quarta-feira, 19 de abril de 2023

Pascoa 3 Jesus, homem aprovado por Deus

(Reflexões baseadas em: At 2,14.22-33; 1Pd 1,17-21; Lc 24,13-35)




Quando a gente lê as palavras de Pedro (em At 2,14.22-33 e na carta: 1Pd 1,17-21), dizendo que Jesus foi um homem aprovado por Deus, temos a impressão de que nisso não tem novidades. Ele mesmo afirma: “Tudo isso vós bem o sabeis!” Se eles sabem, não há novidade: Jesus é exatamente isso!

E, cada um dos que se dizemos cristãos; cada um dos que frequentam, as celebrações dominicais; cada pessoa que já leu algo, na Bíblia, ou já ouviu alguma pregação a respeito de Jesus... cada um sabe que, de fato, Jesus foi uma pessoa especial. Por isso foi que Pedro, em seu discurso, faz a afirmação central da fé cristã: Jesus foi torturado e assassinado, sim! Mas também é verdade, e nisso se baseia a fé cristã: Deus o Ressuscitou! E o ressuscitou é porque tinha com ele a mais perfeita sintonia: Jesus era Deus, junto com Deus, por isso fez-se homem, junto com todos os seres humanos.

Aquele rapaz, que fez coisas maravilhosas por todos que se aproximaram dele; esse rapaz foi perseguido, preso, torturado, julgado, condenado, executado. Mas Deus o ressuscitou! Ele tinha a aprovação de Deus para fazer tudo que fez. E fez tão bem que, após seu suplicio humano manifestou-se, ressuscitado, em sua divindade. “E disso nós somos testemunhas”, afirma Pedro. E, por ter cumprido sua missão humana, voltou para sua condição divina. “E agora, exaltado pela direita de Deus, Jesus recebeu o Espírito Santo que fora prometido pelo Pai, e o derramou, como estais vendo e ouvindo” (At 2,33).

Mas tudo isso, talvez não os interlocutores de Pedro, nós já sabemos. Nisso reside o principio de nossa fé. Então, qual é a novidade do discurso de Pedro?

Afirmar que Jesus, em sua vida, paixão, morte e ressurreição, cumpriu as escrituras?

Afirmar que Jesus, ressuscitado, assumiu seu lugar ao lado do Pai?

Afirmar que Jesus, ressuscitado, apareceu primeiro às mulheres depois aos discípulos?

Afirmar que Jesus, soprou sobre os discípulos, os dons do Espirito de Verdade?

Afirmar que em Jesus, seremos julgados “cada um de acordo com as suas obras”?

Afirmar que Jesus, em sua trajetória humana tinha como finalidade nos resgatar da “vida fútil” que herdamos de nossa sociedade?

Afirmar que em Jesus podemos manter sempre um restinho de esperança

Afirmar que em Jesus a gratuidade do amor de Deus, apesar de causarmos dores nos irmãos, somos convidados a participar da glória que Deus reservou aos seus santos?

Mas então, qual foi a novidade da afirmação de Pedro, dizendo que Jesus “foi um homem aprovado por Deus”?

A resposta, talvez não esteja na boca de Pedro, mas nos gestos de Jesus, quando caminhou com os discípulos em direção a Emaús (Lc 24,13-35).

Tristes, talvez decepcionados, caminhavam em direção ao povoado. Em sua conversa, talvez querendo entender o que havia ocorrido. Viram os fatos, ouviram os boatos: Jesus fora crucificado. As mulheres disseram tê-lo visto vivo! Os fatos, eles viram. Os boatos… eram boatos… Mas seria possível? Se o boato fosse fato, de fato Jesus era quem dissera ser!?

Na singeleza de um gesto divino, Jesus se põe ao lado da dúvida honesta. Talvez até já imaginasse a resposta, mas perguntou: Por que essa cara triste? Por que esse ar de derrota? Por que caminham como quem não tem esperança? Por que essa clima de medo? “Sobre o que estão conversando”?

E vem o desabafo: Esperávamos que Jesus fosse nossa resposta! Mas o prenderam e mataram. Judiaram dele e o mataram. Nem o julgaram direito e o mataram. Os sacerdotes e o governador produziram falsas notícias… e o mataram. Mas nós tínhamos esperança…

Talvez, quem sabe, com um leve sorriso de contentamento, Jesus lhes explica as escrituras. Eles chegam ao seu destino. Jesus diz que vai continuar. Eles fazem o primeiro gesto demonstrando que aprenderam a mensagem da vida de Jesus: acolheram o estranho.

Nisso está a beleza e a novidade: Jesus não forçou a barra. Apenas falou o que sobre ele diziam as escrituras… e repartiu o pão, da mesma forma que eles haviam repartido o abrigo.

No gesto de partir o Pão, eles o reconheceram. Só então entenderam que Jesus, de fato, havia sido aprovado por Deus e queria ser, também, aprovado por nós. Não para dizermos que o adoramos e isso e aquilo, mas para continuar sua missão.


Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:


Um comentário:

  1. INTERESSANTE QUE PRECISOU DE UM SINAL DE JESUS JÁ PRESENCIADO PELOS QUE CAMINHAVAM COM ELE DEPOIS DA SURREIÇÃO PARA TEREM A CERTEZA DE QUE ELE NUNCA NOS DEIXOU. ASSIM SOMOS NÓS, VIVEMOS PENSANDO EM TER OU VER UM SINAL PARA TERMOS A CERTEZA QUE É JESUS É A NOSSA ÚNICA RESPOSTA DE QUE NÃO ESTAMOS SÓS. E DE QUE NOS BASTA APENAS A FÉ E A FIEL CONFIANÇA NELE. SE NOSSA FÉ FOSSE COMO O GRÃO DE MOSTARDA.....

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