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A Igreja é sábia. Disso não há dúvidas.
Por esse motivo assimilou dos pagãos a celebração da luz e a identificou com a celebração do nascimento de Jesus, o Sol que a todos ilumina. E assim nasce a celebração do Natal.
O mesmo se pode dizer do advento.
Vários povos pagãos, quando estavam para receber uma autoridade, durante vários dias organizavam a cidade para a festa da chegada. E então ocorria uma recepção festiva para dizer que essa autoridade, seu rei, era uma pessoa querida, bem vista e esperada na cidade.
Observando isso, a Igreja assimilou o modelo e instituiu um período de preparação para o Natal: o Rei dos reis; Sol que nasceu para todos os povos; o Emanoel que não nos abandona.
Em algum lugar, perdido na história, alguém teve a ideia de aproveitar esses costumes pagãos para celebrar o Deus da vida. Foi para celebrar o nascimento de Jesus que nasceu o Advento.
Entretanto, somente a partir do século cinco é que essa prática se popularizou a partir da região que hoje é a Espanha e a França. E nasceu como um tempo de jejum e abstinência pelos quais os catecúmenos se preparavam para o batismo, realizado nas celebrações natalinas.
Alguns séculos depois a Igreja de Roma acrescenta o caráter escatológico. Ou seja, o advento não só prepara para a vinda do Jesus menino, como é um convite para que o cristão faça sua revisão de vida, olhando para o encontro escatológico com Cristo, que virá no fim dos tempos.
Portanto, ao celebrar o advento temos estas duas perspectivas: a festa do Natal, quando Deus vem ao nosso encontro, para nos ensinar os caminhos da solidariedade, da fraternidade na forma do mandamento do amor; além disso, nos convida a nos mantermos em clima de espera para o feliz dia do retorno glorioso do Senhor, no fim dos tempos. Ou seja, o advento tem uma dimensão cotidiana e histórica e um olhar escatológico, aguardando o fim da história.
A sabedoria da Igreja inseriu o advento na liturgia como uma das formas do diálogo de Deus com sua Igreja peregrina. Por isso o tempo de advento corresponde ao início do ano litúrgico. Ou seja, diferentemente do ano civil, o ano litúrgico começa com o primeiro domingo do advento e se encerra com a celebração do Natal do Senhor
O calendário litúrgico organiza o tempo de advento em quatro domingos que antecedem o Natal. E isso por um motivo simples: é no advento que se inicia todo o mistério da salvação. O povo se prepara para receber o Deus supremo que se apresenta como um menino, na celebração do Natal; depois, ao longo do ano, Deus caminha lado a lado conosco no tempo comum até consumar seu ato salvador no sacrifício do mistério pascal.
Tudo isso para nos dizer que a liturgia quer nos ensinar algo muito importante: a encarnação é o primeiro passo da ressurreição.
Durante as quatro semanas do advento, a liturgia nos convida a uma revisão de vida a partir de alguns personagens: os apelos de Isaías que chamam nossa atenção para a necessidade de conversão e o conforto oferecido pelo Senhor. Também recebemos um convite para a revisão de vida feito por João Batista que nos orienta a preparar as veredas, os caminhos do Senhor. Com um carinho muito especial somos convidados a olhar o mistério da encarnação seguindo o exemplo de Maria que se apresenta como a serva do Senhor, aquela que guardava tudo em seu coração. Outro personagem é José em cuja postura somos convidados a olhar um personagem singelo e discreto, mas foi quem deu amparo a Maria para que tivesse condições de gerar o Filho de Deus.
Em síntese, no advento somos convidados a refletir sobre nossas vidas enquanto aguardamos chegada do Deus menino e, ao mesmo tempo, nos preparar para a vinda definitiva do Senhor. Somos convidados a celebrar a alegria, pois Deus vem ao nosso encontro; e também somos convidados a celebrar a nossa reconciliação com Deus, neste tempo penitencial. Sendo uma celebração de alegria pela expectativa da vinda do Senhor, o advento, é também tempo de penitência no qual devemos nos purificar para receber o Deus que vem.
Primeiro domingo do Advento:
VIGIAI
Estamos iniciando um novo ano litúrgico: primeiro domingo do Advento.
Estamos celebrando a esperança: apesar de toda as negligência humana, Deus não nos abandona. Mesmo e apesar da nossa infidelidade, Deus insiste em nos visitar. Ele continua acreditando em nós, apesar de nossa incredulidade; mesmo contra nossa desesperança… Por tudo isso, neste tempo de advento, Deus nos convida a dar mais uma oportunidade à esperança; ainda é possível alimentar a esperança!
É verdade que precisamos abrir um espaço em nossa agenda. E, se fizermos isso, certamente ouviremos o convite: Deus nos chama a rever nossas passos; nos convida a redefinir nossos rumos; nos propõe redefinir nossa trajetória; nos encoraja a buscá-lo em nosso caminhar.
A proposta é bastante clara, pois estamos num ponto em que precisamos tomar uma decisão: continuar nos caminhos tortuosos da indiferença para com a proposta divina degradando o mundo e vitimando nossos irmãos ou aderir ao projeto do Reino.
O profeta Isaías (63,16b-17.19b;64,2b-7) chama nossa atenção para este ponto importante: estamos nos afastando do Senhor. Diz o profeta: “Todos nós nos tornamos imundície e todas as nossas boas obras são como pano sujo. Murchamos todos como folhas e nossas maldades empurram-nos como o vento” (Is 64,5).
E assim, afastados do Senhor, uma vez que “não há quem invoque teu nome” (Is 64,6), estamos completamente atolados em nossos desatinos. Como estamos “à mercê da nossa maldade” (Is 64,6), o trem da história humana encontra-se fora dos trilhos. E, dessa forma, cresce entre nós não o projeto do Reino, mas o anti-Reino alimentado pela maldade humana que, não só cresce como também floresce e frutifica em nossa sociedade.
