segunda-feira, 30 de agosto de 2021

A FILOSOFIA CLÁSSICA (II-b) - Platão: que ideia é essa?

A escola de Sócrates formou um bom número de discípulos. Com o mestre, frequentavam a praça de Atenas, onde os cidadãos se reuniam em assembleia para debater os problemas da cidade.

Entre os vários discípulos de Sócrates, um dos mais conhecidos foi Platão que, após a morte do mestre fundou uma escola no jardim de Academus. Daí o nome: Academia. Na porta de sua escola estava escrito algo que soava como: “Não entre aqui se não for matemático”. Isso porque a matemática é um dos melhores meios para se desenvolver a capacidade de raciocínio.

Seus textos, na forma de diálogos, têm Sócrates como personagem principal. Em razão disso é lícito que nos perguntemos: em seus escritos prevalecem suas ideias ou as de Sócrates?

O fato é que esse ateniense, depois de um tempo como soldado e político, resolveu dedicar-se à filosofia. Por volta dos 20 anos encontrou-se com Sócrates e decidiu-se por segui-lo. O que o levou a isso? O fato de considerar Sócrates o mais admirável entre os mestres. Talvez por isso tenha colocado na boca de Alcebíades, personagem de seu livro O Banquete, um elogio a Sócrates. Diz o personagem que ele “fala de coisas tão diferentes que, por mais que se procure, entre os modernos ou entre os antigos, não se encontra alguém que se assemelhe a ele”

Podem existir muita proximidade, entre discípulo e mestre. Entretanto é fato que Platão seguiu o próprio caminho. Desenvolveu sua filosofia apresentando um elemento inovador em relação aos pré-socráticos: a afirmação de um mundo físico, em que nos situamos e um mundo suprassensível. Mas manteve, de mestre, o estilo de uma filosofia feita com diálogos, que é a forma como produziu seus escritos.

Na distinção entre nosso mundo físico e o mundo das ideias está colocada a base da realidade vista sob a ótica platônica: todas as realidades, deste mundo físico, sensível, são aparência, são reflexos imperfeitos de um mundo ideal.

A afirmação de Platão é que tudo que vemos e com o que nos relacionamos, neste mundo – no mundo sensível – é apenas reflexo imperfeito do mundo da ideias. Cabe ao filósofo superar as aparências e chegar o mundo ideal, perfeito.

No seu livro Fédon, Platão assim se expressa a respeito do que vemos e do que é a coisa em si: “Parece-me, com efeito, que se existe alguma coisa bela, fora do belo em si, ela é bela porque participa deste belo em si”. E o mesmo ocorre com o ser humano.

O ser humano, antes de nascer habita o mundo das ideias. Aí contempla cada realidade em si mesma, e por isso, possui pleno conhecimento. Entretanto devido às contingências do mundo físico, ao nascer perde o contato com esse saber. Com a prática da filosofia poderá reencontrar o caminho da sabedoria e relembrar o que havia contemplado no mundo das ideias. Só a filosofia, pode conduzir o intelecto a recordar e re-conhecer aquilo com o quê se conviveu, no undo extra-físico.

E assim entramos na outra dimensão da filosofia de Platão. Esta diz respeito ao conhecimento, ou à possibilidade de conhecimento.

Esse aspecto pode ser lido na Alegoria da Caverna.

Em que consiste essa alegoria?

Platão cria essa alegoria para explicar a diferença entre o mundo físico e concreto em que vivemos o qual é uma espécie de cópia imperfeita do mundo das ideias. Nosso mundo seria uma espécie de sombra desse mundo ideal, perfeito onde existe todas as realidades em si mesmas. O exercício da filosofia permite ao ser humano recordar (teoria da reminiscência) o que já viu no mundo das ideias, pois ele veio de lá. E lá convivia com a verdade e o conhecimento pleno

Nessa alegoria, Platão coloca Sócrates conversando e explicando que: as pessoas vivem acorrentadas numa caverna. Todas elas imobilizadas de costas para a entrada e olhando para os fundos. Entre o portal da caverna e as pessoas acorrentadas há uma fogueira que faz com que as sombras das realidades sejam projetadas na parede dos fundos da caverna, de modo que esses prisioneiros, por nunca terem visto nada diferente dessas sombras, imaginem que elas sejam as verdadeiras realidades.

Vivem, dessa forma, num mundo de ilusão, de aparências, de sombras.

Vivem assim até que alguém, o filósofo, consegue libertar-se das correntes. Olha para trás. Vê a fogueira e a luz, do lado de fora da caverna. Faz, então, contato com a realidade, sem aparências. Caminha para fora da caverna e passa a conhecer a verdade.

Tendo conhecido a verdade, volta para a caverna e tenta libertar os demais prisioneiros acorrentados na ignorância. Entretanto, acostumados com as aparências, em vez de deixar-se conduzir pela sabedoria, preferem prender e matar o sábio que os pretendia libertar. E assim permanecem na ignorância e nas sombras, recusando-se a se voltar para a luz da verdade.

O cartunista Maurício de Souza, criador da “Turma da Mônica” recontou essa alegoria num gibi, com o título “As sombras da vida”. Essa versão pode ser encontrada facilmente em diversas páginas da Internet.

Como discípulo de Sócrates, Platão recria a filosofia do mestre, em seus livros, na forma diálogos. Mas, ao mesmo tempo, apresenta suas inovações. Sua explicação do mundo das aparências e do mundo das ideias, séculos depois foi absorvida pelo cristianismo para explicar que o ser humano está mergulhado num mundo de aparências e dominado pelo pecado; mas alimenta o desejo de encontrar o Paraíso, onde poderá se encontrar com o criador e fonte da verdade absoluta.

Um dos principais discípulos de Platão foi Aristóteles.




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação. Filósofo, Teólogo, Historiador




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