segunda-feira, fevereiro 24, 2020

Desculpe, foi mal!

Desculpe, foi mal! Essa é uma das formulas usadas pelos jovens da atualidade para se desculparem depois de terem feito uma besteira.

Mas não estamos falando dos vacilos dos jovens. O assunto, aqui, são atitudes de uns políticos que vemos por aí. Alguns deles foram representados no desfile de uma escola de samba do Rio de Janeiro: foram representados sentados em vasos sanitários. O carnaval queria mostrar o que eles andam fazendo, em nome da lei!

E se os cidadãos, eleitores e as pessoas inteligentes prestassem atenção, notariam como eles usam os vasos – do congresso nacional às câmaras municipais; de planalto até as mais humildes prefeituras. E o resultado recai sobre o povo: vítima de votos mal pensados.

Quer alguns exemplos: o presidente não perde oportunidade para ofender jornalistas, principalmente as mulheres, além de envergonhar o povo com seu discuso segregacionista. O o ministro da educação, além de escrever errado, desmoralizou uma das poucas coisas razoavelmente bem feitas – o ENEM; sem contar que cortou verbas das universidades e colocou em risco o avanço da ciência feito por pesquisadores brasileiros.

Se descermos um degrau a mais, vamos encontrar os estados com seus deputados e governadores dando tiro no pé. No inicio do mandato o governador de Rondônia anunciou uma correção salarial dos servidores e no dia seguinte veio a público dizer que havia sido um equívoco. Há poucos dias a Secretaria da Educação de Rondônia, mandou recolher livros da literatura universal e consagrada, sob alegação de que “contém linguagem inadequada” aos estudantes. Em seguida um certo diretor de escola militar, de Porto Velho, evidenciou intolerância desrespeitando o princípio básico de liberdade de associação sindical e “afastou” professores, devolvendo-os à SEDUC. Motivo os mesmos queria participar de uma assembleia do sindicato dos professores na qual seriam dados alguns informes de interesse público.

E a sucessão de episódios grotescos chegou até Rolim de Moura. Os vereadores da cidade, num “sábio” e “heroico” gesto de defesa dos interesses dos empresários locais revogaram uma lei municipal. A lei revogada era de 2011 e instituía como “feriado municipal” a “terça feira de carnaval” a sexta-feira santa e o dia de Corpus Christi. E com a lei 3689, de 18 de fevereiro de 2020, aprovada pela Câmara municipal e sancionada pelo prefeito, revogou-se essas datas como feriados municipais.

Feliz da vida, pensado nos vultosos lucros… a Associação Comercial do município soltou uma nota, com pompa e banda de música, dizendo aos seus associados: “ficando assim autorizadas as empresas de Rolim de Moura a exercer suas atividades sem precisar arcar com despesas de horas extras, sindicato e alvará especial”.

Quer dizer, os senhores de escravos ficam felizes e a prefeitura deixa de arrecadar com os alvarás e …

Desculpa gente, foi mal! Não deu tempo de terminar meu comentário maldoso:

A Câmara de vereadores voltou atrás e o prefeito concordou. Aprovaram e sancionaram a lei 3701, no dia 24 de fevereiro de 2020. O terceiro artigo diz que “Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, e revoga a Lei Municipal n. 3.689 de 18 de fevereiro de 2.020”

Portanto podemos pular carnaval e rezar sem cometer crime contra os empresários e contra a prefeitura….

E é bom lembrar: Logo mais teremos eleições para elegermos prefeito e vereadores...




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura - RO

sexta-feira, fevereiro 14, 2020

Calúnia


lingua do povo
Língua de fogo:
Ela queima
Gera dor.
Que horror!
Língua do povo
Língua da fama:
Ela esparrama
Feito vento.
Ao relento!
Língua do povo
Língua do drama!
Ela inflama
Nos boatos...
Nega os fatos!
Língua do povo:
Língua do novo!
É uma pena,
Quando envenena...
Língua do povo
que pena
Faz calúnia!
Neri de Paula Carneiro.

