sábado, setembro 25, 2021

Todo o povo a profetizar

(Reflexão a partir de: Números 11,25-29; Tiago 5,1-6; Marcos 9,38-43.45.47-48)




Qual seria nossa postura se estivéssemos no lugar de Josué, num episódio como este narrado pelo livro dos números?

No episódio(Nm. 11,25-29), sem maiores avisos, um grupo de anciãos começa a profetizar. Diante do fato alguém fala a Moisés que, vê isso com naturalidade. Ele entende que isso é obra divina. Mas Josué, talvez com medo de perder seu posto, se propõe a calar o “surto profético”.

Como nós agiríamos se, de repente, víssemos algo semelhante? Agiríamos como o jovem Josué, em defesa do mestre ou com a sapiência de Moisés, reconhecendo a mão de Deus em ação?

A pergunta tem sentido pois nos dias atuais não são poucas as vozes proféticas condenando as agressões ao meio ambiente e ao povo trabalhador… Não são poucas as vozes condenando os atos do presidente, deputados e senadores, de juízes e governadores, de prefeitos e vereadores legislando, governando e julgando em causa própria… E, por outro lado, não são poucos os empresários que anseiam pelo aumento do lucro sem ampliar os salários dos seus operários…

Por outro lado, não são poucas as vozes condenando as justas reivindicações de trabalhadores, por vezes considerando-os vagabundos… Não são poucas as pessoas dizendo que essa não é a função da Igreja. Que a Igreja não se deve meter em política…

Nos dias atuais são muitos os que se dizem cristãos, mas condenam aqueles que agem e realizam as obras de Jesus. São muitos os que se dizem cristãos, mas agem como o jovem Josué; “manda que eles se calem!” (Nm 11,28). Nos nossos dias muitos são os que se comportam como João, “nós o proibimos, pois não nos segue!” (Mc 9,38)

A postura de Josué e de João (Mc. 9,38-43.45.47-48), são idênticas: condenar a atuação profética; condenar aquele que se esforça para oferecer melhores condições ao desamparado, ao excluído, ao empobrecido, à vítima do sistema.…; condenar aqueles que defendem os escolhidos de Deus. Condenar aquele que usa sua vida para combater as injustiças e as obras más, prejudiciais ao povo e à natureza.

Que diz Moisés? “Quem dera todo o povo fosse profeta” (Nm 11,29) como a dizer: Alguém precisa falar, profetizar, pois talvez assim seja possível estimular o povo a reagir contra aqueles que o exploram, que os enganam, que lhe tiram direitos básicos…. O profeta sabe que não cabe ao povo esperar; sabe que o povo tem que cobrar e reagir….

Que afirma Jesus? “Ninguém faz algo de bom em meu nome e depois age contra mim” (Mc 9,39). E Jesus não para nisso. Convoca seus discípulos para que se engajem na defesa dos explorados, pois assim fazendo, receberão a recompensa que o Senhor destina aos seus eleitos: “Quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa” (Mc 9,41)

Mas, se por um lado o Senhor promete recompensas celestes, também explica o destino daqueles que produzem as condições e situações nas quais os pequeninos do Senhor são vítimas: “E, se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço.” (Mc 9,42).

Como sabemos, Deus é o Senhor de todos; que ama a todos e a todos oferece a salvação. Exige apenas uma condição: a conversão pessoal e total. E, justamente por ser pleno de amor, não tolera atitudes desamorosas; não tolera que uns poucos vivam às custas das dores de quem vive a sofrer. Não tolera a dureza de coração que atribui ao pobre explorado a culpa de ser pobre, não aceitando que a causa de alguns pouco possuírem se deve ao fato de alguns se apropriaram de mais do que o necessário para várias vidas.

É o apóstolo Tiago que nos ensina os critérios para viver nos caminhos do Senhor: fazer de tudo para eliminar as causas da pobreza. O sofrimento e a situação de pobreza, não são naturais nem existem por negligência ou preguiça do empobrecido. Existem porque aqueles que tem mais, ou que tem muito, tiraram seus bens da boca dos pequeninos. A concentração existe porque aquilo que foi concentrado pertencia aos explorados. Diz o apóstolo: “O salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, que vós deixastes de pagar, está gritando, e o clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo-poderoso.”(Tg 5,4).

As palavras de Tiago são mais do que claras e suficientes para derrubar por terra toda falsa argumentação daqueles que dizem: isso não é papel da Igreja; são pobres porque não trabalham… Aos poderosos do mundo Tiago avisa: “clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor”, e isso não é palavra da Igreja, é palavra de Deus. Contra os enganadores do povo o alerta é de Jesus: quem for solidário, não ficará sem recompensa; mas quem é causa das dores do povo corre o risco de “ser jogado no inferno, onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga” (Mc 9,48)

É necessário, portanto, que sejam quebradas as relações e estruturas causadoras de dor. Mesmo tendo que agir contra e sobre as vozes dos que condenam a organização popular. É necessário que todo o povo se ponha a profetizar. É necessária uma reação.

