sexta-feira, abril 10, 2020

Sexta Feira Santa

Não é só dia de jejum. É também dia de nos darmos conta de que Jesus não sofreu somente há 2000 anos, mas continua sendo crucificado nos dias atuais:

por nós, quando não somos solidários para com os que precisam de nós;

pelos políticos, quando enganam e roubam do povo;

pelos magistrados, quando encontram brechas na lei e usam a lei para não fazer justiça;

pelos pais e mães, quando deixam de estabelecer limites aos filhos e eles crescem sem se importar com o “outro”;

pelos jovens, quando consideram mais importante a “curtição” a “balada” do que o estudo e a atenção aos pais…

Sexta Feira Santa é dia de revermos nossas atitudes.

Sexta Feira Santa é, sim o dia de celebrar o Senhor Morto, mas também de percebermos em quais situação o estamos matando hoje.

Na Sexta Feira Santa celebramos o Senhor Morto, mas essa celebração deve ser um convite a nos prepararmos para superar nossas mortes de todo dia e nos encaminharmos para a vida nova na Páscoa definitiva.

E isso tem que ser pensado, principalmente nestes tempos de quaresma/quarentena de recolhimento religioso e de preservação da saúde.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura - RO

Pensando o Domingo de Ramos

O Domingo de Ramos nos provoca a compreendermos o sentido da Semana Santa. E a primeira coisa que podemos nos lembrar é que a Semana Santa começa com o Domingo de Ramos.

Outro elemento importante a termos presente é o fato de que Domingo de Ramos e Sexta Feira Santa são dois momentos extremos e opostos da vida de Jesus e coloca em evidência nossas reais atitudes em relação a Jesus: No domingo o acolhemos com ramos e festa. Na sexta feira o crucificamos.

Mais um ponto que podemos refletir diz respeito ao que estamos vivendo atualmente, nesta situação de confinamento (prevenção contra o corona vírus). Podemos nos propor a fazer desta semana uma espécie de retiro espiritual de forma a possamos rever, avaliar e buscar novas atitudes a fim de que nossas vidas melhor se encaixem ao plano de Deus.

Podemos, além disso, da mesma forma que se faz no Natal, colocarmos ramos em nossas portas, como que sinalizando para que Jesus, ao passar, montado no jumentinho se digne a visitar nossas famílias.

Mas essa visita não pode ser gratuita. Ela deve nos comprometer a seguir seu exemplo e por em prática os seus ensinamentos. E que isso não aconteça somente na Semana Santa, mas em todo o resto de nossas vidas.

E assim, cada família em sua residência pode dar um novo sentido à vida comunitária, pois estar juntos nem sempre é estar no mesmo ambiente. Estar juntos é caminhar na direção da construção de um mundo melhor.

Talvez este isolamento seja o melhor momento que já tivemos para passar a limpo, não só nossa vida, mas também o mundo em que estamos inseridos.

Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.
Rolim de Moura - RO

terça-feira, março 31, 2020

Mensagem dos últimos tempos

Não fazem muitos dias e ainda estávamos no final de 2019, fazendo planos para 2020… Festas, fogos… frivolidades… mas, também, sonhos!!!

E o que sonhávamos?

Mais conquistas financeiras. Melhores oportunidades de trabalho. Aumentar a renda familiar. Comprar isto ou aquilo; isto e aquilo… Novos amores ou reforço nas relações já existentes… e a lista se sucedia… cresciam com pedidos de mais coisas; quase não nos dávamos conta da importância das pessoas.

Aliás, das pessoas queríamos o número ou canal de acesso a uma rede social. Queríamos a conexão, mas não a relação… a não ser que a relação fosse virtual… (virtual, de virtus, do latim, que significa algo relacionado com força; mas queríamos a força do canal e não uma relação pessoal forte). Nisso residia o fato!

Qual fato?

O fato é que nessa altura das nossas relações, já estávamos isolados… cada um no seu mundo de teclas ou de tela sensível ao toque. Nem nos namoros o toque estava tendo espaço, perdendo para a tela fria. Não poucas vezes vi casais, lado a lado, em vez de trocarem beijos e abraços, cada um tocava a sua tela insensível… e eu, a observar, me dizendo: numa relação a dois existem coisas melhores de serem tocadas, apertadas, acariciadas… numa relação a dois tem algo muito melhor a se fazer…….

O fato é que o ano começou. Os sonhos foram se assentando na poeira do tempo e a realidade se impondo. E as notícias de um país distante com um problema sério(?) mal chamavam nossa atenção. Era do outro lado do mundo!!! Mas as informações nos chegavam pelas telas e jornais.

O fato cresceu. Multiplicou-se. Alastrou-se. Aproximou-se. Chegou ao nosso quintal. Instalou-se e está aí. E o fato, notícia da China, não era mais só negócio da China. Era o medo se instalando. Era o medo já instalado. E alastrado pelas telas e teclados. Mas ai já era somente coisa das elites.

O fato trouxe incertezas. Trouxe discussões e divergências. Muitos tinham muito a dizer, mas poucos atinavam, exatamente, sobre o que era essa ameaça. E o medo se alastrou, muito mais rapidamente que o vírus temido. E algumas máscaras começaram a cair. E as pessoas instaladas em seu mundo, individualista e individualizado, sentiram que algo diferente (terrível) pairava no ar ameaçadoramente! Algo, não só grandioso, mas principalmente fora de controle, havia se instalado. E os dedos, mais do que o cérebro, buscavam informações nas telas. Mas a rede não apresentava a certeza buscada! Ampliava as incertezas. E alguém resolveu andar na contramão dos fatos. Alguém que, iludindo uma minoria, se fez um presidente que mente.

O fato e o fake apareceram em informações desencontradas, contraditórias; notícias falsas ganharam mais atenção que as supostas verdades… ambas alarmantes! O mundo estava enfermo. Fica em casa. Vai pra rua! Fica em casa ou vai pra rua? A ciência diz fica. A arrogância, na forma de uma marionete do capital diz vai… A sapiência recomenda prudência, pois a incerteza é maior que os interesses empresariais.