Prevalecendo a vontade humana e não o projeto de salvação, mesmo as ações aparentemente solidárias, altruístas não passam de “imundície”, pois o motor para essas ações está assentado nas aparências. Por isso o profeta usa a metáfora do “pano sujo” (Is 64,5): quem tenta limpar algo com um pano sujo o que faz é espalhar a sujeira. A melhor obra de caridade e os grandes gestos de solidariedade, quando não são autênticos, mas movidos pelos interesses pessoais (da política, da exploração econômica, da evidência…) ou pela sede da retribuição, pela vontade de se evidenciar… não passa de maldade humana, reflexo da nossa imundície.
Só tem valor, como semeadura do Reino, aquilo que é feito desinteressadamente. O bem que faço a alguém, argumentando que “quando eu precisar alguém fará o mesmo por mim”, não tem valor para o Reino. Nesse caso, estarei fazendo em busca do meu benefício e não pensando no outro. Faço o bem, porque desejo uma retribuição. Nesse caso eu permaneço no centro dos interesses e não na necessidade do outro.
Importa, para frutificar a semente do Reino entre nós, realizarmos não o que nos apetece, mas aquilo que é agradável ao Pai. Importa comportarmo-nos não como donos da verdade, mas como o barro na mão do oleiro, como diz o profeta: “Tu és nosso pai, nós somos o barro; tu és nosso oleiro e nós todos, obra de tuas mãos” (Is 64,7).
Por sua vez, constatando o aumento da maldade humana, as ambições humanas, as atitudes egoístas e interesseiras, entre as pessoas, Paulo orienta a comunidade de Corinto (1Cor 1,3-9), a fim de que permaneçam na graça de Deus, no seguimento de Jesus. E o apóstolo é categórico, dizendo que é Jesus quem “dará a perseverança em vosso procedimento irrepreensível” (1Cor 1,8). A graça cresce e frutifica na mesma proporção da entrega e do “testemunho” sobre Cristo (1Cor 1,6).
A fidelidade de Deus é constante e por isso, dos seus, espera a “comunhão com seu filho, Jesus Cristo” (1Cor 1,9). A fidelidade divina, sendo constante, pede, da parte humana, de nossa parte, também atitudes de fidelidade ao projeto do Reino, que se expressa em atos de “amorização”.
Isso nos conduz à proposta do tempo litúrgico que estamos celebrando: o advento é um Momento propício para deixarmos de lado as posturas tortuosos e trilhas traçadas que nos afastam do Senhor. Daí a recomendação de Jesus, narrada por Marcos (13,33-37): vigilância. Importa a postura de se deixar moldar pelo oleiro divino (Is 64,7). Importa abrir espaço para o crescimento da graça de Deus entre nós. Mas, sobretudo, importa permanecer atentos aos sinais do Reino e ao combate ao anti-Reino.
Como o joio e o trigo, as sementes do Reino e do anti-Reino estão presentes na sociedade humana. A acomodação e a negligência em relação às boas obras são a terra fértil do anti-Reino. Por seu lado a vigilância se expressa nas atitudes em favor do outro, na medida em que cada um cumpre com “sua tarefa” (Mc 13,34) de fazer crescer atos em favor do bem, em favor dos menos favorecidos, em favor de quem precisa.
Segundo domingo do Advento:
(Reflexões baseadas em: Isaías 63,16b-17.19b;64,2b-7; 1 Coríntios1,3-9; Marcos 13,33-37)
Estamos iniciando um novo ano litúrgico: primeiro domingo do Advento.
Estamos celebrando a esperança: apesar de toda as negligência humana, Deus não nos abandona. Mesmo e apesar da nossa infidelidade, Deus insiste em nos visitar. Ele continua acreditando em nós, apesar de nossa incredulidade; mesmo contra nossa desesperança… Por tudo isso, neste tempo de advento, Deus nos convida a dar mais uma oportunidade à esperança; ainda é possível alimentar a esperança!
É verdade que precisamos abrir um espaço em nossa agenda. E, se fizermos isso, certamente ouviremos o convite: Deus nos chama a rever nossas passos; nos convida a redefinir nossos rumos; nos propõe redefinir nossa trajetória; nos encoraja a buscá-lo em nosso caminhar.
A proposta é bastante clara, pois estamos num ponto em que precisamos tomar uma decisão: continuar nos caminhos tortuosos da indiferença para com a proposta divina degradando o mundo e vitimando nossos irmãos ou aderir ao projeto do Reino.
O profeta Isaías (63,16b-17.19b;64,2b-7) chama nossa atenção para este ponto importante: estamos nos afastando do Senhor. Diz o profeta: “Todos nós nos tornamos imundície e todas as nossas boas obras são como pano sujo. Murchamos todos como folhas e nossas maldades empurram-nos como o vento” (Is 64,5).
E assim, afastados do Senhor, uma vez que “não há quem invoque teu nome” (Is 64,6), estamos completamente atolados em nossos desatinos. Como estamos “à mercê da nossa maldade” (Is 64,6), o trem da história humana encontra-se fora dos trilhos. E, dessa forma, cresce entre nós não o projeto do Reino, mas o anti-Reino alimentado pela maldade humana que, não só cresce como também floresce e frutifica em nossa sociedade.
Prevalecendo a vontade humana e não o projeto de salvação, mesmo as ações aparentemente solidárias, altruístas não passam de “imundície”, pois o motor para essas ações está assentado nas aparências. Por isso o profeta usa a metáfora do “pano sujo” (Is 64,5): quem tenta limpar algo com um pano sujo o que faz é espalhar a sujeira. A melhor obra de caridade e os grandes gestos de solidariedade, quando não são autênticos, mas movidos pelos interesses pessoais (da política, da exploração econômica, da evidência…) ou pela sede da retribuição, pela vontade de se evidenciar… não passa de maldade humana, reflexo da nossa imundície.