É necessário um processo de conversão, não para se alienar em falsos louvores, mas para aderir à causa dos sofredores. É necessário lembrar e ter presente que a recompensa do Senhor vem em resposta aos atos humanitários: “Em verdade eu vos digo: quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa” (Mc 9,41).




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.


segunda-feira, setembro 20, 2021

Depois da pandemia?

Já virou clichê a afirmação de que “depois desta pandemia nada será como antes”.

O clichê tem alguns pontos abertos que nos permitem longas divagações…. Mas nem precisamos de tanto. Vejamos só alguns pontos:

O primeiro ponto é a questionável afirmação: “depois desta pandemia”.

Não haverá um “depois”, como se o corona tivesse vindo para passar uma temporada, depois da qual iria embora. Ele veio, assim como o vírus da gripe e outros tantos, para ficar. Então não haverá um depois dele, como se ele nos fosse deixar um dia desses. Portanto teremos que aprender a conviver com ele e, ao mesmo tempo, morrer com sua companhia rondando a todos. Mesmo vacinados!

A pandemia pode até amenizar, mas o vírus continuará assombrando….

O segundo questionamento é a frase, meio tola, que serve de complemento ao “depois desta pandemia”. A parte que diz: “nada será como antes”.

Com ou sem pandemia, o momento seguinte sempre é diferente do instante passado. A história não se repete. Os fatos, os personagens, as circunstâncias sempre são diferentes, em cada instante da existência. E se nada se repete, evidentemente, nada será como antes… Heráclito, lá na Grécia antiga já dizia: “Não se pode tomar banho duas vezes no mesmo rio”; em pleno século XX o poeta cantou: “Nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia; tudo muda o tempo todo”. Por isso, mesmo que quiséssemos que tudo continuasse como era antes, tudo será diferente.

Talvez, quem afirma que “depois desta pandemia nada será como antes”, esteja querendo dizer apenas que muitos amigos e parentes morreram; que muitos empregos se extinguiram ou foram perdidos; que os ricos enriqueceram mais e os pobres e trabalhadores que, continuam sendo explorados, estejam sofrendo uma exploração ainda maior; que a sociedade ficou mais podre… e o mau cheiro propaga-se cada vez mais! Entretanto, não é verdade que as pessoas estejam saindo mais humanizadas. Que as relações entre as pessoas tenham melhorado; que os laços familiares e de amizade tenham se fortalecido; que tenha aumentado a solidariedade; que as pessoas tenham aprendido o valor de um abraço…. Não! Definitivamente não!

O lado mesquino do ser humano permanece e se fortalece!

Empresas e empresários continuam focados no lucro e não no trabalhador. Políticos e seus assessores continuam aproveitando-se dos eleitores, da dor das pessoas, da simplicidade e credulidade do povo… para continuar ludibriando e se dando bem às custas do povo. As estratégias se aprimoram e as falcatruas se avolumam…. Há uma permanência nesse fato. Ao mesmo tempo, a mudança, em tudo isso, é a percepção de que que todas essas mazelas se intensificaram. No fim das contas, a sociedade, ou mundo humano, não terá aprendido a lição!!!! De Buda a Jesus, de Gandhi a Mandela… e todos os profetas da bíblia… não faltaram lições de como agir e melhorar o mundo e as relações entre as pessoas. Mas a maldade prevalece!

Então, o que realmente mudou? Além do fato de que tudo é transitório, que tudo está em constante transformação, mudou o ser humano, mas não para melhor…

Campanhas de alimento foram feitas, mas depois de alguns meses o nível de desemprego aumentou. Um auxílio emergencial foi criado, mas, além de não suprir as necessidades das pessoas assistidas, serviu como trampolim eleitoreiro no discurso político… além de milhões terem sido desviados para muitos que não precisavam e incontáveis famílias necessitadas ficaram na penúria.

De fato nada será como antes…. Não! Não será como antes, será pior! Está sendo pior!

Alguns indivíduos podem ter aprendido algo; podem ter aprendido a valorizar o que antes nem percebiam que existia. Mas o conjunto da sociedade humana, essa apenas colocou em evidência uma face do mal que existe e convive com os seres humanos. E, talvez, a grande lição que a sociedade humana tenha aprendido tenha sido esta: ainda dá para tirar proveito das tragédias e das dores humanas…

Como se vê, essas são algumas das coisas que o vírus nos ensinou.... E então, o que fazer depois da pandemia? Pois nada será como antes!

