quarta-feira, 4 de outubro de 2023

O Reino de Deus vos será tirado

(Isaías 5,1-7; Filipenses 4,6-9; Mateus 21,33-43)





Que espera o agricultor, quando lança a semente ao chão? Que espera o operário, ao fim de um período de trabalho? Que esperam os pais, depois dos filhos crescidos? Que espera o professor, ao longo da jornada de ensino? Que espera alguém que faz planos e projetos para sua vida e seu viver…? O que esperar…?

As condições para um bom relacionamento entre as pessoas; para a felicidade da família; para o pleno desenvolvimento das pessoas; para um mundo justo; para a plenitude humana; para a harmonia entre os diferentes… Para haver sucesso nessas e noutras situações, as condições nos são dadas. São dons divinos em nós e para nós. E o quê fazemos com tudo que nos é entregue, gratuitamente, pelo Senhor da vida?

Essas situações e indagações nos são apresentadas quando Isaías (5,1-7) fala sobre o vinhedo que só “produziu uvas selvagens”, mesmo depois da terra ter sido preparada para “que produzisse uvas boas” (Is 5,2).

As condições para a implantação do bem, são dadas como graça divina em plenitude. Tanto que o Senhor se pergunta: “que mais poderia eu ter feito?” (Is 5,4). Uma pergunta que, na verdade, é uma afirmação: “já fiz tudo”. Ou seja, a plenitude da graça é dada, mas as pessoas preferem recusar o dom recebido. Em Isaías, o vinhedo é o povo de Israel que está, cada vez mais, afastado dos caminhos do Senhor. Por isso o anúncio da devastação (Is 5,5-6).

Os dirigentes do povo causaram a ruína do povo. “Eu esperava deles frutos de justiça - e eis injustiça; esperava obras de bondade - e eis iniquidade.” (Is 5,7). Mas o povo também erra, pois segue dirigentes inescrupulosos. Por esse motivo todos sofreram as consequências. Lá se concretizou como a ruína da nação, invadida por uma potência estrangeira. E a consequência definitiva foi o “cativeiro na Babilônia”. Em nossa atualidade a consequência depende de como respondemos a estas indagações: como estão agido nossos dirigentes? Nós, os seguimos no mar de corrupção ou lutamos por um país melhor? E se lutamos por algo melhor por que eles continuam lá? É necessário darmos uma resposta, sob pena de sermos igualados às videiras que só produziram uvas imprestáveis.

Na narrativa de Mateus (21,33-43), da mesma forma que Isaías, Jesus fala aos “sumos sacerdotes e os anciãos do povo”: os dirigentes do povo (Mt 21,41). Mas Jesus vai além do profeta. Ele mostra que o problema não está no parreiral, que é o povo; nem do proprietário do plantação, que é o Senhor. O problema está nos vinhateiros, que são os dirigentes. Esses mataram os enviados (os profetas) do dono da vinha (Mt 21,35-36) e também mataram o filho do proprietário. Tudo com o propósito de roubar a herança (Mt 21,38). Todas as ações dos dirigentes do povo foram desonestas. E sua desonestidade causou dificuldades para o povo que acabou sendo iludido pelos seus dirigentes.

Que fazer com esses administradores desonestos?

Na proposta de Isaías, perderam a nacionalidade e foram exilados. Porém, depois de quatro décadas de exílio o Deus clemente e pleno de graça e perdão, concede o retorno, com objetivo de reestruturar a fé, desenvolvendo a esperança na vinda do Messias.

Ocorreu que os novos dirigentes, que deveriam reconhecer o Messias não o fizeram e, perderam, não só o território, mas a primazia de ser luz do mundo. Em resposta à perversidade dos dirigentes, Mateus anuncia a sentença: “O Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos.” (Mt 21,43). E assim nasce uma nova fé: a crença daqueles que seguem Jesus, os cristãos encarregados de construir um mundo de justiça.

Querendo evitar que este novo povo se desvirtue, Paulo (Fl 4,6-9) faz recomendação e dá as diretrizes. O objetivo é que essa comunidade possa crescer, não só na caridade mas, principalmente, na justiça, pois é assim que se manifesta e se demonstra a fé. E o apóstolo, constatando que na comunidade de Filipos existem alguns problemas, faz a recomendação: “Quanto ao mais, irmãos, ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor.” (Fl 4,8).

Paulo sabia que até isso poderia não ser entendido ou seguido, por isso diz algo como: “Em vez de fazer as besteiras costumeiras, façam aquilo que ensinei.” Nas palavras do apóstolo: “Praticai o que aprendestes e recebestes de mim, ou que de mim vistes e ouvistes. Assim o Deus da paz estará convosco.” (Fl 4,9).

Noutras palavras, e agora acolhendo para a nossa vida, nossa comunidade, nossa sociedade: a proposta do dono da vinha é que se faça uma boa produção que consiste na pratica do amor, da justiça, da caridade… e se nós também, não oferecermos a Deus esses frutos, a consequência já está estabelecida: “o Reino de Deus vos será tirado”. Então, o que esperar dos cristãos?





Neri de Paula Carneiro


Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador


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