Só tem valor, como semeadura do Reino, aquilo que é feito desinteressadamente. O bem que faço a alguém, argumentando que “quando eu precisar alguém fará o mesmo por mim”, não tem valor para o Reino. Nesse caso, estarei fazendo em busca do meu benefício e não pensando no outro. Faço o bem, porque desejo uma retribuição. Nesse caso eu permaneço no centro dos interesses e não na necessidade do outro.
Importa, para frutificar a semente do Reino entre nós, realizarmos não o que nos apetece, mas aquilo que é agradável ao Pai. Importa comportarmo-nos não como donos da verdade, mas como o barro na mão do oleiro, como diz o profeta: “Tu és nosso pai, nós somos o barro; tu és nosso oleiro e nós todos, obra de tuas mãos” (Is 64,7).
Por sua vez, constatando o aumento da maldade humana, as ambições humanas, as atitudes egoístas e interesseiras, entre as pessoas, Paulo orienta a comunidade de Corinto (1Cor 1,3-9), a fim de que permaneçam na graça de Deus, no seguimento de Jesus. E o apóstolo é categórico, dizendo que é Jesus quem “dará a perseverança em vosso procedimento irrepreensível” (1Cor 1,8). A graça cresce e frutifica na mesma proporção da entrega e do “testemunho” sobre Cristo (1Cor 1,6).
A fidelidade de Deus é constante e por isso, dos seus, espera a “comunhão com seu filho, Jesus Cristo” (1Cor 1,9). A fidelidade divina, sendo constante, pede, da parte humana, de nossa parte, também atitudes de fidelidade ao projeto do Reino, que se expressa em atos de “amorização”.
Isso nos conduz à proposta do tempo litúrgico que estamos celebrando: o advento é um Momento propício para deixarmos de lado as posturas tortuosos e trilhas traçadas que nos afastam do Senhor. Daí a recomendação de Jesus, narrada por Marcos (13,33-37): vigilância. Importa a postura de se deixar moldar pelo oleiro divino (Is 64,7). Importa abrir espaço para o crescimento da graça de Deus entre nós. Mas, sobretudo, importa permanecer atentos aos sinais do Reino e ao combate ao anti-Reino.
Como o joio e o trigo, as sementes do Reino e do anti-Reino estão presentes na sociedade humana. A acomodação e a negligência em relação às boas obras são a terra fértil do anti-Reino. Por seu lado a vigilância se expressa nas atitudes em favor do outro, na medida em que cada um cumpre com “sua tarefa” (Mc 13,34) de fazer crescer atos em favor do bem, em favor dos menos favorecidos, em favor de quem precisa.
Segundo domingo do Advento:
CONSOLAI
O tempo do Advento nos enche de inspiração.
No primeiro domingo, fomos convidados à vigilância a fim de alimentar a esperança. Ou seja, rever nossas atitudes e comportamentos a fim de adequá-los à proposta divina da renovação do mundo. Afinal, essa é a esperança que alimenta o mundo.
Neste segundo domingo a proposta nos é feita em vista da consolação. Depois seremos convidados a exultar de alegria porque no quarto domingo nos será comunicada a presença de Deus entre nós.
O apelo à consolação nos é apresentada por Isaías (Is 40,1-5.9-11), quando o profeta explicita a ordem do Senhor: "Consolai, consolai o meu povo” (Is 40,1).
Por que o povo deve ser consolado? Essa é a pergunta inevitável. E a resposta nos é apresentada pelo mesmo profeta, dirigindo-se à “mensageira de sião” (Is 40,9), encarregada de levar ao povo a notícia de que “o seu serviço está cumprido, que a sua iniquidade está expiada, que ela recebeu da mão de Iahweh paga dobrada por todos os seus pecados" (Is 40,2).
O povo havia se distanciado do Senhor e cometera as mais absurdas profanações. Mas o que o povo havia feito de tão ruim, que merecera tamanha punição? Havia seguido lideranças políticas cujas atitudes enganavam ao povo e os distanciavam dos caminhos do Senhor. Ou seja: O povo estava, sim, afastado do Senhor. Mas fizera isso porque se deixara seduzir pelos seus governantes que diziam estar falando em nome do Senhor, mas efetivamente agiam em beneficio próprio.
Algo muito parecido com o que assistimos nos dias atuais. Quando vemos governantes cometendo atrocidades contra os direitos do povo, contra a saúde, contra a vida, contra o ssitema escolar, contra o saber.… E eles fazem isso repetindo o nome de Deus. Mas, na verdade, são representantes do demônio. Suas belas palavras são enganosas, sua boca se abre para a mentira. E todas essas mentiras fazem com que o povo caia na tentação… Pensam que estão seguindo um líder que fala em nome de Deus, mas são enganados pelo representante do Anticristo.
E, se isso é verdade em relação à política, não é menos verdade em relação a muitos líderes religiosos: Gritam o nome de Deus, mas profanam o seu nome quando seu interesse é o dinheiro extorquido dos pobres...
O mesmo alerta emitido por Isaías é repetido na carta de Pedro (2 Pe, 3,8-14).
Em sua carta, o apóstolo reitera que pecado do povo é perdoado, mas isso não afasta nem impede a chegada do “dia do Senhor” que “chegará como um ladrão” (2 Pe 3,10).