Neri de Paula Carneiro

sábado, setembro 18, 2021

Bandeira vermelha

Nestes tempos conturbados, turbas brigam, por nada… ou por coisas sem sentido.

Tem uns tontos tentando polemizar os tons da cor da bandeira!

Várias cores, mas qual delas nos representa?

Verde? O que tinha virou cinza e carvão, as sobras estão caindo...

Amarelo? Talvez de fome, pois cresce a concentração e a exclusão social e econômica...

Azul? Se ainda tem algum nos céus ou mares a poluição está emporcalhando os tons

Branco? Embotado pela corrupção crescente!!! O branco ficou rubro

…..........................

Que cor sobrou para o trabalhador, além da cor da fome, do desemprego, da perseguição, da falta de opção? Sobrou a cor do seu sangue, vertido na labuta!




Mas aqueles exploradores do povo e seu exército acéfalo, vêm tentar dizer que nossa bandeira não é vermelha…

Mas é vermelha nossa história...vermelha a história dos açoites contra os negros escravizados; contra os índios expropriados...

Vermelha a terra fértil de algumas regiões produtivas...

Vermelho o brasil de nosso nome: Brasil!

Só não é vermelha a cara sem vergonha dos exploradores do povo!

Não é vermelha a ausência de sentimento humanista dos corruptos e corruptores

…………………………...

O brasil é vermelho… ou não é Brasil… E se não for um vermelho brasil… seria, talvez, cinza? Desbotado?

………………………….

Aliás, que importa a cor da bandeira, se ela não representar as necessidades do nosso povo?

Que importa a cor da bandeira se a que está aí não nos representa, pois foge às nossas necessidades; Que importa a cor da bandeira se é usada em favor dos privilégios de poucos contra as necessidade de muitos…

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Que sobra para o trabalhador, vítima do sistema?

Seu sangue vermelho, nas bandeiras de luta, nesse Vermelho Brasil!




Neri de Paula Carneiro

Ciladas ao justo

(Reflexão a partir de: Sb 2,12.17-20; Tg 3,16-4,3; Mc 9,30-37)



“Armemos ciladas ao justo!”

Essas são as intenções e assim se comportam os maldosos, os ímpios, segundo o livro da Sabedoria (Sb 2,12.17-20). Hoje dizer mais. Podemos acrescentar que são representantes do príncipe do mal!

Esse projeto maléfico nos ajuda a perceber algo, infelizmente, muito presente no ambiente de trabalho, nas relações sociais e no mundo competitivo em que se encontra mergulhada a sociedade em que vivemos. É o tradicional “puxar o tapete”. Coisa própria dos incompetentes, daqueles que não suportarem assistir o sucesso de quem é capaz de progredir. É o mundo da inveja!!!

Esse invejoso, segundo a Sabedoria, arma as ciladas ao justo e explica o motivo: “Armemos ciladas ao justo, porque sua presença nos incomoda”. E a lista dos motivos para trair a confiança daquele que é íntegro continua. O justo “se opõe” ao comportamento do malandro; o justo “repreende” e “reprova” suas transgressões…. Por isso o ímpio o persegue armando-lhe ciladas!

Esse justo, de que fala a Sabedoria, a Igreja entendeu que se identifica com Jesus de Nazaré, também apresentado por Isaías como o “Servo Sofredor”. Entretanto, podemos ir além: em nossa sociedade ele pode ser personificado em cada pessoa que realiza coisas boas em favor de quem sofre, de quem precisa de ajuda, dos excluídos… Pessoas que buscam o bem da família (sua e de outros)… e recebem críticas e, por vezes, as maledicências de quem o circunda. O justo vive próximo daquelas pessoas a quem ajuda e ambos vivem cercados e envolvidos pelos invejosos!

Essa situação nos leva às palavras de Tiago, comentando o ambiente em que existe inveja. O ambiente no qual o “impio” está instalado: “Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más”. Isso porque o “ímpio”, o invejoso, aquele que é tomado pela sanha do mal – pois vive ao lado do príncipe do mal – não consegue ver, nem valorizar o bem. Sua maldade é tamanha que imagina que o sentido de sua vida é espalhar maldades. Por isso, fala em seu coração “armemos ciladas ao justo”.

Notemos que Tiago destaca os frutos das ações do justo. Suas ações são pautadas pela verdade, pela sinceridade, pela bondade: “a sabedoria que vem do alto é, antes de tudo, pura, depois pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento. O fruto da justiça é semeado na paz, para aqueles que promovem a paz.”. (Tg 3,17-18). Vale ressaltar que ao destacar estes valores, do justo, Tiago parte da constatação de que ele está cercado por aqueles que fazem o oposto: vivem de plantar o mal! E isso também vale para a nossa sociedade: o justo está cercado pelos que lhe querem armar ciladas.

