sábado, novembro 27, 2021

Advento: Virão dias

(Reflexões baseadas em:Jr 33,14-16; 1Ts 3,12-4,2; Lc 21,25-28.34-36)






É o Senhor Deus quem manda o recado: chegará o dia em que as promessas se cumprirão!

Você duvida?

Você não acredita?

Pois leia o que Ele disse, pelas palavras de Jeremias (Jr 33,14-16). A afirmação é clara e categórica: “Eis que virão dias, diz o Senhor, em que farei cumprir a promessa de bens futuros” (Jr 33,14).

Certo, alguns poderão dizer: “Ora, mas a bíblia foi escrita por gente como a gente!” Ou então: “Mas não foi Deus quem pegou papel e tinta para escrever…” e assim por diante!

De fato, mas com um detalhe a mais: não foi Deus quem manuseou os instrumentos, mas ensinou a fazer. Foi gente como a gente que escreveu, mas o fez agindo sob a inspiração divina. A diferença entre eles e os que atualmente falam inspiradas por Deus é que aqueles disseram o que está na Bíblia e, por isso falaram a nós, através dos milênios de história.

Por sua vez, os profetas atuais nos transmitem a mensagem divina diretamente: a viva vós, pelas mídias sociais, pelo rádio ou pela TV; nas nossas celebrações, nos cursos de formação, nos encontros de catequese… o tempo e os meios são diferentes, mas é o mesmo Deus que está falando… em defesa da vida!

… e Ele continua dizendo, como falou pelas palavras de Jesus (Lc 21,25-36): “Ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem” (Lc 21,36).

Entendeu?

A promessa está mantida!

Não estão excluídos os sofrimentos e as dores e as tristezas e o medo e as incertezas e as angústias … E todos os contratempos! Mas, a promessa se cumprirá!

Talvez, alguém pode perguntar: essa promessa é para todos!

Sim, com certeza. A promessa ou a proposta divina é aberta a todos. Ninguém está, de antemão, excluído dela. Evidentemente, também é verdade, ninguém, de antemão, está plenamente incluído. A promessa de Deus é plena e para todos. Mas a resposta é pessoal. Deve ser vivida em comunidade, na relação afetuosa, na defesa da vida, na defesa dos fracos, oprimidos, marginalizados… No serviço fraterno. Na solidariedade desinteressada. No amor incondicional. No altruísmo autêntico…. Enfim, tudo isso e cada uma de nossas obras, contarão no momento do encontro.

É como ensina o apóstolo Paulo: os dons são presentes de Deus: “O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais, a exemplo do amor que temos por vós.” (1 Ts 3,12). O amor, a graça são dons de Deus, entretanto, o merecimento é nosso!

Pode-se entender, também, um outro lado da mesma afirmação: a promessa e a proposta são eternas e para todos, mas nós a aceitamos ou rejeitamos em nosso tempo histórico.

O fato é que, como sabemos, nem todos vivem a experiência de amar aos outros; nem todos fazem de sua vida um serviço a quem precisa… Existem aqueles que são os causadores dos males e sofrimentos e dores que afligem muita gente. Existem aqueles que, em lugar de luz, promovem as trevas para o povo...

Para esses, também é valido o anúncio dos dias de angústia e medo. “Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do barulho do mar e das ondas. Os homens vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo” (Lc 21,25-26).

Para esse grupo de pessoas, que são os promotores das dores do povo, também se cumprirão as promessas. Mas esses, ao se olharem no espelho de suas vidas, não terão coragem de se aproximar do Senhor da Vida. Ver-se-ão no seu espelho de vida saberão as consequências do que fizeram, ao longo de suas vidas. Verão que foram promotores de dor e morte.

E, como fizeram de sua vida uma constante irradiação de trevas e morte, não terão olhos para ver a luz e a vida que vem do Senhor. Sua vida de maldade não lhes terá fortalecido a vida para ficarem “em pé diante do Filho do Homem!”

E então, nesse dia da promessa, os promotores das trevas e de morte, tremerão!

Por sua vez, os filhos da luz; os que promoveram a paz, o entendimento, a amizade, a justiça, o amor…. Ou aqueles que são as vítimas das tribulações produzidas não pelos demônios apocalípticos, mas por pessoas no transcurso cotidiano… esses receberão os frutos da promessa, junto com o Senhor da vida.

Mas para todos, valem os alertas das palavras paulinas: “Enfim, meus irmãos, eis o que vos pedimos e exortamos no Senhor Jesus: Aprendestes de nós como deveis viver para agradar a Deus” (1 Ts 4,1).

Que nos resta, então?

Viver intensamente nossa fé, pois virá o dia em que nossas obras serão nossa chave para a vida!




Neri de Paula Carneiro.


Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador


Outros escritos do autor:


Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;


Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

domingo, novembro 21, 2021

ENEM

“O ENEM chegou…

e nem sei se estou preparado”

- Nem me diga isso: Você estudou!

- Nem sempre, sei, foram aulas brilhantes!

- E nem por isso deixamos de crer em ti!

“Nem sempre prestei atenção às aulas”

“E nem sempre meu esforço foi isso e nem aquilo!”

- E nem por isso deixamos de apostar em ti!


O ENEM chegou...

Nem que tenha vindo desfigurado!

Nem que tenha vindo vazado!

Nem que tenha vindo adulterado!

Nem que tenha vindo viciado!

Nem que tenha vindo vitimizado!

E nem que tenha sido estuprado…

O ENEM chegou!


O ENEM chegou, mas nem sempre foi assim!

E nem todos chegaram a ele ou por ele!

E nem todos chegarão a ele…

E nem todos chegarão por ele…

E nem todos passarão por ele…

E nem todos vencerão com ele

E nem todos triunfarão, graças a ele.

E nem todos creram nele!

E nem todos crerão nele!

E nem todos apostaram nele, antes desfiguraram-no!


Mas o ENEM chegou

E nem chegue atrasado

E nem fique “estressado”

E nem o faça apressado


E nem fique ai parado…

E nem pare no passado!

E nem que esteja desacreditado,

O ENEM é uma porta para o outro lado!!!


Neri de Paula Carneiro

professor

sábado, novembro 20, 2021

Cristo Rei: O rei do reino eterno.

(Reflexões baseadas em: Daniel 7,13-14; Apocalipse 1,5-8; João 18,33b-37

A literatura apocalíptica não se resume ao livro do Apocalipse. Esse gênero literário nasceu no Antigo Testamento. Está presente nos profetas, como Daniel. Mas também existem trechos apocalípticos nos evangelhos, como em Mateus e em trechos das cartas, como as de Paulo.

Quando lemos um trecho apocalíptico, a primeira imagem que nos vem é o que popularmente chamamos de “fim do mundo”. Isso se deve à natureza simbólica desses escritos, descrevendo cenas, aparentemente assustadoras, como estes dois versículos de Daniel (7,13-14).