terça-feira, fevereiro 11, 2020

PRA FAZER FILOSOFIA

Acredito que devido ao fato de eu ser professor, muitos me fazem muitas perguntas. E entre as muitas coisas que me perguntam, muitas perguntas são sobre o que é filosofia. Perguntam se filosofia é isto ou aquilo?
Claro que tenho que responder. Afinal, pra que servem as perguntas se não para provocar respostas? Mas em resposta, respondo que não sei a resposta! Ou melhor, não sei dar a resposta que eles querem sobre a filosofia ser isto ou aquilo.
Dependendo da inspiração, acrescento, e não é exagero o que digo, que filosofia não é isto nem aquilo; mas dá pra dizer que filosofia é tudo isso. Mas tudo isso sem ser isto ou aquilo!!!
E o interlocutor não deixa passar: Mas tudo isso o quê? E como não é nem isto nem aquilo? E como pode ser isso e aquilo?
Ai me vejo obrigado a explicar: Primeiramente, e pra dizer a verdade, filosofia não é! Ela está menos para presente do indicativo e muito mais para gerúndio: ela vai se construindo...
Não se concebe a filosofia como algo pronto: estátua, feito banheiro de passarinho, numa praça deserta. Cabe mais a afirmação de que ela se parece com a chuva fina que lenta, progressiva e continuamente umedece a terra… aquela chuvinha que, sem que se perceba, ajuda na fertilização da terra estimulando seu potencial de vida, estimulando a vida nova da semente plantada. E nesse processo de umidade e fertilidade vão germinando as sementes das ideias...
A filosofia não é fruto do corre-corre tresloucado deslocando a capacidade de pensar para a obrigação do fazer… e nessa loucura se faz de tudo menos pensar! E o processo do pensar é a dinâmica da filosofia. Por isso a filosofia tem a ver com dinamicidade do pensamento.
A filosofia não É, como coisa pronta. Ela se explica na dinâmica porque exige uma postura de movimento. Pedra bruta sendo polida ao longo do tempo pela torrente do fundo do rio. Com a filosofia ocorre aquilo que é típico dos cães farejadores, cheira aqui e ali quase sempre consegue encontrar coisas novas a serem relacionadas com as antigas; com ela se podem relacionar coisas tradicionais fazendo germinar novidades. Com ela os saberes tradicionais, vão se tornando coletivos e viram ciência/sapiência, envolvendo a tudo e a todos, propondo, depois das soluções, novas interrogações!
O processo filosófico é dinâmico, mas não tem a ver com a ideia do movimento pensado pela física, calculando tempo e espaço, embora possa estar na indagação sobre o tempo e o espaço e a energia... Tem a ver com transição constante como foi anunciada e inaugurada por Heráclito (e outros antes dela), dizendo que no mesmo rio não se entra duas vezes… pois tudo flui… “Nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia”, disse o poeta.
Por isso não existe filosofia na estagnação da água parada, fétida, nefasta à vida e a saúde; de forma oposta, ela tem o dinamismo de um profundo poço de águas límpidas e refrescantes… como a se oferecer, mas se se exibir; disponível, sem ser assanhado!
Fazer filosofia exige o parar, mas o parar, para a filosofia, não é estacionar, como a pedra à beira da estrada cujo fim é terminar coberta pela vegetação rasteira; fosse assim ela já teria desaparecido, encoberta pela poeira do tempo, cortina ocultando nas dobras do esquecimento tudo aquilo que não desenvolve uma constante dinâmica para a renovação ou pela sua inovação.
O parar, aqui, como se pode notar, refere-se aos momentos facilitadores da dinamicidade do pensamento inovador. O parar, da filosofia, não é o estacionar do trem, para descarregar no ponto final, mas do metrô, em cada ponto se reabastecendo de novos passageiros. Para-se, não como quem morre, mas como que renasce a cada dia em novas ideias, com a finalidade de aprender com o que já existe e, ao mesmo tempo, para projetar, propor e incrementar novos conhecimentos que fundamentam novos saberes.
Por isso a filosofia não é, mas está sempre se fazendo e recompondo e refazendo. Não se assemelha ao ponto final do texto, mas aos dois pontos que sugerem proposição de novas perspectivas. E isso pode ser uma das explicações de tantas filosofias, tantas correntes de pensamento. Talvez por isso, antes de se constituir num corpo sistemático, como aprendemos com os gregos, ela caminhava com o ser humano desde as primeiras indagações com as primeiras respostas gerando novos questionamentos. Afinal de contas, será que alguém já tem uma resposta definitiva para algumas das grandes questões da humanidade: de onde vim? Para onde vou? Quem sou eu? O que sou eu?
O fato é que se faz filosofia, mas ela nunca está pronta. E elas se faz sempre no processo de destilação do conhecimento acumulado; no processo da sedimentação dos saberes adquiridos, de forma que todas as informações atuais são lapidadas e se convertem no inebriante diamante da sabedoria que se curva, na reflexão cotidiana, e se faz semente querendo renascer.


Neri de Paula Carneiro
Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador
Rolim de Moura - RO

PALAVRAS

Palavras, para povo: passam!
Palavras, para poeta, pode parecer pouco,
porém, pare!
Pense:
Poucas pessoas podem
propor problemas; pensar posturas;
proporcionar poesia, prosa...
Pondo por palavras: pensares, pensamentos...
proposições!!!

Plurais posicionamentos
postos por palavras…
Podem...
Podem!

Palavras proporcionam poder...
Pelo poeta!
Para poesia!
Potências! Potenciais! Positividade...
Potentes propostas, postas por palavras
Podem proporcionar
Muitas mudanças!
Miragens mil…
Malqurências!
Mentiras..........

Palavras parciais, podem produzir
mais, muito mais: mentiras, maledicência, malquerer…
melefícios mitigando muitos mundos…

Porém… parem, pasmem, palavras põem para pensar!...
Porém, pelo poeta, prosador, potente produtor
Palavras podem produzir poesia!
Podem produzir pontes!

Palavras podem potencializar pensamentos
Palavras podem pensar poder
Palavras podem, pedem…
Palavras...
Podem!

Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO

quinta-feira, outubro 18, 2018

Leia, por favor!


Leia, por favor!


