sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Farei de vós pescadores de homens

(Reflexões baseadas em: Isaías 8,23b-9,3; 1Coríntios 1,10-13.17; Mateus 4,12-23)




A Palavra de Deus é sempre atual em retratar a realidade e uma resposta aos fatos: dos tempos passados e dos nossos dias. Deus nos fala de vida e a vida nos leva a Deus.

A Palavra, por vezes retrata momentos de alegria; noutras vezes retrata as angústias que atormentam o povo e por vezes fala da esperança que alimenta a caminhada.

Hoje estamos diante de um anúncio de esperança. Estamos diante de um povo que acabou de superar um momento de tribulação, como o demonstra o profeta Isaías (8,23b-9,3). O mesmo dá pra dizer da pregação de Jesus (Mateus 4,12-23).

Os dois trechos: de Isaías e o de Mateus, nos informam que uma situação complicada acabou de ser superada. E em razão disso abrem-se novos caminhos e perspectivas para esperança. É claro que as coisas não nos chegam gratuitamente, há uma exigência para recebermos o dom de Deus: “Jesus começou a pregar dizendo: ‘Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo’” (Mt 4,17). A exigência é de conversão!

No tempo de Isaías, duas tribos haviam enfrentado sérios problemas. Entretanto, “no tempo vindouro cobrirá de glória o caminho do mar”. Mas a Glória do Senhor não é individualista. O profeta mostra que ela está no meio do povo. Ela se manifesta como a luz, superando as trevas: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; uma luz raiou para os que habitavam a terra sombria como a morte” (Is 8,23–9,1).

Que ocorreu com Jesus? Percebeu as ameaças do governo autoritário, que desprezava a vida. Percebeu o destino de João, preso por causa de mentiras e maquinações mesquinhas do governo de morte. Jesus viu, também, que sua mensagem não podia ser interrompida pelas ameaças. O que ele fez? Desviou-se do perigo e foi para outra região. Convidou auxiliares. E continuou a divulgar sua mensagem de paz, amor, esperança.

Jesus chama e dá uma missão: “Venham comigo. Farei de vocês pescadores de homens!” (Mt 4,19).Essa é a missão: continuar a caminhada, convidando mais pessoas para que se convertam! Para que deixem as “sombras da morte”. Para que abram os olhos e vejam que a luz já venceu as trevas...

O convite é amplo e destinado Não aos desocupados, mas a quem está comprometido com o outro. Por isso Jesus não convida os desocupados das esquinas da vida, mas os trabalhadores. Neste caso, os filhos dos pescadores. E, junto com os seus “andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo.” (Mt 4,23).

O que vem a ser esse “Evangelho do Reino”?Trata-se da boa notícia de que o Plano de Deus não se desvia de seu propósito: a saúde para todos, a mesa com o necessário para avida, o respeito e a aceitação do outro, a paz, a denúncia dos atos contrários à vida… são algumas das sementes do Reino anunciadas pelo Evangelho-Notícia Boa de Jesus.

Mas, mesmo trazendo as novidades do Reino e apresentando os critérios para dele participar, as pessoas se distanciam dessa proposta. As pessoas, e as comunidades, se dividem… e acabam dando mais valor e crédito ao anunciador do que ao sentido da mensagem. Por isso crescem as notícias falsas em vez de fortalecer a Boa Nova. Essa é a denúncia de Paulo (1Cor. 1,10-13.17).

A notícia, a proposta, o anúncio é de paz e esperança. De amor e solidariedade. Em nome disso é que Paulo afirma a necessidade de união: “não admitais divisões entre vós. Pelo contrário, sede bem unidos e concordes no pensar e no falar” (1Cor 1,10).

O mundo das trevas e os anunciadores da mentira são os promotores da divisão que esteve presente na comunidade de Corinto e que continua presente em muitas das nossas comunidades; enão só no ambiente das Igrejas, o Pai da mentira gera divisão na sociedade: exemplo disso são as crises enfrentadas pela população brasileira; ou em nível planetário, haja vista os conflitos e guerras que assolam os povos mundo afora.

E, o que é pior, muitos desses conflitos, locais ou mundiais, são produzidos em nome da religião. Em diferentes lugares do mundo e nos diversos períodos da história, muita morte, dor e tristeza foram geradas em nome das fé, das crenças e dos deuses. Por isso a indignação paulina: “Está havendo contendas entre vós. Digo isto, porque cada um de vós afirma: ‘Eu sou de Paulo’; ou: ‘Eu sou de Apolo’; ou: ‘Eu sou de Cefas’; ou: ‘Eu sou de Cristo!’ Será que Cristo está dividido? Acaso Paulo é que foi crucificado por amor de vós?”(1Cor 1,11-13).

O anúncio da esperança está lançado. Mas a denúncia da divisão não pode ser esquecida nem calada. Cristo convida: farei de vós pescadores de homens, mas é necessário aceitar o convite. E o convite supõe a adesão à causa do Reino.

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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