Quando lidos isoladamente ou sem olharmos para o conjunto de onde eles foram retirados, podem parecer estranhas expressões como: “visão noturna”; filho de homem entre nuvens do céu; “ancião de muitos dias”; “poder eterno”, “reino que não se dissolverá”… Mas isso não deve ser causa de medo e sim de esperança.

Esperança?

Sim. Pode parecer estranho, mas as cenas de Daniel nos falam de esperança!

Este trecho de Daniel está inserido num contexto em que o profeta fala ao seu povo sofredor…. E pecador! Nos versículos anteriores aparecem sinais do sofrimento: a descrição de alguns monstros que massacram ao povo. São os reis e reinos inimigos. Entretanto, o incrível é que, em meio a todos os sofrimentos aparece não um monstro a mais, mas um “Filho de Homem”.

E não se trata de uma pessoa qualquer. É alguém poderoso. Ele tem “poder, glória e realeza”. Ele domina “todos os povos, nações e línguas”. E o melhor de tudo: seu “reino não se dissolverá”. Estamos diante, portanto, de um personagem poderoso cujo reino será eterno!

Então, se num primeiro momento temos a impressão de catástrofe, prestando atenção nesse “Filho de Homem” veremos que ele representa o oposto ao sofrimento: ele traz a vitória sobre as dores! A superação dos sofrimentos! Ele representa a esperança! Uma alternativa aos pecados do povo e a vitória contra os opressores do povo!

A questão é saber: quem é esse Filho de Homem com poderes definitivos, absolutos, eternos?

Por tradição sabemos a resposta: é Jesus.

O livro do apocalipse (1,5-8) o apresenta como “a testemunha fiel, o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o soberano dos reis da terra”. E diz mais: “Ele vem com as nuvens, e todos os olhos o verão”, pois ele é o “Todo Poderoso”. Ele é o Rei do Universo! Ele veio para dar início a um tempo de paz, justiça, fraternidade, respeito e amor entre as pessoas…

Então, se Jesus, aquele em quem dizemos acreditar, é todo poderoso e tem poderes até mesmo sobre a morte, o que pode nos assustar? O que temos a temer? Se cremos nele e se sabemos que nos ama, qual a causa do medo se “por seu sangue nos libertou”…?

O tal medo do “fim do mundo” só se justifica se não estivermos conduzindo nossa vida em sintonia com o projeto desse Filho de Homem, de Jesus, Rei da esperança! Rei da Salvação! Rei do Universo!

E isso, quem afirma, não são outros quaisquer, mas o próprio Jesus. Dialogando com Pilatos (Jo 18,33-37), faz-se reconhecer como rei. Ou seja, deixa-se reconhecer como Senhor do mundo.

Jesus é claro e definitivo: “Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”.

Para sabermos a respeito de quê Jesus está falando, basta olharmos sua trajetória de vida. Em todos os seus passos posicionou-se em defesa da vida, dos fracos, dos desamparados, dos excluídos, dos doentes… dos sem voz e sem vez…. e disse a seus seguidores que o caminho para seu reino é seguir seus passos. E seguir seus passos ou “escutar sua voz” é, também, fazer uma opção de classe. Seguir a Jesus é saber que a vitória final está garantida, mas ela passa pela cruz!

Mais ainda, seguir os passos de Jesus, “ouvir sua voz” não é algo que depende dos outros. Pilatos quis saber se Jesus era Rei, mas foi questionado por Jesus: quer saber isso por si mesmo ou por outros? Se nosso interesse por Jesus é obra de outros, deve-se ao que “se fala por aí”, ele pode até atrair nossa admiração. Podemos até vê-lo como uma pessoa interessante. Mas isso não leva a optar pelo seu seguimento, tendo-o como Mestre.

Daí a importância de nossa opção. Daí a necessidade de nos questionarmos: aderimos a Jesus e sua proposta do Reino porque acreditamos nisso? ou porque aprendemos na catequese? ou porque é tradição em nossa família … indaguemos de nós mesmos: “frequento a comunidade, vou à missa, às celebrações...por que realmente tenho fé ou por que tenho medo da danação eterna? Para respondermos com mais propriedade, temos que saber o que realmente é o seguimento e o quais são as artimanhas do “outro”.

Portanto, temos que saber: seguir os passos de Jesus não é apoiar a maldade. Não é apoiar quem explora os mais fracos. Não é apoiar o armamentismo ou ostentar a posse de armas. Não é zombar das dores do povo. Não é explorar os trabalhadores nem criar leis que os prejudicam. Não é usar a religião, ou qualquer outro poder para auferir vantagens pessoais … essas, entre outras, são posturas do adversário!

Mas se nossa fé, nossa esperança, nosso compromisso comunitário... brotam de uma adesão pessoal, então Jesus não é nem inimigo nem adversário, é nosso Rei. Se o que ele realizou em favor dos excluídos, nos encanta, então ele é o salvador, motivo de esperança. Se ele é o centro de nossa fé, então ele é alguém a ser seguido, embora seja um seguimento que estabelece condições: ajudar no testemunho da verdade. Desmascarar aqueles que desejam se passar por messias atuais, pois eles sim são causadores de morte e sofrimento.

Seguir o Cristo Rei é, também, dar testemunho da verdade, na esperança de instalar o reino que não se dissolverá. O reino da vida!

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

sexta-feira, novembro 19, 2021

Tempo de todos ou sobre o dia da consciência negra

Em novembro, como nos demais meses, existem datas importantes e outras nem tanto. É tempo propício a algumas considerações, não porque no mês seguinte tem Natal, mas porque neste se comemoram algumas datas cívicas. E uma delas vem ganhando realce. Note que não estou me referindo ao dia 15 nem 19, que andam meio esquecidas, mas ao dia 20. E o destaque crescente não se deve ao aniversário do assassinato de Zumbi, mas àquilo que vem sendo chamada do Dia Nacional da Consciência Negra.

É verdade que todos os tempos são favoráveis àquilo que queremos realizar. Em qualquer tempo podemos desenvolver a cultura da paz ou provocar situações de violência – principalmente sabendo que a violência é mais lucrativa que a paz! Em qualquer tempo podemos realizar grandes obras ou simplesmente esperar o tempo passar, como se no transcurso do tempo estivesse a solução de todos os problemas; como a negar o fato de que a solução de problemas se dá pelo trabalho e não pela acomodação. E, sendo assim, o dia 20 de novembro é uma data com essa característica ascendente. Mas, apesar de ser prenhe de significados, permanece uma data a ser construída pelo que pode produzir e não só pelo que já passou.

O dia da consciência negra, na realidade é um tempo de todos.