Não deixe esse texto lhe passar despercebido, leia-o, por favor.
(Esclarecendo: não leia fazendo um favor a quem o escreveu. O “por favor’ é um convite, feito com a delicadeza de quem convida educadamente, principalmente porque em várias oportunidades tenho reclamado contra a extrema apelação comercial e a minimização do homenageado nas datas comemorativas. Assim tem sido com o dia das mães, com o dia dos pais, com o natal, com o dia das crianças, com a Páscoa... e com várias outras datas. Mas hoje é diferente! Falarei contra o fato de uma data – e o personagem envolvido – terem sido esquecidos)
Estou falando do dia 15 de outubro. Dia do Professor!
E conclamo os colegas professores a fazerem, também, seu ato de protesto.
Não que a gente seja professor esperando homenagem. Agimos com profissionalismo. Nossa meta é ajudar o aluno a desenvolver-se. Mas um reconhecimentozinho não faz mal a ninguém e estimula o ego.
Percebe-se que entra ano e sai ano e cada dia mais o professor é minimizado, esquecido, menosprezado... E o professor não é e nem pode ser tratado como o “servo inútil” mencionado por Jesus, lá nos Evangelhos. O professor é um dos poucos profissionais que, deixando de atuar paralisa o progresso humano. Imagine qualquer profissão ou qualquer profissional bem sucedido! Antes dele e para que ele tenha aí chegado, recebeu o auxílio de professores.
O professor, embora não se diga, não se reconheça, não se dê o devido destaque, é o único profissional que pode ser colocado como parte da infraestrutura social (só para lembrar uma categoria de origem marxista). Lembrando que a infraestrutura é aquela categoria que não pode faltar, para que a sociedade não desmorone, enquanto a superestrutura é completamente dispensável. (Mas isto não é aula de sociologia!).
Então vamos aos fatos e mostrar que, de fato, o professor não tem sido valorizado. Veja o que acontece no dia das crianças: apelo comercial, festinha nas escolas, badalação. Dia das mães: apelo comercial, festinha nas escolas, badalação; páscoa: apelo comercial, festinha nas escolas, badalação; dia dos pais: apelo comercial, festinha nas escolas, badalação. Ah! Você está achando estranha a repetição. Mas é isso o que acontece. Com tonalidades diferentes, é exatamente isso o que ocorre.
E o que acontece no dia do professor? Nada! Absolutamente nada! (tem, em alguns casos, uma festinha na escola, um feriadozinho, na escola... mas isso é feito pelo próprio professor! Ele não recebe como reconhecimento de sua ação!).
Compare a badalação, nos veículos de comunicação, envolvendo o dia das crianças e o dia do professor! (e são datas bem próximas: dias 12 e 15 de outubro).
Agora vamos ver o nível salarial. Já se disse que o professor de Rondônia tem um dos melhores salários, entre os estados do Brasil. E é verdade! Agora imagine como anda o dos outros estados. Se aqui é assim, como é nas outras localidades?
Para que você não diga que estou exagerando, quero que você mesmo compare o nível salarial do professor e de profissionais da área da saúde. Ambos com formação universitária. Ambos com nível superior. Ambos desenvolvendo atividades importantíssimas para a população. Só que o profissional da saúde (que precisou de um professor para ser o que é) tem uma proposta salarial melhor do que a do professor.
E não estou inventando. O que segue está no edital para o concurso público para educação e saúde (2003). Veja a discrepância: Professor, com licenciatura plena em Literatura e Língua Portuguesa. Requisito: Diploma, devidamente registrado, de conclusão de curso de graduação em Licenciatura plena em Língua Portuguesa e Literatura. Jornada de trabalho: 40 horas semanais. Remuneração prevista: R$ 897,13. Professor de português é o responsável pelo cuidado com a nossa língua pátria! Veja a proposta para o médico. Requisito: diploma, devidamente registrado, de conclusão de curso de graduação em Medicina, e registro no órgão de classe competente. Jornada de trabalho: 40 horas semanais. Remuneração prevista: R$ 6.000,00.
Podemos pegar outros exemplos: Professor de Biologia Remuneração prevista: R$ 897,13 e o Biólogo, na área da saúde: Remuneração prevista: Até R$ 1.400,00.
Se quem contrata o professor o trata assim, como é que a sociedade o tratará? E convenhamos, a qualidade do atendimento da saúde pública não é tão grande coisa!
Se isso não bastar, tem o caso do servidor da polícia civil, com nível escolar médio (antigo segundo grau) tem uma remuneração de cerca de R$ 2000,00. E o professor, com nível superior R$ 897,13!!!!! E pensar que Rui Barbosa dizia ser “preciso educar a criança para não ser necessário punir o adulto”!!! E nem o sindicato da educação se dá conta desse desrespeito!
Com essa discrepância é que a gente entende o por que de estar faltando mais de 300 mil professores pelas escolas do Brasil! Por essa razão é que encontramos inúmeros colegas dizendo que deixarão o magistério na primeira oportunidade. Muitos professores deixando o magistério por que só com nível médio pode ganhar mais em outras áreas do serviço público.
Alguém ainda tem dúvida se o professor é ou não, desvalorizado pela atual sociedade e pelo poder público que o contrata?

