sábado, junho 13, 2020

Às ovelhas perdidas

Na sequência do ano litúrgico, estamos retornando ao tempo comum. Estamos no décimo primeiro domingo.

Nossa reflexão, para este domingo, pode começar justamente com uma indagação: o que tem levado o ser humano a se afastar de Deus?

A partir de nossa fé, sabemos que Deus é o criador e como tal deseja que o ser humano não o abandone. Sabemos, também, que Deus não depende nem precisa de nós, mas, mesmo assim, deseja que nos mantenhamos fiéis aos seus ensinamentos e princípios. Sabemos, além disso, que seus ensinamentos e princípios chegaram a nós a partir de um povo escolhido. Só que esse povo, também cometeu inúmeros deslizes, afastando-se do Senhor.

E nisso já se nos apresenta um princípio importantíssimo: Deus nos quer, mas respeita nossa decisão e nossas escolhas. Respeita, inclusive nossa decisão de não o seguirmos.

Em razão de um dos tropeços do povo infiel é que se insere a primeira leitura (Êxodo 19,2-6 a). Enquanto o povo está acampado ao pé da montanha, Moisés sobe para o encontro com Deus, de quem ouve uma promessa condicionada. Deus rememora o episódio do Êxodo, para referendar sua proposta, que deve ser transmitida ao povo por Moisés mediador: “Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre todos os povos” (v. 5)

Notemos que a promessa divina é eterna, concedendo alto privilégio: ser a nação escolhida. Mas isso somente SE. Se o povo for fiel, será escolhido; caso não o seja…

Observando a história sagrada, e também a história da humanidade, logo descobrimos: o povo não foi fiel. Essa infidelidade foi o que propiciou a vinda de Cristo que, de acordo com o apóstolo Paulo (Romanos 5,6-11), em resposta à nossa fraqueza, “morreu pelos ímpios” (v. 6).

Por que foi que Cristo morreu? Porque seu povo foi infiel e desviou-se do Deus da Aliança. Mesmo seu povo escolhido tendo sido infiel, Deus não o abandonou. E Paulo apresenta o argumento pelo qual demonstra o amor de Deus: “a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores”. Os pecados do mundo foram redimidos pela morte de Cristo. A morte de Cristo foi um ato de rebeldia do povo escolhido.

Por esse motivo é que Paulo afirma que em sua morte Cristo redime ao mundo e com sua ressurreição nos assegura a vida.

O povo escolhido havia sido escolhido não por seus méritos, mas por predileção divina. E não foi sem motivo. Por meio desse povo, o Senhor Deus quis alcançar todos os povos.

Entretanto, segundo Mateus (9,36-10,8), Jesus constata o abandono em que se encontra seu povo. As multidões dão mostras do abandono. O povo que deveria ser luz dos povos, não estava cumprindo com esse propósito.

Essa situação de abandono foi a constatação de Jesus. E isso motivou sua compaixão. Olhou a multidão e percebeu seu abandono: “estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (9,36)

Então o Senhor, compassivo, envia seus discípulos para tentar reacender o espírito da Aliança. “Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel!” (10,6)

Naquele contexto de renovação da Aliança, as ovelhas perdidas eram os membros do povo eleito, que estavam abandonando ao Senhor: eram a ovelha abandonando o pastor.

Em nossos dias a palavra do evangelho é dirigida não em primeiro lugar ao povo hebreu mas aos seguidores de Jesus. “O Reino dos Céus está próximo!”

E, para que ninguém mais se perca, o próprio Senhor Jesus faz o apelo aos seus discípulos: Peçam ao “dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita” (9,38)

Deus desejou que um povo fosse luz dos povos. Mas essa luz não foi luminosa o suficiente para atrair a todos. Então veio o próprio Senhor e é Ele que nos envia não só à casa de Israel, mas a todas as ovelhas perdidas. As quais se afastaram do senhor por conta de sua liberdade de escolha. Somo enviados, portanto, para reconvocar todas as ovelhas perdidas.

Neri de Paula Carneiro

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