O fato das notícias de mortes do outro lado do mundo, não nos afligia, eram só notícias. Trágicas, mas só notícias, como outras tantas de tantas tragédias, que lamentávamos, mas não nos diziam respeito. Mas as mortes começaram a dançar não só no outro lado do mundo, mas também nos quintais dos vizinhos. E entrou pela porta das elites e invadiu nosso quintal.

O fato é que ela chegou. Inicialmente coisa das elites. Mas assustou as periferias. Se não havia hospitais para as elites qual vai ser o impacto no chão do povo? E o medo produziu o isolamento. E as pessoas, abraçadas com seus aparelhos de comunicação que gerou distanciamento, descobriram a necessidade do outro; e o aparelhinho maldito ganhou nova finalidade: buscar notícias; enviar mensagem de otimismo.

O fato é que até as igrejas se esvaziaram. Mas as preces se irmanaram. De uma lado a prece da ciência: enquanto manipula as pipetas, o microscópio, os reagentes e outros aparelhos, pede ao Onipotente que lhe ilumine as buscas. A sapiência da ciência também é dom do Espírito. Do outro lado a prece que se desenvolveu do medo e da esperança popular. E as preces do povo dizem e pedem para que as autoridades deixem as picuinhas e seus interesses pessoais e se concentrem no interesse do povo; para que o presidente desça de seu ego maldito, deixe de ser lacaio dos empresários e banqueiros e olhe para os interesses e necessidades do povo; para que os veículos de comunicação e notícia deixem de atender aos seus interesses publicitários prendendo a atenção do povo com notícias sensacionalistas e se concentrem em dizer e divulgar verdades; para que os legisladores deixem o medo do presidente e façam algo pra colocar o Brasil nos trilhos, na direção das necessidades do povo.

E agora que o vírus começa a descer das elites e a fome começa a se instalar, o povo quer saber a quem recorrer?

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura - RO

sexta-feira, março 27, 2020

EM QUARENTENA: TALVEZ...

Em nosso tempo, o tempo que nos cabe viver, ocorreram e continuam acontecendo coisas assombrosas.

Quem é do meu tempo deve lembrar de como vivíamos e de coisas que usávamos, meio século atrás: toca disco, rádio “de pilha”. Cerveja em garrafa de 600 ml. Bailes, tocados por conjuntos ou bandas, ao vivo. Caso fossemos para o interior, onde não havia “luz elétrica” e, evidentemente, também não havia geladeira (aqueles que a possuíam a faziam funcionar com base num motorzinho a querosene) observaríamos uma simples e eficiente técnica de conservação de carne: salgá-la e deixá-la secando ao sol, para depois ser guardada. Em muitas casas a carne de porco passava por outro processo: toda ela era colocada num taxo, fritada e depois guardada em latas com banha... uma delícia…

Mas o tempo passou.

E chegamos ao nosso tempo. Ao mundo atual. Tudo rápido. Digital. Controlado remotamente. Por controle de voz. Por sensor de movimento.... E o passo seguinte já sendo dado: Quase tudo sendo assumido pelos sistemas de inteligência artificial.

Naquele tempo era tudo mecânico. Não dava para trocar um disco de vinil remotamente. Era necessário levantar do sofá. Pegar o disco. Virá-lo e, com muita delicadeza, recolocar a agulha do braço do toca-discos no início para tocar as quatro, cinco ou seis músicas do LP. E depois trocar novamente…

Atualmente, se quisermos, podemos fazer uma play list, com trezentas ou quinhentas músicas que se sucedem com um único toque de start.

E as comunicações, então… As notícias de quem morava longe, iam ou chegavam, por meio das cartas. E como demoravam. Claro, alguns tinham telefone em casa: pedia ligação para a telefonista, que discava e chamava o número desejado. E quando tudo corria bem a pessoa, do outro lado atendia. Depois veio o DDD...

Mas tudo isso é passado. Nostalgia, para alguns. Alívio para outros. Mas é passado!

O fato é que nesse último meio século tudo mudou. Virtualizou-se. Tornou-se Infotecnovitual. Tudo é fácil e acessível ao toque de um botão.

Resultado?

Nos distanciamos. Mesmo morando na mesma casa, quase não nos encontramos: de casa para o trabalho, do trabalho pra outra atividade… e sempre correndo… e sem tempo… e sempre atrasados… e sempre cansados…

E quando chegamos em casa, cansados, estressados, irritados com as dificuldades do dia mal vivido, mal temos tempo para um banho e queremos repouso. E os problemas domésticos se avolumam. E a família entra em crise. E a sociedade perde o rumo… ou os valores...

Num mundo de comunicação, não sabemos nada de quem está ao nosso lado. Num universo que exige intensa interatividade no trabalho, vivemos isolados. Num período de múltiplas facilidades nos atrapalhamos com coisas simples…

E, de repente, somos atropelados por uma crise que implode nossas crises anteriores: nos dizem que devemos permanecer em casa. Pior ainda: temos que ficar em casa e conviver com nossa família. E, o terror disso tudo: os pais se vêm obrigados a conviver com os seus filhos!!!

Poucos dias antes as escolas, os cursinhos, as babás, os cuidadores… eram obrigados a suportar nossas crianças, suas birras, suas malcriações, sua falta de limites…

Mas, de repente, caiu sobre todos essa loucura que é um “toque de recolher”. E as crianças não podem azucrinar os “terceirizados” pois não podem sair de casa. E, depois de quase meio século de descaminho, os pais estão sendo obrigados a cuidar de seus filhos… Tão verdadeira é essa situação que uma professora, fez esta perfeita observação: “é bom não ter aula por uns dias. Só assim, dentro de uma semana, uma mãe desesperada vai encontrar a cura para o coronavírus

Mas o drama da quarentena, pode nos permitir outras observações. Que fazer, se não temos nada pra fazer? Certamente muitas discussões e brigas acontecerão no espaço doméstico. Famílias inteiras terão que se suportar por alguns dias, no mesmo ambiente que já foi um lar. Pais e filhos e esposos terão que se olhar todos os dias, sem a desculpa de “sair para o trabalho”.