Pode até não parecer, mas o justo, apesar de sofrer perseguições, é um difusor de paz. Exatamente o oposto das atitudes do ímpio. Este, com sua postura de inveja, produz as guerras e as brigas. (Tg 4,1) E faz isso por inveja. Esse é o motivo pelo qual vive tramando maldades: alimenta-se do ódio. E, justamente por isso, está condenado ao fracasso. Pode até, momentaneamente, ser bem sucedido infernizando a vida do justo, mas seu destino é o fracasso. “Cobiçais, mas não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir” (Tg 4,2).

Estamos, pois, diante de dois projetos. O projeto do justo, que promove a paz, a concórdia, o bem estar dos seus…. E o projeto do ímpio, produtor do mal, aliado do pai da maldade; aquele que se guia pelo sofrimento do outro; aqueles que se alimenta de gerar dor; de explorar a dor alheia… Este provoca a dor do outro, além de ser blasfemo, tentando a Deus. Maltrata pensando em ver a reação de Deus. Produz as dores e fica assistindo o “circo pegar fogo”. Assistindo ao sofrimento do justo, regozija-se: “Vejamos, pois, se é verdade o que ele diz, e comprovemos o que vai acontecer com ele. Se, de fato, o justo é 'filho de Deus', Deus o defenderá e o livrará das mãos dos seus inimigos” (Sb 2,17-18).

O ambiente de inveja também se instalara entre os discípulos e Jesus. Enquanto o Mestre ensina os caminhos da solidariedade e do serviço, os discípulos disputam para ver quem se coloca em evidência. Querendo saber quem é o maior (Mc 9,34).

Jesus ensina o caminho para a resposta: não é quem está em destaque, na ostentação, “na crista da onda” como se dizia ou “viralizando” como se diz atualmente. Não é esse o caminho de Jesus. Para o Mestre, merece destaque aquele que se colocar a serviço do outro. Aquele que ajuda o outro a ser melhor: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9,35).

Essa postura, além de estimular a solidariedade, diminui o conflito; além de estimular a prática do bem, diminui a competição. E conseguirá esse tipo de realização, não quem tenta se projetar pisando no outro, mas quem se faz criança. Não quem arma ciladas ao justo, mas quem acolho o reino como o fazem os pequeninos.

Quem age com a pureza da criança, está preparado para acolher o reino: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou” (Mc 9,37). Quem faz de sua vida um espaço para o serviço ao outro, esse é o justo vítima das ciladas…







Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

sexta-feira, setembro 10, 2021

Adianta dizer que tem fé?

(Reflexão a partir de: Isaías 50,5-9; Tiago 2,14-18; Marcos 8,27-35 )




Hoje somos convidados a mais um ato de fé. Mas um ato de fé duplamente comprometido: conosco e com aqueles que estão próximos de nós.

Como se dá isso?

A resposta nos vem, começando com o profeta Isaías (50,5-9). Ele dirige a cada um de nós, uma exortação de ânimo: “Ao meu lado está quem me pode ajudar” (Is 50,8). Como num eco ao brado do profeta, o apóstolo Paulo, em uma de suas cartas exclama: “Se Deus é por nós, quem será contra nós? (Rm 8,31)”. Ambos afirmando a presença de Deus amparando nas dificuldades da vida.

Mas essas falas não ocorrem de forma isolada. Elas tem repercussão ao longo das páginas da Palavra Sagrada. Um eco dessa palavra repercute em Tiago ( 2,14-18) que nos apresenta um sério questionamento: “Meus irmãos, que adianta alguém dizer que tem fé, quando não a põe em prática?” (Tg 2,14).

E aqui está o “centro” da questão. Notemos que esse centro manifesta-se como um ponto de convergência de duas linhas se encontram no ato de fé. Esse centro é ponto de convergência e, ao mesmo tempo, ponto de partida de um ato de fé.

A confiança no Senhor, como aquele que ampara nas dificuldades, é reflexo de um ato de fé. Mas a fé tem que ser posta em prática! Portanto, vai em direção ao outro! Para o cristão é inconcebível um ato de fé, como algo isolado, alheio ao que ocorre com aqueles que estão ao nosso redor! Não existe ato de fé, quando o centro das nossas atenções somos nós mesmos! E, se ocorrer uma profissão de fé, sem que ela esteja voltada para as necessidades dos outros, será uma profissão falsa, interesseira, mentirosa. Pode ser tudo, menos uma profissão de fé cristã!