Tempo de todos porque todos pertencemos à mesma sociedade brasileira que se desenvolveu não a partir de brancos ou negros, mas por mãos de brancos, negros, índios e outros tantos; ou seja, uma história de misturas. Dia 20, portanto, não é apenas o dia da consciência negra, mas um tempo de e para todos. Inclusive tempo de refletir até mesmo sobre a denominação “Consciência Negra” que, embora produzida para dar voz ao movimento negro e como meio de resgate de nossa africanidade, pode soar com carga preconceituosa: a consciência negra se contrapõe à consciência branca?

Além disso, não podemos negar que houve, sim, um tempo em que os brancos eram donos de negros e os tratavam como coisas ou como animais: trabalho forçado, agressão física e outros maus tratos... Tempo em que ser dono de um negro era sinal de opulência e status... mas nesse mesmo tempo houve negros que se rebelaram, fugiram e organizaram quilombos, assinalando para a história que a liberdade não tem cor, mas tem personalidade. Um tempo em que a atitude de corajosos visionários ameaçou aquela estrutura escravocrata.

Entretanto, no transcorrer dos anos e séculos muita mistura se deu. Negros, índios e brancos formaram um Brasil de muitas faces e cores: Branco, amarelo, vermelho, pardo, mulato, sarará, crioulo, moreno, branquelo, negão... e mais outras faces foram formando o Brasil de todos, que não é nem branco, nem negro, nem índio, mas mestiço. A mestiçagem produziu a mistura que nos nutre a todos, ao ponto de dizermos com Jorge Amado que o brasileiro puro é o mestiço. Mérito nosso? Não, de nossa história!

E então, consciência negra? Só se for uma consciência de pertencimento em que todos são responsáveis por erros e acertos; responsáveis por uma sociedade de mestiços que tem problemas, mas que busca soluções para todos e não para alguns. Sabendo que ao negar nossa africanidade negamos parte de nos mesmos, mas, por outro lado, supervalorizar apenas um aspecto pode hiperbolizar outro equivoco, produzindo justamente o que queremos evitar!

Tempo de consciência negra? Mas também branca, mestiça, índia... e com isso ampliar nossa consciência de um pertencimento; para ampliar nossa consciência de que formamos uma sociedade feita de diferentes; para reforçarmos a consciência de que o diferente do que sou é justamente o que não sou e, portanto, o que me falta. Custa-nos admitir que os diferentes se completam e complementam,

Dia Nacional da Consciência Negra! Por que não dizer dia de valorização das diferenças culturais? Por que não dizer dia de todos? E, pior ainda, por que só um dia? O que fazer com os outros dias? Embotar a consciência? Comemorar o 20 de novembro, mas o que fazer nos demais dias?

Dia Nacional da consciência Negra! Por que não dizer dia de superar as diferenças? Pois se há diferenças que nos unem, existem situações em que o fato de sermos diferentes nos degrada a todos. Portanto existem diferenças a serem superadas.

Quais as diferenças a serem superadas?

Não se trata da cor da pele, mas da conta bancária, pois o que alguns tem de mais é o que falta para a maioria; não se trata da diferença de alguns fazerem um coisa e outros tantos se dedicarem a outras atividades, mas das condições de trabalho, de acesso ao trabalho, pois é pelo trabalho que o homem se constrói; não se trata da diferença de escolarização, mas de possibilitar a todos o acesso e permanência no ambiente escolar, pois a escolarização é um caminho para ampliação dos horizontes... os bancos escolares são degraus que nos elevam para enxergarmos mais longe...

Novembro. Dia 20. Dia de um pertencimento. Dia Nacional da Consciência Negra, na realidade dia de sabermos que brasileiros somos todos e estamos num tempo de reconstrução da consciência nacional.

(Publicado inicialmente em 11/2009 Jornal Folha da mata e também disponivel em: https://www.webartigos.com/artigos/tempo-de-todos-ou-sobre-o-dia-da-consciencia-negra/28174)

Neri de Paula Carneiro 

Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

sexta-feira, novembro 12, 2021

Depois da grande tribulação

(Reflexões baseadas em: Daniel 12,1-3; Hebreus 10,11-14.18; Marcos 13,24-32)




Tribulações são as dificuldades, as dores e sofrimentos que atingem as pessoas, as famílias ou a sociedade. E a gente acredita que depois dela virão dias melhores. Virá, depois do sofrimento, a vitória sobre as dores: a alegria pela vitória; a felicidade pela fertilidade da união e a colheita dos frutos que cresceram da união que deu suporte à superação. Já a “grande tribulação” diz respeito à narrativa apocalíptica, pela qual nos são apresentadas pistas para o encontro definitivo com Deus.

Num ou noutro caso, apesar de haver referência a situações catastróficas, a tribulação ou a grande tribulação são indicativos de esperança. O fato ou o momento pode até ser terrível, mas ele acena para o que vem depois. Essa é a característica da esperança: no exato momento da dor, ter a capacidade de olhar para além. Não que isso alivie ou elimine a situação de sofrimento, mas oferece a força necessária para buscar a superação das dores no momento presente… não se trata de uma fuga do problema, mas de força para enfrentá-lo!

Essa perspectiva pode ser encontrada na narrativa apocalíptica de Daniel (12,1-3). Ele afirma que num “tempo de angústia como nunca houve até então”, aparecerá um grande “defensor dos filhos do povo”. E, pela ação desse defensor, “povo será salvo” (Dn 12,1). Mais ainda, até aqueles que já tiverem experimentado a morte serão chamados à vida. Aqueles que “dormem no pó da terra, despertarão, uns para a vida eterna, outros para o opróbrio eterno.” (Dn 12,2)

Mas, se o profeta fala da possibilidade de perdição eterna, onde está a esperança?

O próprio Daniel responde. Quem ensinar a sabedoria; quem ensinar “os caminhos das virtudes”… estes “brilharão como as estrelas, por toda a eternidade.” Dessa forma indica que, por maior que seja, o sofrimento não é definitivo; ele perpassa as dificuldades, mas não é o ponto final. A sabedoria, consiste em ser capaz de ajudar ao outro a encontrar o caminho da virtude… na esperança de que mestre e aprendiz recebam o benefício de ser luz no firmamento (Dn 12,3).

Não é só Daniel quem propõe a esperança. Ela também está presente nas palavras de Jesus.

Ele não nega a existência das dificuldades. Não exclui os problemas. Não extermina os sofrimentos. Pelo contrário: afirma a tribulação. E mesmo depois dela, ainda não dá a certeza do fim das dores. Por quê?