Essa pandemia está fazendo com que as pessoas se olhem no espelho. E, além de nos colocarmos diante do espelho, seria importante nos perguntarmos: quem é esse que vejo em minha frente?

Talvez, depois de alguns dias de confinamento, mirando-nos no espelho de nossa família, possamos repensar nossas vidas. Nossas relações. Nossas opções.

Talvez, com esse drama, quase de ficção científica, consigamos reaprender, coisas simples como: o sentido da solidariedade; a importância dos aparelhos de comunicação, atrás dos quais passamos parte de nossa vida nos ocultando; o real sentido de um aperto de mão, de um abraço, de um beijo…

Talvez, quem sabe, a sociedade em que estamos mergulhados, redescubra o significado de solidariedade. Quem sabe seja possível redescobrir que os aparelhos de comunicação não existem somente como esconderijo...

Talvez essa catástrofe nos permita perceber a insignificância e a grandeza do ser humano. Tão insignificante somos que um minúsculo ser nos encurrala a todos dentro dos nossos medos. Tão grandioso ao ponto de inúmeros profissionais da saúde, entre outros, se sacrificarem em socorro de tantos.

Talvez, diante desse mal, mais assustador que efetivo produtor de males, a humanidade se reconduza na direção do encontro: do outro, da família; podem ocorrer auto-encontros. Mas também é possível que os mandatários das nações descubram o verdadeiro poder da tirania e a exerçam sobre os povos, com mais requinte e maldade que atualmente.

Em nosso tempo, o tempo que nos cabe viver, parece que estamos recebendo uma nova oportunidade, como se nos fosse apresentada uma nova arca, em um novo dilúvio… Mas também pode ocorrer que afundemos junto com a arca da salvação...

Talvez…




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO

sexta-feira, março 20, 2020

"O dia em que a terra parou"


“No dia em que todas as pessoas do planeta inteiro resolveram que ninguém ia sair de casa. Como que se fosse combinado, em todo o planeta. Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém”

Esse discurso, entoado numa melodia, profético, de Raul Seixas, acabou não sendo um dia, mas uma sucessão de dias e semanas… Mas a terra parou…

Quer dizer, não parou, assim paradinho sem se mexer. Mas parou.

Não porque deu a louca no mundo. Na verdade o mundo já estava enlouquecido havia muito tempo. Mas o mundo parou.

Não por um evento gigantesco, fantástico; nem por algo maravilhoso, nem catastrófico; também não foi por causa de invasão alienígena, como apregoaram todos os filmes de ficção sobre alienígenas invasores. Também não ocorreu um fenômeno apocalíptico, como crê, quem crê no apocalipse da bíblia… mas o mundo parou.

Bem, na verdade não foi exatamente como gritou, cantando, o velho Raul. Mas quase tudo parou.

Ao paciente o doutor mandou ficar em casa, por isso, também ele não estava lá… Nas igrejas, os fiéis não estavam lá, pois Deus não faz milagre onde cabe ao ser humano realizar; no trabalho, não estavam lá os trabalhadores; nas escolas, os estudantes não estavam e o professor não estava não porque não havia nada pra ensinar…o que não havia era como, pois ensinar havia o quê. Só que o mundo parou.

Não parou tudo porque o médico sabia que não sabia como curar, por isso não parou. Então alguns estavam lá. O doutor porque sabia que tinha muito para curar. A dona de casa, pois sabia que tinha que buscar o “de comer”. O guarda estava lá pra assegurar as condições de segurança, tanto de quem estava como de quem não estava lá….

Ela também não parou. E se alastrou. Circulou o mundo que não queria ou não sabia parar; ou havia perdido o freio e corria ladeira abaixo.

E foi assim quando ela se apresentou. Veio de avião. Não veio pelo chão, por onde pisa o povo, pisando a estrada por onde vai para o trabalho. Ela veio pelos ares que todos respiram. Sem ser vista, entrou pelos olhos, pela boca, garganta… foi sufocante.

Matou muitos. Não de alegria, pois não houve festa, mas de dor; da dor de não poder respirar; da dor de não ter remédio pra curar. E os que viveram, ficaram lá… parados, sem saber o que fazer; o quê dizer?

Ela chegou, doença maldita, e se instalou; e fez tudo parar. Pretendeu matar a tradição, pois elegeu os anciões.

Chegou com um nome pomposo: Corona.

Coroa, não de rei, mas de um vírus. Veio coroar um tempo… quando ninguém mais tinha tempo pra nada, nem para os amigos, nem para a família, nem pra morrer, menos ainda para viver… nem para Deus sobrava tempo! Até tempo para o trabalho quase não se tinha mais, pois a tarefa de hoje, “era pra ontem”, tal sua urgência. Tudo uma só correria. Um mundo de velocidade, no qual até os segundos tiveram que ser esquartejados em milésimos e milionésimos…

Rapidez, velocidade, dinamismo… as palavras que definem o mundo em que ela chegou… e fez tudo parar.

O Raul, em 1977, terminou seu brado, cantando: “Essa noite, eu tive um sonho de sonhador, maluco que sou, acordei”.

E nós? Não acordamos. Continuamos confusos e confundidos. Perdidos: para onde ir, Se tudo está parado? Pra que ir, se tudo está contaminado?

Estamos parados, sem saber o que fazer. Abestalhados, sem saber a quem recorrer. Abandonados, sem um sistema pra nos proteger.

Quando passarem os dias, que não se sabe quantos serão, alguém vai escrever a história. E nessa história não haverá espaço para os heróis, não que eles não tenham existido. Na hora de fechar o balanço, eles aparecerão. Mas terão sido anônimos. Como são todas as multidões que não se furtam em fazer algo para superar as dores.