Por quê? Porque assim ensinou o Mestre. Porque assim agiu o Mestre. Porque essa foi a condição do Mestre…. E quem crê no Senhor tem que seguir seus passos: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la” (Mc 8,34-35). E para aquele que se contrapõe ou tenta impedir esse projeto solidário, vale a palavra de Jesus: “Vai para longe de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens” (Mc 8,33).

Portanto, não é exagero repetir: O projeto de Deus vai além do ato de fé, exteriorizado em palavras. Exige atitudes! O ato de fé que estaciona no “momento” da oração, pode e deve ser questionada. O ato de fé, nos moldes ensinado pelas atitudes e ensinamentos de Jesus, necessariamente impulsiona na direção ao outro, na direção à solidariedade, na direção da ação em favor das transformações sociais humanizantes.

Atitudes que geram a gratidão pelo bem recebido e que se pode realizar; e ao mesmo tempo atitudes que produzem as perseguições por parte dos inimigos da Boa Nova. Essas atitudes podem gerar oposições como as enfrentadas pelo profeta. Nessa situação a resposta do agredido deve ser como a de Isaías: “Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba: não desviei o rosto de bofetões e cusparadas”. A resposta às agressões podem suportadas e superadas porque: “O Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado” (Is 50,6-7).

E isso nos leva de volta ao apóstolo Tiago. O apóstolo que, sob inspiração do Espírito de Deus, teve uma clareza cristalina ao afirmar a necessidade juntar aquilo que nunca esteve separado no plano do Senhor: A fé não se dissocia das ações. É repetitivo, mas a fé exige compromisso com o outro. Ensina o apóstolo: “Imaginai que um irmão ou uma irmã não têm o que vestir e que lhes falta a comida de cada dia; se então alguém de vós lhes disser: 'Ide em paz, aquecei-vos', e: 'Comei à vontade', sem lhes dar o necessário para o corpo, que adiantará isso? Assim também a fé: se não se traduz em obras, por si só está morta.” (Tg 2,15-17).

É claro que as circunstancias hoje são outras. A conjuntura é diferente. As estruturas sócio-econômicas são mais exigentes. Os problemas atuais são muito mais complexos…. Mas isso não invalida a orientação do Senhor. Não revoga a lei instituída desde o coração do Pai. Pelo contrário, torna o compromisso com as transformações das estruturas de pecado e de morte ainda mais exigentes. Exige maior comprometimento, pois as vítimas continuam sendo engolidas pela voracidade dos representantes do anticristo. Esse é o ambiente onde o cristão tem que afirmar: “eu te mostrarei a minha fé pelas obras!” (Tg 2,18).

Tudo isso nos leva à indagação de Jesus: “Quem dizem os homens que eu sou?” (Mc 8,27).

A resposta do cristão não pode ser como a daqueles mencionados por Pedro: “alguns dizem...”; “outros dizem...”. Os outros podem dizer isto ou aquilo, pois não estão comprometidos com a causa do Evangelho. Do cristão, é cobrado não o que diz, mas o que faz. Não uma palavra, mas uma postura. É Jesus quem faz a cobrança: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mc 8,28-29).

Hoje somos convidados a mais um ato de fé. Mas um ato de fé duplamente comprometido: conosco e com aqueles que estão próximos de nós. Não nos cabe ser como os outros: “alguns dizem!….” A nós é feita a pergunta de forma direta: Quem é Jesus para nós…?




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

terça-feira, setembro 07, 2021

A FILOSOFIA CLÁSSICA (II-c) - Aristóteles: as mudanças no mundo sensível

Aristóteles é o terceiro grande nome do período clássico da filosofia grega. Juntamente com Sócrates e Platão, forma aquela que, possivelmente tenha sido a maior tíade de pensadores do mundo grego.

Evidentemente a academia de Platão formou vários discípulos. Mas somente um marcou a história da filosofia: Aristóteles, que viveu entre 384 a.C. a 322 a.C.


O mestre do liceu

Ao contrário de seu mestre e de Sócrates, que eram de Atenas, nasceu em Estagira, uma colônia grega. Só veio para Atenas aos 18 anos, justamente para estudar na academia de Platão. Aí permaneceu por 20 anos.

Após a morte do mestre fez várias viagens de estudos até ser convidado pelo rei Felipe, da Macedônia, para ser instrutor de seu filho. Na época um garoto de treze anos. Após a morte da Felipe o rapaz assumiu o governo, expandindo seu reino. Suas conquistas militares o fizeram entrar para a história como Alexandre, o grande. Com suas conquistas também contribuiu para a disseminação da cultura grega em todo o seu império, trazendo para a Europa inúmeras contribuições do saber oriental, produzindo o fenômeno denominado de Helenismo

A contribuição de Aristóteles para a filosofia foi enorme. Mas não só a filosofia lhe paga tributo. Suas observações e conclusões lhe permitiram colocar as bases de várias ciências atuais. Um exemplo disso é sua classificação de plantas e animais que perdurou até a reformulação feita por Lineu, no século XVIII. Mas não para aí. Escreveu sobre: a geração dos animais e suas migrações; meteoros e o céu…. Além de escritos sobre a alma (psicologia), sobre economia, política, matemática, ética, estética, e várias outras áreas. Evidentemente, todos os seus estudos e escritos tiveram o auxilio dos seus discípulos.

