sábado, 4 de julho de 2020

Seu domínio se estenderá

Qual é a proposta que Deus nos faz neste decimo quarto domingo do tempo comum?

Tanto a leitura de Zacarias (9,9-10) quanto na carta de Paulo aos Romanos (8,9.11-13) fazem propostas para mudanças. Mudança de comportamento; mudança de atitude. Mas, para que essas mudanças ocorram é necessária uma outra mudança, esta indicada por Jesus: fazer-se pequenino.

Uma mudança de comportamento é sugerida por Zacarias. A ideia que temos de uma monarca é de uma pessoa que sempre faz questão de mostrar sua majestade por meio das aparências. O poderoso evidencia seu poder mediante o esplendor de sua apresentação. Ele apresenta-se com carros e cavalos e exércitos (Zc 9,10). E, normalmente, se preocupa apenas em fazer cumprir sua vontade, independentemente de isso ser ou não o melhor para seu povo. Aliás, para o monarca, nesses termos, o seu povo é o que menos importa.

Não é essa a figura do o rei, apresentado por Zacarias. E aqui temos uma mudança de perspectiva, pois este rei, apresentado pelo profeta vem ao encontro; ele é justo e salvador; ele é simples, pois “vem montado num jumento” (Zc 9,9) ao contrário do comportamento dos monarcas que se apresentam montados em belos cavalos e esperam a ovação do povo.

Esse rei humilde, apresentado pelo profeta, vem, não para a guerra e conquista, mas para a paz entre as nações. Por isso quebra o arco (ou seja, vai eliminar as armas). Os carros e cavalos perderão o valor pois seu objetivo é anunciar a paz. E, havendo paz, as fronteiras deixarão de ter sentido. Por isso o reino desse rei justo, humilde salvador, será tão abrangente: de mar a mar e atingirá os “confins da terra”(Zc 9,10). Seu domínio é extenso não poque é poderoso, mas porque é justo e vem em nome da paz.

Por sua vez, Paulo (Rm 8,9.11-13), faz referência a uma mudança de atitude: viver, não de acordo com nossas vontades carnais, “mas segundo o espírito” (Rm 8,9). Podemos dizer que Paulo é ainda mais exigente que Zacarias pois sua proposta cobra radicalidade completa, sem meios termos. Trata-se de fazer uma opção definitiva cujo alcance, ou resultado, pode conduzir à vida ou à morte (Rm 8,13).

Então, qual a consequência dessa nova postura, dessa mudança de atitude?

Um redirecionamento na vida. São as atitudes, ou a forma de conduzir o dia a dia, que demonstram a presença do Espírito; que evidenciam as opções que assumimos.

Não se trata de dizer, mas de fazer. A vida cristã exige matar o “procedimento carnal” (Rm 8,13), para viver “segundo o espírito”. E isso implica assumir a postura dos “pequeninos” (Mt 11,25) e não da ostentação.

Cabe lembrar que somos devedores de uma dívida “não para com a carne, para vivermos segundo a carne” (Rm 8,12), mas com o Espírito de vida que nos “vivificará” (8,12). O espírito de vida, está presente naqueles que realizam, em suas vidas, os atos do Espírito: amor, solidariedade, altruísmo… que são posturas de quem não está em busca da ostentação.

Esse mesmo Espírito de vida, que dá força para superar o espírito carnal, é aquele que confere forças para superar os desafios, as dificuldades, os problemas, as dores… tudo que se insere na forma de um jugo, ou fardo, pesado.

A leveza do fardo, ou do jugo, manifesta-se numa vida de simplicidade, de amizade, de superação dos conflitos…

Para que isso isso aconteça é necessário se quebrarem, ou se eliminarem, as armas. Que se acabem com os símbolos de poder, os mecanismos de dominação…

E, para isso acontecer, se faz necessário assumir não a dominação, mas a mansidão, a humildade, que não foram reveladas “aos sábios e entendidos”, mas aos que se fazem pequenos. E estes, justamente por não almejarem a grandeza, é que são capazes de ampliar os domínios da paz e do amor.

É para quem assim procede que Jesus dirige suas palavras: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,29-30). E quando as pessoas puderem assim proceder, se instalará o reino do amor, cujo “domínio se estenderá de um mar a outro mar, e desde o rio até aos confins da terra” (Zc 9,10).

Neri de Paula Carneiro

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