Porque a fragilidade das convicções e a fraqueza humana podem produzir, além da dúvida, reações irritadas. O fato do sofrimento, leva muitos à incredulidade ou à indagação: “Porque eu?”; “O que fiz para merecer isso?” Essa angústia e incerteza, beirando o desespero, em muitos casos, em vez de aproximar de Deus, gera o afastamento. Esse afastamento manifesta-se como escuridão, estrelas que caem; enfim, pelos astros em decadência, como o descreve Marcos 13,24-25: “depois da grande tribulação, o sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas”. Ou seja, depois da tribulação, vem a desolação; depois das dores, vem a sensação de abandono… e o olhar desesperançado….

Mas o fato é um só. Não se trata de um abandono por parte de Deus. As contingências, as dores, os sofrimentos, os problemas… são parte da vida. A fraqueza humana leva a pessoa a dizer que se sente abandonada por Deus (o sol escureceu). Mas a fé, movida pela esperança, olha para um pouco mais além. E então verá Jesus, estendendo a mão e enviando seus anjos para reunir os perseverantes da esperança: “Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra” (Mc 13,27).

Isso nos leva a indagar: onde encontrar os motivos para ter esperança?

Certamente ela não se encontra no plano humano. Mesmo que algumas pessoas amigos nos confortem e sejam motivos de ânimo e esperança definitiva não nos vem do que nos proporcionam as pessoas, mas somente da ação de Jesus Cristo. As ações das pessoas, por mais que sejam edificantes, dependem da graça divina para, efetivamente, surtirem efeito.

A ação humana, é como o sacerdote que “se apresenta diariamente para celebrar o culto, oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios” (Hb 10,11). Mas essa ação não é suficiente por si mesma; por isso se repete; por isso, muitas vezes recaímos nos mesmos erros... Por isso, a necessidade de se apoiar na oferenda do próprio Jesus que “com esta única oferenda, levou à perfeição definitiva os que ele santifica. Ora, onde existe o perdão, já não se faz oferenda pelo pecado” (Hb 10,18).

Que nos resta, então?

Fazer tudo que estiver ao nosso alcance, mas, ao mesmo tempo, confiar pois “depois da grande tribulação”, ainda não é o fim. Depois da grande tribulação, temos que continuar alimentando a esperança, pois “o Filho do Homem está próximo” (Mc 13, 26). E é ele quem nos oferece a mão para superar e sair das dificuldades; somente nele que reside a grande esperança depois da grande tribulação!







Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador


Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

quinta-feira, novembro 11, 2021

O Cristianismo nascente e a filosofia

As filosofias do helenismo fizeram contato e, de alguma forma influenciaram o cristianismo nascente. Ao ponto de podermos dizer que, do ponto de vista filosófico, o cristianismo também é uma corrente de pensamento helenista. Essa influência pode ser observada na literatura neotestamentária e na patrística. Mas também é verdade que, posteriormente, a filosofia medieval recebeu grande carga de influências do cristianismo. Talvez por esse motivo se cunhou a afirmação de que a “filosofia é serva da teologia”

O fato é que as dessas correntes filosóficas e dentro desse mesmo período nasceu o cristianismo. E várias das correntes helenistas influenciaram no desenvolvimento dessa nova mística. O cristianismo, portanto é uma religião que se fez por ecletismo, tendo por base o judaísmo, os ensinamentos de Jesus e os diferentes elementos culturais dos povos do oriente médio dominados pelos romanos e pela língua grega.

Pode-se dizer mais: sem entrar na discussão do significado e do alcance religioso, mas apenas do ponto de vista filosófico, o cristianismo nasceu não de Jesus, o jovem de Nazaré ou do grupo inicial de discípulos, e sim a partir do sincretismo de elementos helênicos que se misturaram com traços do judaísmo, das culturas orientais e romanas.




O cristianismo e o Helenismo


A partir do quê se pode afirmar isso?

Jesus era um judeu e praticante do judaísmo. As narrativas dos evangelhos o colocam em várias oportunidades nas sinagogas, o que sugere que era um praticante de sua religião. Apesar e além disso, podemos identificar em sua postura e atitudes características de algumas das correntes do pensamento helenista.

Cinismo: Desenvolvia uma prática de solidariedade aos marginalizados, aos pobres, às mulheres e prostitutas. Andava com pescadores e curava os enfermos (lembrando que estes eram considerados como “possuídos” pelo demônio). Valorizava a simplicidade. Não ostentava o luxo de uma morada, mas afirmava que “as aves do céu tem seus ninhos, as raposas suas tocas, mas o filho do homem não tem nem onde reclinar a cabeça”.

Epicurismo: Valorizava a vida e a alegria de viver. Isso se pode perceber, pelas inúmeras curas realizadas e porque seu primeiro milagre foi realizado para dar continuidade a uma festa, transformando água em vinho. O casamento é uma celebração à vida e o vinho pode ser visto como um simbolo da alegria de viver.

Ceticismo: os inúmeros embates com os sacerdotes e doutores da lei, mostram que não só era profundo conhecedor de sua crença judaica, como também colocava em questão os dogmas do judaísmo, os costumes e tudo aquilo que não representasse um valor em favor do ser humano.

Cultura e língua: Posteriormente à sua execução, seus discípulos continuaram sua obra e difundiram seus ideais. Para isso os discípulos contaram e usaram as estruturas do império romano. Moveram-se usando as estradas e caravanas que circulavam pelos caminhos do império. E, com isso, a essência dos ensinamentos do jovem de Nazaré, foi fazendo contato com as culturas dos diferentes povos.

Além do anúncio oral, nas diferentes cidades, os discípulos também difundiram sua fé por meio dos escritos neotestamentários: os evangelhos, as cartas, o apocalipse. Tudo isso produzido escrito e difundido na língua grega, com visíveis sinais de uma estrutura argumentativa e lógica que lembra a filosofia grega.

Estoicismo: após alguns anos, já se estruturando como uma instituição com ritos e normas próprias, o cristianismo assume uma outra característica: o estoicismo o qual pode ser representado pela valorização das posturas e práticas penitenciais e o cumprimento de regras sedimentadas nos procedimentos litúrgicos.

Dessa forma, pode-se dizer que os valores adotados por Jesus (cinismo, ceticismo e epicuristas), foram abandonados em favor de uma postura estoica. Em “O mundo de Sofia”, eis o que diz J. Gaarder, a respeito de Jesus: “Jesus foi um homem único. De um modo genial, ele usa a linguagem do seu tempo e dá simultaneamente às ideias antigas um conteúdo completamente novo e mais vasto. Não admira que ele tenha sido crucificado. A sua radical mensagem de salvação punha a nu tantos interesses e jogos de poder que tinha de ser afastado”. E o pensador norueguês vai além. Afirma a profundidade da exigência ética no ensinamento de Jesus: “No caso de Jesus vemos como pode ser perigoso pedir um amor incondicional pelo próximo e um perdão igualmente incondicional. Ainda hoje vemos como Estados poderosos vacilam se são postos perante pedidos simples de paz, amor e alimento para os pobres e perdão para os inimigos do Estado.”




