quinta-feira, 11 de maio de 2023

Páscoa 6 As razões da esperança

(Reflexões baseadas em: Atos dos Apóstolos 8,5-8.14-17; 1 Pedro 3,15-18; João 14,15-21)




A liturgia deste sexto domingo do tempo pascal nos leva a algumas indagações: Como reagimos ou qual nossa atitude quando sabemos que um amigo ou conhecido está tendo sucesso em seus empreendimentos? Como nos comportamos diante do sucesso de um amigo, de um conhecido, de outra pessoa?

Essa é a indagação que a Igreja nos propõe. Mas isso fica no universo das generalidades. Então vamos nos sentir questionados: como reagimos e como nos comportamos diante do sucesso do outro… principalmente quando ele tem sucesso em algo que nós também estamos realizando? Certamente responderíamos que nos alegramos com nosso amigo. Diríamos que torcemos pelo seu sucesso. Possivelmente, sorrindo, lhe apertaríamos a mão dizendo: “Parabéns!”

Mas, lá no íntimo de nossa vida, no segredo de nosso coração e no silêncio de nossa consciência, será que não sentimos uma pitada de inveja? Será que não nos perguntamos: Porque ele e não eu? Isso quando não ampliamos seus defeitos e diminuímos suas qualidades, procurando desqualificar seu mérito, afirmando um possível sucesso com base na sorte... desonestidade… Na verdade, somos tomados pela inveja diante do sucesso do outro!

Não foi essa a postura dos apóstolos de Jerusalém, quando souberam do sucesso de Felipe (At 8,5-8.14-17;1). Pelo contrário. Alegraram-se ao ponto de lhe enviar reforços: “Os apóstolos, que estavam em Jerusalém, souberam que a Samaria acolhera a Palavra de Deus, e enviaram para lá Pedro e João” (At 8,14).

Esse envio não se deu por inveja, ou desconfiança. Pedro e João levavam palavras solidárias e suporte para avanço missionário. Confirmaram o apostolado de Felipe, e graças a isso os samaritanos “receberam o Espírito Santo” (At 8,17) e a plenitude da fé cristã.

A consequência? O engajamento na ação evangelizadora. Não somente na pregação, mas na atitude cotidiana de guardar e seguir os mandamentos como ensina João (Jo 14,15-21): “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” .

Como continuação do que os apóstolos realizaram na Samaria temos as palavras de Pedro (1 Pd 3,15-18). Consciente de que os seguidores de Jesus poderiam ser questionados ou perseguidos por estarem adotando uma nova fé, Pedro orienta aos cristãos: “estejais sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir” (1Pd 3,15).

E qual a razão da esperança do cristão? É uma só: a Paixão de Cristo. Para o cristão, acima dos contratempos ou dificuldades, está aquele que “morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo, pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus” (1Pd 3,18).

Entretanto, para merecer isso existem alguns critérios, entre eles a mansidão e o respeito. Diante das difamações, perseguições... a postura do cristão não é a beligerância, a vingança, a hostilidade. Sua resposta será sempre mansidão e o respeito. A mansidão que implica em não cair no desespero e o respeito que consiste em não agredir ao agressor.

Como o cristão pode assim proceder? Confiando no “Defensor” mencionado por João (Jo 14,16). E quem é esse Defensor prometido? É “o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber”. Defensor, Consolador, Espírito de Verdade, Espírito de Amor… o Espírito Santo que, de junto do Pai, Jesus envia para e sobre aqueles que guardam os mandamentos.

Em que consiste a guarda dos mandamentos?

Algumas pistas: primeira: ao ver o sucesso do outro, não devemos nos alimentar de inveja, mas nos enchermos de alegria e, sempre que possível, manter a disposição em ajudar para que esse sucesso seja ainda maior. A ajuda desinteressada implica na possibilidade de, quando o outro se elevar, levar consigo quem o ajudou. Segunda: é necessário manter a mansidão e o respeito, pois o desespero não é um sentimento condizente com a fé cristã. O desespero é uma negação da esperança, que é o alimento da fé cristã. A fé cristã alimenta a esperança do encontro definitivo com o Pai. Terceiro: manter-se aberto à ação do Espírito de Verdade que é a presença do próprio Deus em nós, uma vez que o próprio Jesus afirmou: “Não vos deixarei órfãos” (Jo 14,18). Mesmo já tendo partido, Jesus permanece junto aos seus: “eu estou no meu Pai e vós em mim e eu em vós” (Jo 14,20).

Nessa sintonia está arazão de nossa esperança: alegrar-se com o sucesso do outro pois esse sucesso também nos eleva; saber que a razão de nossa esperança é seguir os passos de Jesus, multiplicando atos em defesa da vida e no caminho para o Pai; e, principalmente, a certeza de que Jesus dirige a nós estas palavras: “quem me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele”. Essa é a razão de nossa fé e isso é dom de Deus.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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