O clima de iniquidade é grande, e não é de hoje. Desde os tempos antigos a maldade vem tomando conta das pessoas, das cidades, das nações. Até a literatura já o repetiu, como nos versos de Chico Buarque, quando cantou “Geni e o Zepelim”: “Quando vi nesta cidade tanto horror e iniquidade resolvi tudo explodir”. E o comandante dessa nave só não explode o mundo de iniquidade porque se enamora de uma moça malvista, marginalizada. Por isso condiciona o perdão: “Posso evitar o drama, se aquela formosa dama esta noite me servir”.
Na música, a mulher marginalizada, excluída e estigmatizada salvou aquele povo fictício que representa o povo real que respira maldade. Os canhões do comandante da música se assemelham ao mundo se desfazendo “com estrondo, os elementos, devorados pelas chamas, se dissolverão e a terra, juntamente com as suas obras, será consumida” da carta de Pedro (2Pe 3,10). Também nos faz lembrar dos montes “aplainados” e à necessidade de que “seja entulhado todo vale, todo monte e toda colina sejam nivelados” (Is 40,3-4), a fim de que se instale a glória do Senhor, conforme se lê na carta de Pedro: “aquilo que nós esperamos, conforme a sua promessa, são novos céus e nova terra, onde habitará a justiça” (2 Pe, 8, 13). Aquela mulher humilhada, pode ser vista como uma metáfora de Jesus que, com seu sofrimento, resgata a todos aqueles que o acolhem. Jesus, é o pastor que cuida do “seu rebanho, com o seu braço reúne os cordeiros” (Is 40,11).
Com esse olhar nos voltamos para Marcos (1,1-8), retomando as palavras de Isaías, para falar do “mensageiro” que vem para “preparar os caminhos do Senhor” (Mc 1,3). Ele “batizará com o Espírito Santo” (Mc 1,8) a fim de que se instale a Justiça entre os seres humanos.
O mudo corrompido e a sociedade sem rumo é o espaço em que vai agir o mensageiro a fim de anunciar o “novo céu e a nova terra” (2Pe 8,13). Nesse novo mundo a justiça será uma luz guiando a todos. Todos que não estiverem cegos pelos seus próprios interesses, não estiverem cegos pela cobiça, cegos pela exploração dos pobres...
O novo mundo, crescerá por sobre os escombros da sociedade humana, destruída como o foram os montes, para “preparar os caminhos do Senhor, tornando retas as suas veredas” (Mc 1,3)
O novo mundo, onde ajustiça há de reinar, será um espaço em que os pobres não mais chorarão, pois suas necessidades serão atendidas, não por um Deus distante, mas por um Senhor que vem ao nosso encontro. E, então, não mais será necessário apelar para que o povo seja consolado, mas todos se apoiarão mutuamente, todos consolados e saciados pelo Senhor que veio para os seus.
Terceiro domingo do Advento: -
(Reflexões baseadas em: Isaías 40,1-5.9-11; 2 Pedro 3,8-14; Marcos 1,1-8)
O tempo do Advento nos enche de inspiração.
No primeiro domingo, fomos convidados à vigilância a fim de alimentar a esperança. Ou seja, rever nossas atitudes e comportamentos a fim de adequá-los à proposta divina da renovação do mundo. Afinal, essa é a esperança que alimenta o mundo.
Neste segundo domingo a proposta nos é feita em vista da consolação. Depois seremos convidados a exultar de alegria porque no quarto domingo nos será comunicada a presença de Deus entre nós.
O apelo à consolação nos é apresentada por Isaías (Is 40,1-5.9-11), quando o profeta explicita a ordem do Senhor: "Consolai, consolai o meu povo” (Is 40,1).
Por que o povo deve ser consolado? Essa é a pergunta inevitável. E a resposta nos é apresentada pelo mesmo profeta, dirigindo-se à “mensageira de sião” (Is 40,9), encarregada de levar ao povo a notícia de que “o seu serviço está cumprido, que a sua iniquidade está expiada, que ela recebeu da mão de Iahweh paga dobrada por todos os seus pecados" (Is 40,2).
O povo havia se distanciado do Senhor e cometera as mais absurdas profanações. Mas o que o povo havia feito de tão ruim, que merecera tamanha punição? Havia seguido lideranças políticas cujas atitudes enganavam ao povo e os distanciavam dos caminhos do Senhor. Ou seja: O povo estava, sim, afastado do Senhor. Mas fizera isso porque se deixara seduzir pelos seus governantes que diziam estar falando em nome do Senhor, mas efetivamente agiam em beneficio próprio.
Algo muito parecido com o que assistimos nos dias atuais. Quando vemos governantes cometendo atrocidades contra os direitos do povo, contra a saúde, contra a vida, contra o ssitema escolar, contra o saber.… E eles fazem isso repetindo o nome de Deus. Mas, na verdade, são representantes do demônio. Suas belas palavras são enganosas, sua boca se abre para a mentira. E todas essas mentiras fazem com que o povo caia na tentação… Pensam que estão seguindo um líder que fala em nome de Deus, mas são enganados pelo representante do Anticristo.
E, se isso é verdade em relação à política, não é menos verdade em relação a muitos líderes religiosos: Gritam o nome de Deus, mas profanam o seu nome quando seu interesse é o dinheiro extorquido dos pobres...
O mesmo alerta emitido por Isaías é repetido na carta de Pedro (2 Pe, 3,8-14).
Em sua carta, o apóstolo reitera que pecado do povo é perdoado, mas isso não afasta nem impede a chegada do “dia do Senhor” que “chegará como um ladrão” (2 Pe 3,10).
O clima de iniquidade é grande, e não é de hoje. Desde os tempos antigos a maldade vem tomando conta das pessoas, das cidades, das nações. Até a literatura já o repetiu, como nos versos de Chico Buarque, quando cantou “Geni e o Zepelim”: “Quando vi nesta cidade tanto horror e iniquidade resolvi tudo explodir”. E o comandante dessa nave só não explode o mundo de iniquidade porque se enamora de uma moça malvista, marginalizada. Por isso condiciona o perdão: “Posso evitar o drama, se aquela formosa dama esta noite me servir”.