Paulo e as missões aos gentios

Como sabemos, Jesus não criou o cristianismo. Como Sócrates, foi um mestre que não deixou escritos de próprio punho. O que sabemos nos chegou a partir do que disseram dele seus discípulos… e alguns adversários. Os ensinamentos dos discípulos é a doutrina cristã.

O grande criador-divulgador do cristianismo foi o apóstolo tardio, Paulo de Tarso. Após sua conversão levou os ensinamentos de Jesus para além do mundo judeu. A mensagem cristã demorou a ser aceita por alguns judeus, mas se desenvolveu rapidamente entre os gentios, os povos de outras culturas, fora dos círculos da religião de Moisés.

O que teria sido a proposta de Jesus Cristo passa a ser reinterpretada de acordo com categorias greco-romanas. Isso, entretanto, só foi possível porque Paulo era não só um judeu esclarecido, conhecedor de sua religião, como também um conhecedor da língua e filosofia gregas. E tinha facilidade de locomoção dentro do império, pelo fato de ser cidadão romano.

Para percebermos a influência grega sobre o cristianismo primitivo podemos ler as cartas de Paulo, um primor de argumentação e retórica grega; também pode ser tomado como exemplo disso o discurso de Paulo aos Atenienses, narrado no livro dos Atos dos Apóstolos, 17,16-32. Eles o ouvem embevecidos, embora não se convertam por considerarem absurda a pregação sobre a Ressurreição.

O mesmo Paulo, na carta aos colossenses, utiliza elementos platônicos e estoicos contrapostos a elementos dos epicuristas. Paulo exorta seus leitores para que não sejam julgados pela “comida e bebida”, a respeito de “festas anuais ou da lua nova ou de sábado porque são apenas sombra” (Col, 2,16-23). Notemos o tom irônico de Paulo, condenando o que poderia ser uma postura de alguns cínicos na comunidade de Tessalônica: “Quem não quer trabalhar, também não deve comer. Ora ouvimos dizer que alguns entre vós levais a vida à-toa, muito atarefados sem fazer nada” (2Ts 3,7-8).

Tudo isso nos permite dizer que, vasculhando os escritos neotestamentários, podemos encontrar inúmeras referências às escolas helenistas. Por vezes algumas são condenadas, outras vezes são apenas mencionadas e por vezes são assumidas na redação, como é o caso da postura estoica, presente em inúmeros trechos dos escritos paulinos.




Da Patrística à Idade Média

Terminada a primeira geração de seguidores de Jesus, começa uma nova etapa no cristianismo. Período esse chamado de Patrística (do sec. I ao V, aproximadamente). Trata-se da produção filosófico-teológico daqueles que são chamados de “Pais da Igreja” ou os “Santos Padres”. Nesses escritos podem ser encontrados elementos de filosofia para falar e expor a doutrina cristã. Eles podem ser agrupados em dois blocos: os textos dos apologistas e os textos contra as heresias.

As apologias surgiram por que os cristãos precisavam mostrar às autoridades romanas uma defesa de sua fé. Entre os apologistas podemos mencionar dois deles: Clemente de Alexandria e seu discípulo Orígenes.

Apareceram, também, algumas distorções (as heresias ou doutrinas falsas) sobre como entender os ensinamentos de Jesus ou como falar sobre sua divindade. Contra essas distorções forma produzidos inúmeros argumentos com a intenção de as corrigir essas doutrinas erradas. Entre os inúmeros autores que escreveram contra as heresias podemos destacar Santo Irineu de Lion e seu livro Contra Hereges.

Tanto a defesa da fé como o combate às heresias foram trabalhos que precisaram ser desenvolvidos com uma boa argumentação baseados nos ensinamentos de Jesus e na tradição Judaica. Isso tudo apresentado de forma clara, para que a argumentação fosse convincente. Essa clareza veio dos elementos e argumentação lógico, aprendida da filosofia grega.

Além disso, também serviu de suporte elementos que vieram do Neoplatonismo. Assim cada vez mais se cristalizava a visão platônica de que este mundo é onde reside o pecado e a maldade, mas o homem, criatura divina, tende ao céu, onde todas as dores, tristezas e imperfeições são sanadas. Uma típica argumentação platônica. Um bom exemplo da filosofia platônica aplicada à teologia é a obra “Cidade de Deus” de Santo Agostinho.

O neoplatonismo serviu de suporte aos autores cristãos por vários séculos. Em suas produções esteve presente a afirmação platônica de que o ser humano deve se purificar de seus pecados a fim de chegar ao céu, o espaço da perfeição, ao lado de Deus.

O suporte platônico permaneceu sendo utilizado pela Igreja e seus teólogos ao longo dos séculos. Já em plena Idade Média com Santo Tomás de Aquino, também Aristóteles passou a ser uma presença constante nos discurso teológicos. Cabe destaque para sua monumental de Suma Teológica

Em síntese, podemos dizer que o cristianismo desenvolveu-se, inicialmente, ao desvincular-se do judaísmo assumindo uma conotação greco-romana. Com isso conseguiu se expandir dentro do Império Romano, uma vez que era assumido por diferentes grupos sociais dentro do Império. Depois, com uma estrutura romana e com roupagens gregas, durante a Idade Média, o cristianismo, já como instituição forte, assumiu o aristotelismo como instrumento de manutenção do poder e para melhor apresentar seu discurso. Ou seja, o cristianismo sobreviveu por saber trocar de "roupa" em momentos determinantes da história, sabendo fazer a releitura da proposta de Jesus Cristo dentro de cada contexto. Isso pode ser exemplificado na Idade Média quando Tomás de Aquino fez uma adequação do cristianismo com o aristotelismo. Nascia, assim a escolástica.

Graças a isso é que a partir do século III o cristianismo passou a exercer domínio não só sobre o pensamento, mas também sobre o mundo político dos romanos. A influência do cristianismo se tornou cada vez maior e permaneceu até o fim da Idade Média. Com o Renascimento, com o advento da Reforma Protestante e o desenvolvimento das bases do capitalismo, o cristianismo católico perdeu espaço quando se desenvolveram os tempos modernos produzindo um vasto leque de correntes religiosas, filosóficas, políticas e econômicas. Mas, ao mesmo tempo, a filosofia continua sendo o ponto de partida para o desenvolvimento dos novos saberes...




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação. Filósofo, Teólogo, Historiador

Outros escritos do autor:


sexta-feira, novembro 05, 2021

Todos os santos: grande recompensa

(Reflexões baseadas em: Ap 7,2-4.9-14; 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12a)




Vivemos tempos apocalípticos!

Vivemos tempos apocalípticos?

Tanto a afirmação como a pergunta tem sua razão de ser.