Enquanto Platão dava atenção ao processo de se sair do mundo sensível para se concentrar no “mundo das ideias”, em busca das realidades inatas, ele queria “sair da caverna” a fim de entender o mundo circundante e sensível, exatamente o inverso de Platão: olhava para a natureza e nela estudava tudo.





Anotações e escritos

Não sabemos com exatidão, mas alguns estudiosos dizem que Aristóteles teria produzido mais de 170 escritos, dos quais a maioria se perdeu. Restam-nos apenas 47 textos dos quais alguns são livros completos, e outros apontamentos para suas lições aos discípulos.

No tempo de Aristóteles, a filosofia (e assim agiam todos os mestres) era uma atividade oral. Sócrates conversava com seus discípulos na praça de Atenas. Platão em sua academia.

No caso de Aristóteles suas lições eram ministradas em seu Liceu, localizado nas proximidades do jardim dedicado a Apolo Lício. De manhã dirigia-se a aos discípulos e à tarde ao publico geral que o procurasse.

Suas anotações e escritos serviram de base para uma linguagem técnica ainda hoje utilizada pelas ciências. Além disso, criou e sistematizou inúmeros saberes que deram origem a diversas ciências.





Preservado pelos muçulmanos

Deve-se lembrar, no entanto, que todos esses saberes da filosofia grega havia se perdido sem haver chegado ao mundo ocidental. Isso só não ocorreu porque os estudiosos muçulmanos copiaram os textos gregos, traduzindo-os para o árabe. No tempo das cruzadas os europeus redescobriram os gregos e os trouxeram para a Europa onde os monges católicos os traduziram, inicialmente para o latim e depois foram sendo absorvidos pelas outras línguas locais.

Dessa forma foi que a importância de Aristóteles foi realçada. E isso se deve, principalmente, a santo Tomás de Aquino que o estudou profundamente de modo que passou a ser um filósofo de conhecimento quase que obrigatório entre os estudantes e clérigos católicos.

Deviso a importância a ele atribuída por Aquino, os estudiosos medievais nem mais o chamavam pelo nome mas de “O Filósofo”.

Talvez por esse motivo, ao longo de vários seculos medievais não houve inovações, pois todos o saber e as possibilidades de conhecimento já haviam sido alcançadas pelo Filósofo. De modo que qualquer indagação a ser respondida passou a ter duas fontes de resposta: a bíblia e os escritos de Aristóteles. Ou seja, como comentam alguns altores, deixava-se de observar e estudar o fato ou o fenômeno para se observar apenas O Filósofo.

Tanto que Aristóteles passou a ser critério de verdade. Qualquer pesquisa tinha que estar em consonância com a bíblia e com o Filósofo. Se não estava na bíblia nem nos escritos de Aristóteles era anátema, ou seja, algo condenável. Daí a anedota a respeito de um grupo de estudantes queria saber quantos dentes existem na boca de um cavalo adulto. Como não encontravam resposta na bíblia nem em Aristóteles, um deles sugeriu que se fosse até o estábulo para contar, diretamente no animal. Em vez de acatar a sugestão, o grupo expulsou o estudante herege, pois estava propondo um “absurdo”!





Afastando-se de Platão

O fato de se ocupar com inúmeras dimensões do saber, a filosofia de Aristóteles se distanciou daquela desenvolvida por Platão, pois preferia investigar fatos, uma vez que em sua concepção os fatos manifestam e explicam as realidades em si mesmas; os fatos do passado explicam e mobilizam cada coisa para que se atualize no que é; a realidade presente gera o desenvolvimento da coisa de modo que no futuro, cada realidade mesmo alterada, mantenha sua identidade. Ou seja, o fato manifesta a realidade.

Não se trata de uma tentativa de explicação sobre o tempo ou da tentativa de entender o que é passado, presente e futuro, mas de perceber – como já o havia dito Heráclito – que toda realidade é o que é, mas também pode vir a ser algo diferente. A realidade, enquanto é o que é, se mantém idêntica a si mesma, mas sua existência acena para a possibilidade daquilo que É vir a ser algo diferente. Estamos, portanto, diante de duas teses aristotélicas: uma afirmando a essência da realidade em si mesma, mas em sendo isso, ocasiona inúmeras possibilidades até atingir sua “meta”. Trata-se de saber qual é essa meta, qual o fim último de cada realidade.

