sábado, 20 de novembro de 2021

Cristo Rei: A voz da verdade e o reino que não se dissolverá.

(Reflexões baseadas em: Daniel 7,13-14; Apocalipse 1,5-8; João 18,33b-37



A literatura apocalíptica não se resume ao livro do Apocalipse. Esse gênero literário nasceu no Antigo Testamento. Está presente nos profetas,como o caso de Daniel. Mas também existem trechos apocalípticos nos evangelhos, como em Mateus e em trechos das cartas, como as de Paulo.

Quando lemos um trecho apocalíptico, a primeira imagem que nos vem é o que popularmente chamamos de “fim do mundo”.Isso se deve à natureza simbólica desses escritos, descrevendo cenas, aparentemente assustadoras, como estes dois versículos de Daniel (7,13-14).

Quando lidos isoladamente ou sem olharmos para o conjunto de onde eles foram retirados, podem parecer estranhas expressões como: “visão noturna”; filho de homem entre nuvens do céu; “ancião de muitos dias”; “poder eterno”, “reino que não se dissolverá”… Mas isso não deve ser causa de medo e sim de esperança.

Este trecho deDaniel está inserido num contexto em que o profeta fala ao seu povo sofredor…. E pecador! Nos versículos anteriores aparecem sinais do sofrimento: a descrição de alguns monstros que massacram ao povo. São os reis e reinos inimigos. Entretanto, o incrível é que, em meio a todos os sofrimentos aparece não um monstro a mais, mas um “filho de Homem”.

Enão se trata de uma pessoa qualquer. É alguém poderoso. Ele tem “poder, glória e realeza”. Ele domina “todos os povos, nações e línguas”. E o melhor de tudo: seu “reino não se dissolverá”.

Então, se num primeiro momento temos a impressão de catástrofe, prestando atenção nesse “filho de homem” veremos que ele representa o oposto ao sofrimento: a vitária sobre as dores!A superação dos sofrimentos! Ele representa a esperança! Uma alternativa aos pecados do povo.

A questão é saber: quem é esse filho de homem com poderes definitivos?

Por tradição sabemos a resposta: é Jesus. O livro do apocalipse (1,5-8) o apresenta como “a testemunha fiel, o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o soberano dos reis da terra”.E diz mais: “Ele vem com as nuvens, e todos os olhos o verão”, pois ele é o “Todo Poderoso”. Ele é o Rei do Universo! Ele veio para dar início a um tempo de paz, justiça, fraternidade, amor entre as pessoas…

Então, se Jesus, aquele em quem dizemos acreditar, é todo poderoso e tem poderes até mesmo sobre a morte, o que pode nos assustar? O que temos a temer? Se cremos nele e se sabemos que nos ama e que “por seu sangue nos libertou”… qual a causa do medo?

O tal medo do “fim do mundo” só se justifica se não estivermos conduzindo nossa vida em sintonia com o projeto desse Filho de Homem,de Jesus, Rei do Universo. Rei da esperança!

E isso, quem afirma, não são outros quaisquer, mas o próprio Jesus. Dialogando com Pilatos (Jo 18,33-37), faz-se reconhecer como rei. Ou seja, deixa-se reconhecer como senhor do mundo.

Jesus é claro e definitivo: “Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”.

E para sabermos a respeito de quê Jesus está falando, basta olharmos para sua trajetória de vida. Em todos os seus passos posicionou-se em defesa da vida, dos fracos, dos desamparados, dos excluídos, dos doentes…dos sem voz e sem vez…. e disse a seus seguidores que o caminho para seu reino é seguir seus passos. E seguir seus passos ou “escutar sua voz” é, também, fazer uma opção de classe.

Mais ainda, seguir os passos de Jesus, “ouvir sua voz” não é algo que depende dos outros. Pilatos quis saber se Jesus era Rei, mas é questionado por Jesus: quer saber isso por si mesmo ou por outros?

Sea curiosidade sobre Jesus é obra de outros, ele pode até ser objeto de admiração. Uma pessoa interessante. Mas isso não leva a optar pelo seguimento do Mestre.

Mas seisso brota de uma adesão pessoal, então Jesus não é nem inimigo nem adversário. É apenas o salvador, motivo de esperança. É alguém a ser seguido, embora seja um seguimento que estabelece condições: ajudar no testemunho da verdade. Desmascarar aqueles que se apresentam como os messias atuais, e que são causadores de morte e sofrimento.

Seguir o Cristo Rei é, também, dar testemunho da verdade, na esperança de instalaro reino que não se dissolverá. O reino da vida!

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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