Na música, a mulher marginalizada, excluída e estigmatizada salvou aquele povo fictício que representa o povo real que respira maldade. Os canhões do comandante da música se assemelham ao mundo se desfazendo “com estrondo, os elementos, devorados pelas chamas, se dissolverão e a terra, juntamente com as suas obras, será consumida” da carta de Pedro (2Pe 3,10). Também nos faz lembrar dos montes “aplainados” e à necessidade de que “seja entulhado todo vale, todo monte e toda colina sejam nivelados” (Is 40,3-4), a fim de que se instale a glória do Senhor, conforme se lê na carta de Pedro: “aquilo que nós esperamos, conforme a sua promessa, são novos céus e nova terra, onde habitará a justiça” (2 Pe, 8, 13). Aquela mulher humilhada, pode ser vista como uma metáfora de Jesus que, com seu sofrimento, resgata a todos aqueles que o acolhem. Jesus, é o pastor que cuida do “seu rebanho, com o seu braço reúne os cordeiros” (Is 40,11).
Com esse olhar nos voltamos para Marcos (1,1-8), retomando as palavras de Isaías, para falar do “mensageiro” que vem para “preparar os caminhos do Senhor” (Mc 1,3). Ele “batizará com o Espírito Santo” (Mc 1,8) a fim de que se instale a Justiça entre os seres humanos.
O mudo corrompido e a sociedade sem rumo é o espaço em que vai agir o mensageiro a fim de anunciar o “novo céu e a nova terra” (2Pe 8,13). Nesse novo mundo a justiça será uma luz guiando a todos. Todos que não estiverem cegos pelos seus próprios interesses, não estiverem cegos pela cobiça, cegos pela exploração dos pobres...
O novo mundo, crescerá por sobre os escombros da sociedade humana, destruída como o foram os montes, para “preparar os caminhos do Senhor, tornando retas as suas veredas” (Mc 1,3)
O novo mundo, onde ajustiça há de reinar, será um espaço em que os pobres não mais chorarão, pois suas necessidades serão atendidas, não por um Deus distante, mas por um Senhor que vem ao nosso encontro. E, então, não mais será necessário apelar para que o povo seja consolado, mas todos se apoiarão mutuamente, todos consolados e saciados pelo Senhor que veio para os seus.
Terceiro domingo do Advento: -
O ESPÍRITO DO SENHOR
“O Espírito do Senhor Deus está sobre mim”, são as primeiras palavras de Isaías (61,1-2a.10-11), na primeira leitura deste terceiro domingo do Advento.
E se atentarmos para a sequência da leitura, veremos a explicação; o porquê da presença do Espírito: a unção, o envio e o tempo da redenção (Is 61,1-2)
A unção, nesse contexto, é uma referência ao caráter messiânico da profecia. Ao receber a unção, recebe-se também a autoridade do Senhor. Por isso o ungido é, também, enviado por Deus para uma missão definitiva: “proclamar o tempo da graça” (Is 61,2a). Ou seja, o ungido recebe a missão de perdoar e salvar. Esse é o motivo da alegria (Is 61,10): em posse do “manto da justiça” o messias (o ungido) “fará germinar a justiça” (Is 61,11). Havendo justiça, existe alegria, pois cessam os sofrimentos.
O “Tempo da Graça” é o tempo do perdão, mas isso só porque é um tempo de justiça. Só é possível o perdão mediante a possibilidade da justiça. Como o Senhor sempre é justo, cabe ao ser humano, se quiser ser perdoado, praticar a justiça, aprendendo e reproduzindo a Justiça do Senhor Justo. A justiça, portanto, é um dom divino a ser praticado e partilhado.
E em que consiste a prática da justiça? Na redenção dos cativos. No contexto em que viveu Isaías muitas pessoas eram escravizadas ou aprisionadas por dívidas. Os cativos, portanto, eram os pobres. Não tendo como saldar as dividas o pobre era feito escravo. E o tempo da graça é o tempo da remissão das dívidas, da libertação dos cativos.
Anunciar a justiça, portanto, implicava em colocar um ponto final à situação de escravidão. Era um gesto e um processo de resgate da dignidade humana. A mesma dignidade que vem sendo negada aos pobres da nossa sociedade aos quais são negados vários direitos. Basta olharmos com os olhos de cristão, para percebermos o que efetivamente ocorre ao nosso redor. Quando deixarmos de olhar o mundo, a sociedade e a relação ente as pessoas com os olhos da ganância, poderemos enxergar a degradação das pessoas que vivem na marginalidade, os empobrecidos.
Somente cumprindo essa condição é que se pode ser feliz, como orienta Paulo na primeira carta aos tessalonicenses (1Tes 5,16-24). Permanecer na alegria (1Ts 5,16) é um bom estado para se permanecer na oração e na ação de graças ( 1Ts 5,17-18). Mas isso somente é possível para aqueles que se afastam da maldade (1 Ts, 5,22). Eliminar a maldade é eliminar a degradação humana. A valorização do ser humano é a condição para permanecer “sem mancha alguma para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5,23). A preparação para o Natal, para a vinda do Senhor, como podemos perceber, é um convite à valorização do ser humano.
Alguém poderia perguntar: Onde o ser humano é desrespeitado? Ao se lhe negar amplo acesso à saúde, à moradia, à escola, ao trabalho, ao direito de discordar, ao alimento… quando nós ou nossos governantes valorizamos a ostentação, admitimos leis excludentes ou dizemos que o outro é pobre por preguiça… estamos desrespeitando ou apoiando governos e pessoas que desrespeitam o ser humano. E isso não é divino. Por isso a orientação de Paulo “examinai tudo e guardai o que for bom.” (1 Ts 5,21).