Neri de Paula Carneiro
(publicado em folha da mata - 2004 - rolim de moura - ro)

quarta-feira, outubro 17, 2018

Pelos Caminhos da América


Pelos Caminhos da América

Pelos Caminhos da América, há tanta dor, tanto prato; nuvens, mistérios, encantos que envolvem nosso caminhar. Há cruzes beirando a estrada, pedras manchadas de sangue, apontando como setas que a liberdade é pra lá. Pelos caminhos da América, há monumentos sem rosto, heróis pintados, mau gosto; livros de história sem cor. Caveira de ditadores, soldados tristes, calados, com os olhos esbugalhados, vendo avançar o amor”.
Esses versos de Zé Vicente, retratam um pouco dos 500 anos de dominação e sofrimento impostos aos povos ameríndios em nome do lucro dos colonizadores e da classe dominante.
Inicialmente a exploração era feita pelos colonizadores das metrópoles portuguesa e espanhola. Mas com o processo de independência e nos últimos séculos ela ocorre em nome do capitalismo que se instalou contra os pobres no continente.
Em nome desse lucro os colonizadores e depois os fazendeiros exterminaram populações inteiras, deixando nas margens da história as cruzes com os nomes das incontáveis civilizações que viviam de norte a sul da América. Povos que foram mortos pela ganância de governos e de indivíduos, ao longo dos 500 anos de América.
Além da morte efetiva produzida com tiro ou com pestes.., ao longo de nossa história desaprendemos a valorizar os produtos e a cultura dos povos que inicialmente povoaram as Américas. Dessa foma, além de matar a população, os brancos mataram, também a história desses povos. Prova disso é que pouco sabemos das sociedades que viviam de norte a sul das américas, antes da chegada dos europeus.
Podemos lembrar de alguns exemplos desse extermínio, ao longo dos caminhos da América: Na colonização da América do Norte um dos lemas dos colonos era: “índio bom é índio morto”. Cortez e Pizarro, na América central e andina, exterminaram maias, incas e astecas em busca do ouro por eles acumulado. No Brasil não foi diferente: São muitas as historias de colonizadores que deram presentes contaminados para dizimar as tribos locais.
Nos dias de hoje, no Brasil, ainda persistem situações em que fazendeiros ou o poder público tiram a vida, as terras ou elementos da cultura de várias nações indígenas. Aqui em Rondônia, neste início de século XXI, ainda se vê nações indígenas sendo expulsas de suas terras ancestrais; existem povos nos quais os valores dos brancos são tão presentes que traços dessa cultura tradicional estão se perdendo.
Ao lado da busca de riquezas, outro motivo que trouxe o europeu para as Américas (principalmente a colonização ibérica) foi a difusão do cristianismo. O problema ocorreu na medida em que os valores cristãos se imiscuíram, sincretizaram e se corromperam depravando-se com os valores econômicos. E isso foi usado não em defesa, mas contra os povos indígenas.
É claro que existem instituições – inclusive cristãs – que hoje fazem o mea culpa e tentam proteger as culturas tradicionais. Mas isso não anula o fato: o avanço da dominação dos brancos sobre terras e povos indígenas continua impondo valores que anulam essas culturas ancestrais.
Sabemos que nenhum contato entre sociedades e culturas distintas as manterá intactas. Havendo contato, necessariamente ocorre interação. O problema não é o contato e interação cultural. O problema é que os valores dos brancos sobre os povos indígenas são mais mortais do que as pestes trazidas pelos brancos ao longo dos 500 anos dessa América desencaminhada.

Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO

terça-feira, março 06, 2018

Personagens da história


Personagens da história (webartigos.com)
Não importa se gostamos ou não de história. O fato é que tudo é história. E a história, além de ser contada a partir de datas e lugares, é feita pelos personagens.
Não existe história sem estes três elementos. Podemos acrescentar outros, mas não podemos excluir estes: o tempo, o espaço e os personagens. Não importa se estamos falando de um conceito tradicional ou da história do cotidiano ou de micro história: sempre haverá personagens que viveram ou executaram os fatos; esses fatos acontecem num determinado lugar e numa data determinada. Portanto: tempo, espaço e personagens!
Mas quem são os personagens da história?
Quando pegamos um livro, principalmente da história tradicional, logo nos saltam aos olhos os nomes de grandes vultos, dos chefes, dos políticos importantes. Esses são os personagens. Mas essa é uma visão parcial ou equivocada. Contra essa visão triunfalista e a história dos vencedores Bertold Brecht, no século passado escreveu as “Perguntas de um trabalhador que lê” onde, entre outras coisas, pergunta: “O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho? César bateu os gauleses. Não levava sequer um cozinheiro?”
Então, novamente, quem são os personagens da história?
Todos nós! Todos aqueles que realizam algum ato no tempo e no espaço. Portanto, somos todos personagens da história.
Mas por que nem todos aparecem nos livros da história?
Daria para escrever um livro com a resposta. Mas tudo está centrado nos interesses de quem escreve o texto ou o livro de história.
As artes cênicas podem nos ajudar a entender a situação, sem quebrar a questão. Numa cena em que aparecem vários personagens, nem todos são protagonistas ou centrais. A maioria é figurante. Mas sem os figurantes a cena ficaria sem graça ou nem aconteceria. Quer dizer: os personagens centrais dão o dinamismo da cena, mas sem os figurantes não haveria a cena ou ela seria sem graça, sem brilho! Assim também na história. Determinado líder político pode ser uma figura importante, num determinado contexto, mas ele é líder só se houver liderados.
Sendo assim, podemos propor a questão: quem é o personagem mais importante na história? O personagem central ou os figurantes? Durante muito tempo se disse que os personagens centrais eram os mais importantes. Mas os novos historiadores afirmam que os personagens centrais só existem porque existem os figurantes. O grande personagem só é grande porque os pequenos o fizeram grande.
O brilho da história não está nos personagens centrais, mas nos figurantes. É para eles que o político cria grandes obras ou dele que rouba! É para o povo que a ciência inventa e as tecnologia se modernizam. A grande indústria não seria grande se não existissem os consumidores de sua produção. A história não seria história sem os personagens que não são nomeados pela história...
E assim se faz a história: com os personagens centrais que, em algum momento e em algum lugar fizeram algo que repercutiu na via de muitos personagens aos quais chamamos de povo.

Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO

quinta-feira, outubro 26, 2017

ERROS DA HISTÓRIA?


ERROS DA HISTÓRIA?
Por que acreditamos naquilo que nos dizem? Por que acreditamos naquilo que lemos? Por que acatamos como verdade alguma coisa e refutamos, como mentira, algumas outras?
A resposta é: acreditamos ou rejeitamos com base nas provas. No senso comum se fala em confiança naquele que narra o fato. Em filosofia se fala em provas racionais. Em religião se fala em prova de fé. Em história se fala em provas documentais.
Mas o que fazer ou como proceder quando passamos a desconfiar das provas? Que fazer quando somos impelidos a desconfiar do narrador, do argumento, da crença, do documento. Essa desconfiança tem razão de ser, pois documentos podem ser forjados. A razão pode não ser suficiente. O narrador cometeu deslizes ou é reconhecidamente mentiroso... e, além disso, o fato ou a situação é tão absurda que quase nos pede para desconfiarmos dela.
Um exemplo clássico de onde se pode chegar a partir da desconfiança ou da dúvida em relação à prova é René Descartes. Desconfiou e duvidou de toda a filosofia que o precedeu e criou uma nova metodologia de estudo e de pesquisa, baseado-se naquilo que chamou de dúvida metódica. Partindo da dúvida reelaborou todo um programa de análise da realidade. Daí foi que nasceu o clássico “penso, logo existo”. Para duvidar devo pensar, portanto se estou pensando é porque existo, concluiu Descartes.
Em relação à fé pode-se mencionar Lutero. Não sei se duvidou de Deus, mas que foi uma pedra no sapato da Igreja, isso sem dúvida. Graças a isso tanto ganharam os católicos que mais tarde viram sua Igreja reformulando algumas de suas posições como ganhou a humanidade pois a partir dessa dúvida cresceu o movimento da reforma protestante; a bíblia se popularizou; a religião se abriu ao povo... e o povo pode descobrir que Deus é amigo...
Mas isso também se aplica à história?
Se o caminho para a certeza é a dúvida, sim. A história também tem alguns pontos de interrogação em aberto. Ou, melhor, para haver avanço na compreensão dos fatos históricos eles precisam ser re-examinados, re-explicados. É necessário que lancemos dúvidas sobre os documentos históricos, pois eles podem nos pregar peças ou nos induzir ao erro. Sem contar que podem ser forjados para atender a algum interesse...
Veja só: É fato que dom Pedro proclamou a independência do Brasil. Mas, em quais condições isso ocorreu? Realmente desembainhou a espada e gritou “independência ou morte” ou o processo foi mais complexo? Um artista, Pedro Américo, imortalizou esse fato numa tela. Mas ele não estava presente ao fato e fez o trabalho vários anos depois. No quadro aparece pelo menos um ponto de interrogação: por que não se veem os jumentos carregando as matulas de viagem? Naquela época não se viajava do Rio de Janeiro (sede da corte) até Santos (residência da marquesa a quem d. Pedro fora visitar), sem os apetrechos de cozinha e acampamento. Era uma viagem de dias.
Em Rondônia ainda convivemos com alguns que são chamados de pioneiros. Eles nos contam fatos da colonização, mas suas narrativas se prestam a equívocos, pois cada um apresenta a sua versão nem sempre são coincidentes e se não há coincidência alguém está acrescentando ou omitindo fatos. Portanto alguma inverdade está ocorrendo. E, portanto, há algum erro na história.
Mas, então, como ficamos: houve erros da história, erros históricos ou erros na forma de contar a história? Ou não ocorreram erros, pois quem contou o que contou apresentou a sua verdade?
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação; filósofo; teólogo; historiador
Rolim de Moura – RO

Comemorar o quê?


Comemorar o quê?

