sábado, setembro 04, 2021

Não tenhais medo!

(Reflexão a partir de: Isaías 35,4-7; Tiago 2,1-5; Marcos 7,31-37)




Quando olhamos nosso cotidiano. Quando analisamos o que acontece mundo a fora. Quando somos envolvidos pelos noticiários…. Quando fazemos isso notamos que são tantas as amostras da maldade humana; são tantos atos desumanos praticados pelos dirigentes das nações, são tantos atos de injustiça contra os mais necessitados, contra os mais pobres, contra os mais fracos….

Quando vemos tudo isso e muito mais, somos levados ao desespero ou nossa fé é posta à prova! Temos a impressão de que parece não haver mais sinais de esperança, parece não haver mais solução… Parece certa a desolação….

E o cristão se obriga a esta indagação: Ainda há motivos para esperança?

A realidade cotidiana, mostra o mal avançando… tomou conta dos sistemas humanos. Prevalece a corrupção, o jogo de interesses pessoais, a superposição dos poderosos sobre aqueles que mais necessitam. O grito e o clamor dos excluídos encontra ouvidos surdos nesta sociedade de morte!

O quadro da realidade é pintado com cores terríveis. E mais uma vez se impõe a indagação: Ainda existe espaço para esperança?

Cenas como esta, descrita por Tiago (Tg 2,1-5), são cada dia mais comuns. A discriminação, a exclusão, as atitudes hostis, estão cada dia mais presentes em nossas relações: “Imaginai que na vossa reunião entra uma pessoa com anel de ouro no dedo e bem vestida, e também um pobre, com sua roupa surrada. Vós dedicais atenção ao que está bem vestido, dizendo-lhe: 'Vem sentar-te aqui, à vontade', enquanto dizeis ao pobre: 'Fica aí, de pé', ou então: 'Senta-te aqui no chão, aos meus pés'” (Tg 2,2-3). Estas cenas são corriqueiras em nosso cotidiano, ao ponto de não mais nos indignarmos diante das dores e sofrimentos e não reagirmos contra essas agressões.

Por isso a indagação é, cada dia, mais insistente.

Ainda existem motivos para manter a esperança?

Talvez a resposta não esteja em nossos atos nem em nossas estruturas, menos ainda nos valores tão caros aos nossos contemporâneos (riqueza, poder, aparência, ostentação)…. Talvez tenhamos que parar com tudo… talvez assim consigamos ouvir, não só o clamor angustiado dos que sofrem, mas também o grito silencioso que vem, suavemente, da Palavra Divina, como as palavras de Isaías 35, 4-7.

Isaías, que tens a nos dizer?

“Dizei às pessoas deprimidas: 'Criai ânimo, não tenhais medo!” (Is 35,4).

A vós do profeta indica de onde vem o alento. Quando tudo estiver sufocando, quando todas as portas estiverem se fechando, quando todas as luzes estiverem se apagando… é de Deus que vem o alento. Quando a esperança estiver morrendo, é de Deus que vêm as sementes de esperança. Quando estiverem no fim as forças para caminhar em buscar de alternativas… é de Deus que vem a coragem para levantar e se por na busca de novos caminhos...

Nesse panorama de dor e trevas, não é uma esperança nascida da ação humana, que o profeta apresenta: “Vede, é vosso Deus…. É a recompensa de Deus!” (Is 35,4). O profeta nos dá o recado divino: as dores cessarão, pois é de Deus que vem a alternativa. No cenário de morte, um indicativo de vida: “A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes d'água” (Is 35,7).

Nas palavras de Jesus, esse sinal de esperança torna-se ainda mais específico, como podemos ver em Marcos 7,31-37: “Abre-te!”, diz o mestre (Mc 7,34).

Os inúmeros sinais de cura, recuperando os movimentos, a saúde, a visão, a audição… tem um significado maior: são um convite a procurar o Senhor como fizeram aqueles que levaram o surdo-mudo em busca da cura. As dores e enfermidades; os sofrimentos e doenças; as tristezas e situações desesperadoras… tudo faz parte da fragilidade humana, mas, ao mesmo tempo, nos convidam a confiar e desenvolver a força que vem do alto, pois o milagre maior é a capacidade de plantar a semente da esperança e a confiança no Senhor.

A força que vem do Senhor pode nos levar a Ele, para, fortalecidos, voltarmos com o alento a quem precisa. Ajudando a indicar os caminhos que levam ao Reino.

O que é necessário para isso? Apenas que se procure quem nos pode curar. Quem pode abrir os ouvidos, conceder a luz da visão, saciar a fome… não há mais espaço para os enganadores do povo. Não há mais espaço para governantes, juízes, legisladores e falsos profetas que usam “critérios injustos” (Tg 2,4) que sugam o dinheiro e a vida do povo sofrido.

Os que conviviam com o surdo-mudo o levaram até o mestre que o libertou. A nós cabe a mesma missão: ajudar a levar ao Senhor todos que dele precisam, pois dele vem a esperança! É ele que alimenta a esperança. Por isso, não tenham medo!

É necessário, entretanto, cuidado com os donos do mundo: Os representantes do anticristo estão por aí: eles odeiam e maltratam os preferidos de Deus, criando esse panorama assustador. Para não cair em suas ciladas ouçamos Tiago: “Meus queridos irmãos, escutai: não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?”

E aqueles que confiam, apesar dos sofrimentos e dores ouvirão do Senhor: Não tenham medo!




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

Um comentário:

  1. Amo ler seus textos Professor Neri , aprendo muito .

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