Não é demais ressaltar que a obra do anticristo é mostrar a degradação como algo natural. E quando alguém apoia os geradores da degradação humana e ambiental, está apoiando o anticristo, o adversário de Deus.
Com isso em mente podemos observar a postura de João Batista (João 1,6-8.19-28). Como sobre ele pairava o espírito do Senhor, tinha autoridade “para dar testemunho da luz” (Jo 1,6). Tinha autoridade para se apresentar como a voz que gritava no deserto: “Eu sou a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’” (Jo 1,23).
O batista não pretendia atrair as atenções para si, numa atitude soberba de quem deseja aplausos. Pelo contrário, fugia da ostentação e, indagado sobre sua atuação, mostrava não a sua obra, mas apontava para aquele que era a luz, por ele testemunhada (Jo 1,7-8). Por não desejar ser o centro das atenções, mas para indicar o Messias (ungido), dizia não ser digno de estar aos pés daquele a quem viera anunciar: “Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias” (Jo 1,27). E podia recriminar seus ouvintes: “no meio de vós está aquele que vós não conheceis” (Jo 1,26).
Talvez essa postura do Batista possa ser, também, um critério para examinarmos nossas atitudes e a daqueles pregadores que buscam os holofotes...
Conhecedor da força do Espírito do Senhor, o Batista podia dar testemunho da luz; apontando aquele que daria o Espírito santificador, podia exigir que se aplainassem os seus caminhos; em nome da luz benfazeja, sabia ser uma voz a clamando a presença do Ungido/Messias e, este sim, Senhor de todo poder, envia a todos, anunciando o tempo da redenção…
E Ele está para chegar! E quando chegar quem sabe nos dará o dom de receber os dons do Espírito do Senhor.
(Reflexões baseadas em: Isaías 61,1-2a.10-11; 1Tessalonicenses 5,16-24; João 1,6-8.19-28)
“O Espírito do Senhor Deus está sobre mim”, são as primeiras palavras de Isaías (61,1-2a.10-11), na primeira leitura deste terceiro domingo do Advento.
E se atentarmos para a sequência da leitura, veremos a explicação; o porquê da presença do Espírito: a unção, o envio e o tempo da redenção (Is 61,1-2)
A unção, nesse contexto, é uma referência ao caráter messiânico da profecia. Ao receber a unção, recebe-se também a autoridade do Senhor. Por isso o ungido é, também, enviado por Deus para uma missão definitiva: “proclamar o tempo da graça” (Is 61,2a). Ou seja, o ungido recebe a missão de perdoar e salvar. Esse é o motivo da alegria (Is 61,10): em posse do “manto da justiça” o messias (o ungido) “fará germinar a justiça” (Is 61,11). Havendo justiça, existe alegria, pois cessam os sofrimentos.
O “Tempo da Graça” é o tempo do perdão, mas isso só porque é um tempo de justiça. Só é possível o perdão mediante a possibilidade da justiça. Como o Senhor sempre é justo, cabe ao ser humano, se quiser ser perdoado, praticar a justiça, aprendendo e reproduzindo a Justiça do Senhor Justo. A justiça, portanto, é um dom divino a ser praticado e partilhado.
E em que consiste a prática da justiça? Na redenção dos cativos. No contexto em que viveu Isaías muitas pessoas eram escravizadas ou aprisionadas por dívidas. Os cativos, portanto, eram os pobres. Não tendo como saldar as dividas o pobre era feito escravo. E o tempo da graça é o tempo da remissão das dívidas, da libertação dos cativos.
Anunciar a justiça, portanto, implicava em colocar um ponto final à situação de escravidão. Era um gesto e um processo de resgate da dignidade humana. A mesma dignidade que vem sendo negada aos pobres da nossa sociedade aos quais são negados vários direitos. Basta olharmos com os olhos de cristão, para percebermos o que efetivamente ocorre ao nosso redor. Quando deixarmos de olhar o mundo, a sociedade e a relação ente as pessoas com os olhos da ganância, poderemos enxergar a degradação das pessoas que vivem na marginalidade, os empobrecidos.
Somente cumprindo essa condição é que se pode ser feliz, como orienta Paulo na primeira carta aos tessalonicenses (1Tes 5,16-24). Permanecer na alegria (1Ts 5,16) é um bom estado para se permanecer na oração e na ação de graças ( 1Ts 5,17-18). Mas isso somente é possível para aqueles que se afastam da maldade (1 Ts, 5,22). Eliminar a maldade é eliminar a degradação humana. A valorização do ser humano é a condição para permanecer “sem mancha alguma para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5,23). A preparação para o Natal, para a vinda do Senhor, como podemos perceber, é um convite à valorização do ser humano.
Alguém poderia perguntar: Onde o ser humano é desrespeitado? Ao se lhe negar amplo acesso à saúde, à moradia, à escola, ao trabalho, ao direito de discordar, ao alimento… quando nós ou nossos governantes valorizamos a ostentação, admitimos leis excludentes ou dizemos que o outro é pobre por preguiça… estamos desrespeitando ou apoiando governos e pessoas que desrespeitam o ser humano. E isso não é divino. Por isso a orientação de Paulo “examinai tudo e guardai o que for bom.” (1 Ts 5,21).
Não é demais ressaltar que a obra do anticristo é mostrar a degradação como algo natural. E quando alguém apoia os geradores da degradação humana e ambiental, está apoiando o anticristo, o adversário de Deus.
Com isso em mente podemos observar a postura de João Batista (João 1,6-8.19-28). Como sobre ele pairava o espírito do Senhor, tinha autoridade “para dar testemunho da luz” (Jo 1,6). Tinha autoridade para se apresentar como a voz que gritava no deserto: “Eu sou a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’” (Jo 1,23).
