quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Epifania: Vimos a sua estrela

(Reflexões baseadas em: Isaías 60, 1-6; Efésios 3,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12)

Os magos viram uma estrela brilhando (Mateus 2,1-12). Eles a seguiram. Procuraram seu brilho no palácio, mas ali não estava o seu clarão. Os magos reencontraram o brilho da estrela quando foram para a periferia, quando se dirigiram a Belém. Ali a estrela lhes mostrou o rei que estavam buscando: Jesus, o menino da manjedoura.

Na profecia de Isaías (60, 1-6) também há um convite a olhar para a luz. Uma luz que ilumina um reerguimento, um retorno, um reencontro, uma reconstrução… Tudo será iluminado, restituindo a luz sobre as trevas que encobrem as nações. Graças a essa luminescência o povo será libertado da servidão das trevas.

A estrela, indicando a presença de Jesus e a luz libertadora, anunciada por Isaías, indicando a restauração, são sinais da Graça de Deus, como o afirma Paulo (Efésios 3,2-3a.5-6). Graça que, embora possa parecer oculta, está à nossa disposição e foi revelada por Jesus de Nazaré, mediante seus atos: desde seu nascimento até sua entrega na cruz. Atos que consistem em práticas amorosas a fim de extinguir o desamor, a violência, os sinais de morte.

A Luz e a Graça. Duas modalidades pelas quais Deus se manifesta e se oferece como companhia ao desvalido que busca a proteção de Deus. Luz e Graça para indicar o caminho da vida. O Senhor manifesta-se na luz desde o início da criação, passando pelo processo de libertação do Egito e no deserto até a vinda do Espírito santificador: Luz da vida para vencer as trevas da morte.

Mediante essas manifestações, o Deus da Luz ilumina os caminhos da Salvação. A luz, que acompanha o ser humano ao longo da história, manifesta a Graça que é o dom da salvação. Por isso é que Isaías anuncia a luz ao povo que sofre: “Eis que a terra está envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti. Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora” (Is 60,2-3). E todos podem aderir ao projeto de redenção, pois todos “são admitidos à mesma herança, são membros do corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho” (Ef 3,6).

Na celebração da Epifania do Senhor somos convidados a fazer esta revisão de vida e de propósitos: buscar a luz e encontrar a Graça do Senhor. Para isso podemos seguir os passos dos Magos do Oriente, na busca pelo rei que se manifestou no luminosidade de uma estrela.

Eles, lá em sua terrado Oriente, viram a estrela do novo rei. Viajaram para encontrá-lo. Deixaram-se guiar pela luz da estrela que brilhava no céu. Ou seja, nos caminhos da vida, seguiram a luz. Entretanto cometeram um equívoco: quiseram encontrar a fonte da luz onde ela não estava; onde ela havia sido apagada; onde não havia espaço para ela. Os magos procurar a fonte da luz no palácio, na residência do Rei. “Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: ‘Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo’” (Mt 2,1-2).

Algo deve ser notado quando lemos com atenção o episódio dos magos seguindo a estrela, chegando ao rei e novamente pondo-se a caminho de Belém: na caminhada, a estrela os guiou. Mas quando chegaram próximo do Rei, perderam-na. Deixaram de ver a “Estrela Guia”. Só reencontram-na quando se afastam do rei, da corte, do luxo, da ostentação, do poder assassino. “Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande.” (Mt 2,9-10).

Podemos dizer que esta é uma das principais mensagens da celebração da Epifania do Senhor. Em sua manifestação ao mundo, Deus não quis se apresentar na opulência do palácio, para não se envolver com a mentira. Não compactuou com o poder assassino, pois é o Deus da vida. Não se deu a conhecer junto aos chefes religiosos, pois haviam se afastado do povo. Não quis ser associado ao centro do luxo e da riqueza opressores… Não quis ser confundido com a cidade, com os políticos nem com o centro da corrupção.

Deus quis se manifestar, sim. Desejou se dar a conhecer. Desejou encontrar-se com seu povo… e de fato o encontrou. Mas o povo de Deus não são os donos do poder e da riqueza, pois estes oprimem o povo. Deus desejou se dar a conhecer e se manifestou para os marginalizados: pastores e sem teto. Aos estrangeiros: magos do oriente.A partir do útero de uma mulher: sua mãe Maria.

A celebração da Epifania, portanto, é a celebração da estrela que direcionou os passos dos magos, acolheu os marginalizados na figura dos pastores,colocou uma mulher no centro da história da salvação. E se aderimos ao menino do presépio, podemos dizer como os magos: “Vimos a sua estrela e viemos adorá-lo”.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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