Dificilmente alguém de nós nunca comemorou seu aniversário. Alguns o comemoram todos os anos. Outros só o fazem quando alguém se lembra dele. Alguns fazem festa, outros só expressam desejo de felicidades. Mas, de alguma forma, sabe-se que naquela data ocorreu um fato importante: o seu nascimento!
Com o exemplo do aniversário queremos entender o significado das chamadas “datas comemorativas”. Algumas delas são feriados e outras recebem apenas um destaque no calendário. Tomemos como exemplo os dias 21 e 22 de abril. No primeiro se comemora a luta pela independência simbolizada na morte de Tiradentes: é um feriado. A segunda data é quase esquecida e corresponde à chegada dos portugueses ao Brasil. Ambas são datas comemorativas mas só temos feriado no dia de Tiradentes.
E as demais datas? O que representam? Por que as comemoramos?
São inúmeras as datas comemorativas. Não caberiam nesta página. Mas todas elas representam um evento importante da história. Algumas datas representam um feito notável e louvável outras representam um fato vergonhoso da história. O dia 13 de maio é uma data louvável, embora questionável na forma como se fez: é a data da extinção da escravidão no país! Mas o Primeiro de Maio, embora represente os trabalhadores teve seu início num fato trágico: o assassinato de dezenas de trabalhadores que cobravam direitos trabalhistas.
Como em nosso país gostamos dos feriados, nem sempre nos damos conta do significado ou não atentamos para o que se esconde atrás das datas. Queremos o dia de folga representado pelo feriado e, assim, dizemos que não queremos nos preocupar com mais nada.
E isso que dizemos a respeito das datas comemorativas vale, também para os finais de semana: nos os queremos não porque podem nos proporcionar momentos de encontro com amigos, alternativa de estudo, possibilidade de fazermos algum trabalho diferente. Não! Queremos o final de semana desde que seja livre, para usufruirmos da ociosidade que ele representa. Ele nos serve se nos distanciar do trabalho e do ritmo alucinado da vida cotidiana.
Essa postura é que agora desafia nossa reflexão. Inicialmente não se trata de supervalorizar o feriado como negação ao trabalho, mas em afirmar que a data comemorativa não existe para enfeitar o calendário ou para termos mais um motivo para não trabalhar. As datas comemorativas e feriados existem para nos lembrarmos de algo memorável.
Sabemos que nem todos fazem o que gostam e, por isso, sonham com os feriados. Mas admitamos que todos pudéssemos fazer exatamente aquilo que gostamos e fossemos bem recompensados por isso. Nossa relação com o trabalho seria diferente: faríamos com gosto! E haveria menos motivações para sonharmos com os feriados. Comprove isso quando você estiver fazendo algo realmente prazeroso. Você notará que nem se lembra de feriado ou fim de semana, pois o que está fazendo é algo prazeroso.
O trabalho degradante é que pede feriado. O trabalho desvalorizado é o que pede fim de semana prolongado. Mas, quando o contrário acontece, o trabalhador nem se dá conta do tempo passando ou passando. Faz com tesão.
Cabe uma última observação: o fato de quase não nos lembrarmos do que estamos comemorando ou o que gerou o feriado. Ocorre que, além do trabalhador não ter seu trabalho valorizado o cidadão vê o país sendo depredado. Sendo assim, da mesma forma que o trabalhador não tem motivação para trabalhar, o cidadão também perde o interesse pelo país. Dessa forma as datas e feriados não passam de momentos para não se trabalhar. Não importando o significado cívico da data. Ou alguém ainda lembra o que significa 15 de novembro? E mais ainda: qual o significado da República, para um povo que vive à margem e sofre as consequências da ladroagem dos políticos?
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo historiador
Rolim de Moura - RO

Abacaxi ou abóbora?


