quinta-feira, novembro 09, 2023

O noivo está chegando

Reflexões baseadas em: Sb 6,12-16; 1 Ts 4,13-18; Mt 25,1-13)




No meio da noite, um grito: “O Noivo está chegando!”

Não se preocupe, este não é um conto de suspense: é Mateus (Mt 25,1-13) narrando uma das parábolas de Jesus. Portanto não é um grito de medo, suspense ou terror, mas um alerta e convite para iniciar a recepção daquele que, na cultura judaica, é o centro da cerimônia. Junto com esse grito de alerta está o convite para atender ao apelo da Sabedoria (Sb 6,12-16).

A pergunta que agora se faz é: qual o significado dessa parábola, narrada por Mateus?

No livro da Sabedoria está a primeira dica: mostra algumas características da Sabedoria que, em várias passagens da Bíblia, pode ser identificada com o Espírito Santo. A primeira característica é a afirmação de que a “Sabedoria é luminosa” (Sb 6,12). Essa luz permite que ela seja contemplada e encontrada pelos que a procuram. Ela mostra-se àqueles que a desejam (Sb 6,13). Mas atenção ao detalhe: Ela não só se mostra como também “sai à procura dos que dela são dignos” (Sb 6,16).

Isso implica dizer que a Sabedoria, dom do Espírito, é compartilhada por Deus com quem a procura, mas essa busca implica na dignidade, ou seja, no merecimento.

Isso implica dizer, também, que muitos a buscam, mas são indignos dela. Esses podem até praticar atos inteligentes, ter posturas que aparentam sabedoria, mas não passam de atos interesseiros. Não se trata de sabedoria, mas de esperteza. Aqueles golpes maravilhosos efetuados pelos malandros; aquelas artimanhas e emaranhados de falcatruas dos políticos… aparentam sabedoria, mas demonstram apenas a esperteza, a capacidade de enganar. A esperteza não é uma face da sabedoria e sim uma demonstração da capacidade para enganar os outros. Isso não é divino, pelo contrário: é diabólico. É o diabo quem instrui os enganadores, malandros, mentirosos...

Cada um dos políticos que enganam o povo com belos discursos ou cada golpe dos espertalhões de plantão, não evidenciam uma expressão da sabedoria, mas uma demonstração de sua face diabólica. A esperteza é diabólica, porque não pensa no crescimento coletivo. E, por ser individualista, busca apenas a vantagem pessoal; a sabedoria é divina, porque se preocupa não com o indivíduo mas com a coletividade. A sabedoria busca a satisfação e felicidade de todos.

A sabedoria está representada pelas cinco acompanhantes do cortejo nupcial, que levaram não só as lamparinas acesas, mas também o óleo para reabastecê-las ao longo da festa (Mt 25,4). A esperteza são as cinco acompanhantes que somente levaram as tochas acesas, sem o combustível para abastecimento (Mt 25,2). A esperteza malandra aparece em sua tentativa de se dar bem e tirar proveito da sabedoria das outras, tentando ludibriá-las: “Dá, nos um pouco do seu óleo” (Mt 25,8).

Mas a sabedoria, orienta e corrige a malandragem: “Não podemos fazer isso porque, se o fizermos ficaremos todas desabastecidas e a festa perderá o brilho.” A sabedoria mostra o caminho da honestidade e sensatez: “Da mesma forma que nós fomos ao mercado e compramos, vão vocês também. Comprem o que lhes falta e todos teremos o suficiente” (Mt 25,9).

Só a sabedoria pode se contrapor aos espertalhões. Só a sabedoria pode construir a justiça e a equidade. Só a sabedoria pode desbancar os espertalhões e aproveitadores.

Aqui está um significado da parábola: Jesus mostra que as acompanhantes descuidadas, aproveitadores, não se deram bem; ao terem seu golpe desmascarado, foram obrigadas a buscar, por conta própria, a solução de sua deficiência: “vão vocês mesmas comprar o que lhes falta”. E, por estarem despreparadas; por terem tentado se aproveitar das outras; por terem deixado pra depois; por terem ido às compras fora de hora; por não estarem comprometidas com a festa… as cinco não entraram na festa de Jesus (Mt 25,12). Colheram o resultado de sua ação.

Nessa perspectiva, também podemos entender a carta de Paulo aos tessalonicenses (1 Ts 4,13-18). Nem na vida nem na morte o cristão pode se esquivar à fazer justiça. Nem na vida nem na morte há privilégios ou privilegiados. O que há é postura comprometida com a equidade e com a ordem estabelecida pelo Senhor.

E, de Jesus, ouvimos o conselho: “Vigiai, pois não sabeis o dia, nem a hora” (Mt 25,13). São necessárias a vigilância e a sabedoria. É a sabedoria que determina o grau de vigilância e o comprometimento com a chegada do Noivo, convidando a todos para a festa no céu, para a qual Jesu nos convida.

O Noivo concede a liberdade para que as pessoas não se preparem, para a festa. E, nesse caso, até tolera e aceita que se tente sanar a deficiência. Mas para isso tem que haver honestidade e não tentativa de se aproveitar do outro.

Todos são convidados para a festa. Só não temos a informação sobre o momento em que ela vai começar. Por isso, é necessária a sabedoria, sem apelar para a postura aproveitadora; por isso é necessário ver o que temos para contribuir e não só quer tirar vantagem.

É a sabedoria que vem de Deus, que é dom do Espírito… e que nos permite, quando soar o grito, acompanhar o Noivo, que é o próprio Jesus em seu regresso.

O grito vai soar, resta saber como estamos cuidando de nossas lâmpadas. Com sabedoria ou com esperteza? Quando menos esperarmos ouviremos o grito: “O noivo está chegando!”




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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