quarta-feira, janeiro 25, 2023

Bem-aventurados

(Reflexões baseadas em: Sofonias 2,3;3,12-13; 1 Coríntios 1,26-31; Mateus 5,1-12a)



Quem são aqueles a quem Jesus chama de Bem-aventurados?

Se fizermos essa pergunta ao profeta Sofonias (2,3;3,12-13) ele nos dirá que são os “humildes da terra”, os pobres ou um “resto de israel”. Dirá que eles, sob a proteção do Senhor, ninguém molestará. Bem-aventurados são aqueles que põem em prática os preceitos e a justiça do Senhor. Isso nos dirá o profeta!

Caso perguntássemos a Paulo (1Cor 1,26-31), o apóstolo diria que não são os “poderosos”, também não são os “nobres”. O apóstolo diria que não é a força nem aquilo que o mundo considera importante. O apóstolo nos dirá que os Bem-aventurados são aqueles que o mundo considera estúpido e fraco; aqueles que são considerados “sem importância e desprezados”. Esses são os preferidos de Deus. São os Bem-aventurados, afirmaria Paulo!

Como se vê, não são muitos, os Bem-aventurados. Nem os mais evidentes!

Quando prestamos atenção às palavras de Jesus veremos que os Bem-Aventurados formam um grupo pequeno.

Na realidade, Jesus faz uma pequena lista, com os critérios das Bem-aventuranças (Mateus 5,1-12a). Na lista de Jesus estão os pobres em espírito, os aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os que são perseguidos por causa da justiça. E, principalmente, os que são vítimas da mentira, forjada para deturpar o mundo de paz e amor, que está nos Planos do Pai.

Mas em que consiste ser Bem-Aventurado?

Tem o mesmo sentido de Benção. É como dizer “você é merecedor de uma benção”. Ou seja: “a teu respeito serão ditas coisas boas e você é merecedor da graça divina”.É o mesmo que dizer: “Você é uma pessoa de quem se fala o bem e merecedora do bem que pronuncia, pois faz o bem”. Como se vê, a Bem-aventurança corresponde a uma boa “Ventura”, o que corresponde, nos dias de hoje, ao desejo de “boa sorte”, de sucesso, aos votos de prosperidade!

Tudo isso aplicado àquele que recebe de Jesus uma atenção especial!

Tendo entendido isso, a pergunta seguinte é: o que levou Jesus a dizer que essa categoria de pessoas são bem-aventuradas, são merecedoras da benção divina, terão prosperidade em seu caminhar para o Reino?

A resposta é simples: Jesus afirma estas qualidades para contrapô-las ao comportamento oposto.Aos pobres em espírito e mansos se contrapõem os arrogantes; os aflitos e os que esperam justiça são vítimas daqueles que os afligem. Além disso, aos misericordiosos e puros de coração se contrapõem os promotores do mal e sofrimento. Da mesma forma que se existem aqueles que promovem a paz, existem aqueles que tiram a paz das pessoas e promovem as guerras e desavenças. O mesmo se pode dizer a respeito daqueles que promovem a justiça: eles fazem isso porque há muita gente que provoca dor e se beneficia com as injustiças.

E, por fim, todos aqueles que são Benditos/Bem-aventurados por promoverem o bem ou por serem bondosos, acabam chamando a atenção quando lançam as sementes do Reino. Quando abrem as portas do Reino, onde não poderão entrar os que geram as situações opostas à benção, opostas ao bem e à justiça, opostas à misericórdia e à paz.

Esses, por não serem merecedores da benção divina, encaminham-se para o oposto da benção, que é a maldição; a completa separação de Deus e daqueles que são os seus amados.

Estes,que noutro momento serão chamados de malditos, vendo-se no caminho da perdição, tentarão deturpar, arruinar, sujar os caminhos dos promotores do bem. E uma das formas usadas para tentar atingir os promotores do amor é enredá-los na mentira. Por isso, as vítimas da mentira também são merecedores da Benção, das Bem aventuranças. E, por consequência lógica, todo aqueles que espelha ou compactua com a mentira é maldito!

Assim, se por um lado Jesus, na fórmula das Bem-aventuranças, concede sua graça para os que promovem o bem; o Pai da Mentira arrasta para a predição todos aqueles que se contrapõem à verdade, que disseminam mentiras, que perseguem os mensageiros da paz.

A verdade é que são Bem-aventurados todos os que combatem os mensageiros da mentira, geradores do mal. São Bem aventurados todos os que constroem a paz, a harmonia, o bem querer… pra estes, Bem-aventurados Jesus faz o convite: “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

sexta-feira, janeiro 20, 2023

Farei de vós pescadores de homens

(Reflexões baseadas em: Isaías 8,23b-9,3; 1Coríntios 1,10-13.17; Mateus 4,12-23)




A Palavra de Deus é sempre atual em retratar a realidade e uma resposta aos fatos: dos tempos passados e dos nossos dias. Deus nos fala de vida e a vida nos leva a Deus.

