(Reflexões baseadas em: Eclesiastes (1,2; 2,21-23); Colossenses 3,1-5.9-11; Lucas (12,13-21)
Uma das grandes
questões dos dias atuais está colocada hoje pela Palavra de Deus. Trata-se do
sentido da existência e dos bens acumulados. Da mesma forma que no livro do
Eclesiastes (1,2; 2,21-23) Jesus, na
narrativa de Lucas (12,13-21), levanta
a indagação: qual o sentido de passar a vida a acumular coisas? E essa
indagação nos leva a outras: qual o sentido da vida humana? Qual o sentido da
existência? O que necessitamos para viver?
O bom
senso nos permite refletir sobre o sentido da vida e das coisas. Afinal, qual o
sentido de passar a vida acumulando coisas se essas coisas não podem prolongar
em nada a vida da pessoa. E essa reflexão nasce justamente da necessidade de
resposta a esta indagação: Qual o sentido de acumular coisas, sabendo que ao
partir toda a herança ficará com “outro que em nada colaborou” (Ecl. 2,21) para esse acúmulo. Algo
semelhante sai da boca de Jesus, na parábola do rico acumulador: “Ainda nesta
noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?”
(Lc 12,20).
O autor do livro do Eclesiastes dá uma resposta à
essa indagação. Não tem sentido, pois tudo não passa de vaidade: “Vaidade das
vaidades! Tudo é vaidade” (Ecl 1,2). Mas, então, o que significa “Vaidade”?
Inutilidade, futilidade, coisa vã, algo que não tem sentido em si mesmo, algo
sem sentido...
Assim sendo, se tudo é vaidade, a posse dos bens
também é uma vaidade. Uma vaidade que se manifesta com o nome de ganância. Mas,
também em relação a isso, diz a palavra de Deus, pela boca do Filho de Deus:
“Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém
tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc
12,15). O que muito possui e o que nada tem, chegarão ao mesmo fim e nada
levarão do que acumularam, apenas as obras realizadas.
A vida humana, portanto, não pode se resumir às
vaidades, ou seja, às coisas inúteis, fúteis... A vida não pode se resumir ao
“sem sentido” da existência. E o sentido da existência não pode ser confundida
com o acúmulo de bens... tanto isso é verdade que a ganância não cessa e por
mais que alguém possua, sempre deseja ter mais e faz de sua vida um tormento em
busca dos bens que não lhe acrescentarão sequer um segundo à sua linha da vida!
E, o que é pior, ao final da vida, tudo que foi acumulado, fica para ser
desfrutado... ou desperdiçado, por outros...
Qual é, então, o sentido das coisas? Se
perguntarmos a um aleijado qual o sentido de sua muleta ou sua cadeira de
rodas, ele nos responderá que são instrumentos para sua locomoção. O aleijado
não quer nem a muleta nem a cadeira de rodas. Ele quer a capacidade de se
locomover. Essa pessoa não precisa de dez pares de muletas, nem de uma coleção
de cadeiras de roda. Essa pessoa não terá maior mobilidade se sua muleta for de
uma madeira simples ou de ouro... essa pessoa precisa apenas de seu ponto de
apoio para se locomover... Essa é a condição humana. As coisas são as muletas e
todas as que não usamos são inúteis... e, pior, podem estar faltando ao
outro...
Isso posto, podemos entender as palavras de Paulo
aos Colossenses (3,1-5.9-11). Nessa carta o apóstolo propõe uma ressignificação
de tudo. Apresenta um sentido para o trabalho e para as coisas que se podem
conseguir como fruto do trabalho. Diz o apóstolo: “Esforçai-vos por alcançar as
coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas
celestes e não às coisas terrestres” (Col 3,1-2).
Agora podemos retomar a indagação: qual o sentido
da vida? Das coisas? Do trabalho? Qual o sentido da existência? O apóstolo dá a
resposta. Nada tem sentido em si mesmo. As coisas e a vida e a existência
somente têm sentido a partir da opção por Jesus. Ele é o sentido de tudo e sem
ele nada do que existe tem sentido.
Não adianta ter coisas, se essas coisas não são
usadas a partir do critério de Cristo. As coisas ou a vida, se não estiverem
pautadas a partir de Jesus, o Cristo de Deus, podem até alegrar alguma vida,
mas não conduzem à Vida Plena. “Pois vós morrestes, e a vossa vida está
escondida, com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo,
então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória” (Col 3,3-4) ...
levando não as coisas, mas as obras! Pois as coisas estão no círculo das
vaidades... resta saber como assinalamos nossas obras.
Neri de Paula Carneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.