O batista não pretendia atrair as atenções para si, numa atitude soberba de quem deseja aplausos. Pelo contrário, fugia da ostentação e, indagado sobre sua atuação, mostrava não a sua obra, mas apontava para aquele que era a luz, por ele testemunhada (Jo 1,7-8). Por não desejar ser o centro das atenções, mas para indicar o Messias (ungido), dizia não ser digno de estar aos pés daquele a quem viera anunciar: “Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias” (Jo 1,27). E podia recriminar seus ouvintes: “no meio de vós está aquele que vós não conheceis” (Jo 1,26).
Talvez essa postura do Batista possa ser, também, um critério para examinarmos nossas atitudes e a daqueles pregadores que buscam os holofotes...
Conhecedor da força do Espírito do Senhor, o Batista podia dar testemunho da luz; apontando aquele que daria o Espírito santificador, podia exigir que se aplainassem os seus caminhos; em nome da luz benfazeja, sabia ser uma voz a clamando a presença do Ungido/Messias e, este sim, Senhor de todo poder, envia a todos, anunciando o tempo da redenção…
E Ele está para chegar! E quando chegar quem sabe nos dará o dom de receber os dons do Espírito do Senhor.
Quarto domingo do Advento:
FAÇA-SE EM MIM
O que deixa um pai ou uma mãe orgulhosos?
Saber que seu filho é uma pessoa destacada, bem vista, respeitada na sociedade… Saber e poder divulgar o sucesso de seu filho: Isso deixa os pais orgulhosos; e os pais gostam de fazer isso!
Mas Maria não caiu nessa. É diferente sua postura, segundo nos mostra Lucas (Lc. 1,26-38).
A jovem, “Maria de Nazaré” não entrou na onda do anjo que “rasgava” elogios ao seu filho que ainda nem era nascido e que, aliás, ainda não havia sido concebido. O anjo veio lhe pedir autorização para que a “sombra” ou “o poder do Altíssimo” (Lc 1,35) a cobrisse, para que o filho fosse concebido.
Da resposta de Maria dependeu o futuro da humanidade, pois da mesma forma que ela respondeu sim: “faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1, 38), poderia ter dito não. Poderia ter recusado a proposta… e, certamente, Deus, em sua bondade, não a recriminaria. Ele conhece o ser humano. Sabe de quê é capaz, para o mal e para o bem!
Independentemente de sermos católicos ou de qualquer outra denominação cristã, não podemos negar que, apesar de sua pouca idade, Maria demonstrou profunda maturidade: “Faça-se em mim!”
Essa menina de Nazaré (Lc 1,26) teve uma postura exatamente oposta à de Davi (2 Sm 7,1-5.8b-12.14a.16). Ela, profundamente devota ao seu Deus, deu-se o direito de questionar o anjo: “Como se fará isso?” (Lc 1,34). Certamente ela argumentou, dizendo ao anjo: “Você me aparece, falando belas coisas a respeito de meu filho”; dizendo que ele “será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de nosso pai Davi” (Lc 1,32). E ela conclui seu argumento demonstrando a completa inveracidade da mensagem do anjo: “Como você pode dizer uma coisa dessas se eu nem estou grávida ainda? Aliás, ainda não se consumou meu casamento!”
Exatamente o oposto do que havia feito Davi. Numa atitude soberba o rei estava se comparando a Deus: “Vê: eu resido num palácio de cedro, e a arca de Deus está alojada numa tenda!” (2Sm 7,2). Nessa postura ostentatória engambela até o profeta que lhe dá razão: “Vai e faze tudo o que diz o teu coração, pois o Senhor está contigo”. (2 Sm 7,3).
O fato é que Deus não está na ostentação. Ele vive no meio do povo simples, humilde, empobrecido! Por isso se opôs aos planos do rei!
Não sendo um Deus de ostentação leva o profeta reformular sua postura e voltar com uma reprimenda ao rei: “Porventura és tu que me construirás uma casa para eu habitar?” (2 Sm 7,5). E o Senhor deve ter dito mais. Deve ter falado ao rei: “ponha-se em seu lugar, garoto! Afinal de contas, quem é você?” E leva o rei a uma revisão de sua história: “Fui eu que te tirei do pastoreio, do meio das ovelhas, para que fosses o chefe do meu povo, Israel.” (2Sm 7,8). E o Senhor conclui a conversa dizendo que Ele, Deus, é quem edifica e não o rei. E, no tempo oportuno, de acordo com a vontade de Deus, nascerá um filho do rei. E Deus afirma que nesse filho “Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre” (2 Sm 7,16).
Essa promessa divina se concretiza e se torna definitiva em Jesus Cristo que “reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim” (Lc 1,33).
A postura do rei não está adequada ao plano do Senhor. A observação de Davi expressa a vontade humana, não a sintonia com o plano divino.
Essa é a diferença entre a postura de Davi e de Maria: ele quer ostentar poder edificando a casa do Senhor. Por seu lado, questionando o anjo, Maria se coloca nas mãos de Deus: “faça-se em mim de acordo com suas palavras!”
Podemos dizer que esse é o espírito do Avento. Uma proposta de mudança de atitude.
Durante quatro semanas fomos convidados a rever nossas vidas, nossas posturas, nossos projetos… tudo que se adequar ao plano divino de simplicidade, de doação ao outro, de reformulação e reconstrução do mundo e da sociedade… tudo isso está em sintonia com o plano de Deus e adequado ao advento: em sintonia com o sim de Maria e da preparação para a vinda do Senhor. Mas, na medida em que as pessoas se colocam como centro de ostentação, como o fez Davi, estão retardando a implantação do Reino. Por outro lado, aqueles que se dedicam a preparar e ajudar a instalar o Reino, podem dizer, como Paulo (Rm 16,25-27): “Glória seja dada àquele que tem o poder de vos confirmar” (Rm 16,25) na fé, na esperança e no engajamento em favor do outro. Como nos mostrou a Mãe do Senhor.