A afirmação nasce porque, na visão de muita gente, nosso mundo parece que beira o caos. Olha-se para a sucessão de catástrofes naturais. E, na maioria das vezes nem se percebe que várias delas são resultado da ação humana. Além disso, há uma enorme lista: a maldade humana presente na corrupção política; o sofrimento dos pobres e marginalizados, vítimas da concentração de renda; a percepção de que as pessoas estão cada vez mais longe da proposta divina e muito próximas do dinheiro e de várias outras maravilhas mundanas… tudo isso desenha e apresenta sinais apocalípticos! Isso numa visão popular e simplificada dos problemas.

Ver o mundo mergulhado nesse oceano de tragédias e afogado no mar de lama, por outro lado, leva algumas pessoas a se perguntar se isso corresponde aos sinais apocalípticos. Estes ainda argumentam: A bíblia não fala disso?

Não nos cabe, aqui, dizer sim ou não, pois celebrar o dia de Todos os Santos implica, ao mesmo tempo, olhar para o cotidiano e para fim dos tempos. Mas isso não significa dizer que vivemos tempos diferentes de outras épocas. Significa, sim olhar, olhar para o comportamento das pessoas à luz do que ensina a Palavra de Santa.

E aqui, sim, nos encontramos com o livro do apocalipse. Mas não para falar que este ou aquele sinal é sinal do fim dos tempos. Aliás, não é essa a finalidade do livro do Apocalipse. Pelo contrário. Ele nos quer falar de esperança! E é sobre esperança que nos fala a celebração do dia de todos os santos!

A cena pode parecer aterradora, mas a palavra é de esperança. O anjo da destruição para ao ouvir: “Não faça mal à terra...” (Ap 7,3). Aí vem o número dos que foram marcados com o selo do cordeiro. Junta-se a eles “uma multidão imensa …. que ninguém podia contar” (Ap 7,9). E todos afirmam: "A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro" (Ap 7,10).

A intenção, portanto, não é evidenciar as dores, mas mostrar o poder salvador de Deus acolhendo seus santos. E a acolhida dos santos implica na interrupção ou fim das dores!

Mas a Palavra Santa não para aí. A primeira carta de João também acena para a esperança e não para a destruição. E aqui a proposta é ainda mais convidativa. Trata-se de um convite para a filiação divina: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai.” (1Jo 3,1).

Aqui, talvez, esteja a razão de se ver o mundo caótico e catastrófico como que se encaminhando para o fim. Mas não se trata de fim, e sim de adoção divina. É claro que para isso ocorrer, haverá um processo de purificação, pois nisso consiste a santidade. Mas é uma purificação que se dá na sintonia com a santidade divina. “Todo o que espera nele, purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1Jo 3,3). Nisso consiste a celebração de Todos os Santos: mergulhar em Deus para renascermos purificados, santificados, fazendo parte do time divino.

Como Deus não é bobo nem nada, ao mesmo tempo que convida a todos a participar de sua santidade, estabelece os critérios para essa participação. Serão bem aventurados os que valorizarem alguns dons pessoais: a pobreza, que implica em desprendimento; a mansidão, que leva à não violência. Não é só isso. Também é necessário desenvolver alguns dons em favor dos outros: ter fome e sede de justiça, ser misericordioso e ser capaz de promover a paz. Tem mais: os que desejarem encontrar-se com Deus, terão que assumir, as consequências de sua opção: sofrer perseguição e injurias tão somente por causa da opção em auxiliar na construção de um mundo melhor. (Mt 5,1-12)

É claro que as forças do mal e anticristãs tentarão prevalecer. Em vez da paz, promoverão o armamento e a violência. Em lugar de misericórdia estimularão a competição e exploração de uns pelos outros. E serão esses representantes do anticristo que perseguirão, difamarão e matarão os promotores da paz. Mas tudo isso já estava anunciado no pacote: quem faz a opção pelos valores do Reino, invariavelmente sofrerá as consequências dessa opção, pois os adoradores do anti-reino são numerosos e sua ferramenta é a mentira. Serão bem-aventurados, sem dúvida, mas, no processo de plantio das sementes do Reino, sofrerão as perseguições do adversário, difamador!

O sonho esperançoso é poder construir o Reino já em nosso cotidiano histórico. Mas sabemos que aqui apenas lançamos as sementes. E, para quem faz e cumpre esta jornada, Jesus anuncia: “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,12).

Então, como responder:

Vivemos tempos apocalípticos!

Vivemos tempos apocalípticos?

Vivemos tempos difíceis, mas o cristão vive de esperança!




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

terça-feira, novembro 02, 2021

A filosofia no Helenismo: Algumas escolas

Além das escolas platônica e aristotélica, durante o helenismo desenvolveram-se algumas correntes de pensamento que caracterizam um mundo em transição. Ou seja, a temática da filosofia voltou-se para o comportamento das pessoas. Por isso, em geral, são chamadas de escolas éticas. Estamos falando do Cinismo, do Estoicismo, do Epicurismo/Hedonismo, do Ceticismo e do Ecletismo. Todas elas, de alguma forma originadas no mundo grego, embora, também presente no contexto romano.

Embora não seja uma escola de filosofia, neste período também se pode analisar o cristianismo. Uma tipica manifestação helenista, uma vez que origina-se num território oriental, a Palestina. Desenvolveu-se com base num discurso grego e utilizando-se das estruturas políticas do império romano.



Algumas Escolas Helenistas



CINISMO

É a escola que melhor caracteriza a decadência moral da sociedade grega e macedônica. O pensador que melhor a representa é Diógenes. Sobre ele conta-se que em pleno meio dia andava pelas ruas de Atenas, com uma lanterna acesa, dizendo: “procuro um homem!”.

Cinismo vem de Cão. Essa denominação também vem de Diógenes, uma vez que teria dito: “faço festa aos que me dão alguma coisa, lato contra os que não me dão nada e ataco os agressores”. Num banquete, ao lhe atirarem um osso ele teria urinado em cima, como fazem os cães.

Ainda sobre Diógenes é celebre a passagem em que ele, descansando dentro de um tonel recebe a visita de Alexandre que lhe pergunta: “Posso fazer algo por você?” Ao que ele teria respondido: “Sim! Pode sair da minha frente que está tomando meu sol”

Partindo disso já podemos ter uma ideia do que essa escola representava: completo desprezo em relação àquilo que a sociedade dominante considera valor e valorização da simplicidade do viver. Foi uma escola que atravessou os séculos e podemos dizer que a postura socrática, temós antes, estava próxima do ideário cínico.

Conta-se que Sócrates teria parado em frente às bancas do mercado e depois de algum tempo contemplando o que ali acontecia, teria exclamado: “Quanta coisa os atenienses precisam para viver. O que disso realmente é necessário?

Sabe-se que a filosofia dos cínicos foi iniciada por um discípulo de Sócrates, Antístenes, por volta do ano 400 aC.