Se não houver nomes dos heróis, sobrarão narrativas sobre os desencontros de informações. Sobre os vilões da história, que serão vilões não por serem vis, mas por que não estavam à altura das respostas exigidas e pelas tolices afirmadas.

Talvez, então, ao final do drama, tenhamos aprendido algumas lições: o lugar e a vez de valorizar quem realmente importa; descobrir quem realmente importa, não porque é um figurão, mas porque está ao nosso lado; descobrir o valor do tempo, não o do relógio, mas o de ficar do lado de quem é importante pra nós.

Talvez, então, quando este inferno passar, tenhamos aprendido a lição com o velho Raul. Então veremos que o “patrão” não é mais importante que o “empregado”, pois ambos existem em função do trabalho para todos. O guarda não terá mais razão de existir, uma vez que o ladrão também não haverá, pois os que hoje roubam nos gabinetes da politica ou nas esquinas terão aprendido a lição da solidariedade.

Talvez, então, já acordados, como o velho Raul, não tenhamos necessidade de ouvir os sinos das igrejas, pois elas deixarão de ser importantes, pois importante é o ser humano, esse sim, amado por Deus.

Talvez, então, tenhamos aprendido a lição e saberemos quão importante é o professor, não para ensinar, pois as informações já estão na rede, mas para ajudar a trilhar o caminho da sapiência. E não teremos mais espaço para os ridículos comandantes, nem para tolo soldado, pois já não seremos inimigos. E, nesse dia, estaremos curados. E, desse dia, não precisarmos acordar, pois nosso sonho já não será sonho.




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO

sexta-feira, março 13, 2020

Depois do Dia dos Pais

Ontem foi dia dos pais.

Propositadamente não expressei congratulações a nenhum dos pais que conheço. Não que não mereçam. Pelo contrário.

Sei que merecem!

Sei, também, que não são poucos os filhos que se preocupam, cuidam e mesmo à distância convivem cotidianamente com seus pais, com suas mães, com seus filho... e com todos aqueles que precisam de sua mão amiga ou de sua palavra de apoio... Filhos com toda a extensão e profundidade que essa palavra pode expressar e significar. Aqueles filhos que, orgulhosamente, enchem de orgulho o coração dos pais e os fizeram pais, visto que somente a existência do filho gera o pai.

Sei que esses filhos usam, também, o dia dos pais para expressarem sua dedicação e gratidão filial.

Sei de tudo isso.

Mas sei, também, que os outros filhos não são assim.

Sei que só lembram de seus pais porque a loja de presentes, a perfumaria, a loja de confecções... a mídia, enfim, os força a provar sua ausência dando um presente compensatório. Um presente que só satisfaz a loja que vende, pois não preenche a ausência de uma vida de indiferença.

Por isso, hoje, não estou aqui fazendo minha homenagem tardiamente.

A real homenagem não se expressa com palavras, presentes, propostas de almoço ou jantar... A verdadeira homenagem, que enche o pai de orgulho – e não seus olhos de lágrimas por conta do descaso – somente acontece na cumplicidade que ocorre no cotidiano ao longo dos demais dias do ano. Ocorre como se dá a sucessão dos dias, invariavelmente um dia seguindo ao outro, com a brandura de um entardecer e a esperança do raiar do dia...

Entretanto, vai aqui minha homenagem... não aos pais, que já foram ontem superficialmente homenageados pelos filhos relapsos. E se foram lembrados ontem, não precisam de minha homenagem hoje, atrasada.

Também não estou homenageando aos pais que são constantemente presentes na vida de seus filhos. Estes já são honrados cotidianamente; e a minha homenagem, a estes, somente no dia dos pais, poderia soar falsa. E seria ainda pior no dia seguinte!!!

Faço, portanto, homenagem aos filhos!

Minha homenagem é dedicada aos filhos! Mas somente àqueles que durante todo o ano honram seus pais, como ensina o mandamento divino.







Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura - RO

domingo, março 01, 2020

Abacaxi ou abóbora?

Você já se deu conta de que a escola é um espaço onde são cultivados, entre outras coisas abacaxis e abóboras?
Se você é professor ou estudante ou pai ou simplesmente uma pessoa que gosta de entender as coisas, acompanhe meu raciocínio para perceber que, efetivamente, na escola cultivamos muitas coisas. Entre elas abacaxis e abóboras... Explico-me!
O que é uma abóbora? O que é um abacaxi?
Comecemos com os abacaxis. Aparentemente são futas charmosas. Dá até para fazer uma batidinha de abacaxi. Mas como nosso tema, aqui, é escola, então deixemos as batidas pra lá, pois alguém poderia dizer – algum leitor mal intencionado – que estou advogando o uso da palmada para promover um processo mais producente de educação.
Mas fiquemos com o abacaxi!
Comecemos, então, dizendo que o abacaxi é um fruto que parece rei, mas não tem majestade. Pensa que sua coroa é importante e lhe confere nobreza, mas, na realidade, só serve para cumular água, cocô de passarinho, sujeira e insetos. Abacaxi tem coroa, mas em vez de desenvolver a nobreza, desenvolve espinhos. Se você gosta de abraçar, não vai conseguir abraçar um abacaxi: ele é espinhento. É um tipo que só sabe espetar. E suas mudas, seus filhotes, são tão agressivos quanto os pais: já nascem com espinhos.
O abacaxi, com seus espinhos, é cheio de não-me-toque-não-me-rele. Seu crescimento é lento – e tem alguns deles que nem crescem – e cada pé só dá um fruto. Na feira, por vezes você precisa comprar três ou quatro pra valer um. Seu fruto é ácido e provoca afta em algumas pessoas.
Claro, tem gente que gosta, mas apareceu um problema já nos lembramos: é um abacaxi! É verdade que se pode fazer doce de abacaxi, suco de abacaxi, caipirinha de abacaxi, torta de abacaxi. Dá pra fazer muita coisa de abacaxi, mas não dá para abraçar um abacaxi... e ele cresce muito lentamente... o abacaxi é lento! Vai mais de um ano entre a produção da muda, seu plantio e a produção do fruto. É muito lento...!
E a abóbora?
É bem diferente! Ela não goza de muito status, mas convence pela simplicidade!
Observemos a abóbora em todo seu ciclo, começando com a semente.
A semente germina já crescendo e produz muito: O pé de abóbora produz pela vida inteira. Só para de produzir quando morre. Cresce para todos os lados e quanto mais cresce mais floresce. É verdade que nem todas as flores produzem abobrinha, mas elas atraem borboletas e outros insetos para polinização. O importante é que existem as flores que produzem abóboras. E cada rama produz muitas flores e frutos e mais ramas e mais flores e frutos e muita gente e animal pode se alimentar com eles. E cada abóbora produz centenas de sementes que podem gerar muitos outros pés de abóbora.
O interessante é que cada abóbora tem seu dinamismo próprio: com ela se pode fazer doce, salada, cozer com carne ou de outras formas: é alimento para qualquer situação ou gosto e tem funções benéfica para os intestinos...
Além disso, de qualquer pé de abóbora se pode dizer que é carinhoso, pois sai por aí abraçando tudo que encontra pela frente; e sempre enlaça num abraço produtivo. Mas o importante disso é que a abóbora cresce sempre; é sempre produtiva e altruísta...
A escola, portanto, é um campo em que se cultivam abacaxis e abóboras. Entretanto não sabemos quem é o quê. Mas sabemos que nossas aulas se dirigem a abacaxis e abóboras. Em nossas aulas estamos laçando o adubo... cultivando abóboras e abacaxis...

Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO.

segunda-feira, fevereiro 24, 2020

Desculpe, foi mal!

Desculpe, foi mal! Essa é uma das formulas usadas pelos jovens da atualidade para se desculparem depois de terem feito uma besteira.

Mas não estamos falando dos vacilos dos jovens. O assunto, aqui, são atitudes de uns políticos que vemos por aí. Alguns deles foram representados no desfile de uma escola de samba do Rio de Janeiro: foram representados sentados em vasos sanitários. O carnaval queria mostrar o que eles andam fazendo, em nome da lei!

E se os cidadãos, eleitores e as pessoas inteligentes prestassem atenção, notariam como eles usam os vasos – do congresso nacional às câmaras municipais; de planalto até as mais humildes prefeituras. E o resultado recai sobre o povo: vítima de votos mal pensados.

Quer alguns exemplos: o presidente não perde oportunidade para ofender jornalistas, principalmente as mulheres, além de envergonhar o povo com seu discuso segregacionista. O o ministro da educação, além de escrever errado, desmoralizou uma das poucas coisas razoavelmente bem feitas – o ENEM; sem contar que cortou verbas das universidades e colocou em risco o avanço da ciência feito por pesquisadores brasileiros.

Se descermos um degrau a mais, vamos encontrar os estados com seus deputados e governadores dando tiro no pé. No inicio do mandato o governador de Rondônia anunciou uma correção salarial dos servidores e no dia seguinte veio a público dizer que havia sido um equívoco. Há poucos dias a Secretaria da Educação de Rondônia, mandou recolher livros da literatura universal e consagrada, sob alegação de que “contém linguagem inadequada” aos estudantes. Em seguida um certo diretor de escola militar, de Porto Velho, evidenciou intolerância desrespeitando o princípio básico de liberdade de associação sindical e “afastou” professores, devolvendo-os à SEDUC. Motivo os mesmos queria participar de uma assembleia do sindicato dos professores na qual seriam dados alguns informes de interesse público.

E a sucessão de episódios grotescos chegou até Rolim de Moura. Os vereadores da cidade, num “sábio” e “heroico” gesto de defesa dos interesses dos empresários locais revogaram uma lei municipal. A lei revogada era de 2011 e instituía como “feriado municipal” a “terça feira de carnaval” a sexta-feira santa e o dia de Corpus Christi. E com a lei 3689, de 18 de fevereiro de 2020, aprovada pela Câmara municipal e sancionada pelo prefeito, revogou-se essas datas como feriados municipais.

Feliz da vida, pensado nos vultosos lucros… a Associação Comercial do município soltou uma nota, com pompa e banda de música, dizendo aos seus associados: “ficando assim autorizadas as empresas de Rolim de Moura a exercer suas atividades sem precisar arcar com despesas de horas extras, sindicato e alvará especial”.

Quer dizer, os senhores de escravos ficam felizes e a prefeitura deixa de arrecadar com os alvarás e …

Desculpa gente, foi mal! Não deu tempo de terminar meu comentário maldoso:

A Câmara de vereadores voltou atrás e o prefeito concordou. Aprovaram e sancionaram a lei 3701, no dia 24 de fevereiro de 2020. O terceiro artigo diz que “Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, e revoga a Lei Municipal n. 3.689 de 18 de fevereiro de 2.020”

Portanto podemos pular carnaval e rezar sem cometer crime contra os empresários e contra a prefeitura….

E é bom lembrar: Logo mais teremos eleições para elegermos prefeito e vereadores...