A Palavra, por vezes retrata momentos de alegria; noutras vezes retrata as angústias que atormentam o povo e por vezes fala da esperança que alimenta a caminhada.

Hoje estamos diante de um anúncio de esperança. Estamos diante de um povo que acabou de superar um momento de tribulação, como o demonstra o profeta Isaías (8,23b-9,3). O mesmo dá pra dizer da pregação de Jesus (Mateus 4,12-23).

Os dois trechos: de Isaías e o de Mateus, nos informam que uma situação complicada acabou de ser superada. E em razão disso abrem-se novos caminhos e perspectivas para esperança. É claro que as coisas não nos chegam gratuitamente, há uma exigência para recebermos o dom de Deus: “Jesus começou a pregar dizendo: ‘Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo’” (Mt 4,17). A exigência é de conversão!

No tempo de Isaías, duas tribos haviam enfrentado sérios problemas. Entretanto, “no tempo vindouro cobrirá de glória o caminho do mar”. Mas a Glória do Senhor não é individualista. O profeta mostra que ela está no meio do povo. Ela se manifesta como a luz, superando as trevas: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; uma luz raiou para os que habitavam a terra sombria como a morte” (Is 8,23–9,1).

Que ocorreu com Jesus? Percebeu as ameaças do governo autoritário, que desprezava a vida. Percebeu o destino de João, preso por causa de mentiras e maquinações mesquinhas do governo de morte. Jesus viu, também, que sua mensagem não podia ser interrompida pelas ameaças. O que ele fez? Desviou-se do perigo e foi para outra região. Convidou auxiliares. E continuou a divulgar sua mensagem de paz, amor, esperança.

Jesus chama e dá uma missão: “Venham comigo. Farei de vocês pescadores de homens!” (Mt 4,19).Essa é a missão: continuar a caminhada, convidando mais pessoas para que se convertam! Para que deixem as “sombras da morte”. Para que abram os olhos e vejam que a luz já venceu as trevas...

O convite é amplo e destinado Não aos desocupados, mas a quem está comprometido com o outro. Por isso Jesus não convida os desocupados das esquinas da vida, mas os trabalhadores. Neste caso, os filhos dos pescadores. E, junto com os seus “andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo.” (Mt 4,23).

O que vem a ser esse “Evangelho do Reino”?Trata-se da boa notícia de que o Plano de Deus não se desvia de seu propósito: a saúde para todos, a mesa com o necessário para avida, o respeito e a aceitação do outro, a paz, a denúncia dos atos contrários à vida… são algumas das sementes do Reino anunciadas pelo Evangelho-Notícia Boa de Jesus.

Mas, mesmo trazendo as novidades do Reino e apresentando os critérios para dele participar, as pessoas se distanciam dessa proposta. As pessoas, e as comunidades, se dividem… e acabam dando mais valor e crédito ao anunciador do que ao sentido da mensagem. Por isso crescem as notícias falsas em vez de fortalecer a Boa Nova. Essa é a denúncia de Paulo (1Cor. 1,10-13.17).

A notícia, a proposta, o anúncio é de paz e esperança. De amor e solidariedade. Em nome disso é que Paulo afirma a necessidade de união: “não admitais divisões entre vós. Pelo contrário, sede bem unidos e concordes no pensar e no falar” (1Cor 1,10).

O mundo das trevas e os anunciadores da mentira são os promotores da divisão que esteve presente na comunidade de Corinto e que continua presente em muitas das nossas comunidades; enão só no ambiente das Igrejas, o Pai da mentira gera divisão na sociedade: exemplo disso são as crises enfrentadas pela população brasileira; ou em nível planetário, haja vista os conflitos e guerras que assolam os povos mundo afora.

E, o que é pior, muitos desses conflitos, locais ou mundiais, são produzidos em nome da religião. Em diferentes lugares do mundo e nos diversos períodos da história, muita morte, dor e tristeza foram geradas em nome das fé, das crenças e dos deuses. Por isso a indignação paulina: “Está havendo contendas entre vós. Digo isto, porque cada um de vós afirma: ‘Eu sou de Paulo’; ou: ‘Eu sou de Apolo’; ou: ‘Eu sou de Cefas’; ou: ‘Eu sou de Cristo!’ Será que Cristo está dividido? Acaso Paulo é que foi crucificado por amor de vós?”(1Cor 1,11-13).

O anúncio da esperança está lançado. Mas a denúncia da divisão não pode ser esquecida nem calada. Cristo convida: farei de vós pescadores de homens, mas é necessário aceitar o convite. E o convite supõe a adesão à causa do Reino.

