quinta-feira, outubro 19, 2023

A Deus o que é de Deus

(Isaías 45,1.4-6; 1Tessalonicenses 1,1-5b; Mateus 22,15-21)



Quais os planos de Deus? Quem é escolhido por Deus? O que deve ser ofertado a Deus?

A primeira indagação tem a ver com o profeta Isaías (Is 45,1.4-6). Nestes poucos versículos o profeta mostra como Ciro, rei persa, um estrangeiro, é visto e apresentado como emissário de Deus.

O contexto é o final do período exílico. Ciro acabara de vencer os babilônios e o profeta vê nisso um indício de que o fim do cativeiro está próximo, pois o jovem rei está vencendo seus inimigos. E, do ponto de vista político, trata-se de uma leitura simples: derrotando os adversários, Ciro pode a ser visto como aliado do povo hebreu. Portanto os dados históricos e políticos são fáceis de entender.

Entretanto a questão é anterior. É saber qual o propósito de Deus em permitir que seu povo tivesse sido dominado e exilado. A resposta histórica: porque o império babilônico estava em expansão e os descendentes de Abraão estavam em decadência moral e política. Mas do ponto de vista religioso, entende-se que o cativeiro ocorreu porque os dirigentes do povo se corromperam, aderiram a outros deuses e aceitaram os valores das nações dominantes. Ou seja, a corrupção da classe dirigente respingou malefícios sobre o povo.

Como o Senhor não abandona os seus, Isaías vê em Ciro o enviado de Deus, para purificar o povo, depois de “dobrar o orgulho dos reis” (Is 45,1). O rei persa é escolhido pelo nome, “por causa de meu servo Jacó, e de meu eleito Israel” (Is 45,4), diz o Senhor que sempre se apresentou como único Deus (Is 45,5-6).

Qual o plano de Deus? Apresentar-se: “Eu sou o Senhor, não há outro”(Is 45,6).

Paulo (1 Ts 1,1-5) acrescenta novo ingrediente: mostra que esse único Deus é, também, trino. E por ser trino é uma comunidade e mobiliza a comunidade dos crentes para a união e a oração. E Paulo constata isso em Tessalônica. A comunidade está, “reunida em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 1,1) e se mantém produzindo frutos os frutos da fé que é “o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança” (1Ts 1, 3), mediante a “força que é o Espírito Santo” (1Ts 1,5). É a ação da trindade que mantém a comunidade.

Paulo mostra, dessa forma, que além do estrangeiro Ciro ser escolhido pelo Senhor, o próprio Senhor se manifesta aos estrangeiros, pois a comunidade cristã de Tessalônica é uma comunidade de uma cidade grega. Ou seja, a Igreja que nasceu do sangue do cordeiro, tem vocação para ir além das fronteiras. É uma igreja missionária. Não é de Israel, é do mundo!

Sendo uma comunidade missionária, o que a Igreja pode entregar a Deus?

Evidentemente não é a atitude vil dos representantes do povo, como mostra Mateus (Mt 22,15-21). Aqueles que se fazem dirigentes do povo traçam planos para enganar e angariar proveito próprio. O exemplo está aqui: adversário como fariseus e herodianos (Mt 22,15-16) são capazes de se unir para praticar maldades. Ocorria lé e continua aqui: partidos adversários que se unem para enganar o povo alcançar o poder… e usufruir dos benefícios do poder.

Esse exemplo nefasto se perpetuou e muitos daqueles que, atualmente, são ou pretendem ser representantes do povo manobram para enganar à população. Da mesma forma que tentaram enganar a Jesus. Aqueles foram desmascarados pelo Mestre. Cabe a nós, nos dias atuais, não nos deixarmos levar na onda dos espertalhões. Desmascarar aqueles que nada plantam junto ao povo, mas em jogadas eleitoreiras querem colher votos dos desavisados.

É claro que o imposto devido, se justo e retornável em forma de benefícios sociais, devem ser pagos. Por isso, Jesus admite que se deve dar “a César o que é de César”. Isso porque o cristão não está aqui para desestabilizar o sistema. Mas, por outro lado, o cristão é aquele que dá “a Deus o que é de Deus.” (Mt 22,21).

Em que consiste isso?

Trata-se de manter uma atitude, ao mesmo tempo orante e atuante na sociedade. Deus não perde nem lhe é acrescentado nada, quando as pessoas APENAS se prostram em recitações mecânicas, em orações estardalhosas ou nos retiros desconectadas da caridade. Ao Senhor importa a atitude e a postura diante e ao longo da vida, como Paulo elogiou entre os Tessalonicenses: oração e caridade (1Ts 1, 3).

Isaías diz que Ciro, o persa, deu a liberdade ao cativos. Paulo assegura que os tessalonicenses deram, “a atuação da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança” (1Ts, 1,3). A postura de Ciro e a dos tessalonicenses foi semelhante: fizeram algo pelo outro. A a libertação, a fé, a caridade e a esperança tinham o objetivo de ajudar.

O que se deve ofertar a Deus, muito mais que orações vazias de ação, são as ações em forma de oração. Isso é o que faz, o que ensina e o que move o cristão: a fé que se manifesta em oração; a oração que se traduz em caridade e a caridade regando sementes de esperança...




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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