sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Depois da grande tribulação

(Reflexões baseadas em: Daniel 12,1-3; Hebreus 10,11-14.18; Marcos 13,24-32)




Tribulações são as dificuldades,as dores e sofrimentos que atingem as pessoas, as famílias ou a sociedade. E a gente acredita que depois dela virão dias melhores. Virá, depois do sofrimento, a vitória sobre as dores: a alegria pela vitória; a felicidade pela fertilidade da união e a colheita dos frutos que cresceram da união que deu suporte à superação. Já a “grande tribulação” diz respeito à narrativa apocalíptica, pela qual nos são apresentadas pistas para o encontro definitivo com Deus.

Num ou noutro caso, apesar de haver referência a situações catastróficas, a tribulação ou a grande tribulação são indicativos de esperança. O fato ou o momento pode até ser terrível, mas ele acena para o que vem depois. Essa é a característica da esperança: no exato momento da dor, ter a capacidade de olhar para além. Não que isso alivie ou elimine a situação de sofrimento, mas oferece a força necessária para buscar a superação das dores.

Essa perspectiva pode ser encontrada na narrativa apocalíptica de Daniel (12,1-3). Ele afirma que num “tempo de angústia como nunca houve até então”, aparecerá um grande “defensor dos filhos do povo”. E, pela ação desse defensor, “povo será salvo” (Dn 12,1). Mais ainda, até aqueles que já tiverem experimentado a morte serão chamados à vida. Aqueles que “dormem no pó da terra, despertarão, uns para a vida eterna, outros para o opróbrio eterno.” (Dn 12,2)

Mas, se o profeta fala da possibilidade de perdição eterna, onde está a esperança?

O próprio Danielresponde. Quem ensinar a sabedoria; quem ensinar “os caminhos das virtudes”… estes “brilharão como as estrelas, por toda a eternidade.” Dessa forma indica que, por maior que seja, o sofrimento não é definitivo; ele perpassa as dificuldades, mas não é o ponto final. A sabedoria, consiste em ser capaz de ajudar ao outro a encontrar o caminho da virtude… na esperança de que mestre e aprendiz recebam o benefício de ser luz no firmamento (Dn 12,3).

Não é só Daniel quem propõe a esperança. Ela também está presente nas palavras de Jesus.

Ele não nega a existência das dificuldades. Não exclui os problemas. Não extermina os sofrimentos. Pelo contrário: afirma a tribulação. E mesmo depois dela, ainda não dá a certeza do fim das dores. Por quê?

Porque a fragilidade das convicções e a fraqueza humana podem produzir, além da dúvida, reações irritadas. O fato do sofrimento, leva muitosà incredulidade ou à indagação: “Porque eu?”; “O que fiz para merecer isso?” Essa angústia e incerteza, beirando o desespero, em muitos casos, em vez de aproximar de Deus, gera o afastamento. Esse afastamento manifesta-se como escuridão, estrelas que caem; enfim, pelos astros em decadência, como o descreve Marcos 13,24-25: “depois da grande tribulação, o sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas”. Ou seja, depois da tribulação, vem a desolação; depois das dores, vem a sensação de abandono… e o olhar desesperançado….

Mas o fato é um só. Não se trata de um abandono por parte de Deus. As contingências, as dores, os sofrimentos, os problemas… são parte da vida. A fraqueza humana leva a pessoa a dizer que se sente abandonada por Deus (o sol escureceu). Mas a fé, movida pela esperança, olha para um pouco mais além. E então verá Jesus, estendendo a mão e enviando seus anjos para reunir os perseverantes da esperança: “Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra” (Mc 13,27).

Isso nos leva a indagar: onde encontrar os motivos para ter esperança?

Certamente ela não se encontra no plano humano. Mesmo que as pessoas sejam motivos de ânimo e esperança ela não nos vem do que nos proporcionam as pessoas, mas somente da ação de Jesus Cristo. As ações das pessoas, por mais que sejam edificantes, dependem da graça divina para, efetivamente, surtirem efeito.

A ação humana, é como o sacerdote que “se apresenta diariamente para celebrar o culto, oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios” (Hb 10,11). Masessa ação não é suficiente por si mesma. Por isso, a necessidade de se apoiar na oferenda do próprio Jesus que “com esta única oferenda, levou à perfeição definitiva os que ele santifica. Ora, onde existe o perdão, já não se faz oferenda pelo pecado” (Hb 10,18).

Que nos resta, então?

Fazer tudo que estiver ao nosso alcance, mas, ao mesmo tempo, confiar pois “depois da grande tribulação”, ainda não é o fim. Depois da grande tribulação, temos que continuar alimentando a esperança, pois “o Filho do Homem está próximo”(Mc 13, 26).







Neri de Paula Carneiro

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