Abacaxi ou abóbora?
Você já se deu conta de que a escola é um espaço onde são cultivados, entre outras coisas abacaxis e abóboras?
Se você é professor ou estudante ou pai ou simplesmente uma pessoa que gosta de entender as coisas, acompanhe meu raciocínio para perceber que, efetivamente, na escola cultivamos muitas coisas. Entre elas abacaxis e abóboras... Explico-me!
O que é uma abóbora? O que é um abacaxi?
Comecemos com os abacaxis. Aparentemente são futas charmosas. Dá até para fazer uma batidinha de abacaxi. Ma como nosso tema, aqui, é escola, então deixemos as batidas pra lá, pois alguém poderia dizer – algum leitor mal intencionado – que estou advogando o uso da palmada para promover um processo mais producente de educação.
Mas fiquemos com o abacaxi!
Comecemos, então, dizendo que o abacaxi é um fruto que parece rei, mas não tem majestade. Pensa que sua coroa é importante e lhe confere nobreza, mas, na realidade, só serve para cumular água, cocô de passarinho, sujeira e insetos. Abacaxi tem coroa, mas em vez de desenvolver a nobreza, desenvolve espinhos. Se você gosta de abraçar, não vai conseguir abraçar um abacaxi: ele é espinhento. É um tipo que só sabe espetar. E suas mudas, seus filhotes, são tão agressivos quanto os pais: já nascem com espinhos.
O abacaxi, com seus espinhos, é cheio de não-me-toque-não-me-rele. Seu crescimento é lento – e tem alguns deles que nem crescem – e cada pé só dá um fruto. Na feira, por vezes você precisa comprar três ou quatro pra valer um. Seu fruto é ácido e provoca afta em algumas pessoas.
Claro, tem gente que gosta, mas apareceu um problema já nos lembramos: é um abacaxi! É verdade que se pode fazer doce de abacaxi, suco de abacaxi, caipirinha de abacaxi, torta de abacaxi. Dá pra fazer muita coisa de abacaxi, mas não dá para abraçar um abacaxi... e ele cresce muito lentamente... o abacaxi é lento! Vai mais de um ano entre a produção da muda, seu plantio e a produção do fruto. É muito lento...!
E a abóbora?
É bem diferente! Ela não goza de muito status, mas convence pela simplicidade!
Observemos a abóbora em todo seu ciclo, começando com a semente.
A semente germina já crescendo e produz muito: O pé de abóbora produz pela vida inteira. Só para de produzir quando morre. Cresce para todos os lados e quanto mais cresce mais floresce. É verdade que nem todas as flores produzem abobrinha, mas elas atraem borboletas e outros insetos para polinização. O importante é que existem as flores que produzem abóboras. E cada rama produz muitas flores e frutos e mais ramas e mais flores e frutos e muita gente e animal pode se alimentar com eles. E cada abóbora produz centenas de sementes que podem gerar muitos outros pés de abóbora.
O interessante é que cada abóbora tem seu dinamismo próprio: com ela se pode fazer doce, salada, cozer com carne ou de outras formas: é alimento para qualquer situação ou gosto e tem funções benéfica para os intestinos...
Além disso, de qualquer pé de abóbora se pode dizer que é carinhoso, pois sai por aí abraçando tudo que encontra pela frente; e sempre enlaça num abraço produtivo. Mas o importante disso é que a abóbora cresce sempre; é sempre produtiva e altruísta...
A escola, portanto, é um campo em que se cultivam abacaxis e abóboras. Entretanto não sabemos quem é o quê. Mas sabemos que nossas aulas se dirigem a abacaxis e abóboras. Em nossas aulas estamos laçando o adubo... cultivando abóboras e abacaxis...
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO.

“Professor só me deu”


Professor só me deu”

Nossa reflexão neste discurso tem a ver com o aprendizado e o comportamento do aprendiz em relação ao processo do aprender. Poderíamos dizer, também que se trata de uma reflexão sobre a falta de aprendizado que vem crescendo em nossas escolas.
E esta é uma reflexão que não se ocupa em julgar o estudante, mas em constatar um fato do qual, talvez, o estudante seja uma vítima... Mas a vítima fatal e em última instância é a própria sociedade que paga para ter o melhor e acaba recebendo os acidentes do processo!
A questão que desejamos refletir, neste momento, diz respeito a uma atitude que demonstra falta de aprendizado. Ela ocorre logo após alguma avaliação. Circunstância em que, invariavelmente, algum aluno procura o professor e, em tom de reclamação e recriminação, pergunta, afirma e acusa: “professor, só me deu isso de nota!?”
Para não dizer o que pensa e para não ser grosseiro o professor se cala. Mas lá no seu íntimo ele pensa – pensar ele pode: “Abestado, foi você e não eu quem fez a prova!” E vai adiante: “Se a nota foi essa é porque você não sabia mais”. Em acrescenta, ainda no íntimo do seu pensamento: “Eu não dei nota nenhuma. Ela é reflexo daquilo que você fez na prova. Se você acerta um número elevado de questões, a nota é alta, se acerta poucas questões a nota é baixa. Isso não depende do professor a quem só cabe ensinar. O aprendizado é do estudante. Se o estudante estuda, aprende e se aprende a nota vem como consequência. O professor, portanto, só elabora a prova e a corrige depois que ela foi respondida pelo estudante.”
Mas tudo isso fica só na cabeça do professor, pois se disser algo – mesmo que seja verdade – sua fala pode ser interpretada como grosseria, como resposta desrespeitosa ao aluno (lembrando que aluno significa “desprovido de luz” e nessa etimologia o professor é aquele que ajuda o estudante a se apropriar do lumem (luz) do saber.
Então repitamos: ao professor cabe ensinar; promover as condições de aprendizado – condições estas que, em muitos casos, é negada pela estrutura escolar/acadêmica e noutras vezes produzida pelos aluno. Mas ao estudante cabe estudar. Por incrível que pareça, por excelente que seja o professor, se não houver predisposição por parte do estuante, não haverá aprendizado e, consequentemente, não haverá boa nota.
Diferentemente do que ocorre no comércio onde o cliente compra um produto e deseja qualidade, no processo escolar isso não ocorre. O estudante que recebe as informações disponibilizadas pelo professor pode absorvê-las ou não. Se deseja e quando quer, aprende e tem boas notas – e se torna bom profissional! Mas, como ocorre em muitos casos, se o aluno é medíocre ou desinteressado, nada absorverá. E, o que é pior: dirá que o professor não lhe deu nota; em alguns casos os próprios pais cobrarão do professor – e não do aluno – uma melhor nota para o filho, sem cobrar do filho mais empenho no estudo!
Serão esses alunos e não os estudantes que, no final do bimestre ou do semestre, em tom choramingante dirão: “professor, você só me deu essa nota”. Ou então: “Professor, dá um pontinho! Se eu ficar com essa nota vou reprovar. Só um pontinho, professor!” E cada vez que vê o professor é a mesma cantilena lamuriosa: “Então, professor, vai me dar um pontinho?”
Claro que o professor que ouve a lamúria e não diz o que pensa. Mas pensa! Pensa mais ou menos o seguinte: “Como chegamos a esta situação? Se ele tivesse estudado não precisava mendigar nota.” E se lamenta: “Como pode alguém se humilhar a este ponto?”.
Pedir nota é uma confissão de incompetência. Aquele que precisa pedir nota não a merece, pois não foi capaz de consegui-la por si mesmo. E o fato de pedir nota significa que não está preocupado em estudar e aprender. Quer a nota para completar um requisito formal, mas não está preocupado com a postura ética pela qual pode dizer: “Fui aprovado pelos meus méritos” e não porque recebeu algumas migalhas de esmola!”
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura- RO

