(Reflexões baseadas em: Ap 7,2-4.9-14; 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12a)
Vivemos tempos apocalípticos!
Vivemos tempos apocalípticos?
Tanto a afirmação como a pergunta tem sua razão de ser.
A afirmação nasce porque, na visão de muita gente, nosso mundo parece que beira o caos. Olha-se para a sucessão de catástrofes naturais. E, na maioria das vezes nem se percebe que várias delas são resultado da ação humana. Além disso, há uma enorme lista: a maldade humana presente na corrupção política; o sofrimento dos pobres e marginalizados, vítimas da concentração de renda; a percepção de que as pessoas estão cada vez mais longe da proposta divina e muito próximas do dinheiro e de várias outras maravilhas mundanas… tudo isso desenha e apresenta sinais apocalípticos! Isso numa visão popular e simplificada dos problemas.
Ver o mundo mergulhado nesse oceano de tragédias e afogado no mar de lama, por outro lado, leva algumas pessoas a se perguntar se isso corresponde aos sinais apocalípticos. Estes ainda argumentam: A bíblia não fala disso?
Não nos cabe, aqui, dizer sim ou não, pois celebrar o dia de Todos os Santos implica, ao mesmo tempo, olhar para o cotidiano e para fim dos tempos. Mas isso não significa dizer que vivemos tempos diferentes de outras épocas. Significa, sim olhar, olhar para o comportamento das pessoas à luz do que ensina a Palavra de Santa.
E aqui, sim, nos encontramos com o livro do apocalipse. Mas não para falar que este ou aquele sinal é sinal do fim dos tempos. Aliás, não é essa a finalidade do livro do Apocalipse. Pelo contrário. Ele nos quer falar de esperança! E é sobre esperança que nos fala a celebração do dia de todos os santos!
A cena pode parecer aterradora, mas a palavra é de esperança. O anjo da destruição para ao ouvir: “Não faça mal à terra...” (Ap 7,3). Aí vem o número dos que foram marcados com o selo do cordeiro. Junta-se a eles “uma multidão imensa …. que ninguém podia contar” (Ap 7,9). E todos afirmam: "A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro" (Ap 7,10).
A intenção, portanto, não é evidenciar as dores, mas mostrar o poder salvador de Deus acolhendo seus santos. E a acolhida dos santos implica na interrupção ou fim das dores!
Mas a Palavra Santa não para aí. A primeira carta de João também acena para a esperança e não para a destruição. E aqui a proposta é ainda mais convidativa. Trata-se de um convite para a filiação divina: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai.” (1Jo 3,1).
Aqui, talvez, esteja a razão de se ver o mundo caótico e catastrófico como que se encaminhando para o fim. Mas não se trata de fim, e sim de adoção divina. É claro que para isso ocorrer, haverá um processo de purificação, pois nisso consiste a santidade. Mas é uma purificação que se dá na sintonia com a santidade divina. “Todo o que espera nele, purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1Jo 3,3). Nisso consiste a celebração de Todos os Santos: mergulhar em Deus para renascermos purificados, santificados, fazendo parte do time divino.
Como Deus não é bobo nem nada, ao mesmo tempo que convida a todos a participar de sua santidade, estabelece os critérios para essa participação. Serão bem aventurados os que valorizarem alguns dons pessoais: a pobreza, que implica em desprendimento; a mansidão, que leva à não violência. Não é só isso. Também é necessário desenvolver alguns dons em favor dos outros: ter fome e sede de justiça, ser misericordioso e ser capaz de promover a paz. Tem mais: os que desejarem encontrar-se com Deus, terão que assumir, as consequências de sua opção: sofrer perseguição e injurias tão somente por causa da opção em auxiliar na construção de um mundo melhor. (Mt 5,1-12)
É claro que as forças do mal e anticristãs tentarão prevalecer. Em vez da paz, promoverão o armamento e a violência. Em lugar de misericórdia estimularão a competição e exploração de uns pelos outros. E serão esses representantes do anticristo que perseguirão, difamarão e matarão os promotores da paz. Mas tudo isso já estava anunciado no pacote: quem faz a opção pelos valores do Reino, invariavelmente sofrerá as consequências dessa opção, pois os adoradores do anti-reino são numerosos e sua ferramenta é a mentira. Serão bem-aventurados, sem dúvida, mas, no processo de plantio das sementes do Reino, sofrerão as perseguições do adversário, difamador!
O sonho esperançoso é poder construir o Reino já em nosso cotidiano histórico. Mas sabemos que aqui apenas lançamos as sementes. E, para quem faz e cumpre esta jornada, Jesus anuncia: “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,12).
Então, como responder:
Vivemos tempos apocalípticos!
Vivemos tempos apocalípticos?
Vivemos tempos difíceis, mas o cristão vive de esperança!
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
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