quarta-feira, 26 de abril de 2023

Páscoa 4 Este Jesus!

(Reflexões baseadas em: Atos dos Apóstolos 2,14.36-41; 1Pedro 2,20b-25; João 10,1-10)




Com o discurso de Pedro (At 2,14.36-41 e 1 Pd2,20-25), somos levados a uma conclusão: o apóstolo está virando uma página, invertendo os papéis e assumindo o protagonismo de um processo. E fazendo uma denúncia!

Ele vira a página porque demonstra, em sua pregação, que Jesus, o crucificado, é o Cristo. E quem o ouve, percebe a convicção de suas palavras. Seus ouvintes acabam se deixando convencer pela verdade de sua pregação. Ao fazer a denúncia do crime cometido pelas autoridades, convoca a uma revisão dos fatos. E, com isso, a culpa pela morte do pregador de Nazaré pesa na consciência dos ouvintes; entendem que foram manipulados pelas autoridades. Por esse motivo “eles ficaram com o coração aflito” (At 2,37). E Pedro não deixa por menos. Insiste com eles, convidando: “Salvai-vos dessa gente corrompida!” (At 2,40).

Inverte os papéis ao afirmar que Jesus é o Cristo. Com isso denuncia o crime dos judeus e das autoridades. Eles forjaram o julgamento, forçaram a condenação e manipularam para que um inocente fosse executado. “Ele não cometeu pecado algum, mentira nenhuma foi encontrada em sua boca” (1Pd 2,22). Contra esses malfeitores, corruptos e corruptores Pedro apresenta o modelo do comportamento de Jesus: “Quando injuriado, não retribuía as injúrias; atormentado, não ameaçava; antes, colocava a sua causa nas mãos daquele que julga com justiça” (1Pd 2,23). Com esse argumento Pedro demonstra que os acusadores são culpados; os que se colocavam como defensores da ordem, da família, da pátria, da religião, da moral e dos bons costumes... os homens bons são, na verdade, representantes do príncipe das trevas.

E,finalmente, assume o protagonismo porque foi a partir de seus discursos que se espalhou a notícia da ressurreição. A partir de seu discurso seus ouvintes começaram a se arrepender e converter. A partir disso, aqueles que foram ludibriados pelas autoridades e representantes do templo começavam a se perguntar e perguntar a Pedro: “Irmãos, o que devemos fazer?” (At 2,37). Certamente disseram: “Entendemos que fomos ludibriados, e agora, que fazer para minimizar nosso erro? O que fazer para recuperar a paz na consciência? O que fazer para não nos sentirmos cúmplices de carrascos, torturadores e assassinos?

O protagonismo de Pedro também se manifesta nas suas respostas e orientações aos que se arrependiam: “Convertei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos vossos pecados. E vós recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2,38). Graças a essa atuação, aos poucos cresceu o número dos que passaram a acreditar no Ressuscitado: “Os que aceitaram as palavras de Pedro receberam o batismo” (At 2,41). E àqueles que ainda se sentiam culpados por terem contribuído para a condenação de Jesus de Nazaré, Pedro confortava dizendo: “Por suas feridas fostes curados. Andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao pastor e guarda de vossas vidas” (1Pd2,24-25). Afirma isso com a segurança de quem ouviu do mestre: “eu sou a porta das ovelhas” (Jo 10,1-10).

Tudo isso, Pedro pode afirmar porque soube entender os ensinamentos do Mestre. Claro que teve suas crises de fé.Nos momento de crise, na hora do medo, no auge da insegurança, sentiu-se desamparado, negou ao Senhor. Mas a mesma força que antes o motivara a deixar tudo para seguir Jesus, agora se amplia. Ele sabe que tem mais do que só as palavras do Mestre. Tem a força do Espírito de Amor.

Ele sabe o que afirma. Ouviu do próprio Senhor. O Mestre que se compadecia dos discípulos, abandonados e enganados pelas autoridades e pelos representantes da fé dos pais. O mestre que olha para o rebanho sem pastor. O mestre que vê seu rebanho sendo saqueado pelos falsos pastores. Os enganadores o que só fazem dispersar as ovelhas, pois não entram pela porta, visto que são assaltantes. E, dessa forma, Pedro retoma as palavras do Mestre que deu sua vida para que as ovelhas tenham vida.

As palavras de Pedro, são, finalmente, uma denúncia, dirigida aos nossos dias. Palavras que nos orientam a tomar cuidado. Da mesma forma que aos poderosos do seu tempo: “Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes”. Denúncia atual porque os poderosos dos nossos dias continuam crucificando Jesus, nas vítimas do poder; vítimas da ganância; vítimas dos falsos pastores; vítimas da religião de belas pregações, sem compromisso com o empobrecido; vítimas da política, da economia e da religião.

Contra tudo isso Pedro se apresenta para virar a página, para inverter os papéis, para ser protagonista e dar protagonismo às ovelhas abandonadas. E de junto delas, ergue a voz para a denúncia: Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes… e continuam crucificando...




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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