sexta-feira, 16 de junho de 2023

O Reino dos Céus está próximo

(Reflexão baseada em: Êxodo 19,2-6a; Romanos 5,6-11; Mateus 9,36-10,8)




O que tem levado o ser humano a se afastar de Deus?

A partir da fé, sabemos que Deus é o criador e como tal deseja que o ser humano não o abandone. Sabemos, também, que Deus não depende nem precisa de nós, mas, mesmo assim, deseja que nos mantenhamos fiéis aos seus ensinamentos e princípios. Sabemos, além disso, que seus ensinamentos e princípios chegaram a nós a partir de um povo escolhido... Ocorre que esse povo também cometeu inúmeros deslizes, afastando-se do Senhor.

E nisso já se nos apresenta um princípio importantíssimo: Deus nos quer, mas respeita nossa decisão e escolhas. Respeita, inclusive nossa decisão de não o seguirmos.

Em razão dos tropeços daquele povo infiel – e hoje também os da nosso sociedade – vem a orientação de Deus a Moisés descrita em Êxodo 19,2-6.

A cena é interessante: O povo está acampado ao pé da montanha. Moisés sobe para o encontro com Deus. Dele ouve uma promessa condicionada: Deus lembra o episódio do Êxodo, a libertação pascal. Com isso referenda sua proposta, que deve ser transmitida ao povo por Moisés, o mediador. Diz o Senhor, após mencionar sua mão libertadora: “Portanto, se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre todos os povos, porque minha é toda a terra. E vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.” Ex 19,5-6).

A promessa divina é eterna, concedendo alto privilégio: ser a nação escolhida. Mas isso somente SE, ou seja, tem uma condição. Se o povo for fiel, manterá a escolha; caso não o seja, não é Deus, mas o povo que terá prejuízos…

Essa proposta de Deus, ao povo eleito, vale para a nossa sociedade: a partir de Jesus Cristo, a promessa ultrapassa as fronteiras. Destina-se a todos os povos. Mas permanece a condição: ouvir e por em prática os ensinamentos do Senhor!

Observando o transcurso da história da humanidade, descobrimos: o povo não foi fiel. Essa infidelidade propiciou a vinda de Cristo que, de acordo com o apóstolo Paulo (Romanos 5,6-11), veio reforçar a proposta do Pai e em resposta à nossa fraqueza, “morreu pelos ímpios” (Rm 5,6).

Então, por qual motivo o Filho veio ao mundo e, na condição humana, morreu? Isso ocorreu porque o povo foi infiel e desviou-se do Deus da Aliança. Entretanto Deus, que é Pai, mesmo sabendo da infidelidade de seu povo, não o abandonou. E Paulo apresenta o argumento pelo qual demonstra o amor de Deus: “a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores”.

Assim sendo, se por um lado a morte de Cristo foi um ato de rebeldia do povo escolhido e por extensão, também nosso, por outro lado os pecados do mundo foram redimidos por sua morte. Por esse motivo é que Paulo afirma: com sua morte Cristo redime ao mundo e com sua ressurreição nos assegura a vida. Assim, o ato supremo de Jesus, na cruz, repete a proposta que Deus fez ao povo, pela mediação de Moisés. O povo escolhido havia sido escolhido não por seus méritos, mas por predileção divina. E não foi sem motivo: ocorre que por meio desse povo, o Senhor Deus quis alcançar todos os povos. E confirmou essa proposta em Jesus de Nazaré, o Cristo.

Entretanto, segundo Mateus (9,36-10,8), Jesus constata o abandono em que se encontra seu povo. Por um lado o povo afastando-se de Deus (como o está fazendo nossa sociedade) e por outro lado, os líderes do povo, que têm a função de alimentar a fé e a proximidade com o Senhor, afasta-se e leva o povo a se afastar de Deus. Assim sendo, Jesus, olhando para a multidão, vê sua condição de abandono. O povo que deveria ser luz não estava cumprindo com essa missão.

A situação de abandono, constatada por Jesus, moveu sua compaixão: viu que as multidões “estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36). Dessa forma, querendo sanar a situação de abandono, envia seus discípulos para tentar reacender o espírito da Aliança. “Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel!” (Mt 10,6)

Naquele contexto de renovação da Aliança, as ovelhas perdidas eram os membros do povo abandonando ao Senhor: eram as ovelhas abandonando o pastor. Em nossos dias a palavra do evangelho é dirigida não em primeiro lugar ao povo hebreu mas aos seguidores de Jesus, com a mesma mensagem: um convite à conversão, pois “o Reino dos Céus está próximo!” (Mt 10,7). E, para que ninguém mais se perca, o próprio Senhor Jesus faz o apelo aos seus discípulos: Peçam ao “dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita” (Mt 9,38)

Deus desejou que um povo fosse luz para os povos. Mas essa luz não foi luminosa o suficiente para atrair a todos. Então veio o Filho o qual nos envia a todas as ovelhas perdidas. Ovelhas que se afastaram por conta da liberdade de escolha. Somo enviados, portanto, para reconvocar todas as ovelhas perdidas, não as que não têm religião, mas às que não têm amor. A elas devemos lembrar: O Reino está próximo!




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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