sexta-feira, 5 de maio de 2023

Páscoa 5 - Sete homens de fé

(Reflexões baseadas em: Atos dos Apóstolos 6,1-7; 1 Pedro 2,4-9; João 14,1-12)


Tem muita gente que abomina, esbraveja e condena a ação libertadora que a Igreja propõe. Talvez porque essas pessoas ainda não entenderam a proposta de Jesus nem a prática dos apóstolos e dos cristãos dos primeiros anos da Igreja. Quem sabe, com um pouco de catequese e de abertura para o amor, comecem a entender…

A catequese pode ocorrer, por exemplo, quando acompanhamos a liturgia do período pascal. Já a abertura para o amor, depende dos corações puros! Mas isso nem todos carregam!

Uma proposta da catequese libertadora é mostrada nos Atos dos Apóstolos (At 6,1-7): a pregação; a atenção aos necessitados; a decisão tomada em conjunto.

Os Atos dos Apóstolos afirmam que o número dos discípulos estava aumentando.

Por qual motivo? Devido à pregação dos apóstolos, anunciando a ressurreição e ensinando a fazer o que Jesus fizera. E quem os estava ouvindo? Não eram as elites. Não as camadas dominantes da sociedade. Pelo contrário: Eram os marginalizados, os excluídos. Essa pregação atraia os excluídos; seu número aumentava. E com isso também aumentaram os problemas. Tanto que os apóstolos, dedicados à pregação e à assistência aos pobres, ouviram a queixa: alguns dos mais necessitados, as viúvas, estavam sendo negligenciados.

A pregação não podia parar. Também não se podia negar o atendimento aos necessitados. A sintonia entre os doze e a comunidade encontrou uma solução colegiada. Qual foi a solução? Escolher sete homens de fé e plenos do Espírito e de sabedoria. Assim as duas prioridades continuariam sem abalos: a pregação e a atenção aos marginalizados.

Mas a catequese não para nisso. Tem mais uma lição. Além de urgência do anúncio e do serviço aos necessitados, vem a lição do lugar social do Cristão. Nada justifica alguém sentir-se ou colocar-se acima dos demais. Nem o fato de pertencer a uma denominação religiosa; nem o fato de ter muitos bens econômicos; nem o fato de ter mais escolaridade; menos ainda o fato de ocupar uma função destacada na Igreja… nada. Pelo contrário, tudo que temos ou somos ou fazemos tem um só objetivo: servir a quem mais necessita; promover a inclusão; combater a concentração; denunciar tudo e todos que não conduz ao bem e à vida. Esse era o problema daquela comunidade: o começo de uma divisão que foge à essência cristã!

Contra isso agiram os primeiros cristãos: nascia uma divisão que se infiltrava, como obra diabólica, colocando em lados opostos os cristãos vindos do judaísmo e do paganismo. A lição dos apóstolos: quem possui ou está numa posição de destaque não tem direito, nem está autorizado a menosprezar ou excluir os demais. Qualquer posição ou função privilegiada, só tem sentido cristão, se for para servir. Ser cristão é ser servidor, como os sete homens de fé!

A catequese continua no ensinamento da primeira carta de Pedro (2,4-9). Em que consiste esse novo ensinamento?

Assumir uma atitude, posicionando-se diante daquele que é a “pedra angular”, da Igreja. Essa pedra angular é Jesus. Então qual postura assumir, diante da “pedra angular”, que dá apoio? Entender que Jesus é o ponto de apoio; somente d’Ele vem a segurança.

Aquele que não se apoia nessa “pedra”, nela tropeça, cai, é confundido e se perderá… Mas aqueles que se apoia na “pedra viva, rejeitada pelos homens”, esse não será confundido; esse fará parte da “nação santa”; sairá “das trevas para a sua luz maravilhosa.” Mas, para isso, tem que trilhar os caminhos do Mestre!

Tem mais. A catequese continua quando João (14,1-12) apresenta Jesus como Caminho para o Pai. E aqui também temos duas posturas que nos convidam a tomada de posição a fim de nos definirmos diante do Senhor Jesus e do próprio Pai.

A primeira é a de Felipe. Tendo convivido com o Senhor, lhe pede: “Mostra-nos o pai”. É como muitos de nós: nosso corpo frequenta o templo, mas vivemos o dia a dia como se Deus fosse só uma ideia; um ser distante; um ser para visitar nos finais de semana. E isso mostra que não o conhecemos. Não entendemos que Ele conta com nossa conversão por isso prepara um lugar aos seu lado “a fim de que onde eu estiver estejais também vós”.

Outra é a postura de Jesus, apresentando-se como “o caminho, a verdade e a vida”. E a adesão à sua proposta de acolhimento aos excluídos, ao lado da pregação, anunciando sua proposta,é o que possibilita entrar em sua morada. “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós”. E poderá adentrar essa morada aquele que “acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores”.

E qual é a obra do Senhor? A promoção da vida, como o fizeram os apóstolos e os sete homens de fé, escolhidos pela comunidade para servir.

Essa é a catequese, mas só a entende quem tem um coração capaz de amar. Essa é uma questão intima entre cada um e Deus… e o Deus que ama os excluídos e conhece os corações.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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