Então, como o advento é uma proposta de reflexão, de reformulação, de redefinição, de recondução da vida…. Vamos aproveitar este tempo para reformularmos nossas vidas. Agindo assim nós nos afastaremos da postura de Davi e nos aproximarmos da doação mariana. E nós também saberemos dizer: Faça-se em mim de acordo com suas palavra.
Reflexões baseadas em: 2 Sm 7,1-5.8b-12.14a.16; Romanos 16,25-27; Lucas 1,26-38
O que deixa um pai ou uma mãe orgulhosos?
Saber que seu filho é uma pessoa destacada, bem vista, respeitada na sociedade… Saber e poder divulgar o sucesso de seu filho: Isso deixa os pais orgulhosos; e os pais gostam de fazer isso!
Mas Maria não caiu nessa. É diferente sua postura, segundo nos mostra Lucas (Lc. 1,26-38).
A jovem, “Maria de Nazaré” não entrou na onda do anjo que “rasgava” elogios ao seu filho que ainda nem era nascido e que, aliás, ainda não havia sido concebido. O anjo veio lhe pedir autorização para que a “sombra” ou “o poder do Altíssimo” (Lc 1,35) a cobrisse, para que o filho fosse concebido.
Da resposta de Maria dependeu o futuro da humanidade, pois da mesma forma que ela respondeu sim: “faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1, 38), poderia ter dito não. Poderia ter recusado a proposta… e, certamente, Deus, em sua bondade, não a recriminaria. Ele conhece o ser humano. Sabe de quê é capaz, para o mal e para o bem!
Independentemente de sermos católicos ou de qualquer outra denominação cristã, não podemos negar que, apesar de sua pouca idade, Maria demonstrou profunda maturidade: “Faça-se em mim!”
Essa menina de Nazaré (Lc 1,26) teve uma postura exatamente oposta à de Davi (2 Sm 7,1-5.8b-12.14a.16). Ela, profundamente devota ao seu Deus, deu-se o direito de questionar o anjo: “Como se fará isso?” (Lc 1,34). Certamente ela argumentou, dizendo ao anjo: “Você me aparece, falando belas coisas a respeito de meu filho”; dizendo que ele “será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de nosso pai Davi” (Lc 1,32). E ela conclui seu argumento demonstrando a completa inveracidade da mensagem do anjo: “Como você pode dizer uma coisa dessas se eu nem estou grávida ainda? Aliás, ainda não se consumou meu casamento!”
Exatamente o oposto do que havia feito Davi. Numa atitude soberba o rei estava se comparando a Deus: “Vê: eu resido num palácio de cedro, e a arca de Deus está alojada numa tenda!” (2Sm 7,2). Nessa postura ostentatória engambela até o profeta que lhe dá razão: “Vai e faze tudo o que diz o teu coração, pois o Senhor está contigo”. (2 Sm 7,3).
O fato é que Deus não está na ostentação. Ele vive no meio do povo simples, humilde, empobrecido! Por isso se opôs aos planos do rei!
Não sendo um Deus de ostentação leva o profeta reformular sua postura e voltar com uma reprimenda ao rei: “Porventura és tu que me construirás uma casa para eu habitar?” (2 Sm 7,5). E o Senhor deve ter dito mais. Deve ter falado ao rei: “ponha-se em seu lugar, garoto! Afinal de contas, quem é você?” E leva o rei a uma revisão de sua história: “Fui eu que te tirei do pastoreio, do meio das ovelhas, para que fosses o chefe do meu povo, Israel.” (2Sm 7,8). E o Senhor conclui a conversa dizendo que Ele, Deus, é quem edifica e não o rei. E, no tempo oportuno, de acordo com a vontade de Deus, nascerá um filho do rei. E Deus afirma que nesse filho “Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre” (2 Sm 7,16).
Essa promessa divina se concretiza e se torna definitiva em Jesus Cristo que “reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim” (Lc 1,33).
A postura do rei não está adequada ao plano do Senhor. A observação de Davi expressa a vontade humana, não a sintonia com o plano divino.
Essa é a diferença entre a postura de Davi e de Maria: ele quer ostentar poder edificando a casa do Senhor. Por seu lado, questionando o anjo, Maria se coloca nas mãos de Deus: “faça-se em mim de acordo com suas palavras!”
Podemos dizer que esse é o espírito do Avento. Uma proposta de mudança de atitude.
Durante quatro semanas fomos convidados a rever nossas vidas, nossas posturas, nossos projetos… tudo que se adequar ao plano divino de simplicidade, de doação ao outro, de reformulação e reconstrução do mundo e da sociedade… tudo isso está em sintonia com o plano de Deus e adequado ao advento: em sintonia com o sim de Maria e da preparação para a vinda do Senhor. Mas, na medida em que as pessoas se colocam como centro de ostentação, como o fez Davi, estão retardando a implantação do Reino. Por outro lado, aqueles que se dedicam a preparar e ajudar a instalar o Reino, podem dizer, como Paulo (Rm 16,25-27): “Glória seja dada àquele que tem o poder de vos confirmar” (Rm 16,25) na fé, na esperança e no engajamento em favor do outro. Como nos mostrou a Mãe do Senhor.
Então, como o advento é uma proposta de reflexão, de reformulação, de redefinição, de recondução da vida…. Vamos aproveitar este tempo para reformularmos nossas vidas. Agindo assim nós nos afastaremos da postura de Davi e nos aproximarmos da doação mariana. E nós também saberemos dizer: Faça-se em mim de acordo com suas palavra.
Neri de Paula Carneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;