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura - RO

sexta-feira, fevereiro 14, 2020

Calúnia


lingua do povo
Língua de fogo:
Ela queima
Gera dor.
Que horror!
Língua do povo
Língua da fama:
Ela esparrama
Feito vento.
Ao relento!
Língua do povo
Língua do drama!
Ela inflama
Nos boatos...
Nega os fatos!
Língua do povo:
Língua do novo!
É uma pena,
Quando envenena...
Língua do povo
que pena
Faz calúnia!
Neri de Paula Carneiro.

terça-feira, fevereiro 11, 2020

PRA FAZER FILOSOFIA

Acredito que devido ao fato de eu ser professor, muitos me fazem muitas perguntas. E entre as muitas coisas que me perguntam, muitas perguntas são sobre o que é filosofia. Perguntam se filosofia é isto ou aquilo?
Claro que tenho que responder. Afinal, pra que servem as perguntas se não para provocar respostas? Mas em resposta, respondo que não sei a resposta! Ou melhor, não sei dar a resposta que eles querem sobre a filosofia ser isto ou aquilo.
Dependendo da inspiração, acrescento, e não é exagero o que digo, que filosofia não é isto nem aquilo; mas dá pra dizer que filosofia é tudo isso. Mas tudo isso sem ser isto ou aquilo!!!
E o interlocutor não deixa passar: Mas tudo isso o quê? E como não é nem isto nem aquilo? E como pode ser isso e aquilo?
Ai me vejo obrigado a explicar: Primeiramente, e pra dizer a verdade, filosofia não é! Ela está menos para presente do indicativo e muito mais para gerúndio: ela vai se construindo...
Não se concebe a filosofia como algo pronto: estátua, feito banheiro de passarinho, numa praça deserta. Cabe mais a afirmação de que ela se parece com a chuva fina que lenta, progressiva e continuamente umedece a terra… aquela chuvinha que, sem que se perceba, ajuda na fertilização da terra estimulando seu potencial de vida, estimulando a vida nova da semente plantada. E nesse processo de umidade e fertilidade vão germinando as sementes das ideias...
A filosofia não é fruto do corre-corre tresloucado deslocando a capacidade de pensar para a obrigação do fazer… e nessa loucura se faz de tudo menos pensar! E o processo do pensar é a dinâmica da filosofia. Por isso a filosofia tem a ver com dinamicidade do pensamento.
A filosofia não É, como coisa pronta. Ela se explica na dinâmica porque exige uma postura de movimento. Pedra bruta sendo polida ao longo do tempo pela torrente do fundo do rio. Com a filosofia ocorre aquilo que é típico dos cães farejadores, cheira aqui e ali quase sempre consegue encontrar coisas novas a serem relacionadas com as antigas; com ela se podem relacionar coisas tradicionais fazendo germinar novidades. Com ela os saberes tradicionais, vão se tornando coletivos e viram ciência/sapiência, envolvendo a tudo e a todos, propondo, depois das soluções, novas interrogações!
O processo filosófico é dinâmico, mas não tem a ver com a ideia do movimento pensado pela física, calculando tempo e espaço, embora possa estar na indagação sobre o tempo e o espaço e a energia... Tem a ver com transição constante como foi anunciada e inaugurada por Heráclito (e outros antes dela), dizendo que no mesmo rio não se entra duas vezes… pois tudo flui… “Nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia”, disse o poeta.
Por isso não existe filosofia na estagnação da água parada, fétida, nefasta à vida e a saúde; de forma oposta, ela tem o dinamismo de um profundo poço de águas límpidas e refrescantes… como a se oferecer, mas se se exibir; disponível, sem ser assanhado!
Fazer filosofia exige o parar, mas o parar, para a filosofia, não é estacionar, como a pedra à beira da estrada cujo fim é terminar coberta pela vegetação rasteira; fosse assim ela já teria desaparecido, encoberta pela poeira do tempo, cortina ocultando nas dobras do esquecimento tudo aquilo que não desenvolve uma constante dinâmica para a renovação ou pela sua inovação.
O parar, aqui, como se pode notar, refere-se aos momentos facilitadores da dinamicidade do pensamento inovador. O parar, da filosofia, não é o estacionar do trem, para descarregar no ponto final, mas do metrô, em cada ponto se reabastecendo de novos passageiros. Para-se, não como quem morre, mas como que renasce a cada dia em novas ideias, com a finalidade de aprender com o que já existe e, ao mesmo tempo, para projetar, propor e incrementar novos conhecimentos que fundamentam novos saberes.
Por isso a filosofia não é, mas está sempre se fazendo e recompondo e refazendo. Não se assemelha ao ponto final do texto, mas aos dois pontos que sugerem proposição de novas perspectivas. E isso pode ser uma das explicações de tantas filosofias, tantas correntes de pensamento. Talvez por isso, antes de se constituir num corpo sistemático, como aprendemos com os gregos, ela caminhava com o ser humano desde as primeiras indagações com as primeiras respostas gerando novos questionamentos. Afinal de contas, será que alguém já tem uma resposta definitiva para algumas das grandes questões da humanidade: de onde vim? Para onde vou? Quem sou eu? O que sou eu?
O fato é que se faz filosofia, mas ela nunca está pronta. E elas se faz sempre no processo de destilação do conhecimento acumulado; no processo da sedimentação dos saberes adquiridos, de forma que todas as informações atuais são lapidadas e se convertem no inebriante diamante da sabedoria que se curva, na reflexão cotidiana, e se faz semente querendo renascer.


Neri de Paula Carneiro
Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador
Rolim de Moura - RO

PALAVRAS

Palavras, para povo: passam!
Palavras, para poeta, pode parecer pouco,
porém, pare!
Pense:
Poucas pessoas podem
propor problemas; pensar posturas;
proporcionar poesia, prosa...
Pondo por palavras: pensares, pensamentos...
proposições!!!

Plurais posicionamentos
postos por palavras…
Podem...
Podem!

Palavras proporcionam poder...
Pelo poeta!
Para poesia!
Potências! Potenciais! Positividade...
Potentes propostas, postas por palavras
Podem proporcionar
Muitas mudanças!
Miragens mil…
Malqurências!
Mentiras..........

Palavras parciais, podem produzir
mais, muito mais: mentiras, maledicência, malquerer…
melefícios mitigando muitos mundos…

Porém… parem, pasmem, palavras põem para pensar!...
Porém, pelo poeta, prosador, potente produtor
Palavras podem produzir poesia!
Podem produzir pontes!

Palavras podem potencializar pensamentos
Palavras podem pensar poder
Palavras podem, pedem…
Palavras...
Podem!

Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO

quinta-feira, outubro 18, 2018

Leia, por favor!


Leia, por favor!


Não deixe esse texto lhe passar despercebido, leia-o, por favor.
(Esclarecendo: não leia fazendo um favor a quem o escreveu. O “por favor’ é um convite, feito com a delicadeza de quem convida educadamente, principalmente porque em várias oportunidades tenho reclamado contra a extrema apelação comercial e a minimização do homenageado nas datas comemorativas. Assim tem sido com o dia das mães, com o dia dos pais, com o natal, com o dia das crianças, com a Páscoa... e com várias outras datas. Mas hoje é diferente! Falarei contra o fato de uma data – e o personagem envolvido – terem sido esquecidos)
Estou falando do dia 15 de outubro. Dia do Professor!
E conclamo os colegas professores a fazerem, também, seu ato de protesto.
Não que a gente seja professor esperando homenagem. Agimos com profissionalismo. Nossa meta é ajudar o aluno a desenvolver-se. Mas um reconhecimentozinho não faz mal a ninguém e estimula o ego.
Percebe-se que entra ano e sai ano e cada dia mais o professor é minimizado, esquecido, menosprezado... E o professor não é e nem pode ser tratado como o “servo inútil” mencionado por Jesus, lá nos Evangelhos. O professor é um dos poucos profissionais que, deixando de atuar paralisa o progresso humano. Imagine qualquer profissão ou qualquer profissional bem sucedido! Antes dele e para que ele tenha aí chegado, recebeu o auxílio de professores.
O professor, embora não se diga, não se reconheça, não se dê o devido destaque, é o único profissional que pode ser colocado como parte da infraestrutura social (só para lembrar uma categoria de origem marxista). Lembrando que a infraestrutura é aquela categoria que não pode faltar, para que a sociedade não desmorone, enquanto a superestrutura é completamente dispensável. (Mas isto não é aula de sociologia!).
Então vamos aos fatos e mostrar que, de fato, o professor não tem sido valorizado. Veja o que acontece no dia das crianças: apelo comercial, festinha nas escolas, badalação. Dia das mães: apelo comercial, festinha nas escolas, badalação; páscoa: apelo comercial, festinha nas escolas, badalação; dia dos pais: apelo comercial, festinha nas escolas, badalação. Ah! Você está achando estranha a repetição. Mas é isso o que acontece. Com tonalidades diferentes, é exatamente isso o que ocorre.
E o que acontece no dia do professor? Nada! Absolutamente nada! (tem, em alguns casos, uma festinha na escola, um feriadozinho, na escola... mas isso é feito pelo próprio professor! Ele não recebe como reconhecimento de sua ação!).
Compare a badalação, nos veículos de comunicação, envolvendo o dia das crianças e o dia do professor! (e são datas bem próximas: dias 12 e 15 de outubro).
Agora vamos ver o nível salarial. Já se disse que o professor de Rondônia tem um dos melhores salários, entre os estados do Brasil. E é verdade! Agora imagine como anda o dos outros estados. Se aqui é assim, como é nas outras localidades?
Para que você não diga que estou exagerando, quero que você mesmo compare o nível salarial do professor e de profissionais da área da saúde. Ambos com formação universitária. Ambos com nível superior. Ambos desenvolvendo atividades importantíssimas para a população. Só que o profissional da saúde (que precisou de um professor para ser o que é) tem uma proposta salarial melhor do que a do professor.
E não estou inventando. O que segue está no edital para o concurso público para educação e saúde (2003). Veja a discrepância: Professor, com licenciatura plena em Literatura e Língua Portuguesa. Requisito: Diploma, devidamente registrado, de conclusão de curso de graduação em Licenciatura plena em Língua Portuguesa e Literatura. Jornada de trabalho: 40 horas semanais. Remuneração prevista: R$ 897,13. Professor de português é o responsável pelo cuidado com a nossa língua pátria! Veja a proposta para o médico. Requisito: diploma, devidamente registrado, de conclusão de curso de graduação em Medicina, e registro no órgão de classe competente. Jornada de trabalho: 40 horas semanais. Remuneração prevista: R$ 6.000,00.
Podemos pegar outros exemplos: Professor de Biologia Remuneração prevista: R$ 897,13 e o Biólogo, na área da saúde: Remuneração prevista: Até R$ 1.400,00.
Se quem contrata o professor o trata assim, como é que a sociedade o tratará? E convenhamos, a qualidade do atendimento da saúde pública não é tão grande coisa!
Se isso não bastar, tem o caso do servidor da polícia civil, com nível escolar médio (antigo segundo grau) tem uma remuneração de cerca de R$ 2000,00. E o professor, com nível superior R$ 897,13!!!!! E pensar que Rui Barbosa dizia ser “preciso educar a criança para não ser necessário punir o adulto”!!! E nem o sindicato da educação se dá conta desse desrespeito!
Com essa discrepância é que a gente entende o por que de estar faltando mais de 300 mil professores pelas escolas do Brasil! Por essa razão é que encontramos inúmeros colegas dizendo que deixarão o magistério na primeira oportunidade. Muitos professores deixando o magistério por que só com nível médio pode ganhar mais em outras áreas do serviço público.
Alguém ainda tem dúvida se o professor é ou não, desvalorizado pela atual sociedade e pelo poder público que o contrata?