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:


sexta-feira, janeiro 13, 2023

Eis o Cordeiro de Deus

(Reflexões baseadas em: Isaías 49,3.5-6; 1 Corintios 1,1-3; João 1,29-34)




Quando lemos, no livro do profeta Isaías (49,3.5-6), que Deus afirma a Israel: “Tu és meu servo”, devemos continuar a leitura. Veremos que em seguida o Senhor completa: “pouca coisa é ser meu servo”. Ou seja, ser servo do Senhor é importante; entretanto é necessário algo a mais, principalmente porque nesse momento, afirma o profeta, a nação está dividida.

Que mais, então, é necessário?

Deixar-se conduzir pelo Senhor a fim de resgatar o que está perdido, perdendo-se ou em risco de se perder. Permitir a ação de Deus mediante as próprias ações, a fim de promover a união, promover a recuperação, promover a recondução para os caminhos do Senhor.Isso deve ocorrer para que o Nome do Senhor chegue até os confins da terra.

A consequência dessa entrega aos desígnios do Senhor é que o agente facilitador da obra divina, conhecerá a glória do Senhor e será luz, assim como o Senhor é Luz. Mediante essa Luz, a paz, a união e a salvação estarão à disposição de todos. “Eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até as extremidades da terra” (Is 49,6). É necessária essa luz porque uma nação dividida está afastada do Senhor.

Estando dividida a nação, cabe ao servo a missão de “reconduzir” e “restaurar as tribos”. Reconduzir e restaurar a nação dividida: essa é a missão daquele que é chamado pelo Senhor. É a missão do servo. É a missão daquele que, desde o ventre materno, está destinado a ser luz para as nações, levando a salvação “até as extremidades da terra”. E se essa é a missão do servo, a nossa não é diferente: ser canal de restauração.

Gerar união, restaurar a nação dividida na direção de um caminho de luz, é a missão do servo do Senhor. Isso veio ensinar o Servo do Senhor, encarnado em Jesus de Nazaré. Também Paulo nos convida a isso, escrevendo à Comunidade de Corinto (1Cor 1,1-3).

O apóstolo dirige-se àqueles que são “chamados a ser santos junto com todos que, em qualquer lugar, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Cor 1,2). Assim como o profeta Isaías, Paulo convoca os seguidores de Jesus Cristo. Incita-os à paz, pois os problemas da comunidade podem ampliar a divisão. Só a adesão ao Cristo conduz a unidade e à paz.

Caminhar nos caminhos de Jesus implica em construir a Paz. Caminhar nos caminhos de Jesus implica em promover a união. Caminhar nos caminhos de Jesus leva a uma exigência:colaborar na edificação de laços de união, de mecanismos de santificação, de construção de ambiente propício à graça do Senhor, pois só assim será possível construir a paz “da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (1Cor 1,3).

A situação de divisão;a necessidade de paz; as pessoas distanciando-se do Senhor, luz das nações; a proposta da união ao redor do nome de Deus; a proposta de Paz, em nome do Criador… são algumas das situações pelas quais Deus se compadeceu de nós e nos enviou seu Filho. Mas, mesmo assim, o mundo não o conheceu e Ele foi rejeitado. E, sem Ele, Príncipe da Paz, as pessoas não conseguem voltar-se para os caminhos do Senhor. Sem Ele, verdadeira Luz, as nações não conseguem andar nas trilhas da justiça, do amor, da solidariedade, da paz.

E pelo, fato de não ter sido reconhecido, João (Jo 1,29-34) o apresenta como o Cordeiro sobre o qual repousa o Espírito.

Jesus, apresentado por João, é o Cordeiro, mas é diferente dos cordeiros dos sacrifícios antigos. Os sacrifícios com os cordeiros antigos não tinham poder definitivo. As pessoas e o povo continuavam produzindo e eram reféns das condições e situações pelas quais a maldade, a divisão, a intolerância, o ódio… continuavam se alastrando na sociedade. Aliviava o fardo do pecado, mas não o eliminava. O Cordeiro, apresentado por João traz essa novidade: ele “tira o pecado do mundo”.

Por isso Paulo dirige-se aos que professam a fé no Cordeiro. Por causa dessa fé os que aderem ao projeto do Reino formam o grupo dos “que foram santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos junto com todos que, em qualquer lugar, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1Cor 1,2).

