Pelos
Caminhos da América
“Pelos Caminhos da América,
há tanta dor, tanto prato; nuvens, mistérios, encantos que envolvem
nosso caminhar. Há cruzes beirando a estrada, pedras manchadas de
sangue, apontando como setas que a liberdade é pra lá. Pelos
caminhos da América, há monumentos sem rosto, heróis pintados, mau
gosto; livros de história sem cor. Caveira de ditadores, soldados
tristes, calados, com os olhos esbugalhados, vendo avançar o amor”.
Esses versos de Zé Vicente,
retratam um pouco dos 500 anos de dominação e sofrimento impostos
aos povos ameríndios em nome do lucro dos colonizadores e da classe
dominante.
Inicialmente a exploração
era feita pelos colonizadores das metrópoles portuguesa e espanhola.
Mas com o processo de independência e nos últimos séculos ela
ocorre em nome do capitalismo que se instalou contra os pobres no
continente.
Em nome desse lucro os
colonizadores e depois os fazendeiros exterminaram populações
inteiras, deixando nas margens da história as cruzes com os nomes
das incontáveis civilizações que viviam de norte a sul da América.
Povos que foram mortos pela ganância de governos e de indivíduos,
ao longo dos 500 anos de América.
Além da morte efetiva
produzida com tiro ou com pestes.., ao longo de nossa história
desaprendemos a valorizar os produtos e a cultura dos povos que
inicialmente povoaram as Américas. Dessa foma, além de matar a
população, os brancos mataram, também a história desses povos.
Prova disso é que pouco sabemos das sociedades que viviam de norte a
sul das américas, antes da chegada dos europeus.
Podemos lembrar de alguns
exemplos desse extermínio, ao longo dos caminhos da América: Na
colonização da América do Norte
um dos lemas dos colonos era: “índio
bom é índio morto”. Cortez e Pizarro, na América central
e andina, exterminaram maias, incas e astecas em busca do ouro por
eles acumulado. No Brasil não foi diferente: São muitas as
historias de colonizadores que deram presentes contaminados para
dizimar as tribos locais.
Nos dias de hoje, no Brasil,
ainda persistem situações em que fazendeiros ou o poder público
tiram a vida, as terras ou elementos da cultura de várias nações
indígenas. Aqui em Rondônia, neste início de século XXI, ainda se
vê nações indígenas sendo expulsas de suas terras ancestrais;
existem povos nos quais os valores dos brancos são tão presentes
que traços dessa cultura tradicional estão se perdendo.
Ao lado da busca de riquezas,
outro motivo que trouxe o europeu para as Américas (principalmente a
colonização ibérica) foi a difusão do cristianismo. O problema
ocorreu na medida em que os valores cristãos se imiscuíram,
sincretizaram e se corromperam depravando-se com os valores
econômicos. E isso foi usado não em defesa, mas contra os povos
indígenas.
É claro que existem
instituições – inclusive cristãs – que hoje fazem o mea
culpa e tentam proteger as
culturas tradicionais. Mas isso não anula o fato: o avanço
da dominação dos brancos sobre terras e povos indígenas continua
impondo valores que anulam essas culturas ancestrais.
Sabemos que nenhum contato
entre sociedades e culturas distintas as manterá intactas. Havendo
contato, necessariamente ocorre interação. O problema não é o
contato e interação cultural. O problema é que os valores dos
brancos sobre os povos indígenas são mais mortais do que as pestes
trazidas pelos brancos ao longo dos 500 anos dessa América
desencaminhada.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação,
filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO
Nenhum comentário:
Postar um comentário