Neri de Paula Carneiro
(publicado em folha da mata - 2004 - rolim de moura - ro)

quarta-feira, outubro 17, 2018

Pelos Caminhos da América


Pelos Caminhos da América

Pelos Caminhos da América, há tanta dor, tanto prato; nuvens, mistérios, encantos que envolvem nosso caminhar. Há cruzes beirando a estrada, pedras manchadas de sangue, apontando como setas que a liberdade é pra lá. Pelos caminhos da América, há monumentos sem rosto, heróis pintados, mau gosto; livros de história sem cor. Caveira de ditadores, soldados tristes, calados, com os olhos esbugalhados, vendo avançar o amor”.
Esses versos de Zé Vicente, retratam um pouco dos 500 anos de dominação e sofrimento impostos aos povos ameríndios em nome do lucro dos colonizadores e da classe dominante.
Inicialmente a exploração era feita pelos colonizadores das metrópoles portuguesa e espanhola. Mas com o processo de independência e nos últimos séculos ela ocorre em nome do capitalismo que se instalou contra os pobres no continente.
Em nome desse lucro os colonizadores e depois os fazendeiros exterminaram populações inteiras, deixando nas margens da história as cruzes com os nomes das incontáveis civilizações que viviam de norte a sul da América. Povos que foram mortos pela ganância de governos e de indivíduos, ao longo dos 500 anos de América.
Além da morte efetiva produzida com tiro ou com pestes.., ao longo de nossa história desaprendemos a valorizar os produtos e a cultura dos povos que inicialmente povoaram as Américas. Dessa foma, além de matar a população, os brancos mataram, também a história desses povos. Prova disso é que pouco sabemos das sociedades que viviam de norte a sul das américas, antes da chegada dos europeus.
Podemos lembrar de alguns exemplos desse extermínio, ao longo dos caminhos da América: Na colonização da América do Norte um dos lemas dos colonos era: “índio bom é índio morto”. Cortez e Pizarro, na América central e andina, exterminaram maias, incas e astecas em busca do ouro por eles acumulado. No Brasil não foi diferente: São muitas as historias de colonizadores que deram presentes contaminados para dizimar as tribos locais.
Nos dias de hoje, no Brasil, ainda persistem situações em que fazendeiros ou o poder público tiram a vida, as terras ou elementos da cultura de várias nações indígenas. Aqui em Rondônia, neste início de século XXI, ainda se vê nações indígenas sendo expulsas de suas terras ancestrais; existem povos nos quais os valores dos brancos são tão presentes que traços dessa cultura tradicional estão se perdendo.
Ao lado da busca de riquezas, outro motivo que trouxe o europeu para as Américas (principalmente a colonização ibérica) foi a difusão do cristianismo. O problema ocorreu na medida em que os valores cristãos se imiscuíram, sincretizaram e se corromperam depravando-se com os valores econômicos. E isso foi usado não em defesa, mas contra os povos indígenas.
É claro que existem instituições – inclusive cristãs – que hoje fazem o mea culpa e tentam proteger as culturas tradicionais. Mas isso não anula o fato: o avanço da dominação dos brancos sobre terras e povos indígenas continua impondo valores que anulam essas culturas ancestrais.
Sabemos que nenhum contato entre sociedades e culturas distintas as manterá intactas. Havendo contato, necessariamente ocorre interação. O problema não é o contato e interação cultural. O problema é que os valores dos brancos sobre os povos indígenas são mais mortais do que as pestes trazidas pelos brancos ao longo dos 500 anos dessa América desencaminhada.

Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO

terça-feira, março 06, 2018

Personagens da história


Personagens da história (webartigos.com)
Não importa se gostamos ou não de história. O fato é que tudo é história. E a história, além de ser contada a partir de datas e lugares, é feita pelos personagens.
Não existe história sem estes três elementos. Podemos acrescentar outros, mas não podemos excluir estes: o tempo, o espaço e os personagens. Não importa se estamos falando de um conceito tradicional ou da história do cotidiano ou de micro história: sempre haverá personagens que viveram ou executaram os fatos; esses fatos acontecem num determinado lugar e numa data determinada. Portanto: tempo, espaço e personagens!
Mas quem são os personagens da história?
Quando pegamos um livro, principalmente da história tradicional, logo nos saltam aos olhos os nomes de grandes vultos, dos chefes, dos políticos importantes. Esses são os personagens. Mas essa é uma visão parcial ou equivocada. Contra essa visão triunfalista e a história dos vencedores Bertold Brecht, no século passado escreveu as “Perguntas de um trabalhador que lê” onde, entre outras coisas, pergunta: “O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho? César bateu os gauleses. Não levava sequer um cozinheiro?”
Então, novamente, quem são os personagens da história?
Todos nós! Todos aqueles que realizam algum ato no tempo e no espaço. Portanto, somos todos personagens da história.
Mas por que nem todos aparecem nos livros da história?
Daria para escrever um livro com a resposta. Mas tudo está centrado nos interesses de quem escreve o texto ou o livro de história.
As artes cênicas podem nos ajudar a entender a situação, sem quebrar a questão. Numa cena em que aparecem vários personagens, nem todos são protagonistas ou centrais. A maioria é figurante. Mas sem os figurantes a cena ficaria sem graça ou nem aconteceria. Quer dizer: os personagens centrais dão o dinamismo da cena, mas sem os figurantes não haveria a cena ou ela seria sem graça, sem brilho! Assim também na história. Determinado líder político pode ser uma figura importante, num determinado contexto, mas ele é líder só se houver liderados.
Sendo assim, podemos propor a questão: quem é o personagem mais importante na história? O personagem central ou os figurantes? Durante muito tempo se disse que os personagens centrais eram os mais importantes. Mas os novos historiadores afirmam que os personagens centrais só existem porque existem os figurantes. O grande personagem só é grande porque os pequenos o fizeram grande.
O brilho da história não está nos personagens centrais, mas nos figurantes. É para eles que o político cria grandes obras ou dele que rouba! É para o povo que a ciência inventa e as tecnologia se modernizam. A grande indústria não seria grande se não existissem os consumidores de sua produção. A história não seria história sem os personagens que não são nomeados pela história...
E assim se faz a história: com os personagens centrais que, em algum momento e em algum lugar fizeram algo que repercutiu na via de muitos personagens aos quais chamamos de povo.

Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO

Sagrada Família: para se cumprir!

Reflexões baseadas em: Eclo 3,3-7.14-17a; Cl 3,12-21; Mt 2,13-15.19-23 Todos os que, de alguma forma, tiveram contato com os ensinamentos d...