portanto, é o bem da comunidade.

Cristo é a cabeça de um corpo, mas que corpo é esse? O corpo nada mais é do que a própria Igreja. A Igreja é o corpo de Cristo e Cristo é a cabeça da Igreja. E a Igreja é a comunidade dos que se reúnem pelo Espírito, em nome de Cristo.

Mas isso não é tudo. Foi à Igreja que Jesus dirigiu suas palavras finais, neste texto de João. E aqui está, talvez, o mais importante motivo dos discípulos terem permanecido reunidos: receber o dom de ser mediador do perdão (Jo, 20,23). Embora o perdão dos pecados seja um dom divino, Jesus, pela mediação do Espírito, concede esse dom à Igreja.

Por mandato divino a Igreja é mediadora do perdão. Perdão como dom trinitário, pois ao anunciar o perdão, a Igreja o concede “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

O envio feito por Jesus, é uma missão para o perdão: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados” (Jo 20,23).

De fato, “ninguém pode dizer Jesus Cristo é o Senhor, a não ser pelo Espírito” (1 Cor 12,3). Mas essa profissão de fé só tem sentido, para uma vida eclesial. É na comunidade que podemos proclamar e reconhecer que Jesus é o Senhor.

Neri de Paula Carneiro

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