Assim sendo, temos diante de nós a realidade de uma nação dividida, na qual dissemina-se o ódio, a exclusão, o preconceito, a maldade em diversos níveis e situações, tirando a paz das pessoas e da sociedade: é a inquietação Isaías... Mas também está à nossa disposição um plano de amor solidário, com uma sociedade baseada na justiça e na paz, conforme Paulo… e essa perspectiva do Reino pode se concretizar na medida que olhamos e nos deixamos conduzir pelo plano do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:


quarta-feira, janeiro 04, 2023

Epifania: Vimos a sua estrela

(Reflexões baseadas em: Isaías 60, 1-6; Efésios 3,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12)

Os magos viram uma estrela brilhando (Mateus 2,1-12). Eles a seguiram. Procuraram seu brilho no palácio, mas ali não estava o seu clarão. Os magos reencontraram o brilho da estrela quando foram para a periferia, quando se dirigiram a Belém. Ali a estrela lhes mostrou o rei que estavam buscando: Jesus, o menino da manjedoura.

Na profecia de Isaías (60, 1-6) também há um convite a olhar para a luz. Uma luz que ilumina um reerguimento, um retorno, um reencontro, uma reconstrução… Tudo será iluminado, restituindo a luz sobre as trevas que encobrem as nações. Graças a essa luminescência o povo será libertado da servidão das trevas.

A estrela, indicando a presença de Jesus e a luz libertadora, anunciada por Isaías, indicando a restauração, são sinais da Graça de Deus, como o afirma Paulo (Efésios 3,2-3a.5-6). Graça que, embora possa parecer oculta, está à nossa disposição e foi revelada por Jesus de Nazaré, mediante seus atos: desde seu nascimento até sua entrega na cruz. Atos que consistem em práticas amorosas a fim de extinguir o desamor, a violência, os sinais de morte.

A Luz e a Graça. Duas modalidades pelas quais Deus se manifesta e se oferece como companhia ao desvalido que busca a proteção de Deus. Luz e Graça para indicar o caminho da vida. O Senhor manifesta-se na luz desde o início da criação, passando pelo processo de libertação do Egito e no deserto até a vinda do Espírito santificador: Luz da vida para vencer as trevas da morte.

Mediante essas manifestações, o Deus da Luz ilumina os caminhos da Salvação. A luz, que acompanha o ser humano ao longo da história, manifesta a Graça que é o dom da salvação. Por isso é que Isaías anuncia a luz ao povo que sofre: “Eis que a terra está envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti. Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora” (Is 60,2-3). E todos podem aderir ao projeto de redenção, pois todos “são admitidos à mesma herança, são membros do corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho” (Ef 3,6).

Na celebração da Epifania do Senhor somos convidados a fazer esta revisão de vida e de propósitos: buscar a luz e encontrar a Graça do Senhor. Para isso podemos seguir os passos dos Magos do Oriente, na busca pelo rei que se manifestou no luminosidade de uma estrela.

Eles, lá em sua terrado Oriente, viram a estrela do novo rei. Viajaram para encontrá-lo. Deixaram-se guiar pela luz da estrela que brilhava no céu. Ou seja, nos caminhos da vida, seguiram a luz. Entretanto cometeram um equívoco: quiseram encontrar a fonte da luz onde ela não estava; onde ela havia sido apagada; onde não havia espaço para ela. Os magos procurar a fonte da luz no palácio, na residência do Rei. “Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: ‘Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo’” (Mt 2,1-2).

Algo deve ser notado quando lemos com atenção o episódio dos magos seguindo a estrela, chegando ao rei e novamente pondo-se a caminho de Belém: na caminhada, a estrela os guiou. Mas quando chegaram próximo do Rei, perderam-na. Deixaram de ver a “Estrela Guia”. Só reencontram-na quando se afastam do rei, da corte, do luxo, da ostentação, do poder assassino. “Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande.” (Mt 2,9-10).

Podemos dizer que esta é uma das principais mensagens da celebração da Epifania do Senhor. Em sua manifestação ao mundo, Deus não quis se apresentar na opulência do palácio, para não se envolver com a mentira. Não compactuou com o poder assassino, pois é o Deus da vida. Não se deu a conhecer junto aos chefes religiosos, pois haviam se afastado do povo. Não quis ser associado ao centro do luxo e da riqueza opressores… Não quis ser confundido com a cidade, com os políticos nem com o centro da corrupção.

Deus quis se manifestar, sim. Desejou se dar a conhecer. Desejou encontrar-se com seu povo… e de fato o encontrou. Mas o povo de Deus não são os donos do poder e da riqueza, pois estes oprimem o povo. Deus desejou se dar a conhecer e se manifestou para os marginalizados: pastores e sem teto. Aos estrangeiros: magos do oriente.A partir do útero de uma mulher: sua mãe Maria.

A celebração da Epifania, portanto, é a celebração da estrela que direcionou os passos dos magos, acolheu os marginalizados na figura dos pastores,colocou uma mulher no centro da história da salvação. E se aderimos ao menino do presépio, podemos dizer como os magos: “Vimos a sua estrela e viemos adorá-lo”.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:


Sagrada Família: para se cumprir!

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