Educação: de quem é a responsabilidade?


Educação: de quem é a responsabilidade?

Estamos acostumados a ouvir falar que educação tem a ver com a escola ou é uma responsabilidade da escola. Não que não seja assim, mas não é só isso. Na realidade, educação é muito mais que isso! Ultrapassa a escola porque começa antes dela.
Então comecemos no começo. Para falar sobre algo, precisamos, primeiro, saber o que é aquilo sobre o quê estamos falando. Neste caso, em que consiste isso que chamamos de educação?
Os mestres da linguagem diziam que educação tem a ver com um processo. Ninguém nasce educado. Ninguém é plenamente educado. Da mesma forma que ninguém é “sem educação” ou seja, todos somos educados, mas, ao mesmo tempo, estamos nos educando. Nisso consiste o processo. Isso é o que sugere a professora Maria L. A. Aranha, no livro “Filosofia da Educação”, essa é uma palavra que vem do latim, “educare” e se refere ao processo de “conduzir de um estado a outro”. Envolve, portanto, um “agente” que conduz, uma “mensagem” que é transmitida e a um indivíduo que recebe essa mensagem.
E com base nisso somos levados a dizer que educação não se realiza isoladamente. Tem a ver com vida social. É processo coletivo.
Como estamos admitindo que se trata de um processo, somos levados a concluir que a ação educacional, que é coletiva, não tem um ponto de partida nem um ponto final; não se pode dizer: até aqui este indivíduo não era educado; a partir daqui ele está educado. Pode-se dizer que o indivíduo está se educando sempre. Pois sempre se aprimora em seus comportamentos, valores e posturas.
E, um detalhe: Percebeu? Até aqui, em nenhum momento mencionamos a instituição escolar como agente da educação!
Cabe, então, analisar a ideia de “conduzir de um estado a outro”. Quem conduz? Quem é conduzido? O que conduz é aquele que está numa situação ou condição na qual o conduzido ainda não chegou, mas acredita que deve chegar. E se esse ponto deve ser atingido é porque se acredita que ele seja bom. Trata-se, portanto, de um avanço valorativo. O que é conduzido é aquele que aceita, acata e deseja a condução; acredita que pode atingir um ponto onde ainda não está e, para isso, depende da ajuda daquele que já atingiu o ponto ou objetivo almejado... que não é um “ponto final”, mas uma meta de transição, uma catapulta para o ponto seguinte.
Então voltemos à nossa questão: de quem é a responsabilidade pela educação? De quem já deu o passo ainda não dado pelo que está inserido no processo. Concretizando isso podemos dizer que o adulto está numa situação ou estágio em que a criança ou o adolescente ainda não atingiu. Portanto cabe ao adulto educar a criança ou o adolescente ajudando-o a atingir ou desenvolver os valores que ele ainda não incorporou.
E quem são os responsáveis pela criança e pelo adolescente? Todos os adultos, mas em primeiro lugar os pais! Então a quem cabe a responsabilidade pela educação?
E a escola? Trata-se de uma instituição que tem outro papel: a ela cabe a transmissão de informações consideradas relevantes para o desenvolvimento do indivíduo. É uma instituição que supõe a educação e ajuda a moldá-la, mas com outros objetivos. Por exemplo, um dos objetivos do sistema escolar é preparar para o trabalho. Ou educar para o trabalho. Mas a escola não vai dizer ao estudante que o trabalho é algo bom e que este deve ser um objetivo de vida para todas as pessoas. A escola dirá ao indivíduo: você está no mundo e precisa trabalhar, portanto eu vou te ajudar a se preparar para isso.
A família estimula, ensina – educa – para perceber o valor do trabalho e a escola prepara para o exercício do saber: prepara para o trabalho. Cada instituição tem uma responsabilidade em relação ao processo educacional.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO

Sagrada Família: para se cumprir!

Reflexões baseadas em: Eclo 3,3-7.14-17a; Cl 3,12-21; Mt 2,13-15.19-23 Todos os que, de alguma forma, tiveram contato com os ensinamentos d...