sexta-feira, 22 de abril de 2022

Páscoa: Muitos sinais e maravilhas

(Reflexões baseadas em: Atos dos Apóstolos 5,12-16; Apocalipse 1,9-11a.12-13.17-19; João 20,19-31)




O livro dos Atos dos Apóstolos (5,12-16) nos informa que “Muitos sinais e maravilhas eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos”.Ou seja a fé no Ressuscitado estava em expansão e isso oferecia aos apóstolos oportunidade para demonstrar a força da fé.

A fé que levou o autor do apocalipse (1,9-11a.12-13.17-19) a redigir a mensagem do Ressuscitado. Mensagem pela qual aquele que é o Primeiro e o Último afirma ser o Senhor da vida e da morte. Aquele que pode dizer: “Estive morto, mas agora estou vivo para sempre”. E está vivo para mostrar o caminho da vida para aqueles que acreditam no Senhor Jesus.

Por sua vez, o Senhor Jesus manifesta-se aos seus para lhes dar o poder do Espírito (João 20,19-31). E, ao fazer isso ensina que a fé não pode se basear nos sinais, mas que deve ser desenvolvida em vista do testemunho. Por isso recrimina quem pede provas para crer: “Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” O que implica dizer que toda crença que se baseia nos milagres não é fé, pois bem aventurado são os que acreditam sem ver! Além disso, os sinais falam por si mesmos, sendo desnecessária a fé.

Tudo isso nos permite concluir que o tempo pascal nos coloca diante de uma indagação: somos pessoas de fé? E, se temos fé, em que ela se baseia?

Ofato é que os apóstolos, anunciando a mensagem do Ressuscitado atraiam a atenção de tantos que os ouviam. Esse era o principal sinal e a maior maravilha realizada pelos apóstolos. Suas palavras, anunciando a vida, fazia com que crescesse “o número dos que aderiam ao Senhor pela fé; era uma multidão de homens e mulheres” (At 5,14). Uma multidão que encontrava nessas palavras de vida a única esperança que ainda lhes restava. Por isso traziam seus enfermos: para o último alento. E isso não era negado pelos apóstolos… pelo contrário, era oferecido sem custos, diferente do que fazia a religião oficial e diferente do que fazem muitos credos atuais. As maravilhas do Senhor eram dons da pura Graça do Senhor e eram concedidas pelas mãos dos apóstolos não em troca de algum pagamento ou benefício, mas em resposta à um ato de fé!

Mas essa adesão à fé e pela fé, gerava desconforto. Gerava inveja. Gerava perseguição. Gerava dor e sofrimento.

Quanto maior era a adesão à nova fé, mais a religião oficial, que buscava recompensa financeira e defendia o poder estabelecido, promovia resistência e tribulações aos seguidores daquele que oferecia um novo e definitivo caminho. Para manter a alimentar a foi que o autor do apocalipse se apresenta como “companheiro na tribulação”.Apresenta-se como alguém que, em meio aos sofrimentos, foi arrebatado “por causa da Palavra de Deus e do testemunho que eu dava de Jesus” (Ap 1,9). Um arrebatamento que teve uma finalidade, estabelecida pela voz que lhe dizia: “O que vais ver, escreve-o num livro” (Ap 1,11).

Qual era a finalidade desse livro? Alimentar, ao mesmo tempo, a fé e a Esperança. Por isso que aquele que é o Primeiro e o Último diz: “Não tenhas medo. Eu sou o Primeiro e o Último, aquele que vive. Estive morto, mas agora estou vivo para sempre. Eu tenho a chave da morte e da região dos mortos” (Ap 1,18). Então a mensagem é simples e definitiva: Aquele que está vivo tem as chaves para a vida. Só ele pode abrir as portas da vida. E fará isso para todos aqueles que acreditam não por que viram algo maravilhoso, mas mediante um ato de fé!

Vale ressaltar que o ato de fé não supõe os sinais e maravilhas, mas o contrário: os sinais são resultantes do ato de fé. A fé opera milagres e não o milagre gera fé. A fé que nasce do milagre, tem vida curta, pois termina com o fim do sinal.

Aqui é que entendemos o diálogo de Jesus e Tomé, o que diz só acreditar se puder ver. Mas aquele que acredita porque vê, não tem fé. O fato de ver, a presença da evidência, dispensa a fé. Por isso Jesus, além de lhe mostrar as mãos e pés trespassados, lhe diz quem são os bem aventurados: os que não precisam de sinais para crer. Esses que creem sem ter visto são capazes de realizar muitos sinais e maravilhas, pois são movidos pela fé.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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