domingo, outubro 08, 2023

Nossa Senhora Aparecida

Além do dia das crianças, no dia 12 de outubro os católicos também comemoram o dia de Nossa Senhora Aparecida.

Quando se fala isso, não são poucas as pessoas que argumentam: “Não entendo: Tem Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora de Guadalupe… e Nossa Senhora Aparecida, além de outras. Afinal de contas, quantas Nossas Senhoras existem?”

A resposta é esta: só existe uma. É sempre a mesma Maria de Nazaré, mãe de Jesus. Essa é a Nossa Senhora. É Nossa Senhora por ser mãe de Nosso Senhor, como canta o Padre Zezinho:

“O povo te chama de Nossa Senhora por causa de Nosso Senhor.
O povo te chama de Mãe e Rainha porquê Jesus Cristo é o Rei do céu.
E por não te ver como desejaria, te vê com os olhos da fé, por isso ele coroa a tua imagem Maria: Por seres a mãe de Jesus, Por seres a mãe de Jesus de Nazaré.
Como é bonita uma religião que se lembra da mãe de Jesus.
Mais bonito é saber quem tu és: não és deusa, não és mais que Deus, mas depois de Jesus, o Senhor, neste mundo ninguém foi maior”

Como podemos ver, a canção nos explica o porquê da devoção a Nossa Senhora: por ser a mãe do Nosso Senhor; é rainha porque Jesus é o Rei dos céus; não é deusa, nem maior do que Deus. A devoção mariana existe porque neste mundo ninguém a superou: só ela teve a graça de carregar Deus em seu ventre, motivo que nos leva a repetir com Isabel: “bendito é o fruto do teu ventre”. Nós a veneramos por nos ter dado Jesus como “presente de Natal”!

Mas, antes de entendermos as “tantas nossas senhoras”, vamos entender porque fazemos preces a Maria, mãe de Jesus. É a mesma canção do pe. Zezinho que explica:

“Aquele que lê a palavra Divina por causa de Nosso Senhor
Já sabe que o livro de Deus nos ensina que só Jesus Cristo é o intercessor
Porém se podemos orar pelos outros, a Mãe de Jesus pode mais
Por isto te pedimos em prece oh! Maria, que leves o povo a Jesus
Porque de levar a Jesus entendes mais”

Só Jesus leva ao Pai, mas a mãe leva ao Filho e seu filho é Jesus. Ela o levou, ou seja, carregou Jesus em seu ventre, por isso pode nos levar, ou seja, conduzir a Jesus. E só Ele nos leva ao Pai. Aliás esse é sentido do texto do Evangelho (Jo 2, 1-11) que a Igreja nos convida a refletir no dia de Nossa Senhora: Maria viu que havia um problema: o vinho estava acabando. Não teve dúvidas, foi até Jesus como a mãe que vai ao filho: “Eles não têm mais vinho” (Jo 2,3).

Podemos até pensar que Jesus foi grosseiro com sua mãe. Mas Ele somente argumentou, nestes termos: “O que você está me pedindo, mãe? Minha hora ainda não chegou. Mas pode deixar que dou um jeito” (Jo 2,4). E ela, conhecendo o filho que educara, com a certeza de que o filho atende à mãe, dirigiu-se aos garçons: “Confiem no meu filho. Ele vai tirar vocês do apuro. Vai salvar a festa e o casamento. Façam o que ele disser” (Jo 2,5). E repete, diariamente, para nós: “faça o que ele ensinou!” e, seguramente acrescenta: “Não faça por mim, faça por Ele. Ele é o Senhor!”

A postura de Maria, na festa de Caná, foi semelhante à atitude da rainha Ester (5,1b-2; 7,2b-3): ambas são intercessoras em favor do povo. Maria intercede em favor da felicidade do casal, pois a família é importante. Tão importante que começa numa festa. E Maria intercede para que a festa continue e a família possa iniciar sem contratempos. Da mesma forma Ester, intercede pela vida de seu povo: "Se ganhei as tuas boas graças, ó rei, e se for de teu agrado, concede-me a vida - eis o meu pedido! - e a vida do meu povo - eis o meu desejo!” (Es 7,3).

E assim chegamos aos títulos de Nossa Senhora. A mesma e única Maria de Nazaré, cultuada, venerada, admirada, amada de várias formas. Por ensinar a rezar: Nossa Senhora do Rosário; Por ser luz no caminho das pessoas: Nossa Senhora das Candeias. Por ter se manifestado nas localidades de Fátima, Lourdes: Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora de Lourdes. Por ser protetora e defensora dos índios: Nossa Senhora de Guadalupe, manifestando-se em Guadalupe, no México. E Nossa Senhora Aparecida, a imagem encontrada no rio pelos pescadores apareceu preta, a cor da pele dos escravizados. Por isso o povo a reconheceu como protetora da nação brasileira. Não que não olhe por todos, mas ela escolheu se manifestar entre os pobres, pescadores, escravizados… vítimas dos exploradores que vivem nos palácios e nas casas grandes. Essa é a Nossa Senhora Aparecida: apareceu em favor dos que dela precisavam. E continua a ser amada pelos brasileiros porque nosso povo ainda precisa da intercessão da “advogada nossa”.

Nos dias que estamos vivendo, com tanto sofrimento no meio do povo, podemos nos apegar com Maria, a Nossa Senhora e, talvez, devamos confiar mais nela. Talvez devamos nos dirigir a Maria, não como quem vai ao mercado, mas como o filho que confia na mãe. Talvez devamos confiar na mãe de Jesus como confiaram os garçons de Caná e os pescadores do rio Paraíba do Sul.

E vamos pensar juntos: se podemos manter uma boa relação com Maria, seguramente teremos boa amizade com seu Filho; uma relação de amizade, a partir da qual podemos até dizer que somos da família do Pai, do Filho e do Santo Espírito, pois a mão já nos adotou.

E se ainda temos alguma dúvida, vamos, novamente, cantar com os versos do pe. Zezinho:

“Quero lembrar os fatos que aconteceram naquele dia
Quando por entre as redes, aquela imagem aparecia
Vendo surgir das águas a tosca imagem de negra cor
Agradeceram todos à mãe de Cristo por tanto amor!

Quero entender o culto que começou, desde aquele dia
Muitos não compreendem, dizendo ser uma idolatria
Mas neste simbolismo daquela imagem, de negra cor
Chega-se com Maria ao santuário do salvador!

Torno a lembrar os fatos que agora tocam a tanta gente
Esta senhora humilde, de cor morena, se fez presente
Numa nação, aonde imperava a mancha da escravidão
Nossa Senhora escura nos diz que o Cristo nos quer irmãos”

O centro de nossa fé é o Deus Trindade. Sem não existe cristianismo. Mas uma das pessoas da Trindade Santa veio nos visitar. E fez questão de nascer, feito homem, de uma mulher: e Maria era seu nome. Então, em honra ao Filho podemos agradecer à mãe e, como ela fez, que tal olhar para Deus de mãos dadas com o povo que gosta da mãe de Deus?




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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