O entendimento do fim último (o telos) leva a segunda tese: ato e potência. O que é, é em ato; o que pode vir a ser é a potência. Em ato, a semente da castanheira é semente, mas potencialmente pode vir a ser uma árvore, alimento para outro ser vivo ou simplesmente decompor-se na terra tornando-se adubo. Mas qual é a finalidade (telos) da semente: germinar, ser alimento ou adubo? Ao se chegar a esse fim último, supondo que seja germinar, a semente que em ato é semente, desenvolve sua potencialidade tornando-se ato na árvore. Esta, por sua vez, atualmente é arvore, mas pode vir a ser lenha, madeira para construção, ou apenas continuar na floresta, produzindo flores e sementes que manterão o processo...

Podemos observar que a teoria do ato e potência, provém da teoria do devir ou da dialética de Heráclito, posteriormente outros pensadores se utilizaram da dialética, sendo que ela ganhou realce principalmente com os trabalhos de Hegel e Marx.





Quatro causas

Outro aspecto importante, da filosofia de Aristóteles é a teoria das quatro causas. Trata-se de um desdobramento da teoria do ato e potência, mostrando o movimento, ou seja, o processo pelo qual as coisas se constituem. Ou seja, há uma causa e um efeito. Daí sua teoria das quatro causas: material, formal, eficiente e final.

Em que consiste isso? Vamos imaginar uma xícara artesanal de barro/argila.

Causa Material: é aquilo de que a xícara é feita. Imaginemos uma xícara barro. A causa material dessa xícara é o barro, a argila.

Causa formal: é a forma do objeto ou da coisa; como essa realidade se manifesta. Ou seja, a própria xícara, na forma como ela se manifesta.

Causa eficiente: trata-se daquilo que deu origem à coisa em questão. Em nosso exemplo a xícara artesanal tem no artesão sua origem.

Causa final: corresponde à finalidade, ao sentido da existência da coisa. Qual o sentido de existir uma xícara artesanal de barro? É ser usada para se tomar café, por exemplo.

A filosofia de Aristóteles tem outras particularidades. Não só porque examina os diferentes aspectos da realidade, material, formal e metafísicos, mas também porque se propõe analisar mecanismos da organização social. Para isso escreve sobre política e ética. Ao mesmo tempo analisa a sociedade e propõe mecanismos para melhorar as relações.

Suas contribuições para a política e a ética podem ser encontradas em dois de seus livros: a Política e Ética a Nicômaco.

O fato é que ainda hoje a cultura e o saber ocidentais são tributários à mentalidade e à filosofia grega, do período clássico: quando falamos em corpo-alma estamos nos referindo a conceitos originários de Platão. Quando pretendemos maior clareza de nosso interlocutor, e para isso lhe fazemos uma série de questionamentos, estamos nos reportando a Sócrates. Quando falamos em lógica, organização e sistematização de conhecimentos, estamos aplicando uma metodologia aristotélica.

Outra consequência da ação desses três pilares da filosofia grega foi o fato de, após suas mortes, a filosofia ter entrado em um período de declínio. Não por ter perdido qualidade ou preocupação com o saber, mas pelo fato de, por um longo período, não terem aparecido grandes nomes, propondo novos sistemas. Vale lembrar que Aristóteles inicia seu livro Metafísica dizendo que “todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer: uma prova disso é o prazer das sensações, pois, fora até da sua utilidade, elas nos agradam por si mesmas”. A preocupação com o saber permaneceu, mas ela ganhou novas roupagens.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação. Filósofo, Teólogo, Historiador


Outros escritos do autor:


sábado, setembro 04, 2021

Não tenhais medo!

(Reflexão a partir de: Isaías 35,4-7; Tiago 2,1-5; Marcos 7,31-37)




Quando olhamos nosso cotidiano. Quando analisamos o que acontece mundo a fora. Quando somos envolvidos pelos noticiários…. Quando fazemos isso notamos que são tantas as amostras da maldade humana; são tantos atos desumanos praticados pelos dirigentes das nações, são tantos atos de injustiça contra os mais necessitados, contra os mais pobres, contra os mais fracos….

Quando vemos tudo isso e muito mais, somos levados ao desespero ou nossa fé é posta à prova! Temos a impressão de que parece não haver mais sinais de esperança, parece não haver mais solução… Parece certa a desolação….

E o cristão se obriga a esta indagação: Ainda há motivos para esperança?