ESTOICISMO

Esta escola caracteriza-se pelo espírito de completa austeridade física e moral. Ou seja, o Homem deve suportar os sofrimentos, fugir dos prazeres fáceis e afastar-se das permissividades e licenciosidades. A sabedoria consiste em manter uma vida austera. O sábio é aquele que consegue a completa anulação das paixões (Apatia). Essa corrente filosófica influenciou profundamente a cultura romana e, por extensão, o cristianismo, marcando-o até nossos dias. Um exemplo disso é a prática da penitência.

O estoicismo teve grande influência do Cinismo. Seu fundador, Zenão, havia se juntado aos cínicos de Atenas. Reunia seus ouvintes num portal (stoa, em grego) da cidade. Daí a denominação do grupo: o grupo do portal.

No livro “O mundo de Sofia” J Gaarder afirma que: “Como verdadeiros filhos do seu tempo, os estoicos eram cosmopolitas. Estavam, portanto, mais abertos à cultura contemporânea do que os "filósofos do tonel" (os cínicos). Segundo eles, a comunidade dos homens devia interessar-se por política, e muitos estoicos foram estadistas ativos, como, por exemplo, o imperador romano “Marco Aurélio” (121-180 d.C.). Contribuíram para que a cultura e a filosofia gregas fossem difundidas em Roma principalmente graças ao orador, filósofo e político “Cícero” (106-43 a.C.), que criou o conceito de “humanismo”, ou seja, uma concepção do mundo que tem o indivíduo como centro. O estoico “Sêneca” (4 a.C.-65 d.C.) disse alguns anos mais tarde que o homem era sagrado para o homem, afirmação que se tornaria o mote de todo o humanismo. Além disso, os estoicos sublinharam que todos os processos naturais - por exemplo, a vida e a morte - seguiam as leis constantes da natureza. Por isso, o homem tem de se reconciliar com o seu destino. Segundo eles, nada acontece por acaso”



EPICURISMO/HEDONISMO

Esta escola que pode ser colocada no extremo oposto ao estoicismo. A ela estão ligados dois personagens,entre outros: Aristipo, contemporâneo de Aristóteles, o qual a teria iniciado e Epicuro. Este, por volta do ano 300 aC, fundou uma escola, num jardim de Atenas. Em seu pórtico estava escrito: "Estranho, aqui serás feliz. Aqui, o prazer é o bem supremo". Nesse ambiente desenvolveu sua ética do prazer.

Séculos depois, alguns artistas do Renascimento representam o Jardim de Epicuro como um ambiente no qual várias musas e ninfas seminuas divertem-se ao lado de sátiros e outros personagens, comendo, bebendo e dançando. Com isso querendo dizer que o sentido da vida é desfrutar das alegrias que a vida oferece.

Na realidade, a afirmação de Epicuro é que ela deve ser celebrada todos os dias, pois é constante e perfaz cada existência de cada pessoa; por outro lado a morte é uma só e é certa.

Esta escola, portanto, defende que o ser humano deve buscar o prazer. Daí a denominação de escola hedonista. A ideia de prazer está ligada à deusa Hedone, filha de Eros e Psique. As três divindades podem ser associadas à ideia de que a vida deve ser vivida com intensidade, mas não com banalidade. Por isso é necessário destacar que esse prazer deve ser entendido como ausência da dor e não como mergulho nas paixões. Desfrutar do prazer é virtude, portanto, é um bem; enquanto a dor é um mal e, por isso, deve ser evitado. O supremo prazer é o saber que pode ser obtido quando se superam as paixões que são a causa da degradação social.

O prazer decorrente das paixões desenfreadas levam à dependência ou à distorção de seu sentido humanizante que se caracteriza como encontro edificante entre pessoas, como ampliação da sabedoria, como processo interativo...

A atuação de Epicuro desenvolveu-se, justamente, num contexto de degradação moral, social e política. Um período em que os valores estavam em declínio e tudo parecia perder o sentido. Nesse ambiente se fez necessária uma redefinição dos valores.

Diz Epicuro: “Quando dizemos que o prazer é o bem supremo não queremos nos referir aos prazeres do homem corrompido, que pensa só em comer, em beber e nas mulheres”. Ou seja, deve-se buscar o prazer de conduzir a vida em harmonia com os próprios sentimentos e com os demais concidadãos e os seus sentimentos.



CETICISMO

O contexto em que se desenvolveu esta escola é o mesmo das anteriores: um vazio politico, intelectual e moral. Um ambiente propício para se colocar em dúvida todas as verdades estabelecidas.

O ceticismo caracteriza-se pela postura de constante busca do conhecimento e, simultaneamente, pela constatação da impossibilidade de acesso a ele. Para os céticos a sabedoria não é a posse da verdade, mas a atitude de buscá-la.

Pirro, teria sido o fundador dessa corrente de pensamento, no final do século IV aC. Embora não tenha deixado nenhum escrito. Ele acompanhou Alexandre em suas aventuras militares e constatou que os diferentes povos tinham distintas versões e posicionamentos a respeito de situações e fatos. Isso o levou a se indagar sobre os fundamentos da certeza e a afirmação da sua inacessibilidade.

Uma vez que a verdade é inacessível, somos condicionados a permanecermos com nossas impressões e opiniões. Mas isso não resolve o problema, uma vez que essas, também, são imprecisas, pois carecem de fundamento. Sendo impossível o acesso à verdade e infundadas as opiniões resta ao intelecto a suspensão de todo pensamento ou a ataraxia.

Entretanto o cético não se opõe ao conhecimento e sim à certeza dogmática. Desse ponto de vista somos levados a dizer que a postura cética é o centro da filosofia, uma vez que esta se caracteriza justamente pela atitude de busca do conhecimento. E, diante das certezas, a filosofia exerce seu direito de as colocar em dúvida. O que os céticos acrescentam é a afirmação da inacessibilidade da verdade e, por isso, ó sábio não se inquieta na busca, mas procura entrar em si mesmo para, no silêncio de sua ignorância, esvaziar-se das certezas.

A postura cética permanece em nossos dias. Um exemplo dessa postura nos é apresentada por A. Saint-Exupery, no livro “O Pequeno Príncipe”. Nessa obra podemos ler um diálogo entre o Pequeno Príncipe e a Raposa. Num dado momento ela confidencia seu segredo ao principezinho, dizendo ser importante “ver com o coração”. Afinal de contas, “a linguagem é uma fonte de mal-entendidos”.

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.



ECLETISMO

Pode-se dizer que esta foi uma escola que se desenvolveu em oposição e como resposta aos céticos. Afirmavam que a verdade não se limita a um sistema filosófico e, portanto, deve ser complementada por elementos das diversas escolas. O ecletismo teve larga aceitação e desenvolvimento entre os romanos, sendo Cícero um dos maiores representantes do ecletismo Romano.