A realidade cotidiana, mostra o mal avançando… tomou conta dos sistemas humanos. Prevalece a corrupção, o jogo de interesses pessoais, a superposição dos poderosos sobre aqueles que mais necessitam. O grito e o clamor dos excluídos encontra ouvidos surdos nesta sociedade de morte!

O quadro da realidade é pintado com cores terríveis. E mais uma vez se impõe a indagação: Ainda existe espaço para esperança?

Cenas como esta, descrita por Tiago (Tg 2,1-5), são cada dia mais comuns. A discriminação, a exclusão, as atitudes hostis, estão cada dia mais presentes em nossas relações: “Imaginai que na vossa reunião entra uma pessoa com anel de ouro no dedo e bem vestida, e também um pobre, com sua roupa surrada. Vós dedicais atenção ao que está bem vestido, dizendo-lhe: 'Vem sentar-te aqui, à vontade', enquanto dizeis ao pobre: 'Fica aí, de pé', ou então: 'Senta-te aqui no chão, aos meus pés'” (Tg 2,2-3). Estas cenas são corriqueiras em nosso cotidiano, ao ponto de não mais nos indignarmos diante das dores e sofrimentos e não reagirmos contra essas agressões.

Por isso a indagação é, cada dia, mais insistente.

Ainda existem motivos para manter a esperança?

Talvez a resposta não esteja em nossos atos nem em nossas estruturas, menos ainda nos valores tão caros aos nossos contemporâneos (riqueza, poder, aparência, ostentação)…. Talvez tenhamos que parar com tudo… talvez assim consigamos ouvir, não só o clamor angustiado dos que sofrem, mas também o grito silencioso que vem, suavemente, da Palavra Divina, como as palavras de Isaías 35, 4-7.

Isaías, que tens a nos dizer?

“Dizei às pessoas deprimidas: 'Criai ânimo, não tenhais medo!” (Is 35,4).

A vós do profeta indica de onde vem o alento. Quando tudo estiver sufocando, quando todas as portas estiverem se fechando, quando todas as luzes estiverem se apagando… é de Deus que vem o alento. Quando a esperança estiver morrendo, é de Deus que vêm as sementes de esperança. Quando estiverem no fim as forças para caminhar em buscar de alternativas… é de Deus que vem a coragem para levantar e se por na busca de novos caminhos...

Nesse panorama de dor e trevas, não é uma esperança nascida da ação humana, que o profeta apresenta: “Vede, é vosso Deus…. É a recompensa de Deus!” (Is 35,4). O profeta nos dá o recado divino: as dores cessarão, pois é de Deus que vem a alternativa. No cenário de morte, um indicativo de vida: “A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes d'água” (Is 35,7).

Nas palavras de Jesus, esse sinal de esperança torna-se ainda mais específico, como podemos ver em Marcos 7,31-37: “Abre-te!”, diz o mestre (Mc 7,34).

Os inúmeros sinais de cura, recuperando os movimentos, a saúde, a visão, a audição… tem um significado maior: são um convite a procurar o Senhor como fizeram aqueles que levaram o surdo-mudo em busca da cura. As dores e enfermidades; os sofrimentos e doenças; as tristezas e situações desesperadoras… tudo faz parte da fragilidade humana, mas, ao mesmo tempo, nos convidam a confiar e desenvolver a força que vem do alto, pois o milagre maior é a capacidade de plantar a semente da esperança e a confiança no Senhor.

A força que vem do Senhor pode nos levar a Ele, para, fortalecidos, voltarmos com o alento a quem precisa. Ajudando a indicar os caminhos que levam ao Reino.

O que é necessário para isso? Apenas que se procure quem nos pode curar. Quem pode abrir os ouvidos, conceder a luz da visão, saciar a fome… não há mais espaço para os enganadores do povo. Não há mais espaço para governantes, juízes, legisladores e falsos profetas que usam “critérios injustos” (Tg 2,4) que sugam o dinheiro e a vida do povo sofrido.

Os que conviviam com o surdo-mudo o levaram até o mestre que o libertou. A nós cabe a mesma missão: ajudar a levar ao Senhor todos que dele precisam, pois dele vem a esperança! É ele que alimenta a esperança. Por isso, não tenham medo!

É necessário, entretanto, cuidado com os donos do mundo: Os representantes do anticristo estão por aí: eles odeiam e maltratam os preferidos de Deus, criando esse panorama assustador. Para não cair em suas ciladas ouçamos Tiago: “Meus queridos irmãos, escutai: não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?”

E aqueles que confiam, apesar dos sofrimentos e dores ouvirão do Senhor: Não tenham medo!




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

Sagrada Família: para se cumprir!

Reflexões baseadas em: Eclo 3,3-7.14-17a; Cl 3,12-21; Mt 2,13-15.19-23 Todos os que, de alguma forma, tiveram contato com os ensinamentos d...