Em seu livro Curso de Filosofia (v. 1 e 2) Batista Mondin afirma que os céticos constatam inúmeras divergências entre os diferentes pensadores, mas isso se deve à limitação da mente humana que não consegue abarcar todas as realidade num só olhar. Ou seja, “estudando aspectos diferentes da realidade é natural que cheguem a conclusões diferentes. Por isso, para se chegar a uma compreensão adequada das coisas, não se deve confiar em um só filósofo, mas é necessário reunir as conclusões das pesquisas dos melhores entre eles”. E, dessa forma é possível uma visão mais precisa.

A postura eclética pode ser apresentada como um dos elementos centrais da cultura romana. Seu exército se fez poderoso porque foi capaz de, entre outras coisas, assimilar valores dos povos e exércitos vencidos. Assimilavam os valores e conhecimentos dos vencidos e com isso ampliavam seu próprio volume de informações a respeito da realidade

Os ecléticos, como todos os outros pensadores do período helenista não foram criadores de sistemas, mas assimiladores, releitores e divulgadores do pensamento grego, com variantes e acréscimos adaptados à sua realidade e seu tempo.

Vários séculos depois, no Brasil do século XIX e inicio do século XX, o ecletismo foi uma corrente de pensamento que melhor caracterizou a filosofia em nosso país. Alguns autores chegam a afirmar que o ecletismo foi a primeira experiência filosófica original, do Brasil. Isso, na medida em que uma corrente eclética pode ser considerada original….




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação. Filósofo, Teólogo, Historiador

Outros escritos do autor:


segunda-feira, novembro 01, 2021

Finados: quando menos o esperardes

(Reflexões baseadas em: Jó 19,21-27; 1Cor 15,20-28; Lucas 12,35-40) 



Você sabe o que a morte faz com os vivos?

Sem traumas! Não precisa se assustar! Mas em nossa vida, ela é uma realidade! Não estou dizendo que a morte mata quem está vivo. Isso os vivos já sabem! E sabem que têm, com ela, um encontro marcado. Muitos não gostam de lembrar, mas a vida é um caminho para a morte.

Aliás isso é o que o apóstolo Paulo disse à comunidade de Corinto: “Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão” (1Cor 15,22). Mas tem algo a mais!

Você já se deu conta da totalidade de uma cena de morte? Já se deu conta de que a morte é a situação da vida que mais ajunta pessoas: amigos e curiosos, todos fazem questão de conferir: “é, de fato, morreu!”

Entretanto, além de ajuntar pessoas e colocar um ponto final na vida de quem está vivo, a morte tem um dom especial!

A morte, além de tirar a vida do vivente… o coloca em contato: com sua essência, com aquilo que fez ao longo da vida, com seu espelho… e o coloca frente a frente com o Senhor da Vida.

No outro extremo, temos a vida, que não é um parque de diversão, ao qual visitamos para nos afastarmos dos problemas e tribulações do cotidiano. A diferença, do parque de diversão é que esse é nosso definitivo destino.

A vida é uma trilha, complexa, que percorremos diariamente, do nascimento até nosso ponto de transição, a morte, pela qual transitamos para a vida plena. E isso nos leva a dizer que a morte, não é um ser sombrio e assustador, como aquele assustador personagem dos filmes de terror. Pelo contrário, é uma amiga, pois nos conduz para o destino para o qual nascemos. A ela São Francisco de Assis chamava de irmã. Por suas mãos somos colocados diante de nosso destino definitivo.

Ela nos conduz para além das dores, como nos ensina Jó, ao dizer que seu “redentor está vivo”. Esse redentor está vivo e pode redimi-lo de tudo, inclusive da morte: “E depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne, verei a Deus.”

Então, já percebeu o que a morte faz com os vivos?

A morte mata os vivos para lhes oferecer a vida além da morte!

A vida é um caminhar para a morte. Mas o que é a morte se não um percurso para a vida?

Alguém pode argumentar, dizendo que Paulo chama a morte de inimiga. “O último inimigo a ser destruído é a morte” (15,26). De fato, mas são duas situações.

Uma é a morte, afastamento definitivo, da presença de Deus. É disso que o apóstolo fala: “por um homem veio a morte”; “em Adão todos morrem”. Mas não é o Senhor que rejeita o ser humano, e sim as pessoas que não aceitam ou rejeitam a proposta divina. Vivem para si, sem olhar as necessidades dos outros e sem se voltar para Deus. Para os que fazem essa opção, o fim desta jornada é a morte. O ponto final, longe das propostas e promessas de Deus. Neste caso, a morte é a inimiga e representa “todo principado e todo poder e força” do mal. Representa todos os inimigos vencidos e colocados “debaixo de seus pés” (1Cor 15,24-25), quando o “último inimigo”, a morte, será destruída, restando apenas a vida, da qual está excluído quem optou por afastar-se de Deus.

Há, entretanto, uma outra situação para a qual a morte é um dom da graça. É o encontro definitivo, com Deus Pai. Neste caso a morte é a transição, a “ressurreição dos mortos” que se dá pela ressurreição de Cristo. Na Ressurreição “todos reviverão” (1Cor 15,21-22) saindo da morte-transição, para a vida-perfeição. E quando tudo isso tiver se concretizado “então o próprio Filho se submeterá àquele que lhe submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos” (1Cor 15,28). Nesse ponto as indagações vida-morte se converterão em vida plena, pois não haverá mais dúvidas: a vida prevalece.

Sobra apenas uma questão: quando será? Quando acontecerá esse encontro, com a irmã morte que leva para a vida? Novamente é Jesus quem responde: Não tem data nem horário….

Mas é necessário que estejamos preparados…. Esperando! E com “as lâmpadas acesas” (Lc 12,35), para participar da festa que o próprio Jesus preparou para aqueles que aceitaram sua proposta usando sua vida não em benefício próprio, mas para difundir a mensagem do Mestre.

Para estes, o próprio Jesus “vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá” (Lc 12,37). Para estes, a morte, é apenas uma passagem da vida para a festa definitiva. Para estes, que usaram sua vida em favor dos que mais precisavam, não se trata nem de esperança nem de promessa, mas de certeza: seu lugar estará preparado, nesse banquete.

E agora, já descobriu o que a morte faz com os vivos?

Faz um convite na forma de um alerta de Jesus: “Ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes" (Lc 12,40). O convite é para uma festa cujo ingresso é a morte. Um ingresso que dá acesso à vida.




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

Sagrada Família: para se cumprir!

Reflexões baseadas em: Eclo 3,3-7.14-17a; Cl 3,12-21; Mt 2,13-15.19-23 Todos os que, de alguma forma, tiveram contato com os ensinamentos d...